Nem mesmo José Sócrates terá estado tão longe da realidade.
À beira das eleições do passado dia 10 de Março, António Costa garantia: «O Partido Socialista, e do outro, a aliança das direitas, vão subir e a extrema-direita populista vai descer».
O resultado do Chega, com mais de um milhão de votos, traduz a dimensão da arrogância, da ilusão e da máquina de propaganda ao serviço do poder.
Depois dos papões e dos fantasmas propalados, desfeitos nas urnas, há uma certa elite que agora passou a brandir os perigos dos retrocessos que vêm por aí.
Sejamos claros: ninguém, nem mesmo quem nunca branqueou o desvario da maioria absoluta do PS, tem legitimidade para embarcar nesta aventura para melhor disfarçar os últimos e bem reais retrocessos.
É preciso reclamar uma elite distante do poder e das tácticas partidárias, cuidando e garantindo que não seja penalizada, pessoal ou profissionalmente, pelo livre exercício da opinião e da crítica.
O desafio é de monta: a razia nos serviços públicos – escola, habitação, justiça, saúde e segurança –, exige o empenho e a transparência de todos para corrigir os abusos da onda rosa, a que a administração e sector públicos não escaparam.
Se a mudança é inevitável, se olhar em frente se impõe, também é desde já imperioso sublinhar que o escrutínio enviesado nunca serve, seja qual for a cor do poder.
Por mais avassaladora ou dissimulada, a ficção não foi apenas uma prática desta desprezível espécie de esquerda no poder, também pode ser uma perigosa tentação da governação da velha e da nova direita.
O combate à corrupção pode ser um exemplo paradigmático, depois de promessas e instituições que continuam no papel, para marcar a diferença entre o passado e a futura governação.
Os partidos políticos – do sistema ou não – vão ter de responder à questão que abafaram em campanha: é possível combater o crime de colarinho branco e o enriquecimento ilícito sem legislação clara e sem a autonomia financeira de quem investiga?