segunda-feira, 8 de março de 2021

ROUBADOS



A pandemia trouxe à tona tudo de melhor e de pior que nos caracteriza como povo.

E permitiu ver ainda melhor o país cada vez mais pobre e desigual, aquele que fica muito além dos peditórios solidários e dos casos extremos de faca e alguidar que alimentam audiências.

Mas já cheira a dinheiro fresco.

E aos grandes projectos, leia-se nacionais, mais PIP menos PEP, já que as populações locais nada contam nesta avassaladora realidade vampiresca.

Com os mesmos promotores e comissionistas, agora com mais cabelos brancos, sempre com o mesmo descaramento.

Enquanto tratamos da pandemia, sabe Deus como, aguardamos com toda a estabilidade a chegada da tragédia em forma de mais desemprego, miséria e fome.

Com a certeza de que algum apparatchik chegará no momento certo para nos garantir que somos um exemplo no aproveitamento dos fundos comunitários. 

E partimos, novamente, para a construção da casa a partir do telhado.

De salto quantitativo em salto quântico, para os que ainda têm memória.

E depois logo se vê, pois, alguém há-de vir salvar-nos.

Entretanto, com este arrojo vanguardista, arriscamos o futuro de novas gerações.

Na semana em que Marcelo Rebelo de Sousa inicia o segundo mandato presidencial, uma única certeza: não podemos contar com Belém para muito mais do que assistimos nos últimos cinco anos.

Porventura, uma qualquer nova rábula em forma de encenação de mais escrutínio do governo, certamente para ficar tudo igual, rumo à cauda da Europa.

O orgulho governamental no sistema de ensino que distribui mais de 45 mil refeições a alunos de famílias carenciadas até pode ser reforçado por mais um feito presidencial em forma de um novo carrinho de compras para doar aos pobres.

E nem mesmo assim, perante esta indigência política, somos capazes de nos questionar e até indignar pelo caminho feito até aqui.

Remetidos a casa, física e civicamente, estamos a seguir, em directo, ao minuto, aos mesmos passos para o abismo.

O nosso "confinamento" é velho, muito anterior à Covid-19, como se um vírus paralisante nos tivesse infectado há décadas.

Não admira que continuemos a ser roubados.


segunda-feira, 1 de março de 2021

PODEROSOS A SURFAR


António Costa vive noutro mundo.

Certamente, até já terá chegado ao Olimpo, porque se julga autorizado a tudo poder fazer.

À medida que o seu poder alastra, e se impregna no aparelho do Estado  vai levar tempo a limpar! –, maior é o distanciamento do primeiro-ministro em relação ao dia-a-dia dos portugueses.

Minudências, pois claro, para uma tal mente que não hesita em apostar em altos voos sustentados na mediocridade de propagandear e enganar.

O percurso da impunidade e do distanciamento da realidade é sempre o mesmo.

Não faltam números para comprovar que o consulado de Costa – entre outros! – foi e está a ser um verdadeiro desastre para Portugal.

Desde 1986, e 130 mil milhões de euros de apoios comunitários depois, a taxa média de crescimento é da ordem dos 0,3%.

Depois deste maná, Portugal corre o risco de ser ultrapassado pela Hungria, Roménia, Polónia e Letónia, ficando a ser um dos quatro países mais pobres da UE, como alertou o “Forum para Competitividade”.

O resultado está à vista, com os poderosos a surfar e nós a pagar.

Mas não são só os indicadores macroeconómicos que explicam este percurso de desigualdade e miséria acompanhado por sucessivas declarações de preocupação com os mais pobres.

A questão também é cultural.

Após as presidenciais, quase à socapa, o poder tocou a reunir para vacinar os representantes dos órgãos de soberania mais um punhado de deputados e amigalhaços.

Entretanto, os alemães não temem que o Estado possa colapsar por não vacinar os seus líderes.

Já nos esquecemos dos custos da "eternização" dos políticos no poder em nome de uma estabilidade que favorece os “donos disto tudo” e os esquemas de corrupção.

Não aprendemos nada com Cavaco Silva nem com José Sócrates, mutatis mutandiporque não queremos viver e pensar como cidadãos livres.

Ficamos à espera do Estado, agora na versão politicamente trágica da dupla Marcelo/Costa, esquecendo que somos nós que pagamos o Estado de uns poucos sempre obrigados e venerandos em relação aos seus chefes.

Agora, que estamos à beira de receber mais 45 mil milhões de euros, voltamos a repetir os mesmos erros na terrível ilusão que a Troika foi apenas um pesadelo passageiro.

Até pode ser uma forma de vida.

Só é pena que ainda não tenhamos ganho consciência que há outras formas de viver, mais inteligentes, mais justas e com mais futuro.


segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

ANTÓNIO COSTA FACILITA A VIDA DOS CRIMINOSOS


Após mais de 15 anos de funções ao mais alto nível do governo e do Estado, António Costa tem um conhecimento ímpar da realidade do crime financeiro, económico e dos mais diversos tráficos em Portugal.

Bastar recordar que já ocupou a pasta dos Assunto Parlamentares (XIII governo), da Justiça (XIV), da Administração Interna (XVII) e é primeiro-ministro desde 2015.

É surpreendente que algumas das vulnerabilidades do país, que foram notícia na última semana, tal como nas últimas décadas, continuem sem merecer a atenção do primeiro-ministro.

Num dia, a Comissão Europeia dá dois meses ao governo para «transpor diretiva anti-lavagem de dinheiro», porventura farta de ver Portugal transformado numa "lavandaria" para todo o serviço.

No outro, salta para a ribalta, a partir do Brasil, a descoberta de mais de meia tonelada de droga num avião com destino a Tires, Cascais.

Dado o extenso histórico de "lavagens" de todo o tipo e de falta de controlo nos pequenos aeródromos, por que razão continua António Costa a facilitar a vida dos criminosos?

É para atrair investimento, venha ele donde vier, com dinheiro limpo ou sujo?

Os negócios com Angola, China e Venezuela, para não falar de outros com países bem quentinhos, têm tido custos reputacionais incalculáveis.

Uns já estão na mira da Justiça, outros estão a dar origem aos mais diversos escândalos fiscais, entre os quais o último das barragens da EDP denunciado pela deputada Mariana Mortágua.

Esta resistência em abraçar as melhores práticas económicas e financeiras, que nos podiam trazer respeito e interesse por parte de investidores internacionais credíveis, continua a ser, ou não, um dos maiores mistérios do regime democrático.

Tanto mais que a Justiça não tem meios nem autonomia financeira para perseguir os meliantes de colarinho branco, alguns dos quais sentados, confortavelmente, à mesa do poder.

António Costa pode queixar-se do alheamento politicamente cínico do presidente que se remete ao silêncio quando os assuntos são da maior gravidade e de Estado.

E lamentar que a “casa” gasta actualmente o que já gastou no passado com os governos do PSD e CDS/PP.

E, por último, até pode beneficiar por Rui Rio entender que o escrutínio e a oposição devem ser assim-assim em tempos de pandemia.

Mas, passados todos estes anos, com o país a assistir a tanta dor, desigualdade e miséria, em plena presidência da União Europeia, não terá chegado a hora de António Costa agir?

É que já chega de fazer de morto, quando se trata de combater a “via verde” que facilita a vida dos corruptos.


domingo, 14 de fevereiro de 2021

BASTONÁRIOS SEM MEDO




Poucos são capazes de recordar quem era o Bastonário da Ordem dos Engenheiros em 2017.

E que, nesse ano, a instituição emitiu um comunicado afirmando que «José Sócrates não está, nem nunca esteve, inscrito na Ordem dos Engenheiros».

Desde então,  o país passou a estar mais atento e a acertar a hora pelas intervenções dos bastonários que deixaram de ser meras figuras decorativas, emproadas e em fim de carreira.

À medida que a maioria dos sindicatos desapareceram da cena social, política e mediática, quais obsoletas correias de transmissão dos partidos de Esquerda, agora no poder ou à volta dele, os líderes das classes profissionais assumiram um papel preponderante.

Ana Rita Cavaco, Luís Menezes Leitão e Miguel Guimarães, para só falar, respectivamente, nos actuais bastonários dos enfermeiros, advogados e médicos, têm estado à altura da prova de rectidão de Carlos Mineiro Alves.

A defesa dos profissionais que representam, desde a ética à deontologia, sem esquecer as condições em que trabalham, permitiu-nos conhecer melhor a realidade em que vivemos.

As denúncias de cada um dos três bastonários traduziram-se em veementes alertas para o que se estava, e está, a passar no sector da Saúde, em particular no SNS, e na Justiça, valeram-lhes o ódio descabelado de António Costa e afins.

Nunca as desigualdades foram tão cristalinas e gritantes.

Apesar do discurso de Estado, politicamente tão pomposo quanto mentiroso, assente numa propaganda desenfreada, ficou ainda mais visível o calvário diário de quem presta serviço e desespera por cuidados de saúde e um Estado de Direito.

Com a realidade da pandemia, os três bastonários continuaram a não abafar os extraordinários erros de gestão em sectores vitais para a população, alguns dos quais passíveis de envergonhar o mais incompetente dos canalhas.

O que ganharam Ana Rita Cavaco, Luís Menezes Leitão e Miguel Guimarães?

O respeito dos seus pares e da população, além de terem de enfrentar campanhas orquestradas e a perseguição da parte do poder e afins incapazes de lidar com a independência, o escrutínio e a competência.

Felizmente, temos bastonários sem medo.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

QUAL É O NOSSO LIMITE?


Os indicadores são avassaladores, e vão piorar ainda mais.

O ritmo do plano de vacinação continua aquém do exigível.

O socorro do Estado continua a ser tardio ou um verbo de encher.

Os indicadores de pobreza, a visível e a escondida, já dispararam.

E os números do passado são escondidos pelos do presente: 25,8% das crianças com menos de 12 anos vivem em casas com humidade ou em que chove; quase 13% não têm a habitação devidamente aquecida; 9,2% não têm luz suficiente; 6,5% vivem em zonas consideradas violentas.

O que fazem o presidente e o primeiro-ministro?

Dizem coisas, prometem, enganam e sorriem!

E o que fazem os cidadãos?

Continuam à espera do Estado, resignados ao desabar do mundo de cada um, remediado, construído com trabalho e persistência.

Por sua vez, as poucas excepções de cidadania são pública e fortemente silenciadas pela lógica cacique impregnada do mais alto ao mais baixo nível do Estado.

As imagens horrendas que pareciam longe estão agora tão perto, apesar da comunicação social continuar mais orientada em mostrar cadáveres do outro lado do Atlântico do que em filmar aqueles que estão mesmo ao nosso lado.

Entretanto, continuamos agradecidos com uma Saúde que nos faz esperar meses e anos por uma consulta ou uma cirurgia e até nos deixa morrer.

Mantemos a calma com a Justiça que demora anos, às vezes mais do que uma década, a punir ou absolver os culpados.

Toleramos uma Educação velha e burocrática que resiste ao ecletismo.

Até permitimos que a voz da nossa Igreja, pelo menos a da maioria dos portugueses, continue fraca e cúmplice da desigualdade.

Quanto ainda somos capazes de aguentar?

Os diagnósticos estão feitos, já têm décadas, e até nem tem faltado dinheiro despejado por quem continua a tentar salvar-nos.

Com o país a afastar-se da União Europeia, qual é então o problema?

Porventura somos mesmo nós, de tão habituados a esta vida, à resignação, a sobreviver assim-assim, cronicamente incapazes de antecipar e enfrentar a realidade, sempre com medo de assumir a liberdade individual.


segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

ARROGÂNCIA, EXIGÊNCIA E MUITA AVENTURA


A imagem de um presidente fechado no carro, só, às voltas na noite fria, deixando passar o tempo, é o retrato da tempestade perfeita.

Continuamos a resistir na troca da certeza da mediocridade pela incerteza da mudança.

Mas aqui chegados, com Marcelo Rebelo de Sousa em Belém, mais cinco anos, o que nos espera?

A única certeza é um governo de arrogância, em modo de maioria absoluta à portuguesa, com Bloco e PCP moribundos e a direita aprisionada em si própria, face à incerteza da devastação económica, financeira e social, já que politica e institucionalmente não é possível descer mais.

Vamos continuar a ter anúncios e mais anúncios, como aquele dos sem-abrigo que ficaram na gaveta do esquecimento, para entreter aqueles que se contentam em ser entretidos, num ambiente nauseabundo que recorda os tempos de Sócrates.

Do folclore dos afectos vamos passar à exigência de uma presidência domesticada, sempre animada e colorida, mas certamente impotente e inconsequente.

Como é possível regressar, passado tão pouco tempo, ao ponto de partida do desastre?

O paleio da igualdade e solidariedade miríficas continuam a embalar uma população que só tem à sua volta a desigualdade cruel e o exemplo do oportunista assalto ao plano de vacinação.

Confortados pela sempre renovada falácia do grande abraço protector do Estado lá vamos pactuando com o flagício para não abrir uma crise política, enquanto o regime apodrece a cada dia que passa.

Agora com a esperança infundada de um presidente mais escrutinador, apesar de só ter para oferecer mais e melhor do mesmo, a manutenção do status quo, o futuro parece ainda mais sombrio.

Já passaram 10 estados de emergência que nada resolveram, apenas justificaram o que não se fez e devia ter sido feito para aplainar os efeitos devastadores da pandemia.

Entretanto, o SNS continua em plano inclinado, a afundar, qual gigantesco Titanic, entre uma orquestra de elogios estridentes e faustosas promessas renovadas para esquecer na primeira oportunidade.

E as mortes?

As mortes Covid e não-Covid continuam a não despertar o povo, que continua à porta dos hospitais, em ambulâncias, horas e horas a fio, à espera de cuidados de saúde, num dantesco espectáculo renovado.

Incomodados com as críticas crescentes, mas sempre tímidas, o primeiro-ministro e o governo sacodem com cobardia política as responsabilidades, reagem aos factos com a sobranceria dos culpados, fortes e certos da impunidade, indiferentes ao resultado da sua própria incúria.

E a Justiça, sem meios e vontade, continua ausente quando se trata de investigar crimes perpetrados pelo poder mesmo à frente dos nossos olhos.

E o presidente continua a sorrir.

Está tudo perdido?

Calma!

Vem aí Adolfo Mesquita Nunes, o rapaz da GALP, uma das empresas mais interessadas no projecto aventureiro e multimilionário do hidrogénio, para salvar o que resta do CDS/PP e do país.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

PORTUGAL MANSAMENTE A CAMINHO DO DESASTRE

Marcelo Rebelo de Sousa venceu. 

Mas quem ganhou politicamente foi António Costa, porque garantiu a reeleição do presidente que melhor o serve, fomentou o enfraquecimento e a divisão da Esquerda que não controla e conseguiu esfrangalhar a Direita. 

O presidente reeleito teve mais votos do que em 2016, mas representa apenas menos de um quarto dos eleitores quando está diminuído pela responsabilidade partilhada de mais de 10 mil mortes provocados pela pandemia. 

Aqueles que apostaram na estabilidade, como solução para todos os estrangulamentos, venceram em toda a linha.

Resta saber a que custo.

O segundo vencedor foi André Ventura, a verdadeira "estrela" da noite eleitoral.

A sua diabolização falhou.

Em vez de o desconstruir e de se focarem no escrutínio dos reais problemas dos portugueses, na clarificação do papel do presidente da República, mais uma vez ficaram pelo agitar da bandeira do fascismo. 

Os três candidatos que deram assumida e dignamente a cara pelo que resta da Esquerda apostaram numa estratégia que já havia falhado, mutatis mutandi, com Manuel Alegre em 2011. 

E acabaram por atirar os eleitores para o colo ilusoriamente seguro de Marcelo Rebelo de Sousa que se limitou a continuar a sorrir, pacientemente, indiferente a mais um papão que os portugueses já não papam. 

O último vencedor da noite foi Ana Gomes que, com a determinação que se lhe reconhece, assumiu uma legitimidade ímpar que ainda vai dar muitas dores de cabeça a Marcelo e Costa. 

Mais uma vez, na hora de decidir, os portugueses asseguraram mansamente a continuidade, apesar de todos os sinais de apodrecimento do regime. 

Em vez de fazer o caminho da mudança, os portugueses optaram por mais do mesmo, pelo arrastar de um país bloqueado e incapaz de se recriar a partir das urnas. 

A reeleição de Marcelo Rebelo de Sousa é a vitória em toda a linha do "centrão" político e dos interesses que têm pavor de Ana Gomes e ainda continuam a olhar para André Ventura com a sobranceria de quem tem o poder e controla o Estado e o seu aparelho. 

Com uma dívida pública gigantesca, sinais alarmantes de abuso e corrupção, com a pandemia descontrolada e uma crise terrível à vista, os mais de 10% de votos do líder do Chega vão ecoar a dobrar nos corredores da política. 

O desastre está novamente ao virar da esquina. 



segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

PRESIDENCIAIS: RESIGNAÇÃO OU MUDANÇA?


À boleia da governação, a crise provocada pelo folclore inconsequente de Marcelo Rebelo de Sousa tem sido agravada pela pandemia.

E os resultados da desorientação e do autoritarismo, que fabricam mais e mais medo, têm merecido mais atenção neste esforço final dos candidatos presidenciais.

Mas a evidência ainda tem esbarrado na desculpabilização à portuguesa: Coitados, estão a fazer o que podem!

O país continuará na cepa torta, enquanto os cidadãos não reforçarem o músculo da cidadania, não fizerem frente aos abusos do Ministério Público ou do Fisco e não mudarem a mentalidade bafienta do pobrezinho e remediado.

Todavia, a cada eleição, agora, sente-se um pouco mais de exigência.

Na recta final da campanha das presidenciais, seis dos candidatos têm feito a diferença, correndo o país, andando na rua, contactando as pessoas, com sentido de abnegação, encarando de frente e com responsabilidade o risco.

E, entre eles, dois têm conseguido passar mensagens directas e claras que tocam um eleitorado que tem estado "confinado" ao voto no mal menor.

Ana Gomes tudo tem feito para mostrar que pode fazer mais e melhor em Belém, assumindo independência política, sensibilidade social, proximidade do povo e denunciando a alta corrupção que tem custado mais desigualdade e pobreza.

Aliás, aumenta a convicção entre os socialistas, e não só, que é a candidata capaz de enfrentar André Ventura e derrotar Marcelo Rebelo de Sousa.

Por sua vez, Tiago Mayan Gonçalves é quem mais tem surpreendido.

O candidato apoiado pela Iniciativa Liberal, com criatividade e sem radicalismos, a cada intervenção, tem dado uma canelada no "centrão" dos interesses da dupla Marcelo/Costa.

«Se votas igual não esperes diferente» sublinha no mais conseguido slogan da campanha.

Tal como a diplomata e ex-deputada europeia, Tiago Mayan Gonçalves também vai a votos com um discurso limpo da marca da podridão do regime ao mais alto nível.

E também tem falado para os cidadãos indignados com o desvio dos fundos comunitários para alimentar clientelas, a estagnação económica, a impunidade e a falta de cultura democrática.

Nunca os portugueses tiveram uma oportunidade tão credível para iniciar uma nova vida: Ana Gomes e Tiago Mayan Gonçalves são os candidatos em melhores condições para regenerar o regime democrático com a palavra, a acção e a determinação.

O desastre pandémico tem acelerado a visibilidade dos condicionamentos em que o país tem estado mergulhado, designadamente a gritante falta de organização do SNS, quiçá por ter sido entregue aos boys dos dois maiores partidos políticos.

As imagens das longas filas de ambulâncias à porta dos hospitais na noite fria, bem como o tempo de espera para fazer o teste à Covid, não podem ser esquecidos pelas vítimas que sobreviveram, nem pelos outros, qualquer um de nós, que podem ter de passar pelo mesmo.

Em memória dos mais de oito mil mortos, não pode ficar pedra sobre pedra sobre a desgraçada gestão do país e da pandemia.

Se Marcelo Rebelo de Sousa é a resignação, e mais do mesmo, Ana Gomes e Tiago Mayan Gonçalves representam caminhos alternativos, à Esquerda e à Direita, sem aventuras nem extremismos.

Os que não tinham escolha podem finalmente abrir a janela para um futuro melhor e mais justo.

Eu voto na mudança.             

segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

SETE CANDIDATOS E A SOMBRA


A eleição do próximo presidente da República deixou de estar confinada aos debates televisivos.

E, no arranque da campanha eleitoral, os portugueses não têm estado a ganhar, pois a táctica tem imperado sobre a substância.

Os candidatos têm virado a cara às dificuldades do dia-a-dia, optando por polémicas importantes mas que não dizem muito a quem não tem trabalho, viu reduzido o rendimento e desespera com a falta de cuidados de saúde.

E têm mantido uma estranha prudência em avaliar a gestão errática da pandemia que vai atirar os portugueses para um novo e brutal confinamento geral, o qual acaba por condicionar ainda mais o próximo acto eleitoral.

Os candidatos da Esquerda estão mais concentrados em eleger André Ventura como "alvo", dando-lhe espaço para consolidar um argumentário que toca fundo nos mais desfavorecidos.

E se é verdade que, ao inflacionar o líder do Chega, é Marcelo quem mais pode perder na mercearia eleitoral – como se já não lhe bastasse a ameaça de Tiago Mayan Gonçalves –, não é menos verdade que tem faltado a exigência e a vontade de distanciamento da governação.

O resultado está à vista: ganha o discurso da "bolha" que afasta os eleitores.

Ana Gomes tem revelado garra, continua a apostar na frente ideológica e hesita na descolagem do governo para não hipotecar os votos dos socialistas.

André Ventura é a "estrela" improvável.

João Ferreira é menos do mesmo dos comunistas.

Marcelo Rebelo de Sousa está gasto e desorientado, como comprovam as fúrias quando foi confrontado com as suas manipulações e contradições dos últimos cinco anos.

Maria Matias é a desilusão.

Tiago Mayan Gonçalves é a grande surpresa, sem medo da ruptura e das palavras, sem se deixar condicionar pelas críticas em forma de "papão".

Vitorino Silva tem sido a ilusão, com uma mensagem popular, inteligente e até poética, obrigando o país a pensar.

A pré-campanha realizada nas televisões não foi o passeio aclamatório.

E a incerteza até já levou a ponderar uma bizarra solução de última hora como o adiamento das presidenciais a duas semanas do acto eleitoral.

A pandemia e a crise económica não têm sido suficientes para os candidatos irem a jogo sem cartas na manga, chegando mesmo a desvalorizar a polémica sobre os votos dos emigrantes e dos mais idosos nos lares.

Têm faltado transparência e rigor em relação ao que cada um se propõe fazer em Belém para melhorar a vida de dos portugueses.

E tantos indecisos que continuam por convencer.

É com mais intervenção e escrutínio do governo que o presidente da República pode garantir a resolução dos problemas do país? 

A resposta tarda. 

Porque os sete candidatos tinham de desfazer amarras e correr riscos.

Assim, fica apenas o esvaziamento da função presidencial, com o debate limitado quase e só a tiradas grandiloquentes.

Para já, com os candidatos a partirem para a luta sem rua, há apenas uma certeza: a palavra e a acção presidenciais ficam fragilizadas com uma taxa de 60 a 70% de abstenção, ganhe quem ganhar.

Entretanto, na sombra, o oitavo "candidato" – não o fantasma dos boletins mas o de carne e osso –, assiste à corrida presidencial do lado de fora, por enquanto em silêncio, provavelmente com um sorriso tapado pela máscara.

A "vitória" de António Costa no dia 24 de Janeiro seria um desastre para Portugal. 




segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

PRESIDENCIAIS 2021: TSUNAMI À VISTA

 

As sondagens, à falta de melhor, têm marcado a campanha das presidenciais 2021.

Mas tem faltado o termómetro da rua, dos contactos populares, para começar a descortinar as escolhas dos portugueses.

Num país enterrado na pandemia, para não falar de outras pandemias que começam a despontar, as televisões encontraram o Nirvana: aparentemente, tudo se vai decidir no cada vez maior ecrã.

Felizmente, as novas forças e interlocutores políticos têm permitido agitar os "senadores" do regime, levantando o pó que está debaixo do tapete.

Mas será que chega?

O caminho do candidato do Bloco Central está facilitado pela ausência de uma parte da esquerda e pela divisão da outra parte.

Mas a cada debate começam a surgir as brechas no propalado "oásis" marcelista.

A apoteose anunciada está longe de confirmação por manifesta evidência que o mandato de Marcelo foi um exercício medíocre, em que importou mais a criação das condições para a reeleição do que os interesses dos portugueses.

E, em boa verdade, Marcelo teve tudo para ser uma referência e um motor de mudança.

O verniz dos últimos tempos, para disfarçar os cinco anos de cumplicidade com o governo, já começou a estalar.

E, quando assim é, quando o branqueamento fica à mostra, apesar do evidente desmoronar do governo, a abstenção é sempre uma resposta possível.

A criação de um ambiente dominante que aponta para a inevitabilidade da reeleição de Marcelo, quiçá com 101% dos votos, também é uma faca de dois gumes, sobretudo no actual panorama económico e financeiro.

A agitação de o presidente (e recandidato) transparece em cada debate, num sorrisinho incomodado que escapa quando é revelado como um vulgar garante do país dos "Donos Disto Tudo".

Se com Marcelo tudo pode acontecer até ao último dia também é verdade que começa a faltar-lhe chão para mais folclore e piruetas.

Num país que confunde popularidade e notoriedade, ideias e marketing, realidade e propaganda, a derrapagem da Covid pode ser o tsunami político na teia tão ardilosamente tecida para manter o cadeirão de Belém.

E, a acontecer, tudo pode ficar imprevisível.

Tal como em relação a outros assuntos da maior importância, presidente e primeiro-ministro são uma e a mesma coisa por meras razões tácticas de poder e sobrevivência política de um e do outro.

A gestão da crise Covid, desde o abandono dos mais idosos até ao ziguezaguear de medidas, em que Marcelo e Costa estão afundados, pode ser a chave da eleição do dia 24 de Janeiro.

Por mais estado de emergência que possa ser decretado.


segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

2021: VACINAS E PANDEMIAS


No final de um ano marcado pela crise, opacidade e autoritarismo reforçado à boleia da pandemia, o governo marcou pontos no início do processo de vacinação.

A transparência do primeiro dia da vacina anti Covid, permitindo aos jornalistas verem como estava a decorrer o processo, é um sinal prometedor.

O optimismo regressou aos rostos dos profissionais de saúde, deixando uma mensagem de credibilidade na cura que pode fazer toda a diferença.

Seguir-se-ão outras vacinas e sucessivos grupos prioritários, dia após dia, num processo que deve reunir todos os esforços e meios existentes para proceder à vacinação da população no mais curto prazo possível.

Embora a batalha não esteja ganha, muito longe disso, a verdade é que com mais informação é possível salvar vidas e começar a reconquistar a confiança dos cidadãos.

Mas que não haja quaisquer dúvidas: 2021 vai ser muito mais do que a luta contra a Covid.

Outras pandemias, como a pobreza, a desigualdade, a injustiça, a insegurança, o nepotismo e a corrupção, continuam a assolar a vida dos portugueses.

A criação de um verdadeiro programa de recuperação económica não pode ficar por mais um qualquer grande projecto para melhorar os grandes agregados estatísticos e servir as clientelas do costume.

E têm de ser tiradas lições de um SNS de fachada, apostando num serviço público de saúde que não deixe morrer os cidadãos por falta de equipamentos e recursos humanos.

E, já agora, até podemos sonhar com uma justiça mais célere e credível, sem confusão com qualquer tipo de securitarismo.

Vamos começar um novo ano com uma realidade assustadora.

Os idosos estão a ser liquidados: Até ao final de Novembro morreram mais de 47 mil idosos com 85 ou mais anos: mais 10% do que em 2019 e em 2018 (Pordata). 

E os jovens desesperam pelo futuro: A taxa de desemprego de jovens de menos de 25 anos é de 18,3%, ou seja, igual àquela que existia em 1983 (Pordata).

É preciso mais criatividade, mais modernidade e mais transparência para encontrar soluções potenciadoras da vida, do emprego e de confiança no futuro.

Chega de tempo perdido com folclore, megalomanias e falsas uniões de circunstância.

2021 é o ano de todos os riscos e esperanças que não podem ficar por meras palavras e mais propaganda.

E ficará marcado por eleições presidenciais.

No dia 24 de Janeiro elegemos um presidente da República que deve e pode ser um dos principais motores de uma reforma do sistema político por tantos e tantos ansiada.

Face a uma campanha eleitoral, em que o contacto popular tem de continuar a ser a regra, a vacinação dos candidatos presidenciais seria um sinal de respeito pela cidadania activa. 

Uma forma simbólica de começar a viver o verdadeiro sentido da Democracia.

Feliz Ano Novo.






segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

SAÚDE, SEGURANÇA E RESERVAS


Podemos confiar nas autoridades?

Não!

A resposta não é uma mera questão de opinião, é mais um alerta consequente da factualidade que não se faz de casos isolados.

Na saúde, a estabilização das mortes Covid nos píncaros representa um retrato do momento.

Tudo embrulhado num estado de emergência que já pouco tem de excepcionalidade.

E na extraordinária aceitação do novo axioma: para salvar os doentes Covid, o SNS deixa morrer os outros doentes.

E o que decidem o presidente (e recandidato) e o primeiro-ministro?

Contrariamente ao padrão usado permitem "generosamente" a fruição do Natal.

E até Rui Rio compreende que os portugueses precisam de um escape.

Numa semana crucial para a evolução da pandemia, Marcelo, Costa e Rio estão de acordo, certamente imbuídos pelo espírito natalício, perdão, pelo calculismo da popularidade.

E quando julgávamos que o governo havia descido à terra da responsabilização dos cidadãos, eis que regressa o autoritarismo no Ano Novo.

É o "contrato de confiança" mais curto de sempre.

Como a gestão da pandemia é tão semelhante à forma como o país é administrado: um ziguezaguear estonteante, com a navegação à vista a substituir a estratégia, o rigor e a coerência.

Quanto à segurança, o balanço é igualmente penoso.

Os assassinos de Homeniuk serão julgados. 

Mas o rasto da cultura do casse-tête acima da lei continua fundo, depois de inúmeras denúncias, desde o aeroporto de Lisboa às prisões, com a Provedora de Justiça, os especialistas e as organizações internacionais ignorados.

E o que decidem o presidente (e recandidato) e o primeiro-ministro?

António Costa tenta encerrar o escândalo com a cobertura política ao seu amigo e ministro Eduardo Cabrita, avançando com uma reestruturação que já começou mal.

E Marcelo Rebelo de Sousa ainda deve estar à espera da investigação de um dos seus 155 colaboradores de Belém para concluir que o caso do SEF faz parte de uma realidade tão sistémica quanto dantesca.

Tanta demagogia e branqueamento até parecem ficção, mas já fazem parte do dia-a-dia.

As reservas em relação às vacinas e às polícias são uma parte do gigantesco preço a pagar pela irresponsabilidade política que confunde os cidadãos.

A outra parte, depois de tanto folclore e truque, é a desconfiança nas instituições que matou, continua a matar e ainda pode matar muito mais que a pandemia.

Uma última cereja em cima da derradeira mutação do pântano: a procuradora-geral da República impõe hierarquicamente ser avisada quando um qualquer "notável" é apanhado numa investigação da Justiça.

Algum dia temos de parar, e começar a pensar para onde estamos a caminhar.