Basta andar na rua para perceber que o tempo da ebulição está perigosamente cada vez mais perto.
É caso para dizer: Não sejas pato do "espírito de equipa" de Marcelo e Costa nesta pandemia.
Rui Costa Pinto
Basta andar na rua para perceber que o tempo da ebulição está perigosamente cada vez mais perto.
É caso para dizer: Não sejas pato do "espírito de equipa" de Marcelo e Costa nesta pandemia.
A última reunião de especialistas no Infarmed revelou que os dados dos especialistas não coincidem com o discurso político que tem justificado a imposição de mais e mais medidas restritivas.
Já vimos de tudo, desde um estudo de Henrique Barros que sustenta conclusões no «parece que», para desvalorizar os transportes públicos apinhados, até às medidas anunciadas com base na capa de um jornal.
Obviamente, pelo que se tem passado nos últimos cinco anos, o presidente não é capaz de o fazer, porque tem como objectivo a reeleição em 24 de Janeiro de 2021.
A "garantia" presidencial de uma vacina da gripe para todos é talvez o momento triste que faltava para confirmar o folclore e a falta de credibilidade da palavra a partir de Belém.
Em Democracia existem outras instituições de controlo, mas nenhuma delas sai da sua zona de conforto, deixando pasto ilimitado para quem está focado em manter o poder ou em conquistá-lo.
Bem pode Rui Rio dizer que está mais perto de ser primeiro-ministro, mas a forma como tem feito oposição não augura nada de muito diferente para o futuro.
É certo que para um manhoso político manhoso e meio, e talvez até lá chegue.
Mas as baterias viradas para a festa do Avante e para o congresso do PCP não fazem esquecer que uma quota parte do falhanço na gestão da pandemia também lhe cabe pela reiterada omissão.
O que se espera do líder do maior partido da oposição é exigir ao presidente que cumpra e faça cumprir a Constituição, o escrutínio do governo e alternativas credíveis.
Basta de despotismo e incúria.
E é disso que se trata, quando os portugueses morrem às mãos de uma gestão da pandemia a roçar o criminoso, apesar do silêncio pesado da Justiça.
Enquanto passa devagar o tempo da pandemia, entre o falhanço dos sistemas de saúde e o horizonte radioso de uma vacina milagrosa, disparam o número de infectados e de mortos e aumentam as vítimas de economias e sociedades arrasadas.
Entretanto, os tempos de fanatismo, de ódio e censura saltaram das ruas para as elites que continuam a chafurdar num paradigma – na governação e na oposição – assente no marketing político falido.
Esta "plasticidade" remete para o falhado modelo do "novo trabalhismo" de Tony Blair que ruiu em todo o esplendor com a gigantesca farsa do Iraque.
E, mesmo assim, continua a servir, 13 anos passados, de cartilha inspiradora para todo o tipo de abusos do poder por esse Mundo fora.
A gestão de carreiras políticas, a navegação à vista e a estratégia de comunicação assente em focus groups fazem parte de um padrão comum, de uma espécie de "internacional" triunfante que federa esquerdas e direitas.
Não admira que por cá se invoque o que se passa em toda a Europa para justificar os desastres internos.
E os protestos grassam por todo o lado, e só ainda agora começaram.
As minorias extremistas recrudescem e as maiorias do pensamento único renascem, qual delas a mais perigosa.
Ah, o fantasma do fascismo regressou para podermos constatar novamente como o papel dos "comissários" do regime é fundamental para desviar as atenções.
Já chega!
A pandemia até podia servir para repensar as estradas que não têm levado a lado nenhum, mas o caminho difícil não está ao alcance de politiqueiros nem de sociedades vazias de mais e mais consumismo.
Empanturrada com a agenda das autoestradas da informação, nem a comunicação social escapa, pagando o preço da falta de distanciamento do poder com as ameaças na rua.
E continua a destruição do planeta até à próxima pandemia.
A globalização já revelou o melhor e o pior, mas ainda estão por conhecer as consequências do paradoxo em que vivemos: no tempo em que a informação, a tecnologia e a riqueza pretendem chegar a todo o lado, o cidadão é cada vez menos livre.
E, seja qual for a crise, o medo, a intimidação e a ameaça continuam a ser a solução do poder gasto para manter tudo a girar.
Entretanto, como fica bem na fotografia, os líderes até assumem culpas próprias, mas os sacrificados continuam a ser os mesmos.
Desde 23 de Agosto que crescem desenfreadamente os infectados com a Covid.
E foram precisos mais de dois meses para o presidente e o primeiro-ministro desatarem em audiências, audições e reuniões para, finalmente, começarem a ser desenhadas à pressa medidas para fazer face ao desastre instalado.
O que se está a passar em Portugal?
A resposta é complexa, como está na moda dizer quando se quer esconder alguma coisa, mas a realidade é bem simples: estamos a ser governados por quem está desorientado politicamente.
De facto, elegemos quem não tem estado à altura dos acontecimentos, porque mentem em vez de falar verdade, porque reagem em vez de prevenir, porque julgam que a solução passa por mais autoritarismo, mais intimidação e mais e mais ameaça.
Chegados aqui, com números astronómicos que ainda se vão agravar, tendo mesmo já ultrapassado a Espanha em número de casos por milhão, eis o estado de emergência "suave" em toda a sua brutalidade: as restrições e o recolher obrigatório.
Existe a consciência de que tem de haver tolerância num momento tão crítico, mas não podemos deixar resvalar ainda mais o que se está a passar mesmo em frente dos nossos olhos.
Por isso, desde logo, impõe-se preventivamente colocar outra questão: e se as medidas tardiamente adoptadas não resultarem?
Não podemos permitir que, em breve, a "alternativa" passe por colocar militares na rua, armados até aos dentes, para patrulharem os cidadãos e reprimir os motins.
Enquanto houver dinheiro, que não temos mas vamos receber, e depois ter de pagar, ainda pode existir margem para tapar alguns buracos mas não vai evitar uma previsível crise que pode atirar o país para a fome só imaginável em tempos de guerra.
Com os sinais de descontentamento cada vez mais evidentes, o que fazem o presidente e o primeiro-ministro?
Anunciam, com pompa e circunstância, que querem salvar o Natal, embora todos saibamos que querem é tentar salvar a imagem e a pele.
Ou seja, aparentemente, o grande desígnio é achatar a curva para podermos encher a pança e desatar a consumir que nem loucos durante o período natalício.
E depois, está claro, logo se verá.
De facto, estamos a começar a ver cada vez melhor.
Mas ainda não conseguimos exigir que não nos metam, outra vez, na armadilha de tentar resolver tudo à bruta e num estalar de dedos.
Na pandemia, como na saúde, economia, educação e justiça, continuamos a deixar-nos enganar com receitas instantâneas de fantasias em vez de pensar, planear e eleger objectivos a médio e longo prazo ao alcance do país.
Com os portugueses a morrer, por causa da Covid e da falta de cuidados de saúde e assistência hospitalar, dos novos aos mais velhos, está na altura de despachar esta "dupla" que lá se vai apoiando um no outro como podem para disfarçar erros e equívocos clamorosos.
Em Janeiro de 2021 temos a oportunidade de começar pela espécie de "eco" instalado em Belém, cuja responsabilidade maior não se extingue com palavras e imagens pomposas, vãs e enganosas.
O Bloco de Esquerda escancara as mentiras políticas do governo, designadamente quanto ao número de profissionais de saúde contratados e à dotação financeira para o SNS em 2021, através de Mariana Mortágua e Francisco Louçã.
Por sua vez, o bastonário da Ordem dos Médicos lança um alerta lancinante denunciando a falta de preparação do SNS para acorrer à segunda fase da pandemia.
Face a este enorme aperto, António Costa tira da cartola um alibi para disfarçar o falhanço, dando "encosto" ao presidente da República para ambos poderem alijar responsabilidades.
E então lança a bomba atómica mediática: a obrigatoriedade da instalação e utilização da aplicação StayAway Covid, sujeita a multa e vigilância policial.
Costa conseguiu desviar as atenções do Orçamento do Estado 2021 e ainda da arrasadora carta aberta de Manuel Guimarães Pinto, que também foi assinada por mais cinco ex-bastonários, com sensibilidades políticas diferentes.
E não contente com a "façanha" autoritária elevou o tom da ameaça, redobrada com o habitual eco presidencial, sem garantir um SNS preparado, sem atender às exigências dos lares de idosos e sem fazer face aos transportes públicos apinhados, apenas arriscando a política do medo.
Mas a cumplicidade entre ambos foi ainda mais longe.
No momento em que a propaganda do governo sobre o SNS veio abaixo com estrondo, o presidente da República correu a dar conhecimento de conversações com os privados do sector para tapar os buracos que até então nunca havia visto.
Exigência?
Não.
Escrutínio?
Nada.
Branqueamento?
Sim, como tem sido costumeiro.
E, quando era esperado estudo, competência, responsabilização e clareza, sobrou a boçalidade da aposta no "pleno" da ameaça, comprovando o "arranjinho" entre ambos, mesmo quando estão em causa os direitos constitucionais.
Mas com esta espécie de acção política "moderna" tudo muda num ápice, o sim e o seu contrário, mais irrevogável menos fantasia.
O que por aí vem, nos próximos tempos, exige uma presidência com mais noção do dever e da responsabilidade do que de piruetas e cálculo particular.
É que a pandemia continua a alastrar vertiginosamente e o número de mortos a crescer.
O presidente da República tem sido aclamado pela sua bonomia e folclore.
Mas a atitude presidencial não é tão espontânea e desinteressada quanto pode parecer.
É fruto de uma estratégia reflectida que serve mais os interesses do cidadão e do político Marcelo Rebelo de Sousa do que o cumprimento da missão presidencial e os interesses reais do país.
O cidadão e o político Marcelo seguem esta cartilha simplista há muito tempo, e com uma mestria que bem poderia ser usada em prol de questões bem mais importantes para a vida do dia-a-dia dos portugueses.
Mas no melhor pano cai a nódoa, muitas vezes provocada por acontecimentos imprevistos, como por exemplo os incêndios, Tancos e a pandemia, fazendo ruir o caminho previamente delineado.
E o surpreendente anúncio da candidatura de Ana Gomes, um "terramoto" político inesperado, acabou com o sonho de uma reeleição ao jeito de um passeio à beira-mar, tranquilo, sorridente e feliz.
Está a chegar o tempo de pedir contas, pois o «PR não pode ser um adorno», como sublinhou Marisa Matias, durante a apresentação da sua candidatura presidencial.
E, desde já, impõe-se a pergunta: com o cidadão e o político Marcelo em Belém mudou alguma coisa?
Não!
E para poder manter tudo na mesma, nada ainda melhor do que uma quimera ao virar da esquina, mesmo sem nada fazer para a merecer e a alcançar.
«Somos os melhores», diz o presidente da República, enquanto agarra um qualquer troféu desportivo.
«Temos de ser os melhores», repete, entre sorrisos profusos, a propósito das cervejas e das águas minerais.
Ao mesmo tempo, face ao ambiente de fantasia delirante e grotesco gratuito, o país continua à espera de um presidente da República que pugne, ou faça alguma coisinha, para sermos os melhores na Saúde, na Justiça, na Educação e nos Direitos Humanos.
Com o cidadão e o político Marcelo em Belém mudou alguma coisa no combate à corrupção e à desigualdade?
Não, este presidente da República é mais um daqueles que preferem "iluminar" as pessoas, rendido à máxima the show must go on, seja com as "Galinhas do mato" ou com a comparação paradoxal do feminismo ao nazismo.
Deixemo-nos de hipocrisias: os abraços, os afectos e as selfies garantiram a paz institucional, mas também serviram para sustentar António Costa que, obviamente, retribuiu com o apoio do PS.
Negócio fechado!
Mesmo que para trás fique o gigantesco buraco de opacidades e cumplicidades que foi cavado nos últimos cinco anos.
E que os representantes políticos até se arroguem reivindicar serem portadores de um cheque em branco para decidir os destinos de Portugal.
Mas o branqueamento e até o abafamento selectivo, bem típico dos politicamente fracos e cobardes, têm os dias contados.
Afinal, temos de estar à altura do desafio, temos de ser os melhores na hora do escrutínio do mandato presidencial.
E viva a República!
Há uma polémica absurda que tem distraído o país do essencial.
A propósito de tudo e de nada lá vem a lenga-lenga do virtuosismo do Estado e dos pecados do privado e vice-versa.
A Covid trouxe atrelada a grande "novidade": o populismo de Estado, travestido de grande salvador e sustentado pelo discurso do medo.
É o Estado do caos no SNS, do abandono dos mais idosos, da incúria dos incêndios de Pedrogão e da opacidade de Tancos.
É também o Estado de Direito à la carte que permitiu as mais variadas negociatas: BES, BPN, BPP, CGD, Expo 98, Euro 2004, Novo Banco, Parcerias Público-Privadas, submarinos, TAP, etc.
É ainda o Estado dos amigos, dos "paraministros" do primeiro-ministro, com cobertura do presidente da República, e de uma multidão de criados (para todo o serviço sempre agradecidos e venerandos) que ofuscam os servidores públicos competentes.
Aliás, este Estado, omnipresente e cada vez mais arbitrário, até só admite ser fiscalizado por si próprio.
Em suma, é este Estado, minado pela da corrupção e pelos abusos de poder nas mais altas hierarquias da Administração, que alguns ainda querem reforçar.
É caso para perguntar: este tipo de Estado é capaz de combater os erros da globalização e os excessos do capitalismo selvagem?
Aliás, não deixa de ser particularmente significativo observar, por exemplo, a reacção por esse mundo fora a algumas restrições paternalistas e desenfreadas impostas pelo Estado por causa do "vírus da China", como é popularmente conhecido.
A pandemia veio reforçar esta armadilha em que tantos e tantos se deixaram enredar através de argumentos de circunstância, os quais, aliás, têm minado qualquer hipótese de um debate elevado e útil para resolver tantos e tantos estrangulamentos.
Mas a abertura do espectro político tem permitido outro tipo de resposta aos populismos, desde logo por fazerem mais luz sobre os partidos políticos tradicionais, tão fossilizados quanto impunes, que debitam o mesmo "discurso" há décadas.
E a crescente consciência política também tem favorecido a separação de águas entre a práxis da governação e o sempre saudável confronto de ideias.
Os cidadãos não precisam de messias, querem governantes competentes e limpos, querem soluções para os seus problemas, independentemente de serem de Esquerda ou de Direita.
Compreender esta realidade é a melhor forma de combater os populismos, sejam eles de Estado ou de movimentos radicais que pugnam por uma mudança sem aceitar as conquistas civilizacionais.
Fernando Rocha Andrade, em 2017, ordenou um inquérito à Inspecção-geral de Finanças (IGF) para apurar o mais escandaloso “apagão fiscal” de ...