Se é verdade que Luís Montenegro reforçou a sua legitimidade é igualmente inequívoco que não pode governar continuando a ignorar o Chega.
Há uma grande maioria à direita.
PSD, Chega, Iniciativa Liberal e CDS/PP têm mais de 2/3 no Parlamento, permitindo reformas de fundo e até expurgar da Constituição da República a letra morta de direitos olímpica e sistematicamente ignorados.
Os derrotados da noite, desde logo Pedro Nuno Santos, são vítimas de si próprios.
Ficou claro que os papões e o medo já não pegam, por mais que se berre que o fascismo vai regressar, tal e qual como brandir a bandeira do liberalismo ainda não é entendido com alternativa.
Os socialistas têm de recomeçar, desde logo aceitar que os desastrosos 8 anos de António Costa ainda estão bem vivos na memória dos portugueses.
Mais: os eleitores premiaram a expedita acção do governo em repor a paz social, em arrepiar caminho em relação à fraude ideológica da esquerda que descontrolou a imigração.
É hora de todos líderes partidários perceberem o que Marcelo Rebelo de Sousa nunca enxergou: as linhas vermelhas num regime democrático são a tolerância com a corrupção e o nepotismo, o esmagamento dos direitos individuais, os truques e as vaidades pessoais.
A cristalina opção do povo português não dirimiu o maior erro de sempre do regime: a classe política deixou para a Justiça aquilo que poderia ter resolvido com cultura democrática.
O problema a montante continua de pé, pois Luís Montenegro ainda tem à perna diligências a correr na Justiça, sem falar da inevitável Comissão Parlamentar de Inquérito aos seus negócios pessoais com a Spinumviva.
A jusante, o desafio é também exigente: já não é possível aguentar mais mentiras na Saúde, o desastre na Habitação, a Educação aos trambolhões, a Justiça para ricos e pobres e a Segurança cada vez mais confinada aos condomínios fechados.
Recusar a evidência eleitoral apenas servirá para acelerar o desastre e mais instabilidade artificial.
Luís Montenegro para governar tem de quebrar as algemas que colocou em si próprio, por mera birra e tacticismo partidário, de forma a garantir as mudanças exigíveis numa legislatura de quatro anos.