A COP26 finou.
Rui Costa Pinto
A COP26 finou.
No dia em que anunciou a data das eleições antecipadas, Marcelo Rebelo de Sousa assinou um discurso confuso e contraditório.
A ameaça precipitada, descabida e reiterada de dissolução ainda antes do fim do jogo parlamentar, quando há um ano jurava que a hipótese era uma mera «ficção», só poderia ter sido explicada com um milagre.
Basta recordar o que Marcelo Rebelo de Sousa disse em Agosto de 2020, como oportunamente recordou Francisco Louçã, para ter uma ideia da perversidade política em curso.
O que mudou?
1) António Costa a braços com uma crise no governo e a crescente contestação social, bem como a ocasião perfeita para diabolizar o Bloco de Esquerda e o PCP;
2) A brecha para vingar o «ódio a Rui Rio», como bem sublinhou Isabel Meirelles, com PSD e CDS/PP esfrangalhados;
3) Estancar qualquer possibilidade de viabilização de medidas orçamentais que desagradavam aos patrões.
Em síntese, Marcelo Rebelo de Sousa fez objectivamente três fretes políticos: ao primeiro-ministro, a Paulo Rangel e aos patrões.
Um último lifting, uma exibição de autoritarismo político para compensar seis anos de submissão em Belém.
O tom da campanha eleitoral e os resultados das eleições antecipadas, sem esquecer a abstenção, ditarão o futuro de um presidente que tudo sacrificou para satisfazer a sua ânsia de protagonismo.
E depois da grande cambalhota, sempre a sorrir, obviamente com o interesse nacional na boca e desgraçadamente a responsabilidade no bolso, só falta ao presidente impor a “regra de regime”, a reinvenção do “Bloco Central” sustentada na comparação, pasme-se, com a realidade alemã.
Os factos são o que são, e as consequências também.
Paulo Rangel é um forte candidato à liderança do PSD.
É sempre útil conhecer a forma como os outros nos vêem.
O artigo assinado por Marc Santora e Raphael Minder, no The New York Times, sobre a pandemia e a vacinação em Portugal, tem ainda o mérito de sublinhar o conflito de gerações.
De um lado, Henrique Gouveia e Melo e Leonor Beleza, ambos representando uma geração mais velha e ainda marcada pelos tiques do autoritarismo do passado.
Do outro, Manuela Ivone da Cunha e Laura Sanches que representam uma nova geração urbana e escrupulosa das liberdades individuais.
Para os primeiros, o sucesso do plano de vacinação deveu-se à eficácia da linguagem militar, de guerra e até de disciplina, aliás, ancoradas num discurso bafiento contra os políticos.
Para as duas últimas, um registo totalmente diferente.
Manuela Ivone da Cunha, antropóloga, que lecciona na Universidade do Minho, constata o carácter ultra-minoritário dos "anti-vaxxers" portugueses, ao contrário de outros países europeus.
Laura Sanches, psicóloga-clínica, admite a falta de cultura de questionar as autoridades e o medo como os principais instrumentos para convencer os portugueses.
O artigo intitulado "In Portugal, There Is Virtually No One Left to Vaccinate" conseguiu tocar num ponto essencial: a mudança de ciclo.
À custa do contraditório inteligente, os jornalistas conseguiram retratar a saudável tensão existente na sociedade portuguesa.
E dar conta do debate interno em curso, entre protagonistas em fim de carreira e em ascensão.
É caso para dizer que há uma nova geração desempoeirada, no lugar certo, com capacidade de fortalecer uma perspectiva mais lúcida e exigente.
Num país que se sente cada vez mais confortavelmente europeu, os jovens estão mais interessados em ciência, transparência e informação credível do que na apologia e exibição dos camuflados.
A nova geração está a criar hábitos de questionar, não se deixando iludir pelos slogans castrenses ou pelas atitudes do Estado a roçar o autoritarismo.
Não abdicando de usar a própria cabeça para fazer perguntas, tantas e tantas vezes sem respostas, e de protestar, com argumentos válidos e pertinentes.
Santora e Minder
conseguiram o que tanta falta tem feito à Comunicação Social portuguesa:
observar, analisar, identificar e traduzir as questões e as partes, ter um
olhar próprio e escapar à propaganda.
E um exemplo do
que pode ser a tal política dos "Novos Tempos".
Carlos Moedas deu uma lição de como se faz oposição e se vence.
Depois de um discurso de vitória memorável – «Podemos mudar o sistema, porque a Democracia não tem dono» –, é no terreno que se prova a nova forma de fazer política.
Tal como aconteceu a Pedro Passos Coelho, o novo presidente da Câmara de Lisboa vai ter pela frente uma tarefa hercúlea, com inúmeros obstáculos que vão demorar a ultrapassar.
E não pode cometer os erros do messianismo bacoco.
Em política, a convicção continua a pagar, desde que seja genuína.
A sinceridade de um plástico achinesado, mais ou menos liberal, está tão condenada no poder como na oposição.
Não basta denunciar, de vez em quando, o que vai mal, para de seguida calar e manter os mesmos vícios e negociatas dos lóbis do costume.
A segunda taxa de abstenção mais alta, desde as primeiras autárquicas, em 1976, não pode ser varrida, mais uma vez, para debaixo do tapete.
É preciso um caminho alternativo, força, tenacidade e dar a cara, constantemente, para mobilizar e reconquistar os cidadãos.
Em Portugal, a estratégia de Bloco Central é um bafiento anacronismo político, uma espécie de desculpa esfarrapada para eternizar um sistema podre.
De uma penada, Carlos Moedas abriu as janelas da capital de par em par.
Atirou António Costa mais cedo para a Europa.
E alertou os partidos políticos para um arejamento indispensável.
Portugal ganha sempre com uma oposição presente, firme, que não pactua com a arrogância, com o clientelismo e com a corrupção.
Não perceber o alcance da vitória de Carlos Moedas é apenas mais uma teimosia condenada ao fracasso.
Começou um ciclo
de uma nova geração de políticos em que o discurso pomposo, rasca ou de feira,
o marketing político e as sondagens encomendadas não garantem a vitória.
Fernando Rocha Andrade, em 2017, ordenou um inquérito à Inspecção-geral de Finanças (IGF) para apurar o mais escandaloso “apagão fiscal” de ...