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segunda-feira, 5 de outubro de 2020

TEMOS DE SER OS MELHORES


O presidente da República tem sido aclamado pela sua bonomia e folclore.

Mas a atitude presidencial não é tão espontânea e desinteressada quanto pode parecer.

É fruto de uma estratégia reflectida que serve mais os interesses do cidadão e do político Marcelo Rebelo de Sousa do que o cumprimento da missão presidencial e os interesses reais do país.

Desde a descrispação útil ao comentário de banalidades para depois manter o silêncio em questões críticas e de Estado, os portugueses têm sido testemunhas de que tudo tem valido para "reinar" com o objectivo de preparar a recandidatura.

O cidadão e o político Marcelo seguem esta cartilha simplista há muito tempo, e com uma mestria que bem poderia ser usada em prol de questões bem mais importantes para a vida do dia-a-dia dos portugueses.

Mas no melhor pano cai a nódoa, muitas vezes provocada por acontecimentos imprevistos, como por exemplo os incêndios, Tancos e a pandemia, fazendo ruir o caminho previamente delineado.

E o surpreendente anúncio da candidatura de Ana Gomes, um "terramoto" político inesperado, acabou com o sonho de uma reeleição ao jeito de um passeio à beira-mar, tranquilo, sorridente e feliz.

Está a chegar o tempo de pedir contas, pois o «PR não pode ser um adorno», como sublinhou Marisa Matias, durante a apresentação da sua candidatura presidencial.

E, desde já, impõe-se a pergunta: com o cidadão e o político Marcelo em Belém mudou alguma coisa?

Não!

E para poder manter tudo na mesma, nada ainda melhor do que uma quimera ao virar da esquina, mesmo sem nada fazer para a merecer e a alcançar.

«Somos os melhores», diz o presidente da República, enquanto agarra um qualquer troféu desportivo.

«Temos de ser os melhores», repete, entre sorrisos profusos, a propósito das cervejas e das águas minerais.

Ao mesmo tempo, face ao ambiente de fantasia delirante e grotesco gratuito, o país continua à espera de um presidente da República que pugne, ou faça alguma coisinha, para sermos os melhores na Saúde, na Justiça, na Educação e nos Direitos Humanos.

Com o cidadão e o político Marcelo em Belém mudou alguma coisa no combate à corrupção e à desigualdade?

Não, este presidente da República é mais um daqueles que preferem "iluminar" as pessoas, rendido à máxima the show must go on, seja com as "Galinhas do mato" ou com a comparação paradoxal do feminismo ao nazismo.

Deixemo-nos de hipocrisias: os abraços, os afectos e as selfies garantiram a paz institucional, mas também serviram para sustentar António Costa que, obviamente, retribuiu com o apoio do PS.

Negócio fechado!

Mesmo que para trás fique o gigantesco buraco de opacidades e cumplicidades que foi cavado nos últimos cinco anos.

E que os representantes políticos até se arroguem reivindicar serem portadores de um cheque em branco para decidir os destinos de Portugal.

Mas o branqueamento e até o abafamento selectivo, bem típico dos politicamente fracos e cobardes, têm os dias contados.

Afinal, temos de estar à altura do desafio, temos de ser os melhores na hora do escrutínio do mandato presidencial.

E viva a República!