segunda-feira, 27 de novembro de 2023

O PADRÃO DE MARCELO


As palavras premonitórias são de Aníbal Cavaco Silva, proferidas a 21 de Maio passado, recordadas agora pelo próprio no momento em que abandonou o 41º congresso do PSD.


Ao longo do mesmo mês de 2023, de recordar que Marcelo Rebelo de Sousa exibia com esplendor o seu poder político e constitucional, recorrendo várias vezes à ameaça pública de dissolução da Assembleia da República.

O pano de fundo para a crise institucional era dado pelo extraordinário negócio do lítio, cuja polémica rebentou a 7 de Dezembro de 2019, tendo atingido o zénite com a validação, em 2021, de pelo menos uma escuta relativa a uma conversa entre António Costa e Pedro Matos Fernandes.

O resto é conhecido: Marcelo Rebelo de Sousa precipita eleições, a 5 de Novembro de 2021; o PS alcança a maioria absoluta, a 30 de Janeiro de 2022; António Costa demite-se um ano e nove meses depois.

Com a bagunça instalada, institucionalmente e nos mais importantes sectores do país, em particular na saúde e na justiça, agora os holofotes apontam para o presidente, especialmente sobre o que sabia sobre tal investigação.

Se no caso das gémeas do Santa Maria é cada vez menos verosímil acreditar que nada sabia, então por força de razão maior é ainda mais estapafúrdio “engolir” o total desconhecimento presidencial sobre tal assunto de Estado que envolvia o primeiro-ministro.

Aliás, ainda ninguém esqueceu o que se passou nas Forças Armadas, designadamente em Tancos, com mais um par de extraordinários desconhecimentos, sempre com desaparecimentos de papéis à mistura.

O padrão de Marcelo está definido e amplamente documentado.

Contra factos, não há argumentos: com Marcelo Rebelo de Sousa em Belém, o resultado está à vista, o desastre consumado.

Será que o “filme” ainda pode acabar a contento de todos?



segunda-feira, 20 de novembro de 2023

DESENLAMEAR A REPÚBLICA


Os três erros do Ministério Público na “Operação Influencer”, clamorosos, ainda que circunstanciais, os quais não colocam em causa o cerne da investigação, devem ser escrutinados, sim, agora à luz de uma incompreensível pressa em avançar.

Por que terá sido assim?

A quem serviu?

A todos, por razões diversas?

No cenário das eleições antecipadas, o impulso da reforma da justiça para melhor controlar o titular da acção penal, em jeito de vingança, é apenas mais uma prosaica boçalidade, tendo em conta a actual autonomia de fachada, sem meios.

É imperioso o debate sobre as necessárias reformas tranquilas e cirúrgicas, sem hesitações em partir a espinha ao colosso da corrupção e do tráfico de influências que têm condenado os portugueses à miséria.

É preciso mais exigência e vigilância em relação às instituições de controlo, designadamente os Media, viveiros de profissionais de coragem e também de subserviência às mãos de mercenários que os tentam controlar.

Tal como Trump, Lula e Bolsonaro, entre outros, não conseguiram liquidar as instituições democráticas dos seus países, também por cá não há que ter medo do voto do povo, seja ele qual for.

O arreigado espírito democrático dos portugueses não pede meças aos norte-americanos ou aos brasileiros.

Continuar a cair na armadilha que tem perpetuado os mesmos políticos e partidos não vai trazer nada de novo, e pior do que a bandalheira institucional actual, plasmada na guerra fratricida pelos grandes projectos, nada do que pode vir poderá ser ainda pior.

O voto a 10 de Março de 2024 é a derradeira oportunidade, mais uma, para escolher quem seja capaz de enfrentar este lamaçal indizível, em que quase todos participam e quase ninguém escapa aos salpicos de lama.

A mudança é sempre possível e desejável, desde que sustentada no mérito, competência e serviço público.

Não há que ter medo das novas gerações, desde que separado o trigo do joio tóxico, pois urge desenlamear a República.


segunda-feira, 13 de novembro de 2023

PORTUGAL A DESMORONAR


O primeiro-ministro acaba a carreira política, envolvido em corrupção e tráfico de influências.


A degradação atingiu tal ponto que o presidente já chegou ao cúmulo institucional, por ora, de ter de desmentir publicamente Mário Centeno, governador do Banco de Portugal.

É o resultado, mais uma vez, do Partido Socialista no poder, da arrogância da maioria absoluta e da promiscuidade entre negócios e política.

É o corolário do militante e sistemático branqueamento de Marcelo Rebelo de Sousa nos últimos 8 anos, sempre em nome das colaborações e estabilidades políticas instrumentais e ocas, quiçá protegendo as habituais clientelas.

Não, as coisas não têm de ser assim, nem podem continuar a ser da mesma maneira.

O pleno exercício de funções do governo, com o primeiro-ministro e ministros a contas com o Ministério Público, ensombra a marcação das eleições antecipadas para 10 de Março de 2024.

O ataque ao regime democrático reforça a percepção de impunidade, deixando pasto aberto e livre a derivas que, depois de chanceladas nas urnas, com liberdade e legalidade, têm o selo da legitimidade.

É o pântano num momento delicado da vida nacional e internacional, em que os portugueses desesperam por cuidados de saúde, pela escola que ensine os seus filhos, por justiça mais célere e por segurança nas ruas.

É também o regresso dos tradicionais “enganados”, aqueles que nunca enxergam nada, que estiveram sempre calados, e que agora exibem choque com total desfaçatez.

Tudo sem que haja, outra vez, a mais leve referência ao financiamento partidário ilegal, quando ainda ecoam as palavras de Henrique Araújo, presidente do Supremo Tribunal de Justiça: «A corrupção está instalada no país».

Não, não precisamos de mais génios, mas sim de políticos sem nódoas.

Portugal está a desmoronar à frente dos olhos dos cidadãos ainda aturdidos, no momento em que a ruptura geracional em curso exige o maior e mais atento escrutínio.

A procissão ainda vai no adro, mas já é possível afirmar, objectivamente, que António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa constituem o pior ticket de sempre em Portugal, desde o 25 de Abril de 1974.


segunda-feira, 6 de novembro de 2023

CRIMES EM NOME DA DEMOCRACIA



O conflito no Médio Oriente continua a ser alimentado pelas acções terroristas das partes envolvidas.

A questão não é saber quem começou, tanto mais que o ataque do Hamas, do passado 7 de Outubro, não pode ser descontextualizado dos anteriores perpetrados sucessivamente por Israel.

Como é possível um regime democrático colocar-se ao mesmo nível de um grupo terrorista?

A resposta é dramática: a geometria variável das superpotências facilita que Israel, um Estado pária que nunca cumpriu uma resolução da ONU, possa impunemente invadir, ocupar e matar indiscriminadamente civis inocentes.

O carrossel de contradições não é de hoje, nem de ontem, nem começou com a invasão do Iraque nem acabou com invasão da Ucrânia.

O resultado é trágico: a posição de Benjamin Netanyahu e de Vladimir Putin são tão criminosas e cínicas quanto as de Joe Biden e dos seus acólitos que lideram os principais países europeus, incapazes de terem aprendido com as vergonhas do passado.

Os crimes praticados em nome dos regimes democráticos são o fermento das ditaduras, com a agravante das negociatas de Estado lhes garantirem os meios suficientes para sobreviverem.

O descalabro da ordem mundial nunca esteve tão patente, designadamente a intensificação das relações e acordos com líderes sanguinários, como por exemplo Mohammad bin Salman da Arábia Saudita.

Em boa verdade, a práxis das relações internacionais apenas favorece a matança e a corrupção de Estado.

No meio da tragédia, o Reino Unido e os principais líderes da União Europeia, os arautos dos regimes democráticos, optam por chafurdar na miséria da indiferença do genocídio de um povo pobre e abandonado.

Felizmente, em relação ao Médio Oriente, Portugal e Espanha têm mantido uma posição civilizada e respeitadora do Direito Internacional e Humanitário que nem Marcelo Rebelo de Sousa consegue beliscar com as suas leviandades inaceitáveis.