Amadeu Guerra, com serenidade, manteve a determinação do Ministério Público em avançar com as averiguações preventivas à Spinumviva (Luís Montenegro) e à compra da casa de Pedro Nuno Santos.
Uma semana depois das eleições, o país ficou a saber que os pedidos de informação da Procuradoria-geral da República ao primeiro-ministro e ao então líder da oposição ainda não haviam sido respondidos.
Ao mesmo tempo que decorrem estas diligências judiciais, Marcelo Rebelo de Sousa continua a afiançar a estabilidade governativa.
A Justiça sob pressão máxima volta a ser aparentemente a fórmula encontrada para resolver o imbróglio que continua a ameaçar a credibilidade do regime democrático.
A situação não é nova, apesar da extrema gravidade institucional, basta recordar o que aconteceu com o caso do Hospital Santa Maria (gémeas), mas indicia mais: a tentativa de consolidação do abandalhamento político.
Tal como ocorreu na Madeira, com Miguel Albuquerque, que ganhou eleições na condição de arguido por corrupção, Luís Montenegro tem assim via verde presidencial para se manter em funções se for aberto um inquérito criminal no caso da Spinumviva.
Aliás, não é por acaso que nem Luís Montenegro, nem André Ventura, nem Rui Rocha, nem Nuno Melo, apesar de uma maioria de 2/3 no Parlamento, nenhum faz qualquer menção à necessidade de garantir os meios da Justiça, designadamente a imperiosa autonomia financeira.
A manutenção do sistema judicial agrilhoado, apesar de mais uma profissão de fé do PGR, é apenas a reconfirmação da deriva na vida institucional, partidária e política.
O resultado está à vista: são cada vez mais as vozes a qualificar Marcelo Rebelo de Sousa como o pior dos inquilinos que passaram por Belém.