O primeiro-ministro
está determinado a enfrentar qualquer obstáculo à estratégia que traçou para a
governação.
Confortado
pelos últimos indicadores económicos, Pedro Passos Coelho, no discurso do
Pontal, versão de 2013, avançou de peito aberto para qualquer eventual
contrariedade, dramatizando a situação económica e financeira para deixar todo
o tipo de recados aos portugueses, aos juízes do Tribunal Constitucional, aos
membros do Governo e até aos partidos da oposição.
Pedro
Passos Coelho não deixou quaisquer dúvidas sobre as suas intenções, mas será que
tem autoridade pessoal e política para continuar a governar como se nada se
tivesse passado nos últimos dois anos de governação?
A resposta
é: sim!
Enquanto o
maior partido da oposição viver em permanente delírio e refém dos homens do
passado que atiraram o país para o desastre, a divisão no seio do Governo, a cedência
ao clientelismo partidário, a distribuição desigual dos sacrifícios e os fumos
de corrupção não serão suficientes para derrubar o Executivo.
As últimas
sondagens, mesmo no pico de uma crise política imprevisível, revelam que o PS
apenas consegue uma pequena vantagem em relação ao PSD, mas muito longe da
maioria absoluta. Ou seja, será que alguém de bom senso pode acreditar na robustez
de uma alternativa socialista quando os principais rostos que dão a cara pelo actual
secretário-geral são precisamente aqueles que foram corridos do poder em 2011?
É claro que
não!
Afastados os
cenários de entendimento entre os três maiores partidos e de eleições
antecipadas, os portugueses ficaram entalados entre a governação incapaz e a
alternativa desacreditada.
É neste
quadro dantesco, agravado pela crise económica e financeira, que surge a ameaça
da desistência, da indiferença, da abstenção, consequência natural da perda de confiança
no Governo e das dúvidas em relação ao maior partido da oposição.
Por muita
tolerância que se possa ter em relação à maioria no poder, por causa do
protectorado em que o país mergulhou, a verdade é que os sucessivos falhanços,
as constantes trapalhadas, as permanentes hesitações e as consecutivas intrigalhadas
evidenciam o esgotamento de Pedro Passos Coelho.
Por sua
vez, por muita esperança que se possa ter na alternativa, a verdade é que
António José Seguro perdeu a capacidade mobilizadora e não consegue libertar-se
das sombras do passado que, aliás, continuam a ser os rostos do líder e do partido
em público.
Por mais
que a troika se vá embora e que o país regresse aos mercados, tudo indica que Portugal
continuará a manter os mesmos estrangulamentos a montante de todos os seus
problemas conjunturais. Com este ou outro Governo qualquer, enquanto a
democracia portuguesa não amadurecer, promovendo um combate implacável contra a
corrupção, o nepotismo e a impunidade, nada mudará para melhor.
O enorme
pântano em que o país está transformado há várias décadas está a dar lugar a um
imenso deserto, onde escasseiam as novas ideias, os novos protagonistas, a
confiança, a transparência, a competência, o serviço de missão e, sobretudo, a
esperança num futuro melhor.
Ainda que
alguns tenham a expectativa que a troika nos obrigue a fazer à bruta o que esta
classe política nunca será capaz de fazer por mote próprio e com tempo, Portugal
está numa encruzilhada que ultrapassa a recessão económica, a questão do défice
e o desemprego.
É preciso
olhar para o país com um horizonte de pelo menos uma década. Se não for possível
fazê-lo em Democracia, então Portugal continuará a ser o país em constante risco.