segunda-feira, 16 de março de 2020

COVID2019: FOLCLORE É IGUAL A MAIS MORTES


Há crises e crises, mas não há crises boas e crises más.

Nos momentos mais críticos, há quem insista na receita: acreditar e confiar no poder, porque sim, porque são eles que sabem!

No actual período excepcional, tal como aconteceu durante a Troika, é sempre salutar não perder a noção e a perspectiva da crítica das decisões do poder.

E é a hora do escrutínio implacável, agora, pela nossa Saúde!

Basta de papagaios, com boas intenções ou em competição populista desenfreada.

E também basta do discurso paternalista daqueles que julgam ser possível transformar a informação rigorosa em "x", quiçá para esconder a realidade e/ou a incompetência, em conferências de imprensa pouco úteis e credíveis.

E, por amor de Deus, chega de tiradas incompreensíveis para a generalidade dos cidadãos, designadamente aquela que pede aos portugueses para se afastarem das Urgências quando estão doentes.

Não!

Os portugueses têm o direito à Saúde!

E a Linha SNS24 tem de estar, com eficácia, à sua disposição.

E merecem saber a verdade, sobretudo no momento em que chegou a progressão exponencial da transmissão do COVID2019.

E também têm legitimidade para questionar as decisões hesitantes e tardias do poder, porventura para ganhar tempo e esconder um sistema de Saúde falido que vai deixando morrer os portugueses mais pobres e desvalidos.

Quantas camas preparadas existem?

Quantos ventiladores estão disponíveis?

Por que razão os profissionais de Saúde ainda não têm os instrumentos necessários para estarem a salvo da contaminação galopante?

Como foi possível que um surto epidémico na China tenha sido transformado numa pandemia com epicentro na Europa?

E mais: onde andam as autoridades para impedir que gestores e empresas rascas, entre outros miseráveis oportunistas do mercado, que se aproveitem da tragédia para praticar preços especulativos e escandalosos de bens que passaram a ser de primeira necessidade?

Não, nada disto é falso, subjectivo e radical, muito menos de Esquerda ou de Direita...

É o corolário da opinião expressa pelos profissionais de Saúde - que ainda têm coragem para dar a cara - num país em que aqueles que desafiam a verdade oficial arriscam pagar um elevado preço.

Por mais que alguns fanáticos estejam determinados a alimentar o folclore por razões meramente ideológicas e tácticas, a vida de cada um - a nossa e as deles - vale muito mais.

Não há uma única vida de um cidadão português que valha menos do que a vida do PR. 

Costa nunca o percebeu, porque o partido e o Estado são os seus mundos. 

Pode ser que cada um de nós, um dia, exija mais e de uma forma mais ruidosa do que a cantoria e as palmas de circunstância à janela.






segunda-feira, 9 de março de 2020

PS, COSTA E AS FANFARRONICES


A arrogância política está no ADN dos socialistas que sempre se comportaram como os donos da Democracia.

E a história do PS confunde-se com a de António Costa.

Desde que chegaram à liderança do Executivo, por via da maioria então formada no Parlamento, após as Legislativas de 4 de Outubro de 2015, ambos têm multiplicado as atitudes de sobranceria política.

Entre muitos exemplos basta apontar a comunicação governamental a propósito da epidemia (pandemia?) do coronavírus designado por Covid-19: não há problemas orçamentais, está tudo preparado, venham os infectados.

Num país com uma das maiores dívidas do mundo, com o SNS à beira do colapso, em que faltam médicos e enfermeiros por todo o lado, e com a trágica incapacidade de organização a que já estamos habituados, o impacte do Covid-19 parece uma brincadeira de crianças para o Governo liderado por António Costa.

De facto, este discurso não sossega ninguém.

A questão não é evitar o alarmismo sempre presente nestas circunstâncias, mas sim a habitual fanfarronice politicamente irresponsável.

Este padrão, que se tem repetido ao longo dos anos, também é verificável na governação no sentido lato.

Depois de uma vitória pequenina, nas últimas Legislativas de 6 de Outubro de 2019, António Costa entendeu que já não precisava de uma base de apoio político trabalhado e previamente formalizado.

Num gesto de saloiice política inimaginável, o primeiro-ministro acreditou que seria possível governar alternando o apoio parlamentar de que necessita à esquerda e à direita, subestimando claramente Catarina Martins, Jerónimo de Sousa e Rui Rio.

O resultado está à vista: «vamos governando!», como diz candidamente Siza Vieira, o advogado de negócios transformado no poderoso número dois do Executivo.

Com uma crise mundial de dimensões ainda não definidas, com a Europa a desfazer-se aos pedaços e com o horizonte internacional carregado, lá vamos andando... 

Até quando? 

Até ao próximo flick-flack de Costa. 

Mas será que ainda vai a tempo de não hipotecar o futuro do país?


segunda-feira, 2 de março de 2020

JUÍZES: RUIU O ÚLTIMO MITO DA DEMOCRACIA


Quantos casos existem de viciação na distribuição de processos por esses tribunais fora?

E, a comprovarem-se estes crimes, quantos processos vão rebentar nas mãos do sistema judicial?

O mito da incorruptibilidade dos juízes ruiu com estrondo.

Depois de Rangel e Galante porventura vamos assistir a um rosário penoso de outros juízes a braços com a Justiça.

Esta enorme pedrada no charco do que resta do regime democrático tem de ter consequências disciplinares para os prevaricadores, mas também tem obrigatoriamente de haver uma leitura política.

Se no primeiro caso ninguém dúvida que desde já se vai sentir a mão pesada do Ministério Público, no segundo tudo indica que o Governo vai tentar varrer o caso para debaixo do tapete, a avaliar pela primeira reacção pífia de Francisca Van Dunem.

Mas a nódoa continuará a pairar no espírito dos portugueses, minando a Justiça de alto a baixo.

Por isso é necessário começar desde já a debater as famosas comissões de serviço em que os magistrados saltitam entre os tribunais e a política, sem esquecer outros cargos no mundo do desporto, deixando um rasto de favores e cumplicidades que em nada abonam a credibilidade.

À Justiça o que é da Justiça, à política o que é da política, lembrava, e muito bem, António Costa.

Eis uma oportunidade para impulsionar e reforçar na prática esta necessária separação de poderes fundamental para a transparência do regime democrático.

E, certamente, não faltará ao primeiro-ministro apoio no Parlamento, nem na Esquerda nem na Direita.

Entre os magistrados também não faltará quem esteja disponível para abraçar esta reforma, pois a esmagadora maioria fez, faz e fará o seu trabalho nos tribunais com dignidade e competência.

Travar a aproximação pegajosa entre a esfera judicial e a política, dois mundos que devem estar claramente separados, é uma reforma essencial para começar a regeneração da Justiça em Portugal.

Quanto a Marcelo Rebelo de Sousa nada a esperar, a não ser saber qual a direcção dos ventos...

É que a campanha eleitoral para as presidenciais em 2021 já está em curso há muitos e muitos meses.





segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

NO PAÍS DE MARCELO... SILÊNCIO!


Num espaço de uma semana, o país acordou estatelado na lama.

Em primeiro lugar, depois da polémica com as ordens hierárquicas secretas no Ministério Público, os juízes passaram para a berlinda pelas piores razões: suspeitas de viciação da distribuição de processos e corrupção.

Num ápice, a grande maioria dos cidadãos levou um murro no estômago.

E num curto espaço de dias, os portugueses não foram poupados.

Uma jornalista revela que o actual primeiro-ministro há sete anos, enquanto ministro, exigiu a sua cabeça a uma administração...

Dois nomes nada recomendados são indicados publicamente para o Tribunal Constitucional.

Um ministro exige a alteração de uma Lei para fazer vingar um projecto polémico.

E, qual cereja em cima do bolo, depois de todas as promessas de combate à corrupção, a tardia transposição da quinta directiva europeia de combate ao branqueamento de capitais e ao financiamento do terrorismo passou com uma normalidade assombrosa, sem qualquer explicação política.

Depois de tudo o que já havíamos visto, esta sucessão de notícias dignas de uma qualquer república de bananas impressiona até o mais céptico.

Face a todo este lixo, comprovando que o normal e regular funcionamento das instituições está comprometido, o presidente da República remete-se ao silêncio.

E porquê?

Porque no país de Marcelo, institucionalista, manso e hipócrita, é sempre assim.

E depois?

Nada!

É caso para perguntar: Para que serviu a tal proximidade? E as selfies?

A resposta é óbvia: Para melhor poder manter o status quo, qual bailete permanentemente reinventado.

O silêncio pode ser uma arma temível. 

Mas também pode ser, quando mal usado, uma arma de destruição maciça da democracia. 

Se é este o país que queremos, então só nos resta acompanhar o silêncio podre.

Se queremos mudar... É tempo de falar, de criticar, de exigir.

Até 2021!

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

EUTANÁSIA: IGREJA ÀS VEZES


Há três anos, Ana Rita Cavaco dava um murro na mesa denunciando a prática encapotada de eutanásia no SNS.

Caiu o Carmo e a Trindade, choveram os desmentidos tão politicamente patéticos quanto hipócritas e nem sequer faltaram as ameaças de responsabilização legal sobre a Bastonária da Ordem dos Enfermeiros.

Desde então o que aconteceu?

Nada!

E o que mudou em Portugal?

Pouco ou nada!

Nem mesma a posição da Igreja portuguesa.

Hoje, tal como ontem, a posição firme da Igreja portuguesa contra a morte assistida contrasta gritantemente com o silêncio sempre cúmplice da mesma estrutura eclesial em relação à forma como são negados aos portugueses os mais elementares direitos dos cidadãos em vida.

O debate está feito e mais que feito, apesar de todas as tentativas de infantilizar a maturidade democrática do povo e de politização sobre esta questão de civilização.

A vida é o universo de cada um.

É a cada um dos portugueses que cabe decidir sobre a vida e a morte.

Por isso é ao povo que deve caber a palavra final.

Não, não são os representantes políticos que têm o direito de decidir o que apenas pode ser decidido directa e expressamente por cada um.

Basta atentar à posição de António Costa para perceber que esta decisão não pode cair no regaço de quem faz da vida política um manual de tacticismo.

Tem dúvidas?

Basta consultar o programa do PS.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

JUSTIÇA ENTRE MUNDOS MEDONHOS


O estado da Justiça em Portugal é um furúnculo sobre o qual o poder político - dos oportunistas aos bem pensantes - não pode alijar responsabilidades.

Não, não se trata de apontar o dedo a quem exige o máximo quando convém e sempre recusou dar o mínimo de condições.

Nem tão-pouco desmascarar, pela enésima vez, esta espécie de políticos pequeninos e rascas que não aceitam o escrutínio acima da política, porque entendem que o voto legítima tudo, da iniquidade ao roubo, da farsa ao estupro da mais elementar memória.

Da governação de Sócrates à lógica de continuidade de Costa, duas faces da mesma moeda que a propaganda não consegue disfarçar, vivemos tempos ainda mais refinadamente cínicos, exigindo à Justiça aquilo que todos sabem à partida ser impossível, ou seja, resultados com celeridade.

Entre o original e a cópia não há dúvidas: depois de Fernando Pinto Monteiro, a decisão "difícil" de afastar Joana Marques Vidal e designar Lucília Gago para a PGR diz tudo sobre o posicionamento do presidente da República e do primeiro-ministro, com mais ou menos Tancos.

E para quem tem dúvidas de mais um ataque dos socialistas à Justiça basta recordar também a decisão do primeiro-ministro de violar deliberadamente o segredo de Justiça, publicando as respostas que foi obrigado a dar em sede de Instrução do processo de Tancos.

Tempos houve em que existiu uma certa indiferença por causa desta crónica falta de meios do Ministério Público, mas agora a música é bem diferente.

Os PEP's angolanos andam há oito anos a ser investigados pelo DCIAP, sem arguidos constituídos, e agora uma directiva manhosa quer liquidar a autonomia dos procuradores, quiçá para garantir que Sexas não sejam incomodadas, mesmo com o escândalo à vista de todos.

Aliás, não terá sido por acaso que António Costa arregimentou uma magistrada do Ministério Público para a pasta da Justiça, enquanto Rui Rio, o "paladino" de uma nova atitude política, fica remetido à misteriosa toca do silêncio após o escândalo dos Luanda Leaks.

Os portugueses têm pela frente um enorme desafio: ou acabam com o actual mundo medonho da impunidade ou aceitam o mundo medonho de quem consegue provas de qualquer maneira para acabar com essa impunidade.

Este é o dilema em que vivemos, com mais ou menos corruptos portugueses e angolanos.

Se não for possível afastar democraticamente esta gentinha que manda e convive há demasiado tempo com a corrupção e a impunidade ao mais alto nível, então venham os whistleblowers, portugueses ou estrangeiros, a quem devemos a máxima protecção e um agradecimento.

Mas atenção, é preciso dizê-lo abertamente, agora, todos os cuidados são poucos para não comprar gato por lebre.

Ainda me lembro - lembram-se? - quando em Portugal se tentou pela calada que os serviços de informações, a coberto do suposto combate ao terrorismo, metessem o nariz na vida das pessoas e das empresas sem controlo. 

O mundo pode já ser mais medonho do que algumas vez imaginámos...


segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

A IMPUNIDADE IRRITA AINDA MAIS


Os Leaks colocaram a Justiça na ribalta de todas as atenções, pelo que advogados, procuradores, juízes e investigadores criminais não podem continuar calados.

Muito por força da cidadania, designadamente da acção de Ana Gomes, entre outros, os homens e as mulheres da Justiça têm sido obrigados a dar o seu contributo para o debate público depois das fugas de informação que nos mostram ainda melhor o mundo em que vivemos.

E até não têm faltado doutas opiniões sobre o que permite, e não permite, a nossa Lei, resultando por vezes numa confusão que mais parece um branqueamento desastrado.

Chegamos ao ponto de assistir à defesa dos direitos individuais para certamente melhor poderem ser esmagados no silêncio dos corredores do poder.

Não, não são necessários mais justiceiros, mas têm faltado testemunhos sobre como tem sido possível tolerar o actual ambiente hediondo que, agora, podemos ver ainda com mais clareza.

E se o "Estado de direito irrita", como escreveu Manuel Soares, presidente da Associação Sindical de Juízes Portugueses (ASJP), os cidadãos têm o direito de clamar que a impunidade irrita ainda mais.

Os enfermeiros e os médicos, por exemplo, com as denúncias das condições de trabalho, bem como os casos criminosos de falta de assistência na Saúde, despertaram a sociedade civil e obrigaram o poder político a estar mais atento à tal impunidade mais do que irritante.

Podemos esperar que os agentes judiciários desçam do pedestal para denunciar que a acção da Justiça está a roçar a farsa – favorecendo os mais poderosos –, obedecendo na prática ao princípio de oportunidade quando deveriam observar o princípio constitucional da legalidade?

Já não é aceitável que os processos "adormeçam" anos a fio rumo à prescrição, sem que haja uma palavra de alerta ou uma explicação transparente.

Aliás, o poder político já percebeu, com a sagacidade habitual, que o elo mais frágil é de quem não faz, não apresenta resultados, leia-se os responsáveis que têm a competência para administrar a Justiça em nome do povo.

António Costa encontra assim respaldo público para continuar a lavar as mãos, tanto mais que foi buscar ao Ministério Público uma ilustre magistrada para liderar a pasta da Justiça.

Se é verdade que há quem reme firmemente contra esta maré podre do deixa andar, também é verdade que não pode bastar prender um primeiro-ministro, um juiz, um procurador ou um investigador criminal para deixar os cidadãos sossegados.

É preciso muito mais do que a Justiça do caso ou da pena exemplares.

A política da cabeça enfiada na areia – ignorando as consequências da adjudicação directa, da comissão de serviço, do bilhetinho para a bola ou de um par de luvas para aquecer a vida –, acabará por cair sobre a cabeça de todos os protagonistas do universo judicial.

E que não haja a menor dúvida: a subserviência da Justiça à política de Estado é uma traição à Democracia.

A cada dia que passa, a cada leak que vier a público – e eles não faltarão! – a Justiça também estará na berlinda da suspeita do intolerável frete, da inimaginável capitulação face aos mais poderosos e da monstruosa denegação de justiça.

E não será mais possível que um qualquer magistrado se venha desculpar com a Lei e com a falta de meios, depois de todos começarmos a perceber que paira no ar a cumplicidade e a promiscuidade que bastem no Estado de Direito a que chegámos.










segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

PORTUGAL MANCHADO


As revelações dos Luanda Leaks fizeram ruir a propaganda do Portugal limpo, solidário e moderno.

E, depois de Tancos, com o fim do mandato à vista, Marcelo Rebelo de Sousa viu chancelada a nódoa que mancha indelevelmente a sua presidência.

Apesar de manifestar uma aparente despreocupação face ao tsunami em curso, a verdade é simples: com Marcelo Rebelo de Sousa em Belém nada mudou em Portugal.

Ainda assim alguns até chegaram a acreditar, mas a evidência dos factos não engana, com mais afecto menos afecto, com mais selfie menos selfie.

A verdade que incomoda ainda é mais perturbante: Rui Pinto, que continua preso, fez mais pelo combate à corrupção e ao branqueamento de capitais do que os órgãos de soberania instalados na sua gritante inacção e omissão.

Numa semana negra para o PR, o PM e demais instituições, que nunca regatearam a passadeira vermelha a reles oportunistas, o emergir de nomes credíveis para a próxima corrida presidencial é a primeira grande machadada no bailete de Marcelo e afins.

Os jogos florentinos do passado, típicos de outros tempos de má memória, já não são areia suficiente para tapar os olhos dos cidadãos.

Cristas percebeu-o, e bateu em retirada.

E o CDS/PP também o percebeu no congresso de Aveiro, batendo uma certa clique cada vez mais do passado.

O mais grave é que o único resto que ainda resta é a malfadada atitude politicamente manhosa de quem continua a reinventar argumentos para defender o indefensável.

Depois das falsidades do costume – o dinheiro da corrupção serve e alimenta a economia e se não formos nós serão outros –, o delírio enganoso sobre os Luanda Leaks atingiu um expoente máximo com Fernando Medina no seu espaço de opinião televisivo: «Vamos assistir, aqui, a uma tentativa de reescrever a história como se tivesse de ter havido um julgamento moral sobre tudo o que aconteceu em Angola durante muitos anos».

O retrato fica para memória futura.

Tal e qual como este Portugal no poder que continua a fazer tábua rasa da Lei para os poderosos, enquanto é implacável para o cidadão anónimo.

Aliás, os silêncios partidários, à excepção do Bloco de Esquerda, dizem tudo sobre a conivência que grassa na esfera do poder político.

Não, Isabel dos Santos não está isolada, nem mesmo depois de ter caído em desgraça.

Nem estará sozinha enquanto tiver milhões e campear a corrupção, pois ainda há por aí, pasme-se, quem continua a ter o topete intelectual de tentar justificar o roubo dos recursos do pobre povo angolano com o empreendedorismo da "princesa".

Aliás, também não continuará a faltar quem esteja disponível para aplainar a sua imagem, papagueando falsidades a troco de mais uns tostões atirados para a gamela.

Não, o problema da lavandaria em que Portugal está transformado há anos não se resume ao capital angolano. 

A questão é mais profunda!

É a impunidade de intermediários, através da corrupção e do branqueamento de capitais, que está a liquidar o país.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

ANGOLA E O BAILETE AMEAÇADO


É o maior escândalo financeiro em Portugal, cuja dimensão ainda ninguém pode avaliar e quantificar.

Mais uma vez, os jornalistas desempenham um papel fulcral na denúncia do lixo que por aí vai por debaixo do glamour que anestesia uma parte dos cidadãos e só engana os tolos.

É pela mão da Comunicação Social, como é sua obrigação, com acesso a uma fonte que não é oficialmente conhecida, que a publicação de muitos milhares de documentos permitem comprovar a ponta do iceberg que já começou a derreter há muitos anos.

Não admiraria, portanto, se o presidente da República, primeiro-ministro e presidente da Assembleia da República, entre outros, se remeterem ao mesmo escandaloso silêncio ou vierem a terreiro, com o habitual descaramento político, dizer que nada sabiam e/ou desconfiavam.

Porém, muitos dos ratos que se preparam para saltar fora do comboio dos Luanda Leaks não podem contar com a passividade de quem tem o dever de recordar a vassalagem de outros tempos em relação a Angola e ao clã dos Santos, entre outros exemplos gritantes de cumplicidade com Estados ditatoriais e a respectiva cleptocracia.

Aliás, além dos criados do dinheiro sujo que multiplicam juras de amor entre os povos português e angolano, há muitos outros responsáveis ao mais alto nível que prevaricaram por acção e/ou omissão.

E ninguém está a salvo do bailete: desde os reguladores às empresas e Bancos, desde os grandes escritórios de advogados aos políticos-comissionistas de negócios de Estado, desde os governos do PS aos do PSD com ou sem o CDS/PP.

Face à factualidade, a resposta de Isabel dos Santos, ou de quem para ela trabalha, tem sido o desvario, desde questionar os documentos até ao argumento de agência de comunicação manhosa de que os jornalistas não leram as centenas de milhares de documentos.

Contra factos não há argumentos: os papéis estão aí e correm o Mundo, tal como a teia de cumplicidades que permitiram o roubo dos recursos angolanos e, por consequência, o arrastar de Portugal na lama, como sublinhou Ana Gomes, uma das poucas vozes que denunciaram o esgoto em que Portugal está transformado.

A estratégia bacoca de comprar posições nos Media portugueses, porventura para silenciar o saque e o aproveitamento de reles oportunistas, não resultou, nem ontem, nem hoje, porque ainda existe alguma pluralidade.

No meio deste pântano, com o qual convivemos há demasiado tempo, com mais ou menos Vistos Gold, tarda uma intervenção firme da Justiça portuguesa.

Ninguém pode admitir que tudo fique na mesma depois do que veio a público, tanto em qualidade documental como em quantidade de operações criminosas.

Certamente, os cidadãos ficariam mais confortados se a procuradora-geral da República, Lucília Gago, no âmbito dos seus deveres, emitisse um comunicado a esclarecer o que está a ser feito pela Justiça portuguesa em relação aos capitais angolanos, entre outros de proveniência duvidosa.











segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

ORÇAMENTO: DE VIANA À MADEIRA


O Orçamento do Estado para 2020 foi aprovado na generalidade.

E também deverá passar na votação final global, depois da tradicional mercearia da especialidade.

O país respira de alívio, mas ficam várias dúvidas que, mais tarde ou mais cedo, terão de ter uma clarificação.

Em primeiro lugar, ficou patente que António Costa reinaugurou a táctica socialista do "Queijo Limiano".

Se faltarem votos para fazer passar uma Lei, o PS não abdicará do instrumento de má memória inventado por António Guterres em 2000.

Desta vez foi a Madeira, amanhã logo se verá...

Em segundo lugar, e por mais que seja negado pelo primeiro-ministro, é factual que a economia cresce a um ritmo medíocre e os portugueses são obrigados a pagar a maior carga fiscal de sempre.

Por último, o triste espectáculo de Mário Centeno.

O ministro das Finanças, ao que tudo indica, exibindo um excedente orçamental, prepara uma receita igual à do passado, ignorando as consequências terríveis para os cidadãos da degradação dos serviços públicos, do SNS à Justiça.

Fica a pergunta que se impõe: os portugueses vão aguentar, ou melhor, tolerar os mesmos sacrifícios dos últimos quatro anos?

Por mais que se queira esconder a realidade, a verdade é que a propaganda e a mentira podem pegar um, dois, três, quatro anos, mas o mais certo é que a percepção do logro seja inevitável à quinta vez.

Tanto mais que bloquistas e comunistas já perceberam que este PS, no momento das escolhas, não é de confiar.

E com mais ou menos PSD e CDS/PP a assumirem-se como muleta para salvar o XXII governo constitucional, apenas resta a conjuntura internacional.

E se tudo pode mudar na Europa e no Mundo não é de acreditar que tudo fique na mesma ou ainda melhor, permitindo ao governo socialista uma nova possibilidade de continuar a governar apenas e só para se perpetuar no poder.

Os desafios são de monta em 2020. 

António Costa sabe-o.

E, sem contar com alguma surpresa de última hora, também sabe que o modelo seguido já faliu.

Conseguiremos escapar, com mais um par de abraços e selfies, entre os pingos da chuva?


segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

DO ALTO DA IMPUNIDADE


A política de Estado portuguesa em relação aos assuntos e negócios angolanos está acima da Lei?

Esta é a grande questão depois do momento actual das relações luso-angolanas estar a ser marcado pela acção da Justiça angolana em relação a Isabel dos Santos.

Enquanto começa a ser evidente que os angolanos estão determinados em tratar dos seus, em Portugal continua o silêncio sobre os cúmplices de Isabel dos Santos, desde empresários a advogados famosos.

Até quando?

O presidente da República ou o primeiro-ministro bem podem determinar, nas costas do povo, que as relações entre Portugal e Angola estão acima de tudo e de todos, mas tal só é possível se o escrutínio não for levado a cabo por quem tem o direito e o dever de o fazer.

Não bastam palavras vãs e as tardias promessas de escrutínio do Banco de Portugal e da CMVM.

De momento, o silêncio do Ministério Público até pode ser compreensível, pois as investigações não podem andar na praça pública, mas o precedente criado com o caso de Manuel Vicente também não deixa ninguém descansado quanto à determinação e independência do titular da acção penal.

E o episódio do afastamento de Joana Marques Vidal é um exemplo que também não abona nada a República.

O silêncio dos partidos políticos portugueses, da esquerda à direita, é um triste pronúncio de mais uma tentativa de varrer o lixo para debaixo do tapete.

Por sua vez, as reacções da filha de José Eduardo dos Santos, bem como os caldos de galinha prontamente afirmados por Manuel Vicente, apenas dão um tom mais colorido ao embaraço pesado e crescente sobre a abertura da porta aos dinheiros angolanos.

Aliás, as ameaças públicas de personalidades acossadas é uma constante de países de Terceiro Mundo, como se fosse possível do alto da impunidade condicionar a descoberta da verdade.

E não se julgue que é apenas Isabel dos Santos a fazê-lo.

Por estas bandas não faltam outros exemplos, desde Vítor Constâncio a José Sócrates, só para recordar dois mais recentes.

No início de 2020, as instituições democráticas voltam a dar provas de enorme fraqueza, colocando-se numa posição de dependência da acção e determinação de uma cidadania forte para um esclarecimento cabal da questão de fundo: qual é a origem dos capitais provenientes de Angola?

quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

2020: LOVE AFFAIR


O abanão que há muito tempo faltava à Direita, livre do irrevogável e dos fantasmas do passado, será um dos acontecimentos marcantes de 2020.

Os resultados das eleições internas no PSD e CDS/PP serão determinantes para definir o futuro do país.

Sejam quais forem os escolhidos para comandar os dois partidos, tradicionalmente identificados com a Direita portuguesa, nada ficará igual, pois a renovação é sempre uma consequência benigna a cada escolha da liderança.

E quanto mais renovação maior será a revitalização e a esperança.

Independentemente dos resultados da governação do PS e demais esquerdas, a ansiedade e o desejo de acautelar a mudança crescem ao ritmo do surgimento de nuvens no horizonte.

Os agentes dessa mudança geram sempre mais expectativa, criando uma dinâmica que é rejuvenescedora e pode arrasar o actual panorama partidário e político.

Mas falta construir uma alternativa credível e sólida!

Certamente, o caminho vai ser longo e penoso para os novos líderes da Direita, tal é o assalto ao Estado e a eficácia da máquina de propaganda que tem vindo a ser consolidada desde 2005.

Tanto mais que ainda há quem não reconheça os erros do passado - aliás abraçados por esta espécie de Esquerda no poder que mete os Direitos Humanos no bolso quando convém -, desde a abertura aos corruptos internacionais e ao capital dos Estados ditatoriais à desvalorização infantil da questão ambiental.

Resta saber se nesta nova equação à Direita, que tem de ser traduzida numa onda mobilizadora, também cabe a consolidação de um presidente da República que mais não tem sido do que uma espécie de Rainha de Inglaterra frenética, repetitiva e inconsequente.

Dar cobertura ao estilo populista, ao branqueamento brutal da realidade e à diminuição da capacidade de intervenção de Belém é meio caminho para hipotecar a energia gerada por uma disputa eleitoral que se pretende transparente e clarificadora.

É preciso coragem para abraçar uma aventura desta monta, em tempos de instrução de Tancos, execução do Brexit e eleição presidencial nos Estados Unidos da América, mas é nos momentos cruciais que se descobrem os verdadeiros líderes.

A definição estratégica de PSD e CDS/PP é o primeiro passo para criar as condições de um novo Love Affair entre a Direita e o povo português.