segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

PRESIDENCIAIS 2021: TSUNAMI À VISTA

 

As sondagens, à falta de melhor, têm marcado a campanha das presidenciais 2021.

Mas tem faltado o termómetro da rua, dos contactos populares, para começar a descortinar as escolhas dos portugueses.

Num país enterrado na pandemia, para não falar de outras pandemias que começam a despontar, as televisões encontraram o Nirvana: aparentemente, tudo se vai decidir no cada vez maior ecrã.

Felizmente, as novas forças e interlocutores políticos têm permitido agitar os "senadores" do regime, levantando o pó que está debaixo do tapete.

Mas será que chega?

O caminho do candidato do Bloco Central está facilitado pela ausência de uma parte da esquerda e pela divisão da outra parte.

Mas a cada debate começam a surgir as brechas no propalado "oásis" marcelista.

A apoteose anunciada está longe de confirmação por manifesta evidência que o mandato de Marcelo foi um exercício medíocre, em que importou mais a criação das condições para a reeleição do que os interesses dos portugueses.

E, em boa verdade, Marcelo teve tudo para ser uma referência e um motor de mudança.

O verniz dos últimos tempos, para disfarçar os cinco anos de cumplicidade com o governo, já começou a estalar.

E, quando assim é, quando o branqueamento fica à mostra, apesar do evidente desmoronar do governo, a abstenção é sempre uma resposta possível.

A criação de um ambiente dominante que aponta para a inevitabilidade da reeleição de Marcelo, quiçá com 101% dos votos, também é uma faca de dois gumes, sobretudo no actual panorama económico e financeiro.

A agitação de o presidente (e recandidato) transparece em cada debate, num sorrisinho incomodado que escapa quando é revelado como um vulgar garante do país dos "Donos Disto Tudo".

Se com Marcelo tudo pode acontecer até ao último dia também é verdade que começa a faltar-lhe chão para mais folclore e piruetas.

Num país que confunde popularidade e notoriedade, ideias e marketing, realidade e propaganda, a derrapagem da Covid pode ser o tsunami político na teia tão ardilosamente tecida para manter o cadeirão de Belém.

E, a acontecer, tudo pode ficar imprevisível.

Tal como em relação a outros assuntos da maior importância, presidente e primeiro-ministro são uma e a mesma coisa por meras razões tácticas de poder e sobrevivência política de um e do outro.

A gestão da crise Covid, desde o abandono dos mais idosos até ao ziguezaguear de medidas, em que Marcelo e Costa estão afundados, pode ser a chave da eleição do dia 24 de Janeiro.

Por mais estado de emergência que possa ser decretado.


segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

2021: VACINAS E PANDEMIAS


No final de um ano marcado pela crise, opacidade e autoritarismo reforçado à boleia da pandemia, o governo marcou pontos no início do processo de vacinação.

A transparência do primeiro dia da vacina anti Covid, permitindo aos jornalistas verem como estava a decorrer o processo, é um sinal prometedor.

O optimismo regressou aos rostos dos profissionais de saúde, deixando uma mensagem de credibilidade na cura que pode fazer toda a diferença.

Seguir-se-ão outras vacinas e sucessivos grupos prioritários, dia após dia, num processo que deve reunir todos os esforços e meios existentes para proceder à vacinação da população no mais curto prazo possível.

Embora a batalha não esteja ganha, muito longe disso, a verdade é que com mais informação é possível salvar vidas e começar a reconquistar a confiança dos cidadãos.

Mas que não haja quaisquer dúvidas: 2021 vai ser muito mais do que a luta contra a Covid.

Outras pandemias, como a pobreza, a desigualdade, a injustiça, a insegurança, o nepotismo e a corrupção, continuam a assolar a vida dos portugueses.

A criação de um verdadeiro programa de recuperação económica não pode ficar por mais um qualquer grande projecto para melhorar os grandes agregados estatísticos e servir as clientelas do costume.

E têm de ser tiradas lições de um SNS de fachada, apostando num serviço público de saúde que não deixe morrer os cidadãos por falta de equipamentos e recursos humanos.

E, já agora, até podemos sonhar com uma justiça mais célere e credível, sem confusão com qualquer tipo de securitarismo.

Vamos começar um novo ano com uma realidade assustadora.

Os idosos estão a ser liquidados: Até ao final de Novembro morreram mais de 47 mil idosos com 85 ou mais anos: mais 10% do que em 2019 e em 2018 (Pordata). 

E os jovens desesperam pelo futuro: A taxa de desemprego de jovens de menos de 25 anos é de 18,3%, ou seja, igual àquela que existia em 1983 (Pordata).

É preciso mais criatividade, mais modernidade e mais transparência para encontrar soluções potenciadoras da vida, do emprego e de confiança no futuro.

Chega de tempo perdido com folclore, megalomanias e falsas uniões de circunstância.

2021 é o ano de todos os riscos e esperanças que não podem ficar por meras palavras e mais propaganda.

E ficará marcado por eleições presidenciais.

No dia 24 de Janeiro elegemos um presidente da República que deve e pode ser um dos principais motores de uma reforma do sistema político por tantos e tantos ansiada.

Face a uma campanha eleitoral, em que o contacto popular tem de continuar a ser a regra, a vacinação dos candidatos presidenciais seria um sinal de respeito pela cidadania activa. 

Uma forma simbólica de começar a viver o verdadeiro sentido da Democracia.

Feliz Ano Novo.






segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

SAÚDE, SEGURANÇA E RESERVAS


Podemos confiar nas autoridades?

Não!

A resposta não é uma mera questão de opinião, é mais um alerta consequente da factualidade que não se faz de casos isolados.

Na saúde, a estabilização das mortes Covid nos píncaros representa um retrato do momento.

Tudo embrulhado num estado de emergência que já pouco tem de excepcionalidade.

E na extraordinária aceitação do novo axioma: para salvar os doentes Covid, o SNS deixa morrer os outros doentes.

E o que decidem o presidente (e recandidato) e o primeiro-ministro?

Contrariamente ao padrão usado permitem "generosamente" a fruição do Natal.

E até Rui Rio compreende que os portugueses precisam de um escape.

Numa semana crucial para a evolução da pandemia, Marcelo, Costa e Rio estão de acordo, certamente imbuídos pelo espírito natalício, perdão, pelo calculismo da popularidade.

E quando julgávamos que o governo havia descido à terra da responsabilização dos cidadãos, eis que regressa o autoritarismo no Ano Novo.

É o "contrato de confiança" mais curto de sempre.

Como a gestão da pandemia é tão semelhante à forma como o país é administrado: um ziguezaguear estonteante, com a navegação à vista a substituir a estratégia, o rigor e a coerência.

Quanto à segurança, o balanço é igualmente penoso.

Os assassinos de Homeniuk serão julgados. 

Mas o rasto da cultura do casse-tête acima da lei continua fundo, depois de inúmeras denúncias, desde o aeroporto de Lisboa às prisões, com a Provedora de Justiça, os especialistas e as organizações internacionais ignorados.

E o que decidem o presidente (e recandidato) e o primeiro-ministro?

António Costa tenta encerrar o escândalo com a cobertura política ao seu amigo e ministro Eduardo Cabrita, avançando com uma reestruturação que já começou mal.

E Marcelo Rebelo de Sousa ainda deve estar à espera da investigação de um dos seus 155 colaboradores de Belém para concluir que o caso do SEF faz parte de uma realidade tão sistémica quanto dantesca.

Tanta demagogia e branqueamento até parecem ficção, mas já fazem parte do dia-a-dia.

As reservas em relação às vacinas e às polícias são uma parte do gigantesco preço a pagar pela irresponsabilidade política que confunde os cidadãos.

A outra parte, depois de tanto folclore e truque, é a desconfiança nas instituições que matou, continua a matar e ainda pode matar muito mais que a pandemia.

Uma última cereja em cima da derradeira mutação do pântano: a procuradora-geral da República impõe hierarquicamente ser avisada quando um qualquer "notável" é apanhado numa investigação da Justiça.

Algum dia temos de parar, e começar a pensar para onde estamos a caminhar.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

MARCELO: ARTISTA SEM PLANO B


O país está a acordar para a realidade brutal, depois de anestesiado pela pandemia, selada com o slogan #NinguémFicaParaTrás, entre outros manifestamente exagerados. 

E a aproximação de um acto eleitoral é sempre um tónico.

A entrevista que Marcelo Rebelo de Sousa deu aos jornalistas Bernardo Ferrão e Ricardo Costa, na SIC, foi um momento de boa informação que elevou a fasquia do escrutínio para todos os candidatos presidenciais.

O que ficou da entrevista?

Além das mentiras, omissões e até critérios duais, ficou ainda mais claro o mandato inconsequente e o dilema político em que Marcelo se deixou enredar.

Apanhado no seu próprio folclore, Marcelo foi encostado às cordas de cinco anos de colagem ao governo para garantir o apoio dos socialistas nas presidenciais de Janeiro de 2021.

A mais recente "jogada", com Manuel Magina da Silva, é apenas uma amostra do desnorte presidencial e do que ainda virá por aí.

Aliás, também ficámos conversados em termos de Estado: oportunismo a mais sem justificação e seriedade a menos quando se impunha.

Tal como Tancos, o caso de Ihor Homeniuk deixa um imenso rasto que o tempo dificilmente apagará.

E, quanto à reserva por causa dos inquéritos criminais, ainda temos memória dos incêndios de Pedrogão e da fantástica declaração, em Setembro de 2019, em Nova Iorque (prudentemente fora do país), garantindo que o presidente não é criminoso.

De facto, Marcelo sem plano B fica ao nível do artista medíocre.

Cada vez que renegar Costa será visto como o rato que abandona o barco, logo menos votos do PS.

O recandidato vai pagar o preço de estar na fotografia ao lado de o primeiro-ministro, e a crise ainda só vai no adro.

É com perguntas incómodas que a informação pode dar aos cidadãos as melhores ferramentas para escolher.

E, apesar de mais ou menos insulto e represália, dignos de serviçais sem freio, a verdade é que o jornalismo acrescenta e brilha quando é competente, assertivo e independente.

Aliás, levar ao colo um qualquer político, seja ele qual for, nunca tem futuro, nem com subsídios, nem com testas-de-ferro.

Com a dupla Marcelo/Costa, o país acelerou o ritmo de empobrecimento e reduziu a margem de segurança em relação ao abismo.

E a degradação do ambiente político não pára de surpreender.

Um e outro, cada um ao seu estilo, mais finta menos truque, dificilmente conseguirão iludir o descontentamento e o agravamento do pântano instalado.

Bem podem as sondagens insistir no novo amanhã marcelista.

No dia 24 de Janeiro de 2021, no momento de escolher, os cidadãos vão meter a mão no bolso.

E, porventura, tanta selfie, afecto, incúria, trapalhada, propaganda e miséria podem fazer a diferença no momento de depositar o voto na urna.

Será que o artista resiste?