segunda-feira, 6 de junho de 2022

NOT MY CUP OF TEA


A miséria extrema tem sido sistematicamente denunciada, designadamente pela agência alemã de ajuda humanitária Welthungehrilfe.

Ano após ano, nada consegue mobilizar os grandes e pequenos governantes do mundo para combater este flagelo social.

Mas há sempre milhões e milhões para gastar em comemorações, tão legítimas quanto supérfluas, no momento em que mais de 811 milhões de pessoas pelo mundo fora não têm o que comer.

As dispendiosas comemorações do jubileu de platina de Isabel II e a exuberância da mostra do tesouro real português são apenas mais dois exemplos que chocam com os números avassaladores da fome.

E o argumento do retorno financeiro não colhe, porque a vida humana não tem preço, tanto mais que investir em pessoas é sempre mais compensatório do que apostar em imagens e objectos.

Esta incompreensível apatia é geral, como atesta, entre tantos e tantos exemplos, a reeleição de Marcelo Rebelo de Sousa depois do escandaloso falhanço da promessa de retirar os sem-abrigo das ruas.

Aliás, a expressão desta "realeza" também ficou bem patente com Emmanuel Macron, quando expressou preocupação com a "face" de Putin no momento em que os ucranianos continuam a tombar na guerra ordenada pelo ditador.

Não, o problema não é só a propaganda do mainstream, pois temos oportunidade, diariamente, de ver um pobre velho a dormir numa esquina da cidade e de conviver com as imagens da cruel insanidade de quem tem o poder das armas.

Estamos há demasiado tempo tão habituados a "engolir" o folclore dos governantes que nos esquecemos do essencial, das prioridades civilizacionais ao querer distinguir entre a realidade e a farsa.

É claro que ainda pode haver uma qualquer caridosa ou político de sarjeta que se lembrem de invocar o as sinergias extraordinárias do programa/banco alimentar mundial.

Quer se seja de esquerda ou de direita, todos sabemos que o problema está a montante.

A verdadeira emergência planetária é o combate à injustiça, à desigualdade e ao analfabetismo.

Não o compreender está na origem de todas as outras ameaças à humanidade, desde as alterações climáticas à violência brutal e gratuita.

A guerra é sempre uma consequência cíclica de todas as indiferenças e da iníqua tolerância em relação ao status quo em que vivemos.

Not my cup of tea!


segunda-feira, 30 de maio de 2022

MARCELO E COSTA COM DIAS DIFÍCEIS


A vitória de Luís Montenegro abriu um novo ciclo político, com o regresso em força de “passistas” e “santanistas” à liderança do PSD.

A derrota de Jorge Moreira da Silva, que também é mais uma derrota do Bloco Central, deixa campo aberto a uma oposição à direita mais forte e incisiva.

Os tempos são de mudança.

O presidente não vai poder, mais birra menos birra institucional, insistir no branqueamento sistemático da governação socialista.

Nem mesmo Rui Rio, com uma bancada parlamentar à medida de um consulado desastroso, pode contrariar os ventos que sopram a favor de Luís Montenegro.

Com Marcelo Rebelo de Sousa acantonado na irrelevância institucional, o novo líder do PSD bem pode contar com os efeitos da Guerra na Europa e da inflação descontrolada.

A mudança no PSD acontece no momento em que o horizonte é cada vez mais negro para António Costa.

A porta está aberta para uma federação de esforços à direita para construir uma alternativa à maioria socialista do PS.

Assim, estão criadas as novas condições para colocar a questão fundamental: Queremos continuar a hipotecar o futuro à custa de uma protecção social de fachada?

A propaganda governamental e o folclore presidencial vão esbarrar na brutal crise de perda de poder de compra.

A dupla Marcelo/Costa, uma descarada “fórmula de sucesso” desde 2016, com a cumplicidade dos Media, tem dias difíceis pela frente.

segunda-feira, 23 de maio de 2022

VITÓRIA DO BUSINESS AS USUAL


Volodymyr Zelensky e o povo ucraniano continuam entre a espada (brutalidade russa) e a parede (cinismo político ocidental).

A rendição dos militares ucranianos refugiados em Azovstal é uma derrota estrondosa.

É a dura realidade, após as promessas de apoio militar, sanções para oligarca não cumprir e ameaças de corte ao petróleo e gás russos para as calendas.

Vladimir Putin conseguiu em 2022 o que não havia conseguido em 2014: ocupar Mariupol.

A alta rotação da diplomacia mundial tem servido mais para embalar as opiniões públicas do que para inverter a relação de forças no terreno da guerra.

Aparentemente, a estratégia ocidental já deixou cair a Crimeia e o Donbass há muito tempo, estando apenas apostada em desgastar a Rússia.

Entretanto, está cada vez mais perto a fome que vai matar ainda mais entre os mais pobres e frágeis a nível mundial.

Três meses depois da agressão e da invasão da Ucrânia pelas forças armadas russas, Vladimir Putin alcançou o trunfo para exibir.

É a vitória do business as usual.

 

 

 

segunda-feira, 16 de maio de 2022

METABALBÚRDIA



A visão orwelliana do Estado está mesmo diante dos nossos olhos.

A intervenção firme do Tribunal Constitucional, a propósito da “lei dos metadados”, em 2015, 2019 e 2022, não coloca em risco milhares de processos pendentes.

Quem abriu a porta a deixar de investigar e acusar milhares de criminosos foi a incúria política de António Costa e de Francisca van Dunem.

Obviamente, com o alto patrocínio do presidente, ano após ano, sempre alheado de tudo o que é fundamental.

É sempre assim, sem competência legislativa, debate sério, lisura intelectual e respeito pelos cidadãos.

O espanto geral assaltou os cidadãos com a última “lição” que os juízes deram, publicamente, a Lucília Gago, procuradora-geral da República.

Com a metabalbúrdia instalada já começou o salve-se quem puder, apesar da necessidade imperiosa de equilíbrio entre a privacidade e a ameaça do cibercrime, entre outras.

Da camuflagem das escutas ilegais das secretas ao reforço desenfreado de um Estado pidesco para mitigar as limitações da investigação criminal, o desastre está à vista?