sábado, 5 de outubro de 2019

DIA DE REFLEXÃO


Órgãos de soberania colocados "a salvo" in extremis, a decapitação da cúpula do MP que mais combateu a corrupção, o descalabro no SNS e o aumento da dívida pública devem fazer parte do dia de reflexão.

É que a degradação galopante da credibilidade do Estado, o preocupante abrandamento da economia e a astronómica dívida são demasiado graves para serem ignorados.

Num prato da balança, o bloco político alternativo, a estabilidade governamental e a reversão de alguns cortes - entre os quais aqueles perpetrados antes da chegada da Troika  -, objectivo aliás só possível pela intervenção do Banco Central Europeu.

No outro, não é possível esquecer os cadáveres do SNS, os pensionistas que esperam e desesperam pela sua reforma, as demissões governamentais, o recuo na aplicação da Lei das Incompatibilidades (chancelado pela PGR), o nepotismo e a partidarização de instituições como a Protecção Civil, entre outras, sem esquecer os desastres florestais e a tragédia humana, a degradação inimaginável dos serviços públicos e a carga fiscal que não pára de aumentar.

E sobre o futuro não faltaram promessas para consolidar na reflexão de cada um, até estar face à urna de voto: ou a confirmação de um caminho ou a mudança da forma como se faz política e se governa, em todos os casos tudo dissecado durante o período de campanha eleitoral, sobretudo nas entrevistas e debates televisivos.

Não nos deixemos enganar pelo primeiro impulso, pela súmula difusa sempre geradora de uma avaliação que nem sempre obedece a uma análise de exigência e a uma cultura cidadania, porque o que está em causa é demasiado importante.

Finda a campanha eleitoral, eis a questão principal: Quem falha, insulta, ameaça e perde a cabeça ao virar da esquina merece a confiança do voto?

Não!

Mas, em Democracia, a decisão soberana pertence ao voto expresso do conjunto dos cidadãos.

domingo, 29 de setembro de 2019

TANCOS: MARCELO E COSTA QUISERAM SABER TUDO?


É em campanha eleitoral que tudo deve ser discutido, permitindo aos eleitores conhecer quem são os representantes que estão à beira de eleger.

E todas as questões são pertinentes e úteis para saber o que se passou em Tancos, pois estamos em presença do maior escândalo político desde o 25 de Abril de 1974.

Mas, sinceramente, centrar a investigação, e o debate político mais do que necessário e legítimo, apenas na obtenção da resposta à questão que está na ribalta - o presidente da República e o primeiro-ministro sabiam da encenação de Tancos? - é um passo gigante para tudo poder ficar na mesma.

Além do mais, quem conhece o funcionamento dos mecanismos do poder sabe, perfeitamente, da impossibilidade de Marcelo e Costa nada terem suspeitado ou sabido sobre o que se passou em Tancos depois da notícia do roubo do armamento.

E também sabe, inequivocamente, que, a partir do momento em que o assunto passou a "queimar", o sistema age no sentido de tentar deixar o presidente e o chefe do governo "a salvo". 

Por isso, necessariamente, o caminho tem de ser feito complementarmente através do escrutínio do cumprimento das funções de Estado de ambos, ou seja: Marcelo e Costa quiseram mesmo acompanhar como deviam o que se passou em Tancos?

E mesmo que, em teoria, fosse possível que todo o Universo tenha mentido ao presidente e ao primeiro-ministro, tal não impede que seja apurado se ambos quiseram, de facto, saber tudo sobre Tancos.

Aliás, não é crível para ninguém de bom senso que tanto o presidente como o primeiro-ministro tenham baixado a guarda depois do roubo de Tancos, tratando-se de um assunto de Estado com tal gravidade e repercussão internacional.

Numa Democracia de mais de 45 anos, não pode bastar o silêncio do faz-de-conta, nem a farsa de gritar aos sete ventos o apuramento de responsabilidades...

E, chegados a esta encruzilhada, a uma semana das eleições, é preciso fazer o primeiro balanço.

Rui Rio e Assunção Cristas têm cumprido o papel de oposição, escrutinando a acção do governo.

Por sua vez, PCP, Bloco, Verdes e PAN envergonham a Democracia ao abrir a porta a mais um tabu em campanha eleitoral, fazendo de conta que a partir do momento em que a Justiça entra em acção a política deve ficar calada.

Quanto ao silêncio do PS, os portugueses já conhecem o que a casa gasta desde o tempo de Sócrates.

Dito isto, e depois de conhecida a Acusação, também é importante sublinhar que o exercício do escrutínio do poder não se confunde com qualquer avaliação moral ou de de carácter dos titulares de cargos políticos e públicos, sendo por isso necessário vigilância sobre o que o Ministério Público vai fazer a seguir.

Hoje, com o que já se sabe, Marcelo e Costa não podem ficar à porta da Justiça, mais chefe de gabinete menos chefe de gabinete.

O princípio da verdade doa a quem doer não pode ser atraiçoado, mais uma vez, pela importância social e política de quem quer que seja, nem tão-pouco pela proclamação de boas intenções.

As manobras mais ou menos criativas e inconsequentes, seja do presidente da República - esteve para pedir a autorização do Conselho de Estado para depor no processo de Tancos, mas não pediu -, seja do primeiro-ministro - invocar o estatuto político e os 58 anos de idade -, não podem enfraquecer a determinação de quem tem o dever de perseguir quem prevaricou, por acção ou omissão.

É preciso levar o apuramento sobre a encenação de Tancos até ás últimas consequências, não esquecendo qualquer possibilidade, designadamente aquela que está na mente de todos os portugueses de boa-fé: se o presidente da República soubesse da criminosa encenação em Tancos necessariamente o primeiro-ministro também teria de saber, e vice-versa.

Ficar à porta da verdade em Tancos é pouco, muito pouco, para fortalecer o regime democrático e merecer a confiança dos portugueses.


segunda-feira, 23 de setembro de 2019

CORRUPÇÃO COM NOVA CARTILHA


Os cargos de Francisca van Dunem, Pedro Nuno Santos e Graça Fonseca estão garantidos.

Contudo, não é através de decreto que os cidadãos passam a respeitar, respectivamente, os ministros da Justiça, das Infraestruturas e da Habitação e da Cultura.

Para "salvar" os três governantes, António Costa jogou tudo no alívio da pressão sobre a rolha da garrafa da corrupção ao mais alto nível do Governo e da Administração.

E Lucília Gago, procuradora-geral da República, chancelou a maior brecha no combate aos crimes de colarinho branco, desde o 25 de Abril de 1974, na proporcional medida em que as suas toilettes esvoaçam colorida e suavemente sobre as críticas do Conselho da Europa e de outras instituições internacionais.

Resta ainda saber se Lucília Gago vai determinar o carácter vinculativo do parecer do Conselho Consultivo da Procuradoria-Geral da República (PGR).

Ainda assim, como já parecem remotos os tempos em que Joana Marques Vidal sustentava a tese das «redes de corrupção instaladas no Estado» - aliás, corroborando Maria José Morgado -, a qual teve o mérito de perturbar a tranquilidade do bailete instalado e em curso.

Vamos aos factos, por exemplo em relação ao sector da Saúde, em que a grassa a suspeita da grande corrupção, para observar, salvo melhor opinião, a monstruosidade política da tese defendida por António Costa, e agora secundada pela PGR:

76% dos portugueses consideram que a qualidade dos serviços públicos de Saúde ficou na mesma ou piorou no último ano;

 65% dos portugueses consideram que a corrupção ficou na mesma ou aumentou no último ano.

A relevância destes dois números, recentemente publicados pelo "Expresso", obriga a fazer mais e muito melhor, mas o Governo e o MP optaram por recuar em relação à Lei, com efeitos ainda pouco perceptíveis quanto ao futuro.

Só um serventuário do poder pode confundir o escrutínio implacável e o reforço da transparência com uma qualquer suspeição que tem subjacente uma avaliação de carácter dos titulares de cargos políticos e públicos.

De facto, com o parecer do Conselho Consultivo da PGR quase metade do PIB nacional controlado pelo Estado passou a estar mais exposto ao compadrio e às redes de influências.

Já sabíamos que esta espécie de PS que ocupa o poder padece de uma alergia crónica em relação à ética republicana, um princípio, aliás, cada vez mais abastardado, como comprova a extraordinária fantasia, tão impune quanto mirabolante, de ninguém ter dado conta no Largo do Rato do elefante no meio da loja.

Agora, desgraçadamente, ficámos a saber que a nova cúpula do Ministério Público atirou a toalha ao chão, quiçá plasticizando o atrevimento passado de incomodar um par de poderosos, e reforçou a percepção generalizada de um perdoa-me rastejante.

domingo, 15 de setembro de 2019

ELISA FERREIRA: CROWD CHEERS


A presidente eleita da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, uma espécie de Jean-Claude Juncker de saias, deve estar orgulhosa.

Elisa Ferreira é a nova comissária europeia, responsável pela distribuição dos fundos estruturais da União Europeia, enquanto comissária europeia para a Coesão e Reformas. 

Não faltaram elogios a Elisa Ferreira, da direita à esquerda, de quem nunca a respeitou a quem sempre a criticou, ou seja, tudo no mais perfeito cenário da forma como António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa estão na política e no poder.

Dito isto, importa centrar a questão: a pasta dos fundos europeus é assim tão importante para Portugal?

Ou ainda melhor: uma pasta na Comissão Europeia que permitisse um reforçado combate à corrupção e ao branqueamento de capitais não teria sido muito melhor para Portugal?

A comparação entre os fundos estruturais a receber e os custos da corrupção não resistem aos números: os custos para Portugal da corrupção cifram-se em 18,2 mil milhões de euros por ano, mais do que o orçamento anual para a Saúde, isto é, cerca de três vezes o que Portugal pode receber, anualmente, em apoios da União Europeia.

Se isto não bastasse é claro que alguém poderia contrapor o esforço nacional no combate aos crimes de colarinho branco, mas isso também não é verdade: além da escassez de meios e dotações financeiras, a PJ e o MP estão com o respectivo quadro com 50% de vagas.

E se isto também não bastasse resta dizer que Ana Gomes, ex-eurodeputada, com tanta ou mais credibilidade que Elisa Ferreira, que também é do PS, poderia ser um activo consensual para fazer a diferença numa verdadeira luta contra o dinheiro sujo e todos os fenómenos associados.

Só que Ana Gomes não cai no sistema como a seda...

Nem nos amigos do PS, nem nos escritórios de advogados, nem nos offshores, nem no futebol dos grandes, nem nos capitais angolanos e chineses, entre outros, nem em António Costa, nem em Marcelo Rebelo de Sousa, nem nos apparatchics que chafurdam no lamaçal em que Portugal está transformado há muito tempo.

Ora, neste autêntico bailete, cada vez menos republicano e mais rasca, não poderia faltar a cereja em cima do bolo: a inconsequente preocupação com a corrupção em Portugal...

Ainda há mais antes de 6 de Outubro de 2019?

segunda-feira, 9 de setembro de 2019

CAMPANHA ELEITORAL: NINGUÉM LEVA A MAL?


António Costa não se livra da fama e do proveito: é o homem dos truques.

Mas é o único político a mentir politicamente de uma forma descarada?

Não!

Todavia, como é o primeiro-ministro, todo o escrutínio é pouco em vésperas de eleições.

E são tantas e tantas as vezes em que já foi apanhado que até há quem o elogie pela «habilidade política», seja lá isso o que for...

Entre muitas dessas "habilidades" que passam sem serem identificadas e corrigidas, há uma que recentemente chocou o país.

António Costa, na pele de secretário-geral do PS, afirmou: «Os portugueses estão a pagar menos mil milhões de euros de impostos do que pagavam em 2015».

A grosseria da afirmação impressiona, tanto mais que as receitas fiscais do Estado aumentaram entre 2015 e 2018, passando de um valor total arrecadado de 38.849 milhões de euros para 44.320 milhões de euros. Ou seja, o registo aponta para um acréscimo de mais de cinco mil milhões de euros.

Mas o que impressiona ainda mais, depois de Costa ter sido apanhado em mais uma flagrante mentirola política, é que o ministro Mário Centeno veio a público admitir que o «Estado ainda tem por devolver aos contribuintes mil milhões de euros em IRS».

Mais uma vez, nos últimos tempos, António Costa e Mário Centeno colidem politicamente...

Ou seja, a mentirola de António Costa ficou claramente exposta publicamente.

Ora, perante a evidência factual resta perguntar:

O que leva um político experiente a arriscar a sua credibilidade de uma forma tão leviana?

Certamente, a convicção que o escrutínio dos cidadãos e da generalidade da imprensa não funciona.

Será que António Costa tem razão em apostar na velha receita dos truques?

É esperar por 6 de Outubro para ter a resposta.

segunda-feira, 2 de setembro de 2019

COSTA E MARCELO: FRENÉTICOS E AGITADOS


António Costa anda frenético, exibindo autoridade, apunhalando amigos, prometendo o que não fez e multiplicando entrevistas e declarações que estão a incendiar a pré-campanha eleitoral.

A intranquilidade de António Costa surpreende, tendo em conta os estudos de opinião que têm sido publicados.

Então, o que se passa?

Medo dos debates com os restantes líderes partidários?

Ora, se a vantagem é assim tão grande o que faz o líder do PS ziguezaguear tão freneticamente?

Informação sobre o que está para vir por aí?

Por sua vez, Marcelo Rebelo de Sousa não cessa de surpreender, expondo-se cada vez mais à critica, apesar das sondagens lhe permitirem um grau de popularidade só equivalente à redundância em que o seu mandato se transformou.

E, agora, insiste num plano de salvação para a Comunicação Social, obviamente à custa dos contribuintes, porventura para poder (será possível?) contar ainda com melhor imprensa.

Isto é: se os portugueses não compram tantos jornais, não ouvem tanta rádio e não enxergam tanta televisão isso não interessa nada, pois pagam na mesma pela via do Orçamento do Estado.

Para ganhar uns votos e para condicionar os jornalistas será que ainda há limites para esta dupla (geringonça institucional) no uso e abuso do poder de representar o Estado?

Independentemente dos dislates e demais tiros no pé dos últimos dias, sejam quais forem as verdadeiras razões, ainda é cedo para descodificar o que está na origem de tanto frenesi.

De facto, António Costa nunca teve os votos nas urnas para liderar o governo de Portugal.

Talvez seja este, verdadeiramente, o seu calcanhar de Aquiles.

Por sua vez, Marcelo não se contenta com apenas um mandato, tudo estando a fazer para garantir o segundo ainda antes de terminar o primeiro, custe o que custar.

E, porventura, para evitar que o bailete em curso atinja proporções ainda mais obscenas, talvez fosse interessante, num dos poucos intervalos das selfies e feiras selectivas pagas com o dinheiro dos portugueses, aproveitar para perguntar ao presidente da República: dará posse a um primeiro-ministro que não tenha sido o líder do partido político mais votado nas legislativas do próximo dia 6 de Outubro?

E, já agora, com ou sem papel para fazer de conta?

À cautela, e pela mais elementar transparência, é preciso responsabilizar o primeiro-ministro e trazer o presidente da República para a realidade constitucional, porque nesta campanha pré-eleitoral já está a valer tudo...


segunda-feira, 26 de agosto de 2019

PORTUGAL FICA MAIS POBRE QUANDO DESAPARECE


Em tempos de exibição musculada e gratuita da força do Estado, momentos há em que Portugal desaparece.

Estranho?

Não!

Os exemplos deste "apagão" são variados e revelam um padrão aterrador da forma como o Estado olha e trata os cidadãos.

Um dos que mais impressiona, entre tantos e tantos outros, é o recente caso das gémeas de 10 anos que viviam presas em garagem sem ir à escola.
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Portugal desapareceu após o Correio da Manhã revelar o impensável na segunda década do século XXI.

Onde estava o presidente da República? 

E o primeiro-ministro? 

E os ministros da Segurança Social, Justiça e Educação?

E, já agora, a procuradora-geral da República?

O silêncio escondeu-se atrás do fazer de conta, em comunicados vagos e parcas declarações avulsas.

Como é abissal a distância entre os bastidores do poder e os corredores da vida...

E, pasme-se, desde os órgãos de soberania às instituições, da direita à esquerda, todos continuam a sorrir ao sol sem o mais pequeno vislumbre de constrangimento...

Uma realidade só possível porque, como dizia Miguel Torga, «Em Portugal, as pessoas são imbecis ou por vocação, ou por coacção, ou por devoção».

Pena é, muita pena, que a Comunicação Social não leve até ao fim - nem que seja por uma vez! - o escrutínio indispensável para limpar este lixo que permite do alto da poltrona, por acção ou omissão, que uma realidade tão abjecta permaneça impune ao longo de mais de uma década.

Fait-divers?

Não!

É um exemplo, mais uma singela tragédia, com tanta ou maior importância que o caso de Tancos.

Num como no outro, Portugal fica mais pobre quando desaparece.



domingo, 18 de agosto de 2019

COSTA IGUAL E SEM SURPRESA


A lógica instrumental de António Costa já vem de longe...

Nos momentos decisivos, na JS, no PS, como número dois de Sócrates, presidente da Câmara de Lisboa e, agora, como primeiro-ministro, preferiu sempre o "eu" ao "nós".

Ai, os acordos... Quantas alianças...

O primeiro-ministro continua a fazer jus às práticas do seu ADN partidário e arranca para as legislativas de 6 de Outubro com a mesma arrogância política sustentada na propaganda, a mesma lógica instrumental reveladora da incapacidade em aprender com os erros do passado e a mesma falta de sentido de interesse nacional compensado pela visão cor-de-rosa politicamente irresponsável.

A lógica de curto prazo, a estratégia de manutenção do poder pelo poder, com mais ou menos truque de bastidor, e a indiferença aos grandes estrangulamentos e desafios que Portugal estão amplamente demonstrados, entre outros exemplos, com o reforço da vergonha dos Vistos Gold de Portas.

Aliás, que o digam os camionistas, os notários, os doentes do SNS, os reformados da Segurança Social, as vítimas dos incêndios, os professores, os enfermeiros, os médicos, os militares, os polícias, os investigadores criminais, etc...

Com a máquina da propaganda bem oleada, constituída por uma federação de interesses divergentes e até opostos mantida paulatinamente e generosamente alimentada, António Costa tem conseguido atingir os "seus" objectivos pessoais e políticos.

Foi assim para chegar ao poder, tem sido assim com a austeridade selectiva em curso, é assim com a greve dos camionistas que transportam matérias perigosas, será assim com a sua obsessão por um lugar institucional internacional.

O circo montado em relação à greve dos camionistas, sem olhar às reivindicações justas, sem controlo independente, e sem respeito pela legalidade, revela o regresso ao passado: um governo forte com os fracos e fraco com os fortes.

Resultado: os mais pobres e desfavorecidos pagam a factura, enquanto o Estado dominado pelas esquerdas continua a sustentar as elites gordurosas que cercam o governo e a classe política.

Se elegerem António Costa, pela primeira vez, para continuar liderar o governo de Portugal com as mãos livres, então os portugueses não aprenderam nada com o passado nem com o presente, ou seja, ainda teremos muito caminho para percorrer até conseguir viver em Democracia.

domingo, 11 de agosto de 2019

GREVE DOS COMBUSTÍVEIS: E O MOVIMENTO SINDICAL?


A confirmação da greve por tempo indeterminado do transporte de combustíveis é o primeiro passo para infernizar as férias dos portugueses.

Depois de sucessivos passos que agravaram o conflito, o XXI governo constitucional está sob pressão, refém de uma estratégia socialmente hostil e politicamente eleitoralista.

E nem mesmo o presidente da República pode ser a última reserva - depois da precipitação de atestar o depósito do carro.

Depois da decisão judicial que deu cobertura aos serviços máximos, alimentando as ameaças de António Costa, a verdade é que o direito à greve ficou ferido de morte.

Amanhã, uma qualquer outra greve está à mercê de governantes e da interpretação e aplicação restritiva da lei da greve.

Em suma, há políticos que olham mais para a sua imagem do que para a atitude de Estado essencial para mediar um conflito laboral.

Com a iminente requisição civil, porventura baseada em truques semelhantes aos que ocorreram na última greve dos Enfermeiros, resta saber como vai reagir o mundo sindical à bomba atómica do mundo laboral, bem como as respectivas ondas de choque a nível internacional.

Os sinais de desconforto na PSP e GNR são um alerta muito preocupante que o primeiro-ministro e o presidente da República desvalorizaram de uma forma politicamente leviana.

Aliás, ainda está por avaliar quais as consequências de um alastramento da onda de indignação entre os camionistas a outros sectores e profissões,

Também os partidos à esquerda não vão poder continuar a tentar escapar entre os pingos da chuva deste Verão especial.

E o que resta da oposição à direita não deixará de estar atenta ao sarilho em que o país está metido por força da conjugação de três factores:

1. A habitual arrogância política de António António Costa;

2. A falta de preparação de Pedro Nuno Santos para assumir uma pasta tão relevante;

3. E a já tradicional inconsequência política e institucional de Marcelo Rebelo de Sousa.

Se o que resta do movimento sindical acordar, então António Costa ficará com muito mais do que um grave problema com os camionistas.

E Marcelo Rebelo de Sousa ficará enterrado na sua torre de marfim, porventura fazendo selfies cada vez mais sozinho e a propalar as mesmas generalidades perigosas ao sabor do vento.

segunda-feira, 5 de agosto de 2019

GOVERNAÇÃO E BOLORENTOS


Ninguém ousaria prever que, depois de 2015, o PS voltaria a liderar um governo contestado pelo nepotismo e suspeitas de corrupção nos negócios com o Estado.

Todavia, a actualidade não deixa de nos surpreender, favorecendo a instalação de um clima pantanoso face às sucessivas notícias de familiares dos socialistas colocados no aparelho de Estado e de negócios opacos e ruinosos levados a cabo por empresas detidas por familiares de membros do XXI governo constitucional.

O ex-número dois de Sócrates, hoje primeiro-ministro de Portugal, não aprendeu nada, nem quer aprender, porque continua confortável com o estado a que isto chegou.

O debate deve levar mais longe a terapia exigível para acabar com este bailete, aliás, liderado magistralmente por Marcelo Rebelo de Sousa.

Portugal continua a ser conduzido por políticos bolorentos, muito bolorentos, incapazes de perceber que os fenómenos de nepotismo e de corrupção são civilizacionalmente inaceitáveis.

É claro que esta espécie de políticos bolorentos são legalistas, formalistas, habilidosos e lavam as mãos frequentemente ou desaparecem num ápice quando lhes convêm.

Obviamente, seguem a lei - quando não a mudam a todo o vapor -, pedem pareceres à PGR - depois de tentar controlar o Conselho Superior do Ministério Público -, mas aguardam sempre, serena e humildemente, pelo veredicto da Justiça e pelo voto nas urnas - que interpretam da forma mais conveniente.

Não, não chega para mudar Portugal.

O saque permitido por este políticos bolorentos - por acção ou omissão - custa muito dinheiro que faz falta no sector da Educação, da Saúde e da Justiça, entre outros decisivos para melhorar a vida dos portugueses.

Não, não é possível respeitar politicamente este políticos bolorentos, independentemente das convicções de cada um deles ou da aptidão para a selfie ou para o discurso politicamente hipócrita.

Não, não é admissível continuar a assistir a esta governação bolorenta.

Talvez seja desta, talvez, nas próximas eleições legislativas de 6 de Outubro, que a lucidez dos portugueses permita enviar esta espécie de políticos bolorentos para a reforma... 

Ainda que sabendo que terão de lhes pagar reformas douradas!

segunda-feira, 29 de julho de 2019

GOLAS MAÇADORAS E VACAS SAGRADAS


Numa realidade democrática consolidada e adulta não há instituições nem profissões boas nem más, nem tão-pouco umas mais importantes do que as outras.

É tão importante um bombeiro como um médico, um camionista como um polícia, um canalizador como um enfermeiro, um jornalista como um magistrado e um governante como um lixeiro.

Todos eles são essenciais para realizar uma vida em sociedade.

E não é por serem alvos de críticas que a sua honorabilidade e o regime democrático são colocados em causa.

Em épocas de incêndios, por exemplo, há muitos e muitos anos que está demonstrada à saciedade a falta de qualidade dos bombeiros e a fraca eficácia do sistema de protecção civil recheado de apparatchiks.

E não é por isso que podemos afirmar que são dispensáveis.

Aliás, também está amplamente comprovado a falta de qualidade da classe política e dos governantes.

E não é por isso que vamos prescindir dos partidos políticos e de um modelo de governação democrático.

É verdade que há instituições e profissões mais ou menos maçadoras, uns por força da sua capacidade de intervenção, outros pela mobilização capaz de fazer greves.

Seja a comprar golas inflamáveis para protecção dos fogos, seja a parar o país.

Mas o problema é outro: aqueles que se julgam sagrados e imunes à crítica, ao escrutínio e à mudança.

Os bombeiros estão entre aqueles que, pela nobreza da sua acção, se julgam intocáveis.

E os governantes perpetuam uma realidade que nos obriga a continuar a ver o país a arder desalmadamente.

O mesmo se poderia aplicar a todas as outras situações que envolvem esta espécie de castas que fazem tão bem como mal, e que é urgente modernizar e colocar numa trajectória útil.

Ou seja, em Democracia, se as golas maçadoras são intoleráveis, as vacas sagradas alimentadas por fantasias reles e oportunistas são imperdoáveis.

domingo, 21 de julho de 2019

PAÍS DE CONTAS (IN) CERTAS


Há quem seja capaz de dizer a maior mentira sem se rir.

E até há quem também seja capaz de acreditar mesmo que a sofrer e a chorar.

Num país em que o Estado esconde, deve e fica a dever com a maior impunidade, os noticiários repetem elogios ditirâmbicos às contas públicas, omitindo o que está por debaixo do tapete e as consequências dramáticas das escolhas da governação.

António Costa não se cansa de liderar e apanhar a boleia desta propaganda orquestrada, conseguindo até não se desmanchar a rir, designadamente quando promete como prioridade para amanhã o que já era prioridade ontem.

O ministro das Finanças tem o descaramento político de reafirmar as suas contas, sem que lhe coloquem à porta do Ministério que tutela o número de caixões equivalentes ao número de pessoas que morreram por causa de falta de atendimento e de adiamento de consultas e cirurgias.

É também neste mesmo país que a incompetência de um ministro é capaz de passar despercebida mesmo que condene os reformados a esperar e a desesperar pelo pagamento da reforma ao fim de décadas de trabalho e descontos para a Segurança Social.

É o país em que nunca falta a chancela e o afecto presidencial, qual perpetuar do bailete para animar a malta.

O tal país onde não faltam cidadãos resignados e/ou entretidos com o futebol que vai começar.

Onde também não faltam instituições de controlo e uma comunicação social que já perderam a vergonha.

Onde vingam os pedinchões que aguardam a respectiva compensação pelo abafamento de uma realidade escandalosa que jamais se pode transformar numa banal breve ou numa nota de rodapé.

Portugal é, de facto, um país de contas (in) certas.