Desde 23 de Agosto que crescem desenfreadamente os infectados com a Covid.
E foram precisos mais de dois meses para o presidente e o primeiro-ministro desatarem em audiências, audições e reuniões para, finalmente, começarem a ser desenhadas à pressa medidas para fazer face ao desastre instalado.
O que se está a passar em Portugal?
A resposta é complexa, como está na moda dizer quando se quer esconder alguma coisa, mas a realidade é bem simples: estamos a ser governados por quem está desorientado politicamente.
De facto, elegemos quem não tem estado à altura dos acontecimentos, porque mentem em vez de falar verdade, porque reagem em vez de prevenir, porque julgam que a solução passa por mais autoritarismo, mais intimidação e mais e mais ameaça.
Chegados aqui, com números astronómicos que ainda se vão agravar, tendo mesmo já ultrapassado a Espanha em número de casos por milhão, eis o estado de emergência "suave" em toda a sua brutalidade: as restrições e o recolher obrigatório.
Existe a consciência de que tem de haver tolerância num momento tão crítico, mas não podemos deixar resvalar ainda mais o que se está a passar mesmo em frente dos nossos olhos.
Por isso, desde logo, impõe-se preventivamente colocar outra questão: e se as medidas tardiamente adoptadas não resultarem?
Não podemos permitir que, em breve, a "alternativa" passe por colocar militares na rua, armados até aos dentes, para patrulharem os cidadãos e reprimir os motins.
Enquanto houver dinheiro, que não temos mas vamos receber, e depois ter de pagar, ainda pode existir margem para tapar alguns buracos mas não vai evitar uma previsível crise que pode atirar o país para a fome só imaginável em tempos de guerra.
Com os sinais de descontentamento cada vez mais evidentes, o que fazem o presidente e o primeiro-ministro?
Anunciam, com pompa e circunstância, que querem salvar o Natal, embora todos saibamos que querem é tentar salvar a imagem e a pele.
Ou seja, aparentemente, o grande desígnio é achatar a curva para podermos encher a pança e desatar a consumir que nem loucos durante o período natalício.
E depois, está claro, logo se verá.
De facto, estamos a começar a ver cada vez melhor.
Mas ainda não conseguimos exigir que não nos metam, outra vez, na armadilha de tentar resolver tudo à bruta e num estalar de dedos.
Na pandemia, como na saúde, economia, educação e justiça, continuamos a deixar-nos enganar com receitas instantâneas de fantasias em vez de pensar, planear e eleger objectivos a médio e longo prazo ao alcance do país.
Com os portugueses a morrer, por causa da Covid e da falta de cuidados de saúde e assistência hospitalar, dos novos aos mais velhos, está na altura de despachar esta "dupla" que lá se vai apoiando um no outro como podem para disfarçar erros e equívocos clamorosos.
Em Janeiro de 2021 temos a oportunidade de começar pela espécie de "eco" instalado em Belém, cuja responsabilidade maior não se extingue com palavras e imagens pomposas, vãs e enganosas.