segunda-feira, 21 de setembro de 2020

POPULISMO DE ESTADO E O MEDO


Há uma polémica absurda que tem distraído o país do essencial.

A propósito de tudo e de nada lá vem a lenga-lenga do virtuosismo do Estado e dos pecados do privado e vice-versa.

A Covid trouxe atrelada a grande "novidade": o populismo de Estado, travestido de grande salvador e sustentado pelo discurso do medo.

É o Estado do caos no SNS, do abandono dos mais idosos, da incúria dos incêndios de Pedrogão e da opacidade de Tancos.

É também o Estado de Direito à la carte que permitiu as mais variadas negociatas: BES, BPN, BPP, CGD, Expo 98, Euro 2004, Novo Banco, Parcerias Público-Privadas, submarinos, TAP, etc.

É ainda o Estado dos amigos, dos "paraministros" do primeiro-ministro, com cobertura do presidente da República, e de uma multidão de criados (para todo o serviço sempre agradecidos e venerandos) que ofuscam os servidores públicos competentes. 

Aliás, este Estado, omnipresente e cada vez mais arbitrário, até só admite ser fiscalizado por si próprio.

Em suma, é este Estado, minado pela da corrupção e pelos abusos de poder nas mais altas hierarquias da Administração, que alguns ainda querem reforçar.

É caso para perguntar: este tipo de Estado é capaz de combater os erros da globalização e os excessos do capitalismo selvagem?

Os movimentos populistas são respostas, compreensíveis mas trágicas, ao estado a que isto chegou, qual Janus: por um lado, um Estado protector e agora disponível para os afectos; por outro, um Estado impune que alberga uma teia que serve e se serve à custa da miséria dos povos.

Aliás, não deixa de ser particularmente significativo observar, por exemplo, a reacção por esse mundo fora a algumas restrições paternalistas e desenfreadas impostas pelo Estado por causa do "vírus da China", como é popularmente conhecido.

A pandemia veio reforçar esta armadilha em que tantos e tantos se deixaram enredar através de argumentos de circunstância, os quais, aliás, têm minado qualquer hipótese de um debate elevado e útil para resolver tantos e tantos estrangulamentos.

Mas a abertura do espectro político tem permitido outro tipo de resposta aos populismos, desde logo por fazerem mais luz sobre os partidos políticos tradicionais, tão fossilizados quanto impunes, que debitam o mesmo "discurso" há décadas.

E a crescente consciência política também tem favorecido a separação de águas entre a práxis da governação e o sempre saudável confronto de ideias.

Os cidadãos não precisam de messias, querem governantes competentes e limpos, querem soluções para os seus problemas, independentemente de serem de Esquerda ou de Direita.

Compreender esta realidade é a melhor forma de combater os populismos, sejam eles de Estado ou de movimentos radicais que pugnam por uma mudança sem aceitar as conquistas civilizacionais.


segunda-feira, 14 de setembro de 2020

ANA GOMES E O SONHO


Todos os dias, aqui e ali, entre amigos, conhecidos e até desconhecidos, é frequente ouvir que temos de mudar, que a mudança é urgente.

Ora, se existem descontentes que querem escapar a este pântano, então a mudança não pode ser feita por quem esteve sempre ao lado daqueles que atiraram o país para a bancarrota e condenam o povo à miséria.

A candidatura de Ana Gomes é mais do que uma atitude patriótica, é a prova que há sempre alguém que resiste, que não se conforma, que se indigna, e, sobretudo, que é consequente nos seus actos.

Não há batalha de civilização que lhe escape: de Timor à Etiópia, dos direitos humanos aos voos da CIA, da globalização aos offshores, da corrupção a Sócrates e aos vistos Gold, de Angola à China, de Assange, Snowden e Rui Pinto ao enfrentar os vigaristas e ditadores.

Credibilidade, coerência e consequência são atributos essenciais para o mais alto magistrado da Nação.

Um presidente não pode ficar pela simpatia, cheirando o que é popular e fugindo do que pode queimar, isto já para não falar do imperdoável caso de Tancos à mistura.

O folclore presidencial dos últimos cinco anos apenas serviu para reforçar a manutenção do status quo decadente em que o país está mergulhado.

No momento em que começa a ser a hora de fazer o balanço, o que fica do actual mandato presidencial?

A descrispação!

E uma espécie de reinvenção da "evolução na continuidade" dos tristes tempos de Marcello Caetano.

É pouco, muito pouco, sobretudo se serviu apenas para branquear ao mesmo tempo que o país assiste estupefacto à protecção de corruptos, por exemplo, pelo segredo bancário, entre outros, como se ele existisse para acoitar criminosos.

A elegância com que Ana Gomes se despediu de Marcelo Rebelo de Sousa, no dia em que apresentou a candidatura, não pode ser confundida com qualquer tipo de validação política e institucional.

A opacidade, a fraqueza e o oportunismo têm de sair de Belém.

O país precisa de «um presidente diferente», disse a candidata.

Um presidente com força para se fazer ouvir quando fala dos fogos, de Tancos e da Justiça, dos desempregados e do SNS, dos Bancos e das negociatas impunes, dos sem voz e abandonados à sua sorte como em Moria.

A experiência política, diplomática e internacional de Ana Gomes representam garantias para, finalmente, Portugal poder eleger uma cidadã do mundo, uma presidente cosmopolita, moderna, à prova de bala e sem negócios, negociatas e fretes escondidos no armário.

Mas ainda falta o essencial: fazer uma campanha competente, aberta e sincera, sem esquecer os jovens, sem complexos nem azedumes pelo PS se ter transformado numa pálida imagem do partido que ajudou a salvar a Democracia.

E saber merecer o voto também é a mestria de unir, de aceitar que só o candidato à Esquerda que estiver melhor colocado é capaz de mobilizar a mudança que o país anseia há tantos anos, mas que ainda não traduziu numa eleição presidencial.

Em Janeiro de 2021, Ana Gomes é um passo para o sonho.

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

PONTA DO ICEBERG DE PROMISCUIDADES


Assessores, críticos, editores, jornalistas e políticos estão cada vez mais articulados e sintonizados, com grande prejuízo da informação, transparência e rigor.

Foi com espanto, ou não, que ficámos todos a saber que a promiscuidade também se faz sentir, e de que maneira, no reino da comunicação social.

Num longo ensaio publicado na revista sábado, João Pedro George destapa o véu sobre uma enorme teia de interesses e cumplicidades entre assessores, jornalistas, editores, escritores e afins que "atacam" num suplemento do jornal Público.

A leitura revela uma série alucinante de más práticas impensáveis num jornal de referência, deixando qualquer cidadão de boca aberta perante uma factualidade que mais parece ter saído do universo mediático de uma qualquer república das bananas.

O segundo exemplo ainda é tão ou mais arrepiante.

Uma entrevista ao Expresso, dada pelo primeiro-ministro, deu origem a uma série de trapalhadas entre as quais se destaca a retenção de uma notícia - e que notícia! - sem qualquer justificação aos leitores daqueles semanário.

Entrevistado e jornalistas concertaram a publicação do anúncio de uma crise institucional para uma data posterior de acordo, certamente, com o interesse de ambas as partes, em detrimento do dever de informação e do respeito pelos leitores.

Inimaginável!

Estes dois exemplos revelam que há uma parte da comunicação social que está transformada num lodo, o qual deixa os jornalistas sem qualquer autoridade ética e deontológica para apontar o dedo ao pântano em que o poder político está afundado há muitos anos.

E isto poderá ser apenas a ponta do iceberg...

Consequências?

Nada, só silêncios.

Se o conhecimento destes dois episódios nos revelam um mundo de opacidades na imprensa também é verdade que nos permite ainda ter esperança na existência de um resto de jornalismo atento, livre e limpo.

O cancro que está a liquidar a comunicação social é muito mais do que uma questão financeira.

Colocando-se a jeito desta forma descarada não há dinheiro que valha para garantir uma informação independente e a salvação do sector.



segunda-feira, 31 de agosto de 2020

QUEM GANHA COM O PÂNTANO POLÍTICO?


Os primeiros sinais do início da catástrofe económica, financeira e social abriram uma crise política. 

Não vale a pena disfarçar, porque já está instalada.

Há apenas uma de duas escolhas: fazer de conta que #vamosficartodosbem ou arrepiar caminho.

Para quem tem muitas explicações a dar, com mais ou menos branqueamento soft ou musculado, só interessa manter tudo como está para melhor escapar às responsabilidades.

O presidente da República tudo fez e fará para que assim aconteça, beneficiando das "águas estagnadas" para tentar ser reeleito nem que seja por menos de 50% dos eleitores, como aconteceu em 24 de Janeiro de 2016.

No entanto, a "faca e o queijo na mão" em 2020 podem não ser suficientes – lembram-se de Cavaco Silva em 2015? , pois António Costa percebeu a armadilha em que acabou por se deixar enredar.

E, por isso, o primeiro-ministro já agitou o espantalho do tudo ou nada, ou seja, ou há "geringonça" ou então a tempestade rebenta na pior altura para o putativo recandidato Marcelo Rebelo de Sousa.

Afinal, afastada a hipótese de eleições antecipadas, um eventual governo em regime de gestão corrente ou um outro de iniciativa presidencial servem como um potencial álibi para todos que estão no poder.

Chegou a hora de tirar a prova dos nove sobre a encenação em que vivemos desde 2015 e saber quanto vai custar tanto tempo perdido em ameaças, banhocas, estratégias, grandes projectos, intimidações, insultos, mentiras, salvamentos, selfies, truques e vetos para distrair o pagode.

A cegueira "criativa" de adiar a reforma do Estado, iludir o fim da austeridade, negar a informação e a origem do dinheiro, venha ele de uma ditadura ou resulte da corrupção e do branqueamento de capitais, já foi chão que já deu uvas.

Aliás, são cada vez menos aqueles que ficam indiferentes à invasão chinesa e ao dinheiro sujo de Angola.


Se uma crise política nunca é bem-vinda, muito menos na actual situação aflitiva, pior ainda é a calamidade de mergulhar num pântano político.

É inevitável refazer o balanço da governação de António Costa à luz da triste realidade que estamos a começar a enfrentar.

E, nesse folhear de algumas das páginas mais negras da história recente, ninguém pode esquecer que Marcelo nunca esteve onde deveria ter estado, ou seja, do lado da Constituição e da lisura e transparência democráticas, por mais que, agora, ensaie o distanciamento de Costa.

Nas próximas eleições presidenciais, os portugueses podem dar o primeiro sinal de que não aceitam manter a podridão do actual status quo que tem levado o país à ruína e os portugueses à miséria.

Ser simpático, fazer sorrir e até fazer umas "piruetas" engraçadas não chega quando a vida aperta.

O mais alto representante tem de ser credível, política e institucionalmente, para o país poder iniciar uma mudança.

Chamar os cidadãos a ter a última palavra para desfazer a encruzilhada é sempre melhor do que deixar que decisões avulsas sejam tomadas nos bastidores dos interesses e conveniências rumo ao abismo, leia-se, a mais uma estrondosa bancarrota.

segunda-feira, 24 de agosto de 2020

PORTUGAL MARCELADO


O país a dar sinais de começar a estar à deriva.

Membros do governo insultam cidadãos, Ordens profissionais e sabe Deus quem mais que os critiquem ou rompam com a propaganda oficial e oficiosa.

O Bloco de Esquerda divulga publicamente que não está disponível mais nenhum acordo, enquanto o PS não cumprir o anterior.

O primeiro-ministro é desmentido na praça pública como se fosse algo corriqueiro.

E há mais!

As mortes em lares de idosos são desvalorizadas e reduzidas a meras estatísticas.

O SNS que salva os contagiados com Covid deixa morrer os outros doentes.

Os critérios para a reabertura da normalidade são tão erráticos que já ninguém consegue percebê-los.

Os apoios são anunciados e depois não chegam às pessoas, às famílias e às empresas.

Os números do desemprego divulgados oficialmente são desmentidos categoricamente por todos.

As instituições reguladoras parecem estar ao serviço do governo.

No maior governo de sempre, com 70 membros, ainda há espaço para estranhas e polémicas contratações para os gabinetes.

E até o MP dá sinais de uma estranha ausência.

Tudo isto, e muito mais, se tem passado, antes e depois da Covid, no Portugal de Costa e Marcelo.

Enquanto um presidente folclórico marca a agenda mediática, um primeiro-ministro à solta faz o que quer, à hora que quer, com "comícios" garantidos em directo, sem contraditório, e ainda até lhe sobra tempo para intimidar, ameaçar e insultar.

Responsabilidades?

Nada!

Escrutínio? 

Muito pouco, tal é o risco de desagradar ou sofrer represálias.

Aliás, que não haja quaisquer dúvidas: a direcção do Expresso já encetou a caça ao responsável pela divulgação do vídeo de sete segundos que mostra quem, como e de que forma somos governados quando se apagam as luzes.

Era esta a "política" e estes os "políticos" que já faziam falta após os meses de confinamento?

Não tarda nada, desgraçadamente, vamos começar a perceber o preço a pagar por tanta arrogância, prepotência e vacuidade políticas.

Nesse momento, vamos tirar a prova dos nove sobre quanto custam as ameaças, as encenações, as banhocas, as intimidações, os insultos, as mentiras, os salvamentos, as selfies, os truques e os vetos para distrair o pagode.

O país está novamente debilitado, ou melhor, Portugal corre o sério risco de continuar Marcelado.

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

BELÉM DE "CENAS" ARRISCADAS


Bravura, coincidência ou encenação políticas?

Da opacidade ao branqueamento só faltava mesmo um número do presidente nadador salvador, de duas jovens (muito sorridentes), apanhadas pela objectiva de uma televisão.

Qual será a próxima "cena"? 

Um presidente, com uma pá na mão, a extinguir um incêndio, enquanto corre, com as câmaras de televisão atrás, para apanhar o incendiário?

O cenário da praia do Alvor é um corolário perfeito, com cada vez mais portugueses a sentirem que é difícil engolir tanto oportunismo político.

Aliás, depois de Tancos, entre outros momentos graves, que mais tarde ou mais cedo serão esclarecidos, eram muitos aqueles que acreditavam que o putativo candidato não teria o atrevimento político de tentar renovar o mandato eleitoral.

Infelizmente, tal é a frenética actividade política em Belém, todos os sinais apontam para a fuga em frente.

Com a pré-campanha a ser feita à custa do erário público, as mais recentes posições institucionais que simulam um distanciamento político in extremis de António Costa são as cerejas que faltavam em cima do actual regime de faz-de-conta para os holofotes.

Restam poucos meses para destapar o véu que envolve o actual mandato presidencial, a começar pelo que realmente se passou no momento da declaração do Estado de Emergência por causa da pandemia Covid.

É um ponto de partida possível, durante a próxima campanha eleitoral das presidenciais, para esclarecer o padrão de muitas outras situações de opacidade.

Começa a ser patriótico a apresentação de novas candidaturas presidenciais, à Esquerda ou à Direita, para salvar o país deste bailete que tudo tem virado numa vacuidade nunca vista e perigosa.

Com os tempos difíceis que se avizinham, o país precisa de uma Presidência da República com força e credibilidade institucionais para travar qualquer arbítrio de um autoritarismo que espreita ao virar de cada esquina.

Com todos estes truques e rábulas, Portugal corre o risco de assistir, em Janeiro de 2021, a uma taxa de abstenção recorde e a uma expressiva votação nos extremos, uns porque consideram que está decidido, outros porque já não suportam mais do mesmo.

O estilo imposto por Marcelo Rebelo de Sousa até pode gerar uma sensação de transparência e de aproximação do poder aos cidadãos, mas as mistificações têm sempre um preço demasiado elevado.


segunda-feira, 10 de agosto de 2020

ESTRANHA ACALMIA ESTIVAL


Paira no ar a sensação de que a Covid já era ainda que continue a ser.

Apesar dos números aterradores que estão a chegar – infectados, mortes, desemprego, défice, dívida pública – o nosso tempo de Verão quente e tranquilo tem evitado o pensamento do frio Inverno cheio de ameaças que está a chegar.

A chuva de milhões da Europa eliminou os temores de perder a nossa vidinha cheia de chuto na bola, de passeios no shopping e de total alheamento e indiferença ao que se passa à nossa volta.

Como se o modesto essencial do dia-a-dia, infelizmente longe da mais elementar dignidade, fosse suficiente para viver, apenas sobrevivendo.

Entre tantas e tantas imagens brutais, a explosão em Beirute interrompeu por momentos a nossa sonolência colectiva.

A terrível luta de um país, cuja população tem sido massacrada pelos senhores da guerra e pela corrupção selvagem, é um alerta, mas apenas mais um.

A revolta tardia pode não ser suficiente para inverter o curso da História, porque se perdeu o músculo do escrutínio, da reivindicação e do exercício da cidadania ao longo de uma guerra civil de 15 anos (1975-1990), entre outras guerras.

Não é fácil enfrentar os abutres que levaram o Líbano para o ciclo infernal de viver e morrer às mãos do dinheiro fácil da guerra.

Tão-pouco é fácil afastar os outros abutres, hoje em versão de pombas da paz, que prometem ajuda para manter tudo na mesma.

Ainda assim, o pânico e a revolta, que a pandemia e o caos de Beirute fizeram despertar, estão a ser substituídos por uma estranha acalmia estival. 

Talvez fosse prudente reflectir também na nossa "guerra", quando estamos a perder a preciosa auto-estima às mãos de um regime político corrupto e anestesiante que já nem se dá ao trabalho de disfarçar as suas próprias contradições e iniquidades.

A vida não pode voltar ao normal da anormalidade a que já nos habituámos.

segunda-feira, 3 de agosto de 2020

PORTUGUESES ABANDONADOS À SUA SORTE


Uma boutade saloia da ministra da Cultura bastou para colocar o país mediático em polvorosa, questionando insistentemente Graça Fonseca se tinha condições para continuar no cargo.

Uns dias depois, ocorre o acidente com o Alfa Pendular em Soure que provocou duas mortes e dezenas de feridos.

E ninguém confrontou Pedro Nuno Santos com as suas responsabilidades.

O ministro das Infraestruturas e da Habitação continua em funções, abrigado pelo apoio do presidente da República, pelo silêncio cúmplice do primeiro-ministro e pela falta de independência da imprensa.

Tão ou mais grave ainda é que Marcelo Rebelo de Sousa faltou à verdade aos portugueses por mero calculismo político.

As conclusões preliminares revelam que a instalação de um sistema de segurança, recomendado em 2018, não foi implementado por «falta de cabimento orçamental», deixando em evidência a falta de segurança na ferrovia portuguesa.
 
Mais uma vez, o branqueamento presidencial é chocante, politica e institucionalmente.

E, infelizmente, o mais alto magistrado da Nação está mais preocupado com o seu futuro político do que em defender os portugueses da incúria governativa.

É mais uma cedência aos interesses eleitorais do putativo recandidato Marcelo Rebelo de Sousa que tudo tem feito para agradar ao PS, em detrimento da segurança dos portugueses e da exigível responsabilização política e até criminal.

O silêncio de António Costa não destoa nesta miserável farsa política em que o país está mergulhado.

Também pelas mesmas razões de mercearia eleitoral, António Costa, cada vez mais desgastado, sabendo o que tem pela frente, não quis comprometer o futuro político de um dos supostos sucessores à liderança dos socialistas.

O acidente do Alfa Pendular é mais um aviso trágico – entre tantos e tantos outros, por exemplo no SNS –, que passa sem escrutínio mediático, da Justiça e, agora, até político, com a oposição mergulhada na mais vistosa apatia.

Não há dinheiro para instalar um simples sistema de segurança na ferrovia, que poderia ter evitado o acidente de Soure, mas há dinheiro para enterrar no Novo Banco, na TAP e até avançar com toda a "gasosa" para outros negócios da China.

Vivemos tempos de um pântano de conivências e conveniências pueris, deixando os portugueses abandonados à sua sorte.

segunda-feira, 27 de julho de 2020

PANDEMIA: "BOMBAS" AO RETARDADOR



Continuamos a sorrir ainda que sabendo que em todo o mundo morreram 52 milhões de pessoas de fome ou de doenças causadas pela fome em 2019.

Hoje, ninguém se atreverá a adiantar como acabaremos em 2020 e nos anos seguintes.

Certeza só há uma: para mantermos o way of life, os governantes não podem continuar cinicamente a fazer de conta que não conhecem as condições de vida dos mais pobres e dos trabalhadores imigrantes.

É que a propagação, já de si exponencial, é ainda mais agravada entre todos aqueles que vivem em condições infra-humanas, económicas e sociais.

Já não basta viver num país rico ou num condomínio fechado, tentando esconder uma realidade que, afinal, todos conhecem e ignoram.

A existência de barracas, de exploração desumana e de exclusão associados a um sistema de saúde obsoleto e a transportes públicos medíocres deixaram de ser admissíveis porque não fazem parte de uma equação de futuro com esta ou uma qualquer outra pandemia.

Os governantes, sempre ao serviço de clientelas e dos mais poderosos, obviamente com um sorriso estampado e o discurso pio com os mais desvalidos, têm de passar a olhar para as desigualdades com olhos de ver.

Afinal, regalar os olhos com as luzes de Hollywood, estender a toalha na praia de Copacabana ou fazer de conta que Portugal é o litoral do turismo já não é mais possível e seguro, pois os surtos explodem em todas as latitudes onde impera a miséria.

Os 70 milhões de americanos a viver em condições de pobreza, os 11,4 milhões de brasileiros distribuídos por 6.329 favelas e ainda o facto de os imigrantes serem as principais vítimas (23,4% dos imigrantes infectados na região de Lisboa) exigem respostas prontas e eficazes.

A acefalia e o egoísmo generalizados, nutridos por uma globalização selvagem assente num consumismo desenfreado, têm os dias contados, pois ninguém admite viver durante muito tempo com máscara e medo.

E se a resposta tem de partir de cada país, também é verdade que a actual globalização não pode conviver com esta franja de potenciais "bombas" ao retardador.

Num contexto de pandemia, a "maioria", a tal que da Esquerda à Direita vive confortavelmente, não pode continuar a manter o seu status de vida com a actual realidade da "minoria" de pobres e imigrantes.

Num país que há séculos insiste em construir a casa pelo telhado, a chuva de milhões e milhões que vem da Europa é uma oportunidade única para reconstruir Portugal sobre pilares sólidos, a partir das infraestruturas básicas, da saúde, da educação e do combate à exclusão.

Os cenários macroeconómicos e os mega projectos já não são suficientes para manter um mundo de ilusões.

segunda-feira, 20 de julho de 2020

PERDIDOS NO LABIRINTO DE CONTRADIÇÕES


É cada vez mais evidente a geometria variável da governação.

O que é hoje verdade, amanhã é mentira, correndo o risco de voltar a ser verdade no dia a seguir e assim sucessivamente.

É tão assim em relação à pandemia, como aos princípios que orientam o regime democrático.

O discurso "pragmático" de António Costa em relação a Viktor Orbán até pode fazer sorrir alguns, mas envergonha um país inteiro.

E, para selar o impasse, só faltava mesmo o próprio líder do maior partido de oposição também estar de acordo que os tempos não são para exigência e respeito pelo Estado de Direito.

A "confissão" do primeiro-ministro revela um padrão de governação que nos tem atirado para um beco sem saída, pontualmente resolvido pelo Norte de uma União Europeia farta da pedinchice, corrupção e impunidade que têm minado os países do Sul.

Afinal, tudo se resume à flexibilidade da coluna vertebral, enfim, à geometria variável.

Vitória! – gritam eles –, quando chover mais um pouco de dinheiro.

Para trás, a governação e o discurso político erráticos que só podem dar origem a comportamentos diversos, casuísticos e oportunistas.

Aliás, não é por acaso que Marcelo Rebelo de Sousa ocupa a cadeira de Belém...

Não admira, portanto, que António Costa se aproxime do discurso de Bolsonaro e Trump  – temos mais casos Covid porque fazemos mais testes ou ainda a economia não pode parar.

Não há problema: fazemos de conta também que o Estado zela melhor pela nossa Saúde do que nós próprios.

Entretanto, existem milhares de portugueses sem opção nem protecção, pois têm de trabalhar para poder comer, correndo o risco de contrair o vírus apenas porque têm de utilizar os transportes públicos.

Mas há sempre uma solução criativa à medida: arregimentar um qualquer cientista ao serviço para demonstrar, com um estudo mal amanhado, que não há prova científica da relação propagação/transportes apinhados.

Também é assim em relação a tudo o resto, desde a Saúde ao SNS, desde a Justiça aos tribunais, desde a Educação às escolas, desde a Economia aos grandes projectos...

O recurso à geometria variável, com a Constituição na gaveta e tocando a bola em frente, é apenas o déjà vu, mais do mesmo.

Assim, de fait divers em "narrativa", lá vamos ignorando eleições e propostas, desconfiando dos políticos e regime democrático, empobrecendo cada vez mais, rumo a mais e mais miséria.

Perante a maior crise de sempre, a solução está sempre na geometria variável, sempre nas mãos dos outros.

O país e os portugueses continuam perdidos no seu próprio labirinto de contradições.


segunda-feira, 13 de julho de 2020

VALHA-NOS A EUROPA


A semana começa com o credo na boca.

Os olhos e os corações estão concentrados nas negociações europeias para a aprovação do Fundo de Recuperação.

A cimeira europeia dos próximos dias 17 e 18 de Julho vai decidir o nosso futuro.

Sim, dependemos totalmente da solidariedade europeia para comer e tentar respirar nos próximos anos.

Mais uma vez, Portugal, com os socialistas na liderança do governo, é apanhado com as calças na mão, desta vez por causa da pandemia.

Ninguém, mas mesmo ninguém, se atreve a colocar a hipótese de não haver um acordo que faça chover mais dinheiro.

Mas nem tudo são rosas.

A eleição do novo presidente do Eurogrupo, um desastre diplomático para Portugal, não é um bom augúrio.

Apesar do apoio alemão a Nadia Calviño – candidata apoiada por António Costa – foi o irlandês Paschal Donohoe que venceu.

Em tempos de pandemia, e com a Alemanha cada vez menos disponível para pagar os interesses de cada um dos países, algo está a mudar entre os 27 países membros da União Europeia.

E o inicio desta mudança surge precisamente no momento em que Portugal ultrapassou os 260 mil milhões de euros de dívida pública, o valor mais elevado de sempre.

Não estamos tão mal como a Itália, mas também não temos a força da economia italiana, nem poderemos contar com a ajuda da afundada economia espanhola liderada por um governo PSOE/Unidas Podemos.

E o sacrossanto binómio exportações/turismo está em reparação.

É neste contexto que o país tomou conhecimento do "plano" de António Costa e Silva, um documento vago e sempre ao serviço, que nos faz regressar ao passado da discussão do TGV, com um toque de "La Seda" da nova fronteira de produção de hidrogénio.

Já não temos desculpa, porque já vimos e pagámos este filme de terror demasiadas vezes.

E nem mesmo o anunciado plano estratégico para a década, desta vez do PSD, serve para sossegar os mais realistas.

E vai ser, novamente – temos de ter Fé! –, um valha-nos a Europa.

segunda-feira, 6 de julho de 2020

A "NOVA" VERSÃO DE TANCOS


O ambiente de medo e o cheiro nauseabundo das trapalhadas e das negociatas fazem lembrar o fim de mandato de Aníbal Cavaco Silva e José Sócrates.

E na última semana tudo se passou como se nada de extraordinário e grave tivesse ocorrido.

Estranho?

Não!

A presidência está transformada no bailete do Vira, o governo age sem responsabilidade ou receio de ser responsabilizado, o PSD liquida o principal instrumento institucional da oposição, grassa a subserviência, impera o fundamentalismo e falta o escrutínio.

O falhanço no combate à pandemia, a nacionalização da EFACEC e o reforço da posição do Estado na TAP, derrotas monumentais do governo de António Costa, são apenas mais três exemplos do padrão em que mergulhámos há muito tempo.

COVID-19: O aumento dos casos na área metropolitana de Lisboa, a escandalosa falácia de membros do governo sobre os transportes públicos, os desmentidos dos números oficiais de infectados e o "chumbo" do Reino Unido seriam suficientes para causar um terramoto político.

EFACEC: Depois de ignorar avisos, livros e até a queixa de Ana Gomes em Bruxelas, sobre a compra da empresa à luz da legislação europeia anti-branqueamento de capitais, António Costa anunciou a nacionalização (só faltou a imperial), expondo o Estado a mais um contencioso.

TAP: O falhanço da reversão da reprivatização e a assumpção de gigantescas dívidas quatro anos depois demonstram como o governo age sem responsabilidade política e não teme qualquer responsabilização da parte do PR, da oposição e demais entidades judiciais e de controlo.

Apesar de inquinarem o presente e representarem uma enorme ameaça tudo continua como se ninguém fosse responsável, nem mesmo pelas vergonhosas cláusulas secretas agora descobertas.

O desastre, a mentira, a incúria e o fundamentalismo ideológico passam entre os pingos da chuva de um país que começa a arder na indiferença até do anúncio oficial do regresso da censura.

Também fica a constatação de termos chegado, novamente, ao lodaçal que já experimentámos no passado com custos e consequências tão trágicas.

É caso para perguntar com toda a legitimidade: será que todos andam a enganar António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa ou será que ambos andam a mentir ao país há demasiado tempo?

Até parece que voltamos a viver ao ritmo da saga de Tancos...