segunda-feira, 13 de junho de 2022

CELEBRAR PORTUGAL

 

António Costa, primeiro-ministro, vai gozando o silêncio.

Marta Temido, ministra da Saúde, por ora, remetida ao gabinete.

Marcelo Rebelo de Sousa quebra a mudez geral para afirmar que o encerramento das urgências hospitalares «é um problema específico».

Os portugueses sentem mais um branqueamento brutal.

Lucília Gago, procuradora-geral da República, fica na sombra, deixando crescer a percepção de que a incúria de alguns poderosos ainda está acima da Lei.

Curiosamente, nem os opinion makers atiram um pedido de demissão.

Nada!

O maior partido político da esquerda assobia para o lado.

É mais um apagão da cidadania, enquanto os elementos das claques de futebol se esfaqueiam e matam, muito por força de uma cultura alarve com direito a prime-time.

A impunidade dos representantes eleitos e dos gestores nomeados pelo poder político cava cada vez mais fundo esta espécie de Estado de Direito que também fecha ao fim-de-semana.

A choldra perdura!

O regime de Prevenção da Corrupção entrou em vigor mas a autoridade fiscalizadora não existe.

Resta o "contentamento" de saber que está em vigor, pois, está claro, com governantes assim “determinados” em combater uma das mais iníquas chagas da actualidade.

Tal e qual como a aprovação parlamentar da eutanásia, num país em que não há médicos e enfermeiros suficientes para salvar a vida dos doentes.

É o chafurdar sem limites!

Desfrutem!

Entretanto, continuamos a receber os turistas na maior bagunça.

A inconstitucionalidade da “lei dos metadados” começa a fazer estragos, depois dos órgãos de soberania fingirem politicamente, durante os últimos anos, que o problema não existia.

Só faltava mesmo a proeza dos portugueses obrigados a sair do país, por causa da fome ou da falta de uma vida digna, serem orgulhosamente exibidos precisamente por aqueles que os empurraram para fora.

Em síntese, recorrendo à actualidade e ao humor de Eça de Queirós:

«– Choldra em que você chafurda! - observou o Ega, rindo. O outro recuou com um grande gesto: – Distingamos! Chafurdo por necessidade!» (Os Maias).

segunda-feira, 6 de junho de 2022

NOT MY CUP OF TEA


A miséria extrema tem sido sistematicamente denunciada, designadamente pela agência alemã de ajuda humanitária Welthungehrilfe.

Ano após ano, nada consegue mobilizar os grandes e pequenos governantes do mundo para combater este flagelo social.

Mas há sempre milhões e milhões para gastar em comemorações, tão legítimas quanto supérfluas, no momento em que mais de 811 milhões de pessoas pelo mundo fora não têm o que comer.

As dispendiosas comemorações do jubileu de platina de Isabel II e a exuberância da mostra do tesouro real português são apenas mais dois exemplos que chocam com os números avassaladores da fome.

E o argumento do retorno financeiro não colhe, porque a vida humana não tem preço, tanto mais que investir em pessoas é sempre mais compensatório do que apostar em imagens e objectos.

Esta incompreensível apatia é geral, como atesta, entre tantos e tantos exemplos, a reeleição de Marcelo Rebelo de Sousa depois do escandaloso falhanço da promessa de retirar os sem-abrigo das ruas.

Aliás, a expressão desta "realeza" também ficou bem patente com Emmanuel Macron, quando expressou preocupação com a "face" de Putin no momento em que os ucranianos continuam a tombar na guerra ordenada pelo ditador.

Não, o problema não é só a propaganda do mainstream, pois temos oportunidade, diariamente, de ver um pobre velho a dormir numa esquina da cidade e de conviver com as imagens da cruel insanidade de quem tem o poder das armas.

Estamos há demasiado tempo tão habituados a "engolir" o folclore dos governantes que nos esquecemos do essencial, das prioridades civilizacionais ao querer distinguir entre a realidade e a farsa.

É claro que ainda pode haver uma qualquer caridosa ou político de sarjeta que se lembrem de invocar o as sinergias extraordinárias do programa/banco alimentar mundial.

Quer se seja de esquerda ou de direita, todos sabemos que o problema está a montante.

A verdadeira emergência planetária é o combate à injustiça, à desigualdade e ao analfabetismo.

Não o compreender está na origem de todas as outras ameaças à humanidade, desde as alterações climáticas à violência brutal e gratuita.

A guerra é sempre uma consequência cíclica de todas as indiferenças e da iníqua tolerância em relação ao status quo em que vivemos.

Not my cup of tea!