segunda-feira, 2 de novembro de 2020

À ESPERA DA AMÉRICA


O "cowboy" e o "self-made man" ainda continuam a fazer maioritariamente parte do ADN norte-americano?

As eleições presidenciais nos Estados Unidos da América são muito mais do que uma opção entre Donald Trump e Joe Biden.

É um momento de teste à alma americana que se traduz na escolha entre dois caminhos: a continuação da ruptura com o paradigma falhado ou o regresso do status quo em todo o esplendor.

Trump representa a continuação da luta contra os cânones de Washington, diabolizando a chamada imprensa de referência; Biden será a reedição de um modelo de governação em que o multilateralismo é temperado pelo marketing político e influência dos serviços secretos na política.

Depois de Obama ganhar com a força de "We Can", partilhando o Mundo com as outras superpotências, Trump quer renovar o sonho de hegemonia do "Make America Great Again" que continua a embalar os norte-americanos, enquanto Biden promete o moralismo de um aliado "Of the light, not the darkness".

E, goste-se ou não, deste lado do continente europeu, o errático Trump personifica melhor a imagem do "American way of life" que fez dos Estados Unidos da América a maior potência do mundo.

Mas esta eleição é também a renovação da "eterna" questão da emigração: por um lado, o fecho de fronteiras cruel; por outro lado, a alternativa de abertura para a exploração selvagem da mão-de-obra barata.

Também a questão racial pode, finalmente, fazer a diferença, numa realidade pós-Floyd, se ultrapassado o tradicional voto de abstenção ou em branco dos negros.

Para perceber o que está em jogo neste acto eleitoral, em que os latinos também podem sonhar, é preciso não esquecer a realidade de mais de 40 milhões de pobres, bem como de mais 140 milhões de cidadãos que admitem ter um rendimento insuficiente para pagar suas contas.

A vitória de Trump ou de Biden é ainda muito mais: de um lado, a arrogância da aposta na economia e no individualismo; do outro, a moderação que dá atenção à pandemia e ao colectivo.

Salvaguardas as devidas diferenças, a divisão brutal instalada não é assim tão diferente daquela que começa a emergir na Europa, decorrido quase um ano da descoberta da Covid.

No contexto de crise económica, os próximos actos eleitorais europeus também serão marcados por fracturas que ultrapassam a razão, a ideologia e a humanidade.

No país do consumismo, em que também se joga mais isolacionismo ou mais globalização, após muitos milhões de dólares gastos na publicidade de ambos os candidatos, fica para a História uma campanha de ódios, com "facts checks" para todos os gostos, ambições e carteiras.

O 46º presidente dos Estados Unidos da América tem uma herança: um país em que prevaleceram a força das instituições democráticas, o primado da Lei e a contribuição para a paz mundial.

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