segunda-feira, 28 de agosto de 2023

SEM PRINCÍPIOS NEM RUMO



No espaço de dias, o país assistiu às profissões de fé no direito internacional e nos valores democráticos a propósito da Ucrânia.

Marcelo Rebelo de Sousa levou a alegria do seu melhor folclore popularucho e inconsequente até Volodymyr Zelensky, consubstanciado na condecoração falhada.

Passado um dia, o presidente, sempre sorridente, ao lado de António Costa, mais sóbrio, posou ao lado de ditadores e assassinos, de mãos dadas, no âmbito da Cimeira da CPLP que se realizou em São Tomé.

É caso para perguntar: os titulares dos órgãos de soberania não têm uma palavra sobre o que se continua a passar nos países que abraçam, especialmente na Guiné-Bissau e na Guiné Equatorial?

Além do autoritarismo encoberto, esta não admissão dos erros revela o narcisismo dos titulares de altos cargos públicos.

O mais grave é que a falta de escrutínio, tanto da comunicação social como dos movimentos de cidadania, permitem que ambos escapem politicamente impunes, enquanto se engalfinham constantemente para saber quem manda mais.

A vigarice política não é de agora, já vem desde o tempo da limpeza das trafulhices de altas personalidades angolanas, entre outras.

Aliás, é esta atitude de abandalhamento institucional que também consentiu os abraços a Lula da Silva, mesmo depois das críticas infames ao secretário-geral da ONU, António Guterres.

À boleia do interesse nacional, o deles, pois certamente não é o nosso, o mais grotesco é que ambos acreditam que os portugueses não percebem o calibre da desfaçatez política dos representantes que elegeram.

À mercê da parola e balofa euforia das cimeiras e dos grandes eventos e projectos, que lá vão alimentando os egos, as clientelas e a corrupção, Portugal sem princípios nem rumo é um mau exemplo para a sociedade.

Assim, não somos, nem nunca seremos, respeitados por ninguém, nem por comunidades, nem por países, nem por cidadãos.

Pela primeira vez, desde o 25 de Abril, os titulares dos órgãos de soberania são ocupados por políticos que convivem alegre e irresponsavelmente com esta vertigem politicamente fraudulenta e democraticamente intolerável.

segunda-feira, 21 de agosto de 2023

COSTA ABSOLUTO PARA MARCELO IRRELEVANTE


A ministra da Habitação e o líder da bancada parlamentar do Partido Socialista confirmaram o diploma, quase imediatamente a seguir ao veto político de Marcelo Rebelo de Sousa.

Mais uma vez, é o contribuinte a pagar a factura de não ter sido promovido o necessário equilíbrio entre a oferta e a procura num sector determinante no dia-a-dia dos portugueses.

À ficção de cada português ter direito constitucional a uma casa para viver – basta não ignorar os sem-abrigo – não se pode acrescentar a confusão de que cada um deve ser dono da sua própria casa.

Esta burla ideológica é arrasada pelo “Housing in Europe – 2022”, que traça o retrato da habitação na União Europeia.

Se na pobre Roménia 95% da população tem casa própria, a realidade é bem diferente nas ricas Alemanha (49,5%), Áustria (46%) e Dinamarca (41%).

Portugal segue a tendência do mais pobre: os proprietários são 78,3% e os inquilinos são 21,7%.

O absoluto António Costa usa a maioria e força do Estado para disfarçar os erros, atestada que está a falta de investimento público na Habitação, liquidando ainda o que resta da confiança dos privados e o empreendedorismo do pequeno investidor.

Afinal, ao fim de oito anos, apenas continuam a importar os grandes empresários, os grandes investidores, os grandes projectos.

O suspense criado à volta do veto presidencial apenas certificou que a sua palavra não vale um cêntimo furado e que a actual magistratura de influência continua reduzida ao folclore.

Para o cidadão comum, o horizonte só pode ser ainda mais aterrador, tanto mais que só o anúncio destas medidas já provocou ainda mais desigualdade.

Por sua vez, para a banca, o negócio lá vai continuando a florescer, cantando e rindo.

















segunda-feira, 14 de agosto de 2023

MONTENEGRO E A CONVERSA NO PONTAL


Ainda que o escrutínio, a crítica e o debate sejam saudáveis e essenciais, porque são o princípio da cidadania, para quem exerce o poder ou almeja a expectativa de o vir a exercer a exigência é muito maior.

De António Costa já vimos quase tudo, depois de mais de vinte anos de exercício do poder, dos quais cerca de oito como primeiro-ministro.

Do líder do maior partido da oposição parlamentar pouco mais vimos do que a conversa que poderia ter animado mais um qualquer encontro de amigos.

É verdade que o «país está a falhar».

Também é verdade que o «país precisa mesmo de um sobressalto cívico, político, empresarial».

O diagnóstico de Luís Montenegro é correcto, mas repetir as mesmas mensagens não garante mobilização, sobretudo quando a maioria absoluta do PS se prepara para despejar dinheiro em 2024, curiosamente um ano de eleições.

Relembrar a sangria para o estrangeiro dos jovens mais bem preparados é oportuno e mais do que certeiro, mas falta o resto, que é tudo.

Como vai arranjar dinheiro para mudar o que tem de ser mudado, e que António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa fazem de conta que não existe?

Como podemos mudar se o PSD continua a surgir ao lado do PS no pior do país, desde logo a começar pela corrupção?

Como é que o PSD vai ultrapassar o trauma das medidas fanáticas e teimosas de Pedro Passos Coelho?

Estas são as questões que Luís Montenegro tem de responder no Pontal ou em qualquer outro palco de intervenção pública.

O líder do PSD tem cada vez menos tempo para mudar, a não ser que as suas declarações políticas sejam apenas o replicar da conversa típica de mais um convívio entre amigos, em que tudo parece simples e claro, tão fácil como numa qualquer coluna de opinião.

segunda-feira, 7 de agosto de 2023

FRANCISCO: A IGREJA NO SÉCULO XXI

 

É o fim do carregar a cruz, a culpa e a resignação.

Acabou o discurso bafiento de todo o tipo de abusos, dos sexuais à violência doméstica, entre outros.

O carácter extraordinário desta mensagem simples e justa entusiasmou os jovens e muitos outros que querem uma Igreja mais próxima, e distante de uma hierarquia balofa, reaccionária e corrupta.

A Igreja aberta a todos, todos, todos, sem portas, é um mais um passo gigante, é um contributo extraordinário para o reforço da Fé e da cidadania.

Ao acender a busca livre pelo amor e justiça, ao incentivar que cada um de nós se levante, ao apelar à intervenção sem medo, o Papa Francisco colocou o dogma a par da vida concreta, abrindo um universo de exigência de cada um para consigo próprio.

A mensagem revolucionária do Papa Francisco, durante os cinco dias da Jornada Mundial da Juventude, surpreendeu todos, do Vaticano aos crentes e aos ateus, da direita à esquerda.

A tentativa de minimizar esta mensagem única, ao número de peregrinos que estiveram em Lisboa, ou à experiência de uma viagem Erasmus ou de Interrail, diz tudo sobre a direita conservadora em choque e sobre a esquerda do poder atarantada.

Depois do concílio do Vaticano II, de João XXIII a Francisco I, Lisboa assistiu ao primeiro grande momento da Igreja católica no século XXI.

Os 80 milhões de euros pagos pelos portugueses, que mal têm para comer, tratar da saúde ou ter uma casa condigna, continuam a chocar, mas a força da mensagem do Papa Francisco atenua o mal-estar do folclore, marketing e pretensa demonstração de força.