segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

REGRESSO À PROPAGANDA DO FASCISMO


A propaganda em curso está aí para durar e lavar.

Tal e qual como noutros tempos da má memória, em que as boas contas, a solidez da moeda e as reservas de ouro eram glorificadas, hoje temos a gigantesca encenação do excedente orçamental.

Custa assistir a este truque bafiento, porque todos sabemos que foi alcançado à custa do sofrimento dos portugueses, sem qualquer respeito pelos mais elementares critérios de prioridade social.

Não basta alcançar o desejável, quando valeu tudo para o alcançar.

Os portugueses que esperam pela pensão, pelos cuidados médicos e pela dignidade a que tem direito só podem ficar revoltados, cada vez mais revoltados, por este (falso) discurso político.

Em boa verdade, a responsabilidade não é só de António Costa e Mário Centeno.

Não, os portugueses já estão habituados ao cinismo político de ambos, bem como ao branqueamento brutal da realidade de quem tem a responsabilidade de estar acima dos interesses partidários.

A responsabilidade da presente situação é de todos nós, sobretudo daqueles que se calam perante a ignomínia política, permitindo que a farsa monstruosa siga impunemente o seu curso.

Com o exemplo dado por quem tem o poder de mudar o actual pântano, que já vem de longe, a verdade é que a sociedade portuguesa está a anestesiada e conformada.

E não dá sinais de qualquer capacidade de reacção.

Nem mesmo quando alguém tem a coragem inconveniente de denunciar a podridão que nos invade, diariamente, ano após ano, e que já tomou conta de um país cada vez mais adiado.

Mas que fazer?

Ser activamente solidário, contrariando o isolamento e o silenciamento de todos aqueles que nunca desistem da verdade.

Feliz Natal!

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

MARCELO E O BRANQUEAMENTO BRUTAL


O branqueamento brutal da realidade continua a sua grande marcha presidencial.

Insultuoso já era, agora começa a raiar o doloso, tendo em conta os últimos desenvolvimentos em tempos de apresentação e discussão do Orçamento do Estado para 2020.

Na Saúde, um truque de merceeiro mediatizado gerou uma defesa inexplicável do governo - cada vez mais e só de António Costa.

Nas questões climáticas, depois do falhanço da última cimeira de Madrid (COP25), o machado da reprovação caiu sobre algumas potências mundiais, ocultando as responsabilidades da China como um dos grandes poluidores a nível planetário.

No Orçamento de Estado, a antecipação de um hipotético abatimento da dívida já fez as delícias do optimismo delirante.

As preocupantes divisões entre o primeiro-ministro e o ministro das Finanças, para surpresa e gargalhada por cá e no seio do Eurogrupo, são apresentadas como resultado de mais uma táctica de alto nível.

Por sua vez, a prescrição e o respectivo perdão das dívidas e coimas aplicadas aos partidos políticos não mereceu uma pronta palavra presidencial.

A propósito da vitória de Boris Johnson, e um pouco ao jeito do "tour da cleptocracia" de Londres, que passa pelas casas dos magnatas da corrupção e do branqueamento de capitais (sem esquecer a City), só falta Belém inaugurar também, com pompa e circunstância, uma espécie de rota turística nacional para visitar todos os sítios emblemáticos em que somos superiores ao Burkina Faso.

Como se a chancela de Belém fosse suficiente para esconder a realidade que está à vista de quem quer ver...

Não há limites para esta miséria intelectual e indigência política?

A Iniciativa Liberal, através do seu presidente, João Cotrim Figueiredo, já deu o pontapé de partida, manifestando aberta e frontalmente que não vai apoiar uma eventual recandidatura presidencial de Marcelo Rebelo de Sousa.

De facto, os portugueses começam a perceber que o "presidente dos afectos" não chega, pois o que também faz falta é um presidente exigente, acima dos interesses partidários e cumpridor da Constituição.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

POLÍTICOS (DEMASIADO) VELHOS


Confundir o mensageiro com a mensagem é um exercício moderno, execrável e perigoso.

Mais ainda mais alarmante é o fanatismo daqueles que confundem a realidade com o seu dogmatismo ideológico.

À direita, a irritação com Greta Thunberg leva o CDS/PP a aparecer aos olhos da opinião pública como um adversário das questões ambientais e climáticas.

É certo que a adolescente sueca não é mais nem menos do que um produto de marketing à escala global, um instrumento usado e abusado com um objectivo concreto, mas isso não quer dizer que a sua mensagem seja errada ou irrelevante.

Ao manter esta hostilidade politicamente delirante, a direita corre o risco de se afastar ainda mais dos novos eleitores, de uma juventude até agora perdida para causas estruturantes e mobilizadoras.

Outro exemplo deste fanatismo politico vem do PCP.

Jerónimo de Sousa vê em cada denúncia do caos na Saúde, em cada revelação de casos a roçar o criminoso, um ataque ao SNS.

Como se a existência do SNS, só por si mesmo, fosse o primeiro e último objectivo dos comunistas, independentemente da qualidade dos serviços que presta aos cidadãos.

A mediocridade política destas duas posições, à direita e à esquerda, revelam protagonistas ultrapassados, políticos (demasiadamente) velhos, sem nada para oferecer ou melhorar.

Certamente, não é por acaso que uns e outros se afundam nas urnas.

domingo, 1 de dezembro de 2019

LONGA VIDA DE MARCELO E COSTA


A comunicação social, finalmente, despertou em força para o caos na Saúde.

As notícias extraordinárias sobre o funcionamento do SNS passaram a ser uma constante da agenda mediática.

Até poderia ser útil saber qual a razão para tão tardio despertar, mas ainda mais interessante é olhar de frente para o futuro num horizonte de pelo menos cinco anos.

Se nada fizermos com que poderemos contar? 

Certamente, com mais um abismo. 

Em que Marcelo repete a rábula anual de encher o carrinho de compras para o "Banco Alimentar", enquanto Costa avança com um qualquer novo truque para fazer esquecer as anteriores promessas falhadas.

Um e outro, com a mesma bonomia, e desfaçatez política, diga-se em abono da verdade, lá seguirão o seu caminho de poder e para o poder, quais prestidigitadores, dispostos a manter a ilusão de que vai haver uma vida melhor.

O escrutínio e a exigência não podem passar de moda, pois o vazio da governação não pode ser escamoteado pela realização de feitos extraordinários que (n)os enchem de orgulho.

Os Bastonários dos Enfermeiros e dos Médicos, que contra a corrente têm mantido o foco na defesa dos cidadãos, são um exemplo a seguir. 

Para que outras Ordens, associações, sindicatos e profissionais tenham a mesma consciência e dignidade profissionais, apontando o tanto que ainda há de criminoso em áreas determinantes para cumprir a Democracia, como a Educação, a Justiça e a Segurança, entre outras.

A esta cidadania, ainda que insuficiente, têm faltado os partidos da oposição. 

PC e BE ziguezagueiam, Cristas foi traída pela incoerência e Rio continua sem entender a diferença entre o bota-abaixo e a denúncia firme do status quo miserável que condena o país à miséria.

Entretanto o bailete dos afectos e das luzes coloridas tudo abafa e distorce, no sentido de tudo continuar mais ou menos na mesma, com o sistema concentrado em diabolizar os pequenos partidos que almejaram alcançar um lugar no Parlamento.

É que, com mais ou menos excesso programático, ainda são vozes que escapam, por ora, ao mainstream.

A longa vida de Marcelo e Costa no poder é mais do mesmo.

É, como se pode constatar, tolerar que os cidadãos continuem a ser tratados como lixo.



segunda-feira, 25 de novembro de 2019

SAÚDE SEM PRESIDENTE


A Saúde não tem sido uma prioridade de António Costa.

E, mais grave, é um dos temas mais ignorados pelo presidente da República nas suas intervenções públicas.

A constatação é factual, obriga a reflectir!

E a colocar três questões: Será uma política de Estado? Por insensibilidade social? Ou por interesses difusos ou pessoais?

Sejam quais forem os motivos, que justificam as interrogações, é cada vez mais evidente o resultado: Marcelo Rebelo de Sousa tem contribuído e permitido o branqueamento sobre o que se está a passar na Saúde, designadamente no SNS.

O padrão da comunicação de Belém tem sido apenas marcado por uma forte presença no espectáculo das emoções e dos fait divers, como se o importante fora apenas o reforço da popularidade do presidente com vista ao segundo mandato.

Aliás, a avaliar pelas suas intervenções, Marcelo Rebelo de Sousa parece estar mais preocupado com a crise financeira na Comunicação Social do que com o desastre no SNS.

Como se a Democracia se cumprisse com a protecção de alguns e a desprotecção de todos os outros.

É chocante!

Esta inversão de valores é um perigo.

E não basta apelar para os cidadãos não terem medo de defender os seus direitos, quando é o próprio presidente que lhes falta escandalosamente ao encontro.

Aliás, é tão intolerável a violência doméstica como a falta de cuidados num qualquer estabelecimento de Saúde, público ou privado.

É certo que a palavra do presidente vale cada vez menos, mesmo nas campanhas que abraça, e muito bem.

O recente exemplo do incumprimento do programa da erradicação dos sem-abrigo, abafado antes das eleições de Outubro passado, teve de ser agora renovado, à pressa, à medida da saison.

Como se a Democracia se cumprisse com pactos e anúncios, sem escrutínio e responsabilização públicos.

Por isso já ninguém estranha - e deveria estranhar! - que o Ministério Público, sempre afoito a abrir inquéritos ao ritmo das notícias publicadas, tarde em agir pronta e publicamente relativamente aos mais diversos casos chocantes de incúria no SNS.

Resta o escrutínio dos profissionais, das Ordens e dos sindicatos do sector da Saúde, bem como da comunicação social, ou o que dela resta, livre da mão "caridosa" do Estado, fundamentais para pôr cobro a esta criminosa farsa à vista de todos.

Com o agudizar do caos no SNS, o coro pungente e miserável daqueles que, com a desfaçatez do costume, dizem não saber nada, já não é mais possível.

Em vez de declarações tímidas e avulsas - ao ritmo dos casos mediáticos -, o presidente da República tem de  intervir, publicamente, com máxima firmeza, exigindo ao governo, a este ou a qualquer outro, mais do que palavras de circunstância, o estrito cumprimento da Constituição.

Mas o texto fundamental também vale o que vale...

Por maior que seja a propaganda, ter Saúde em Portugal é cada vez mais um desafio perigoso para quem não tem dinheiro.

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

SNS: CHEGOU O TEMPO DE ACORDAR


O SNS continua a morrer.

E com ele muitos e muitos portugueses mais pobres e desvalidos.

A catástrofe que está a ocorrer, diariamente, só tem sido possível com o beneplácito do XXII governo constitucional e de uma ministra que já morreu politicamente e ainda não deu conta.

Aliás, e deveras importante, algum dia ter-se-á de perceber o verdadeiro motivo do silêncio pesado do presidente da República sobre as sucessivas e escandalosas notícias diárias sobre o SNS.

O encerramento do Hospital Garcia de Orta (Urgência pediátrica), das 20h00 às 08H00, todos os dias, é apenas mais uma machadada nas necessidades dos cidadãos.

Os medicamentos faltam aos doentes, regular e impunemente, deixando aqueles que mais precisam à mercê de adiamentos ou alternativas que prejudicam a sua saúde.

Os médicos abriram os olhos e já começaram a declinar qualquer responsabilidade civil, tais são as condições de trabalho e falhas no sistema.

Faltava ainda, no âmbito da incompetência a roçar a incúria, a novidade de querer amarrar os jovens médicos ao SNS, numa decisão administrativa ao jeito da esquerda que apenas pode resultar num recrudescimento da conflitualidade, cujos prejuízos ainda podem agravar mais quem recorre ao SNS.

Não, não há tolerância para um caos permanente que parece ter emergido do nada após os últimos resultados eleitorais.

E não pode haver mais condescendência para quem julga ser possível disfarçar o que se passa com notícias positivas sobre o SNS, porque também as há, pois a gravidade do que está a ocorrer é por demais gritante e revoltante.

Se nos últimos quatro anos pouco se fez para resolver a situação, com a esquerda e a extrema esquerda a fazerem de conta que nada sabiam, uma coisa é certa: aqueles que têm de recorrer ao SNS certamente não esquecerão quem está a condenar o que resta de mais um serviço público.

E por mais e mais propaganda que possa ser lançada para tapar os olhos dos portugueses, a realidade dos números continua a ser dantesca: 47% dos portugueses não têm acesso aos serviços de saúde por falta de condições financeiras (OCDE) e 25% do orçamento da Saúde é gasto em desperdícios de toda a espécie (Lancet).

Os que não têm qualquer possibilidade de recorrer a um seguro de saúde privado ou não tenham a cunha suficiente para serem bem cuidados e respeitados no SNS, certamente não esquecerão a realidade de um Estado a roçar o criminoso.

Chegou o tempo, mais uma vez, de acordarmos, porventura de a Justiça também conseguir acordar.

quarta-feira, 6 de novembro de 2019

SINAIS, "TRAIDORES" E DEPOIS SOPHIA


Edward Snowden bem pode falar, bem pode denunciar a ficção tornada realidade, bem pode alertar para o abuso institucionalizado e legalizado.

Se as palavras de Snowden fazem pensar, também deviam indignar e mobilizar.

Mas a verdade de Snowden ainda não interessa a todos.

Por um lado, os governos são servidos e servem-se, para os mais variados interesses e objectivos, por quem na sombra fria passou a recolher a informação de enfiada.

Por outro, os cidadãos estão demasiado ocupados com mais uma novela, mais um gadget, mais uma experiência vivida e rapidamente esvaziada pela sua exibição na primeira oportunidade.

Por cá, no âmbito deste quadro, tão global quanto dantesco, já começaram a ressurgir mais sinais alarmantes de arrogância política e de abuso no início da Legislatura.

E para que ninguém vá ao engano nestes tempos novos, um dos ajudantes de Estado lá avisou a malta: qualquer coligação negativa é obra de "traidores".

E paira a ameaça no ar...

Nunca há limites para quem julga estar ungido pela divindade do poder...

Coitados!

Julgam poder tudo...

Mas não podem, como nos ensina a História.

Porque há sempre alguém que resiste, como Snowden.

E porque vale a pena caminhar com Sophia, cem anos depois, relendo "Dual".

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

XXII GOVERNO: QUANDO O PRESENTE FAZ LUZ SOBRE O PASSADO


É um início sombrio, envolto em golpes de teatro e várias suspeitas, certamente frustrando as expectativas de uma parte dos eleitores que votaram no PS e da generalidade dos portugueses.

E é muito mais do que um Executivo numeroso, repleto de tachos para os amigos, militantes e simpatizantes de quem tem o poder.

Em suma: é um passo no sentido do regresso ao passado, ainda que sem maioria absoluta, em que os princípios de convivência democrática são vergados pela prepotência e impunidade políticas.

O mais grave é que o XXII governo constitucional mereceu um cheque em branco presidencial no momento de tomada de posse.

E os riscos, mais do que glosados na comunicação social e no que resta de opinião publicada independente, voltam a valer apenas o que valem, ou seja, nada nos tempos que correm.

As nomeações de João Galamba, Antero Luís e Nuno Artur Silva são exemplos paradigmáticos do actual processo de abastardamento democrático.

O secretário de Estado Adjunto do Ambiente é protagonista de um dos negócios de Estado com cambiantes caricatos de que não há memória.

Nem mesmo o eventual inquérito aberto pelo Ministério Público ao negócio do lítio foi suficiente.

Não!

Quem manda é Costa, com Marcelo a sorrir para as câmaras de televisão...

Por sua vez, a participação no Executivo de um magistrado que liderou o SIS e o organismo mais importante da Segurança Interna também não deixa quaisquer dúvidas.

Hoje, tal como ontem, de triste memória, é a confusão entre Política e Segurança, como se fosse necessário recriar uma espécie de cordão sanitário à volta do poder político.

Mas ainda faltava a pérola...

A nomeação de Nuno Artur Silva para a secretaria de Estado do Cinema, Audiovisual e Media traduz a teimosia e a arrogância políticas de António Costa, com Marcelo a continuar a sorrir para as câmaras de televisão.

E nunca é de mais recordar: as críticas decorrem da violação da mais elementar transparência política, e não de qualquer a priori de carácter de quem quer que seja.

De truque em truque, de formalismo em formalismo, os tiques autoritários bem podem servir para a alimentar os senhores do poder, mas tal mina a confiança dos cidadãos.

Who cares?, dizem alguns, contrapondo que o fundamental são os dados macro e estatísticos, as contas mais ou menos certas e a vertigem da modernidade com o lixo debaixo do tapete.

Para quem ainda tinha dúvidas, tudo ficou mais claro...

É o país das elites que temos e merecemos, é a consagração de um bailete ainda mais refinadamente cínico, com Marcelo sempre à espreita de uma qualquer câmara de televisão para continuar a sorrir.

A marca é inconfundível, chancelando a afronta ao bom senso e à ética republicana, a qual, aliás, já nos conduziram ao pântano e ao período mais negro da história da Democracia em que, aliás, António Costa assumiu o lugar de um dos protagonistas.

No arranque da 14ª Legislatura fica cristalino, mais uma vez, todo o descaramento político.

Em que volta a importar tão-só a ilusão de normalidade, em que não cabem os desafios adiados, o desrespeito pelos cidadãos e os esqueletos da República, sejam os cadáveres da Saúde ou as negociatas de Estado, sem esquecer Tancos, entre outros...

Desta vez, António Costa não poderá voltar a dizer candidamente que não sabia de nada, por mais que Marcelo continue a sorrir para as câmaras de televisão.

Vamos assistir aos mesmos erros, abusos e desmandos, outra vez?

domingo, 20 de outubro de 2019

PANTOMINA POLÍTICA SEM LIMITES


A degradação do regime democrático está a atingir níveis impensáveis.

Entre muitos outros, e só para falar nos mais recentes, alguns exemplos sucedem-se: no Estado – com o negócio do lítio –, no governo – com novas nomeações ministeriais escandalosas –, nas Forças Armadas – com a tentativa de enterrar Tancos –, na comunicação social – com o escândalo do Sexta às 9 na RTP –, na Saúde – com o encerramento de Urgências – e na Justiça – com os processos Operação Marquês e Rui Pinto.

E, já agora, depois de todo o branqueamento descarado relativamente ao escândalo do familygate, é o próprio primeiro-ministro, António Costa, a dar sinais, aparentemente, da imperiosa necessidade de travar a promiscuidade ao mais alto nível da governação.

Não há palavras para toda esta pantomina política...

E tal só tem sido possível por força de um governo liderado pelo PS, agora reconduzido em eleições, de uma maioria de esquerda parlamentar que o sustenta por razões de táctica partidária, de uma máquina de propaganda travestida de opinião independente e de um presidente da República que exerce o seu mandato com uma ligeireza que poderá eventualmente estar a roçar a afronta constitucional.

Obviamente, os portugueses querem, antes de tudo, ver a sua vida melhorada e os seus direitos repostos, mas o que está a acontecer é demasiado grave para poder ser ignorado.

A falta de reacção dos cidadãos ao atropelo dos mais elementares deveres de responsabilidade política e de ética republicana constituem o mais perigoso sinal de tolerância, uma espécie de incentivo que já está a resultar num abastardamento democrático com consequências imprevisíveis.

O que se segue?

Uma nova versão da asfixia democrática?

Aliás, paradoxalmente, e de uma forma bem paradigmática, é a própria RTP a dar o "exemplo", conferindo visibilidade ao crescimento do arbítrio e da opacidade que tomaram conta do país.

E, então, o que dizer da indigitação do novo governo sem estarem apurados os resultados eleitorais?

Por um segundo devemos colocar a questão a nós próprios: alguém imagina o que aconteceria se algum destes casos tivesse ocorrido nos anos 80, 90 ou na primeira década do século?

Mais uma vez, com a esquerda no poder, os direitos individuais, a transparência na governação, a liberdade de informação e o combate à corrupção são esmagados pela prepotência de quem tem o poder.

domingo, 13 de outubro de 2019

PORTUGAL: NA ROTA DE UMA NOVA ERA


Portugal é um país abençoado e feliz.

De facto, os votos expressos nunca enganam.

E às vezes são exactamente como o algodão: limpam, limpam, limpam...

Ou seja, os portugueses foram indiferentes a Tancos e aos órgãos de soberania colocados "a salvo" in extremis, à decapitação da cúpula do MP que mais combateu a corrupção, à corrupção instalada ao mais alto nível, à degradação galopante da credibilidade do Estado, ao preocupante abrandamento da economia e à astronómica dívida.

Ah, mas isso não interessa nada!

E nem o dia-a-dia dos últimos quatro anos mudou a sua indiferença: os cadáveres do SNS, os pensionistas que esperam e desesperam pela sua reforma, as demissões governamentais, o recuo na aplicação da Lei das Incompatibilidades (chancelado pela PGR), o nepotismo e a partidarização de instituições como a Protecção Civil, entre outras, sem esquecer os desastres florestais e a tragédia humana, a degradação inimaginável dos serviços públicos e a carga fiscal que não pára de aumentar.

Ah, mas isso também não interessa nada!

O que importa é que os portugueses gostaram e votaram pela "geringonça".

E conseguiram!

Resultado: depois de conhecidos os resultados eleitorais, a morte da "geringonça" foi decretada em 24 horas, com mais ou menos truque agora em versão classificada como coreografia.

Uau!

Aqui e ali ainda se vislumbraram algumas lágrimas de crocodilo, mas isso também não interessa nada.

E se o respeito pelo voto popular expresso é este, então o que dizer do silêncio pesado sobre os restantes 47,83% dos votos (abstencionistas, brancos e nulos)...

Ups!

Mais isso também não interessa nada...

Vamos ao que interessa: temos pela frente novos tempos.

Soberanamente, os portugueses abriram de par em par a porta a uma nova realidade, quiçá a um regabofe nunca visto.

António Costa pode não ter a maioria absoluta, mas tem os deputados suficientes para poder fazer o que quiser.

E até programar, mais uma vez, com mais truque menos truque, para serventuário elogiar, uma crise política artificial para almejar a tão sonhada maioria absoluta em eleições antecipadas.

É um Senhor, mais um entre tantos que por aí andam.

Entretanto, a selecção de futebol de Portugal continua a ganhar...

A RTP retoma o programa de investigação jornalística que suspendeu durante a campanha eleitoral...

O presidente da República arranca com um novo argumento - entre a ficção e a novela, desde a saúde pessoal à tentativa de reescrever a história recente -, que promete uma nova dimensão do bailete...

Sim, sim: Netflix, já!

Temos e teremos o que merecemos.

Somos os maiores.

Portugal entrou na rota de uma nova era.

Interesse ou não, seja bom ou mau para Portugal, fica a reflexão para mais tarde recordar.

sábado, 5 de outubro de 2019

DIA DE REFLEXÃO


Órgãos de soberania colocados "a salvo" in extremis, a decapitação da cúpula do MP que mais combateu a corrupção, o descalabro no SNS e o aumento da dívida pública devem fazer parte do dia de reflexão.

É que a degradação galopante da credibilidade do Estado, o preocupante abrandamento da economia e a astronómica dívida são demasiado graves para serem ignorados.

Num prato da balança, o bloco político alternativo, a estabilidade governamental e a reversão de alguns cortes - entre os quais aqueles perpetrados antes da chegada da Troika  -, objectivo aliás só possível pela intervenção do Banco Central Europeu.

No outro, não é possível esquecer os cadáveres do SNS, os pensionistas que esperam e desesperam pela sua reforma, as demissões governamentais, o recuo na aplicação da Lei das Incompatibilidades (chancelado pela PGR), o nepotismo e a partidarização de instituições como a Protecção Civil, entre outras, sem esquecer os desastres florestais e a tragédia humana, a degradação inimaginável dos serviços públicos e a carga fiscal que não pára de aumentar.

E sobre o futuro não faltaram promessas para consolidar na reflexão de cada um, até estar face à urna de voto: ou a confirmação de um caminho ou a mudança da forma como se faz política e se governa, em todos os casos tudo dissecado durante o período de campanha eleitoral, sobretudo nas entrevistas e debates televisivos.

Não nos deixemos enganar pelo primeiro impulso, pela súmula difusa sempre geradora de uma avaliação que nem sempre obedece a uma análise de exigência e a uma cultura cidadania, porque o que está em causa é demasiado importante.

Finda a campanha eleitoral, eis a questão principal: Quem falha, insulta, ameaça e perde a cabeça ao virar da esquina merece a confiança do voto?

Não!

Mas, em Democracia, a decisão soberana pertence ao voto expresso do conjunto dos cidadãos.

domingo, 29 de setembro de 2019

TANCOS: MARCELO E COSTA QUISERAM SABER TUDO?


É em campanha eleitoral que tudo deve ser discutido, permitindo aos eleitores conhecer quem são os representantes que estão à beira de eleger.

E todas as questões são pertinentes e úteis para saber o que se passou em Tancos, pois estamos em presença do maior escândalo político desde o 25 de Abril de 1974.

Mas, sinceramente, centrar a investigação, e o debate político mais do que necessário e legítimo, apenas na obtenção da resposta à questão que está na ribalta - o presidente da República e o primeiro-ministro sabiam da encenação de Tancos? - é um passo gigante para tudo poder ficar na mesma.

Além do mais, quem conhece o funcionamento dos mecanismos do poder sabe, perfeitamente, da impossibilidade de Marcelo e Costa nada terem suspeitado ou sabido sobre o que se passou em Tancos depois da notícia do roubo do armamento.

E também sabe, inequivocamente, que, a partir do momento em que o assunto passou a "queimar", o sistema age no sentido de tentar deixar o presidente e o chefe do governo "a salvo". 

Por isso, necessariamente, o caminho tem de ser feito complementarmente através do escrutínio do cumprimento das funções de Estado de ambos, ou seja: Marcelo e Costa quiseram mesmo acompanhar como deviam o que se passou em Tancos?

E mesmo que, em teoria, fosse possível que todo o Universo tenha mentido ao presidente e ao primeiro-ministro, tal não impede que seja apurado se ambos quiseram, de facto, saber tudo sobre Tancos.

Aliás, não é crível para ninguém de bom senso que tanto o presidente como o primeiro-ministro tenham baixado a guarda depois do roubo de Tancos, tratando-se de um assunto de Estado com tal gravidade e repercussão internacional.

Numa Democracia de mais de 45 anos, não pode bastar o silêncio do faz-de-conta, nem a farsa de gritar aos sete ventos o apuramento de responsabilidades...

E, chegados a esta encruzilhada, a uma semana das eleições, é preciso fazer o primeiro balanço.

Rui Rio e Assunção Cristas têm cumprido o papel de oposição, escrutinando a acção do governo.

Por sua vez, PCP, Bloco, Verdes e PAN envergonham a Democracia ao abrir a porta a mais um tabu em campanha eleitoral, fazendo de conta que a partir do momento em que a Justiça entra em acção a política deve ficar calada.

Quanto ao silêncio do PS, os portugueses já conhecem o que a casa gasta desde o tempo de Sócrates.

Dito isto, e depois de conhecida a Acusação, também é importante sublinhar que o exercício do escrutínio do poder não se confunde com qualquer avaliação moral ou de de carácter dos titulares de cargos políticos e públicos, sendo por isso necessário vigilância sobre o que o Ministério Público vai fazer a seguir.

Hoje, com o que já se sabe, Marcelo e Costa não podem ficar à porta da Justiça, mais chefe de gabinete menos chefe de gabinete.

O princípio da verdade doa a quem doer não pode ser atraiçoado, mais uma vez, pela importância social e política de quem quer que seja, nem tão-pouco pela proclamação de boas intenções.

As manobras mais ou menos criativas e inconsequentes, seja do presidente da República - esteve para pedir a autorização do Conselho de Estado para depor no processo de Tancos, mas não pediu -, seja do primeiro-ministro - invocar o estatuto político e os 58 anos de idade -, não podem enfraquecer a determinação de quem tem o dever de perseguir quem prevaricou, por acção ou omissão.

É preciso levar o apuramento sobre a encenação de Tancos até ás últimas consequências, não esquecendo qualquer possibilidade, designadamente aquela que está na mente de todos os portugueses de boa-fé: se o presidente da República soubesse da criminosa encenação em Tancos necessariamente o primeiro-ministro também teria de saber, e vice-versa.

Ficar à porta da verdade em Tancos é pouco, muito pouco, para fortalecer o regime democrático e merecer a confiança dos portugueses.


segunda-feira, 23 de setembro de 2019

CORRUPÇÃO COM NOVA CARTILHA


Os cargos de Francisca van Dunem, Pedro Nuno Santos e Graça Fonseca estão garantidos.

Contudo, não é através de decreto que os cidadãos passam a respeitar, respectivamente, os ministros da Justiça, das Infraestruturas e da Habitação e da Cultura.

Para "salvar" os três governantes, António Costa jogou tudo no alívio da pressão sobre a rolha da garrafa da corrupção ao mais alto nível do Governo e da Administração.

E Lucília Gago, procuradora-geral da República, chancelou a maior brecha no combate aos crimes de colarinho branco, desde o 25 de Abril de 1974, na proporcional medida em que as suas toilettes esvoaçam colorida e suavemente sobre as críticas do Conselho da Europa e de outras instituições internacionais.

Resta ainda saber se Lucília Gago vai determinar o carácter vinculativo do parecer do Conselho Consultivo da Procuradoria-Geral da República (PGR).

Ainda assim, como já parecem remotos os tempos em que Joana Marques Vidal sustentava a tese das «redes de corrupção instaladas no Estado» - aliás, corroborando Maria José Morgado -, a qual teve o mérito de perturbar a tranquilidade do bailete instalado e em curso.

Vamos aos factos, por exemplo em relação ao sector da Saúde, em que a grassa a suspeita da grande corrupção, para observar, salvo melhor opinião, a monstruosidade política da tese defendida por António Costa, e agora secundada pela PGR:

76% dos portugueses consideram que a qualidade dos serviços públicos de Saúde ficou na mesma ou piorou no último ano;

 65% dos portugueses consideram que a corrupção ficou na mesma ou aumentou no último ano.

A relevância destes dois números, recentemente publicados pelo "Expresso", obriga a fazer mais e muito melhor, mas o Governo e o MP optaram por recuar em relação à Lei, com efeitos ainda pouco perceptíveis quanto ao futuro.

Só um serventuário do poder pode confundir o escrutínio implacável e o reforço da transparência com uma qualquer suspeição que tem subjacente uma avaliação de carácter dos titulares de cargos políticos e públicos.

De facto, com o parecer do Conselho Consultivo da PGR quase metade do PIB nacional controlado pelo Estado passou a estar mais exposto ao compadrio e às redes de influências.

Já sabíamos que esta espécie de PS que ocupa o poder padece de uma alergia crónica em relação à ética republicana, um princípio, aliás, cada vez mais abastardado, como comprova a extraordinária fantasia, tão impune quanto mirabolante, de ninguém ter dado conta no Largo do Rato do elefante no meio da loja.

Agora, desgraçadamente, ficámos a saber que a nova cúpula do Ministério Público atirou a toalha ao chão, quiçá plasticizando o atrevimento passado de incomodar um par de poderosos, e reforçou a percepção generalizada de um perdoa-me rastejante.

domingo, 15 de setembro de 2019

ELISA FERREIRA: CROWD CHEERS


A presidente eleita da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, uma espécie de Jean-Claude Juncker de saias, deve estar orgulhosa.

Elisa Ferreira é a nova comissária europeia, responsável pela distribuição dos fundos estruturais da União Europeia, enquanto comissária europeia para a Coesão e Reformas. 

Não faltaram elogios a Elisa Ferreira, da direita à esquerda, de quem nunca a respeitou a quem sempre a criticou, ou seja, tudo no mais perfeito cenário da forma como António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa estão na política e no poder.

Dito isto, importa centrar a questão: a pasta dos fundos europeus é assim tão importante para Portugal?

Ou ainda melhor: uma pasta na Comissão Europeia que permitisse um reforçado combate à corrupção e ao branqueamento de capitais não teria sido muito melhor para Portugal?

A comparação entre os fundos estruturais a receber e os custos da corrupção não resistem aos números: os custos para Portugal da corrupção cifram-se em 18,2 mil milhões de euros por ano, mais do que o orçamento anual para a Saúde, isto é, cerca de três vezes o que Portugal pode receber, anualmente, em apoios da União Europeia.

Se isto não bastasse é claro que alguém poderia contrapor o esforço nacional no combate aos crimes de colarinho branco, mas isso também não é verdade: além da escassez de meios e dotações financeiras, a PJ e o MP estão com o respectivo quadro com 50% de vagas.

E se isto também não bastasse resta dizer que Ana Gomes, ex-eurodeputada, com tanta ou mais credibilidade que Elisa Ferreira, que também é do PS, poderia ser um activo consensual para fazer a diferença numa verdadeira luta contra o dinheiro sujo e todos os fenómenos associados.

Só que Ana Gomes não cai no sistema como a seda...

Nem nos amigos do PS, nem nos escritórios de advogados, nem nos offshores, nem no futebol dos grandes, nem nos capitais angolanos e chineses, entre outros, nem em António Costa, nem em Marcelo Rebelo de Sousa, nem nos apparatchics que chafurdam no lamaçal em que Portugal está transformado há muito tempo.

Ora, neste autêntico bailete, cada vez menos republicano e mais rasca, não poderia faltar a cereja em cima do bolo: a inconsequente preocupação com a corrupção em Portugal...

Ainda há mais antes de 6 de Outubro de 2019?

segunda-feira, 9 de setembro de 2019

CAMPANHA ELEITORAL: NINGUÉM LEVA A MAL?


António Costa não se livra da fama e do proveito: é o homem dos truques.

Mas é o único político a mentir politicamente de uma forma descarada?

Não!

Todavia, como é o primeiro-ministro, todo o escrutínio é pouco em vésperas de eleições.

E são tantas e tantas as vezes em que já foi apanhado que até há quem o elogie pela «habilidade política», seja lá isso o que for...

Entre muitas dessas "habilidades" que passam sem serem identificadas e corrigidas, há uma que recentemente chocou o país.

António Costa, na pele de secretário-geral do PS, afirmou: «Os portugueses estão a pagar menos mil milhões de euros de impostos do que pagavam em 2015».

A grosseria da afirmação impressiona, tanto mais que as receitas fiscais do Estado aumentaram entre 2015 e 2018, passando de um valor total arrecadado de 38.849 milhões de euros para 44.320 milhões de euros. Ou seja, o registo aponta para um acréscimo de mais de cinco mil milhões de euros.

Mas o que impressiona ainda mais, depois de Costa ter sido apanhado em mais uma flagrante mentirola política, é que o ministro Mário Centeno veio a público admitir que o «Estado ainda tem por devolver aos contribuintes mil milhões de euros em IRS».

Mais uma vez, nos últimos tempos, António Costa e Mário Centeno colidem politicamente...

Ou seja, a mentirola de António Costa ficou claramente exposta publicamente.

Ora, perante a evidência factual resta perguntar:

O que leva um político experiente a arriscar a sua credibilidade de uma forma tão leviana?

Certamente, a convicção que o escrutínio dos cidadãos e da generalidade da imprensa não funciona.

Será que António Costa tem razão em apostar na velha receita dos truques?

É esperar por 6 de Outubro para ter a resposta.

segunda-feira, 2 de setembro de 2019

COSTA E MARCELO: FRENÉTICOS E AGITADOS


António Costa anda frenético, exibindo autoridade, apunhalando amigos, prometendo o que não fez e multiplicando entrevistas e declarações que estão a incendiar a pré-campanha eleitoral.

A intranquilidade de António Costa surpreende, tendo em conta os estudos de opinião que têm sido publicados.

Então, o que se passa?

Medo dos debates com os restantes líderes partidários?

Ora, se a vantagem é assim tão grande o que faz o líder do PS ziguezaguear tão freneticamente?

Informação sobre o que está para vir por aí?

Por sua vez, Marcelo Rebelo de Sousa não cessa de surpreender, expondo-se cada vez mais à critica, apesar das sondagens lhe permitirem um grau de popularidade só equivalente à redundância em que o seu mandato se transformou.

E, agora, insiste num plano de salvação para a Comunicação Social, obviamente à custa dos contribuintes, porventura para poder (será possível?) contar ainda com melhor imprensa.

Isto é: se os portugueses não compram tantos jornais, não ouvem tanta rádio e não enxergam tanta televisão isso não interessa nada, pois pagam na mesma pela via do Orçamento do Estado.

Para ganhar uns votos e para condicionar os jornalistas será que ainda há limites para esta dupla (geringonça institucional) no uso e abuso do poder de representar o Estado?

Independentemente dos dislates e demais tiros no pé dos últimos dias, sejam quais forem as verdadeiras razões, ainda é cedo para descodificar o que está na origem de tanto frenesi.

De facto, António Costa nunca teve os votos nas urnas para liderar o governo de Portugal.

Talvez seja este, verdadeiramente, o seu calcanhar de Aquiles.

Por sua vez, Marcelo não se contenta com apenas um mandato, tudo estando a fazer para garantir o segundo ainda antes de terminar o primeiro, custe o que custar.

E, porventura, para evitar que o bailete em curso atinja proporções ainda mais obscenas, talvez fosse interessante, num dos poucos intervalos das selfies e feiras selectivas pagas com o dinheiro dos portugueses, aproveitar para perguntar ao presidente da República: dará posse a um primeiro-ministro que não tenha sido o líder do partido político mais votado nas legislativas do próximo dia 6 de Outubro?

E, já agora, com ou sem papel para fazer de conta?

À cautela, e pela mais elementar transparência, é preciso responsabilizar o primeiro-ministro e trazer o presidente da República para a realidade constitucional, porque nesta campanha pré-eleitoral já está a valer tudo...


segunda-feira, 26 de agosto de 2019

PORTUGAL FICA MAIS POBRE QUANDO DESAPARECE


Em tempos de exibição musculada e gratuita da força do Estado, momentos há em que Portugal desaparece.

Estranho?

Não!

Os exemplos deste "apagão" são variados e revelam um padrão aterrador da forma como o Estado olha e trata os cidadãos.

Um dos que mais impressiona, entre tantos e tantos outros, é o recente caso das gémeas de 10 anos que viviam presas em garagem sem ir à escola.
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Portugal desapareceu após o Correio da Manhã revelar o impensável na segunda década do século XXI.

Onde estava o presidente da República? 

E o primeiro-ministro? 

E os ministros da Segurança Social, Justiça e Educação?

E, já agora, a procuradora-geral da República?

O silêncio escondeu-se atrás do fazer de conta, em comunicados vagos e parcas declarações avulsas.

Como é abissal a distância entre os bastidores do poder e os corredores da vida...

E, pasme-se, desde os órgãos de soberania às instituições, da direita à esquerda, todos continuam a sorrir ao sol sem o mais pequeno vislumbre de constrangimento...

Uma realidade só possível porque, como dizia Miguel Torga, «Em Portugal, as pessoas são imbecis ou por vocação, ou por coacção, ou por devoção».

Pena é, muita pena, que a Comunicação Social não leve até ao fim - nem que seja por uma vez! - o escrutínio indispensável para limpar este lixo que permite do alto da poltrona, por acção ou omissão, que uma realidade tão abjecta permaneça impune ao longo de mais de uma década.

Fait-divers?

Não!

É um exemplo, mais uma singela tragédia, com tanta ou maior importância que o caso de Tancos.

Num como no outro, Portugal fica mais pobre quando desaparece.



domingo, 18 de agosto de 2019

COSTA IGUAL E SEM SURPRESA


A lógica instrumental de António Costa já vem de longe...

Nos momentos decisivos, na JS, no PS, como número dois de Sócrates, presidente da Câmara de Lisboa e, agora, como primeiro-ministro, preferiu sempre o "eu" ao "nós".

Ai, os acordos... Quantas alianças...

O primeiro-ministro continua a fazer jus às práticas do seu ADN partidário e arranca para as legislativas de 6 de Outubro com a mesma arrogância política sustentada na propaganda, a mesma lógica instrumental reveladora da incapacidade em aprender com os erros do passado e a mesma falta de sentido de interesse nacional compensado pela visão cor-de-rosa politicamente irresponsável.

A lógica de curto prazo, a estratégia de manutenção do poder pelo poder, com mais ou menos truque de bastidor, e a indiferença aos grandes estrangulamentos e desafios que Portugal estão amplamente demonstrados, entre outros exemplos, com o reforço da vergonha dos Vistos Gold de Portas.

Aliás, que o digam os camionistas, os notários, os doentes do SNS, os reformados da Segurança Social, as vítimas dos incêndios, os professores, os enfermeiros, os médicos, os militares, os polícias, os investigadores criminais, etc...

Com a máquina da propaganda bem oleada, constituída por uma federação de interesses divergentes e até opostos mantida paulatinamente e generosamente alimentada, António Costa tem conseguido atingir os "seus" objectivos pessoais e políticos.

Foi assim para chegar ao poder, tem sido assim com a austeridade selectiva em curso, é assim com a greve dos camionistas que transportam matérias perigosas, será assim com a sua obsessão por um lugar institucional internacional.

O circo montado em relação à greve dos camionistas, sem olhar às reivindicações justas, sem controlo independente, e sem respeito pela legalidade, revela o regresso ao passado: um governo forte com os fracos e fraco com os fortes.

Resultado: os mais pobres e desfavorecidos pagam a factura, enquanto o Estado dominado pelas esquerdas continua a sustentar as elites gordurosas que cercam o governo e a classe política.

Se elegerem António Costa, pela primeira vez, para continuar liderar o governo de Portugal com as mãos livres, então os portugueses não aprenderam nada com o passado nem com o presente, ou seja, ainda teremos muito caminho para percorrer até conseguir viver em Democracia.

domingo, 11 de agosto de 2019

GREVE DOS COMBUSTÍVEIS: E O MOVIMENTO SINDICAL?


A confirmação da greve por tempo indeterminado do transporte de combustíveis é o primeiro passo para infernizar as férias dos portugueses.

Depois de sucessivos passos que agravaram o conflito, o XXI governo constitucional está sob pressão, refém de uma estratégia socialmente hostil e politicamente eleitoralista.

E nem mesmo o presidente da República pode ser a última reserva - depois da precipitação de atestar o depósito do carro.

Depois da decisão judicial que deu cobertura aos serviços máximos, alimentando as ameaças de António Costa, a verdade é que o direito à greve ficou ferido de morte.

Amanhã, uma qualquer outra greve está à mercê de governantes e da interpretação e aplicação restritiva da lei da greve.

Em suma, há políticos que olham mais para a sua imagem do que para a atitude de Estado essencial para mediar um conflito laboral.

Com a iminente requisição civil, porventura baseada em truques semelhantes aos que ocorreram na última greve dos Enfermeiros, resta saber como vai reagir o mundo sindical à bomba atómica do mundo laboral, bem como as respectivas ondas de choque a nível internacional.

Os sinais de desconforto na PSP e GNR são um alerta muito preocupante que o primeiro-ministro e o presidente da República desvalorizaram de uma forma politicamente leviana.

Aliás, ainda está por avaliar quais as consequências de um alastramento da onda de indignação entre os camionistas a outros sectores e profissões,

Também os partidos à esquerda não vão poder continuar a tentar escapar entre os pingos da chuva deste Verão especial.

E o que resta da oposição à direita não deixará de estar atenta ao sarilho em que o país está metido por força da conjugação de três factores:

1. A habitual arrogância política de António António Costa;

2. A falta de preparação de Pedro Nuno Santos para assumir uma pasta tão relevante;

3. E a já tradicional inconsequência política e institucional de Marcelo Rebelo de Sousa.

Se o que resta do movimento sindical acordar, então António Costa ficará com muito mais do que um grave problema com os camionistas.

E Marcelo Rebelo de Sousa ficará enterrado na sua torre de marfim, porventura fazendo selfies cada vez mais sozinho e a propalar as mesmas generalidades perigosas ao sabor do vento.

segunda-feira, 5 de agosto de 2019

GOVERNAÇÃO E BOLORENTOS


Ninguém ousaria prever que, depois de 2015, o PS voltaria a liderar um governo contestado pelo nepotismo e suspeitas de corrupção nos negócios com o Estado.

Todavia, a actualidade não deixa de nos surpreender, favorecendo a instalação de um clima pantanoso face às sucessivas notícias de familiares dos socialistas colocados no aparelho de Estado e de negócios opacos e ruinosos levados a cabo por empresas detidas por familiares de membros do XXI governo constitucional.

O ex-número dois de Sócrates, hoje primeiro-ministro de Portugal, não aprendeu nada, nem quer aprender, porque continua confortável com o estado a que isto chegou.

O debate deve levar mais longe a terapia exigível para acabar com este bailete, aliás, liderado magistralmente por Marcelo Rebelo de Sousa.

Portugal continua a ser conduzido por políticos bolorentos, muito bolorentos, incapazes de perceber que os fenómenos de nepotismo e de corrupção são civilizacionalmente inaceitáveis.

É claro que esta espécie de políticos bolorentos são legalistas, formalistas, habilidosos e lavam as mãos frequentemente ou desaparecem num ápice quando lhes convêm.

Obviamente, seguem a lei - quando não a mudam a todo o vapor -, pedem pareceres à PGR - depois de tentar controlar o Conselho Superior do Ministério Público -, mas aguardam sempre, serena e humildemente, pelo veredicto da Justiça e pelo voto nas urnas - que interpretam da forma mais conveniente.

Não, não chega para mudar Portugal.

O saque permitido por este políticos bolorentos - por acção ou omissão - custa muito dinheiro que faz falta no sector da Educação, da Saúde e da Justiça, entre outros decisivos para melhorar a vida dos portugueses.

Não, não é possível respeitar politicamente este políticos bolorentos, independentemente das convicções de cada um deles ou da aptidão para a selfie ou para o discurso politicamente hipócrita.

Não, não é admissível continuar a assistir a esta governação bolorenta.

Talvez seja desta, talvez, nas próximas eleições legislativas de 6 de Outubro, que a lucidez dos portugueses permita enviar esta espécie de políticos bolorentos para a reforma... 

Ainda que sabendo que terão de lhes pagar reformas douradas!

segunda-feira, 29 de julho de 2019

GOLAS MAÇADORAS E VACAS SAGRADAS


Numa realidade democrática consolidada e adulta não há instituições nem profissões boas nem más, nem tão-pouco umas mais importantes do que as outras.

É tão importante um bombeiro como um médico, um camionista como um polícia, um canalizador como um enfermeiro, um jornalista como um magistrado e um governante como um lixeiro.

Todos eles são essenciais para realizar uma vida em sociedade.

E não é por serem alvos de críticas que a sua honorabilidade e o regime democrático são colocados em causa.

Em épocas de incêndios, por exemplo, há muitos e muitos anos que está demonstrada à saciedade a falta de qualidade dos bombeiros e a fraca eficácia do sistema de protecção civil recheado de apparatchiks.

E não é por isso que podemos afirmar que são dispensáveis.

Aliás, também está amplamente comprovado a falta de qualidade da classe política e dos governantes.

E não é por isso que vamos prescindir dos partidos políticos e de um modelo de governação democrático.

É verdade que há instituições e profissões mais ou menos maçadoras, uns por força da sua capacidade de intervenção, outros pela mobilização capaz de fazer greves.

Seja a comprar golas inflamáveis para protecção dos fogos, seja a parar o país.

Mas o problema é outro: aqueles que se julgam sagrados e imunes à crítica, ao escrutínio e à mudança.

Os bombeiros estão entre aqueles que, pela nobreza da sua acção, se julgam intocáveis.

E os governantes perpetuam uma realidade que nos obriga a continuar a ver o país a arder desalmadamente.

O mesmo se poderia aplicar a todas as outras situações que envolvem esta espécie de castas que fazem tão bem como mal, e que é urgente modernizar e colocar numa trajectória útil.

Ou seja, em Democracia, se as golas maçadoras são intoleráveis, as vacas sagradas alimentadas por fantasias reles e oportunistas são imperdoáveis.

domingo, 21 de julho de 2019

PAÍS DE CONTAS (IN) CERTAS


Há quem seja capaz de dizer a maior mentira sem se rir.

E até há quem também seja capaz de acreditar mesmo que a sofrer e a chorar.

Num país em que o Estado esconde, deve e fica a dever com a maior impunidade, os noticiários repetem elogios ditirâmbicos às contas públicas, omitindo o que está por debaixo do tapete e as consequências dramáticas das escolhas da governação.

António Costa não se cansa de liderar e apanhar a boleia desta propaganda orquestrada, conseguindo até não se desmanchar a rir, designadamente quando promete como prioridade para amanhã o que já era prioridade ontem.

O ministro das Finanças tem o descaramento político de reafirmar as suas contas, sem que lhe coloquem à porta do Ministério que tutela o número de caixões equivalentes ao número de pessoas que morreram por causa de falta de atendimento e de adiamento de consultas e cirurgias.

É também neste mesmo país que a incompetência de um ministro é capaz de passar despercebida mesmo que condene os reformados a esperar e a desesperar pelo pagamento da reforma ao fim de décadas de trabalho e descontos para a Segurança Social.

É o país em que nunca falta a chancela e o afecto presidencial, qual perpetuar do bailete para animar a malta.

O tal país onde não faltam cidadãos resignados e/ou entretidos com o futebol que vai começar.

Onde também não faltam instituições de controlo e uma comunicação social que já perderam a vergonha.

Onde vingam os pedinchões que aguardam a respectiva compensação pelo abafamento de uma realidade escandalosa que jamais se pode transformar numa banal breve ou numa nota de rodapé.

Portugal é, de facto, um país de contas (in) certas.

sábado, 13 de julho de 2019

FÁTIMA BONIFÁCIO E OS CENSORES DO COSTUME


Miguel Poiares Maduro, uma das revelações do governo de Pedro Passos Coelho, representante de uma opinião credível, fundamentada e clara, escreveu um artigo intitulado "Os Editores do Espaço Público. A propósito do artigo de Fátima Bonifácio".

Não poderia estar em mais desacordo com a confusão entre a política editorial, a liberdade de expressão e os direitos de quem tem um vínculo com um qualquer órgão de comunicação social para dar regulamente a sua opinião pessoal.

Aliás, não é por estar frontalmente contra quem defende uma nova forma encapotada de censura que deixarei de ler Miguel Poiares Maduro ou até o "despedirei" dos espaços editoriais da minha responsabilidade.

Continuarei a lê-lo e a citá-lo sempre que reconhecer a honestidade intelectual dos seus artigos, independentemente da sua opinião.

Num país em que as indignações são selectivas e até mesquinhas, com mais ou menos recado tão intimidatório quanto parolo, só faltava agora que um qualquer opinion maker tivesse de pensar duas vezes antes de dar a sua opinião, antecipando uma qualquer política editorial ou o humor dos donos disto tudo.

Fomentar a censura ou a auto-censura é muito mais do que um exercício execrável, como sublinhava Gustave Flaubert: «A censura, seja ela qual for, parece-me uma monstruosidade, uma coisa pior do que o homicídio: o atentado contra o pensamento é um crime de lesa-alma».

quarta-feira, 3 de julho de 2019

UM NOVO TIANANMEN É POSSÍVEL?



A razão e a força dos protestos liderados pelos jovens de Hong Kong - sim, pelos jovens da revolução digital, os tais que na Europa não se interessam pela política -, obrigam a recordar o massacre de Tiananmen.

A ex-colónica britânica volta a colocar Pequim à beira de um ataque de nervos, deixando à deriva o governo liderado por Carrie Lam que avançou precipitadamente com a lei de extradição de suspeitos de crimes para a China continental.

Depois dos protestos de 2014 ("Revolução dos Guarda-chuvas" e "Primavera Asiática") e dos actuais confrontos é caso para perguntar: um novo Tiananmen é possível em Hong Kong?

A resposta é simples: não!

A violação da Declaração Conjunta Sino-Britânica sobre Hong Kong, assinada no dia 19 de Dezembro de 1984, deixaria Pequim novamente confrontada com o isolamento internacional.

De igual modo, a importância da praça financeira de Hong Kong, a terceira maior do mundo, constitui motivo suficiente para travar um novo qualquer ímpeto aventureiro e assassino dos chineses.

Por último, e porventura o factor mais decisivo, os ingleses criaram verdadeiros cidadãos de Hong Kong antes de entregar o território à soberania chinesa em 1987.

No dia 4 de junho de 1989, o mundo assistiu estupefacto ao esmagamento brutal da revolta estudantil na China.

Hoje, em Hong Kong, assistimos aos valores da Democracia a fazer face, novamente, a uma das mais cruéis ditaduras do mundo.






quarta-feira, 19 de junho de 2019

FUTEBOLIZAÇÃO DO PAÍS


Num país cada vez dual, em que a macroeconomia nos dá tantas alegrias e o dia-a-dia das pessoas rasga a nossa esperança, porventura é hora de começar a repensar o presente e o futuro.

Ultrapassada a novela da Lei de Bases de Saúde, mais uma para entreter a malta que transita para próxima legislatura, talvez seja a hora de verdadeiramente começar a tratar de todos aqueles que precisam de cuidados de Saúde e que esperam meses e meses para receber as reformas, entre os quais os mais idosos atirados para níveis de sobrevivência e miséria humilhantes.

Com cidadãos mais educados e uma imprensa livre seria de esperar outra atitude face ao poder, este ou qualquer outro, de mais mobilização, de mais escrutínio e de mais exigência, combatendo sem tréguas as muitas e muitas outras iniquidades que o país vai escandalosamente tolerando.

Porém, a realidade é outra.

Ainda temos dentro de nós o bichinho salazarento do sempre obrigados, remediados e venerandos.

E continuamos a ter Fado, Fátima e Futebol.

Aliás, a galopante futebolização do país impressiona...

Por todo o lado, do café ao restaurante, da escola à universidade, do Parlamento à visita oficial e de Estado, nascem metáforas futebolísticas, mais ou menos elaboradas, como se a vida começasse e acabasse num jogo de futebol.

Até temos o bombardeamento de notícias sobre os milhões e milhões das transferências arrecadadas com os craques da bola, num exercício medíocre de soma de parcelas, sem um segundo de arrojo e desassombro para questionar a origem de tanto dinheiro.

Talvez seja mais cómodo...

Muito mais cómodo do que pegar numa caneta, num microfone e numa câmara de filmar para percorrer as urgências hospitalares, os balcões da Segurança Social, entre outros.

Estimular a massa cinzenta no presente tempo, de forma a podermos raciocinar como foi possível ter chegado a este ponto, talvez seja demasiado arriscado.

Ah, o calor já está aí à porta...

Com mais ou menos expediente, legal, ilegal ou criminoso, indivíduos e famílias lá vão aguentando...

E - viva o palhaço bem-falante! - tudo fica adiado, novamente, até à chegada do tempo mais frio...

Talvez o futuro seja ainda mais futebol e, já agora, a grande conquista de um país sem beatas, enquanto quase tudo à volta está podre e começa a dar sinais de colapso iminente...





segunda-feira, 3 de junho de 2019

GOVERNANTES SEM LIMITES



É difícil conseguir acreditar em determinados relatos, mesmo lendo e relendo informação bem documentada.

Nada que possa surpreender, mas não há limites?

E até há notícias que dizem tudo: apelos lancinantes, alerta Maria Lúcia Amaral, provedora de Justiça.

Como é possível que um primeiro-ministro tenha a petulância política de fazer de conta que não sabe o que se está a passar com o atraso nas pensões?

Como é possível que Mário Centeno e Vieira da Silva, ministros das Finanças e da Segurança Social, tenham o descaro político de permanecer nos respectivos cargos, ignorando os sucessivos avisos da Provedora de Justiça?

Aliás, onde está a indignação dos líderes e dos partidos da oposição com assento parlamentar?

E o Bloco de Esquerda e o PCP continuam a suportar um governo que convive com esta atrocidade social?

E Marcelo Rebelo de Sousa?

O que tem a dizer sexa?

Nem mesmo mais uma qualquer vacuidade política, em calções ou pose de Estado, para distrair a malta no bailete em curso?

O descaramento político de governantes sem limites atinge sempre o auge depois de ter os votos no papo, desatando agora a pedir desculpas pelo sistemático desprezo ultrajante sobre os direitos dos cidadãos, designadamente dos mais pobres, entre os quais é possível destacar as péssimas condições dos serviços do Estado, desde os transportes públicos ao escândalo no Serviço Nacional de Saúde, sem esquecer a Justiça, a Segurança Social e a Educação. 

Há limites... E limites...

segunda-feira, 20 de maio de 2019

BRUNO LAGE E A MUDANÇA



«O futebol é apenas o futebol. Há coisas mais importantes na nossa sociedade e no nosso país pelas quais temos de lutar. Se vocês se unirem, se tiverem a força e a exigência que têm no futebol na nossa economia, na nossa saúde, na nossa educação, vamos ser um país melhor».

A declaração do treinador do Sport Lisboa e Benfica é uma enorme lufada de esperança no futebol português.

Quem sabe um prenúncio de mudança num mundo marcado pela corrupção, lavagem de dinheiro sujo e gentinha rasca.

A declaração de Bruno Lage, no momento da vitória, é muito mais do que a prova da elegância do vencedor, é uma declaração de fé na cidadania, uma aposta no desporto e o voto num Portugal melhor.

Que se cuide o novo treinador campeão, pois o algozes do futebol vivem e convivem bem com o lodaçal em que estão habituados a chafurdar em benefício próprio e de uma imensa prol de meliantes, uns engravatados, outros de calções e fato de treino.

É caso para dizer que Bruno Lage chegou, viu e venceu.

E na hora da vitória, em que também não esqueceu o seu mentor, Jaime Graça, conseguiu fazer mais  pelo futebol num minuto do que muitos que por aí andam.

Um novo treinador, um novo campeão e um novo discurso.

Parabéns ao campeão!






terça-feira, 14 de maio de 2019

BERARDO E OS MESMOS DO COSTUME




O pecado de Joe Berardo não é dever dinheiro. 

Nem tão pouco estar envolvido em jogadas políticas e operações financeiras escandalosas. 

A questão é que Berardo, o tal empresário do ano para Marcelo a caminho de Belém, foi ao Parlamento deixar um aviso, colocando a nu a incúria e a cumplicidade de governantes, políticos e bancos. 

Berardo já devia saber que não lhes importam o que realmente são, apenas os enfurece que os outros saibam quem eles são. 

Desplante por desplante, Berardo sabe bem como lidar com esta canalha sem vergonha que usa e abusa da ingenuidade de um povo demasiado ocupado a tentar sobreviver. 

E por isso permitiu-se mais um luxo: gozar com eles, insultando todos os portugueses. 

Berardo guarda segredos de regime. 

E não deve ficar muito impressionado com a farsa de todos aqueles que nada sabiam, mais uma vez, tal e qual como em relação ao BPN, ao BES e aos Sócrates deste mundo. 

Quem com ele andava de braço dado, sem esquecer o já falecido Horácio Roque, vem agora esbracejar indignação. 

São os mesmos, com capas diferentes, que deixaram o país de mão estendida e que resolveram o BANIF. 

Como falta memória em Portugal… 






domingo, 5 de maio de 2019

TRUQUES, TESTE E MÁQUINA AFINADA


Vale a pena pegar num par de exemplos para avaliar o estado em que está o país.

Em tempos idos, que mais parecem bem longínquos, o arraso permanente de Passos Coelho atingiu o zénite quando o ex-primeiro-ministro teve o atrevimento de anunciar, com toda a transparência, em plena fase da Troika, que os cortes seriam permanentes.

Hoje, os mesmos que o criticaram, muitas vezes ultrapassando o limite do insulto, esperneiam em elogios ditirâmbicos a António Costa por ter ameaçado com a demissão por causa de PSD, CDS, Bloco e PCP terem aprovado no Parlamento a consagração da restituição do tempo de serviço aos professores.

Noutra era, que também já parece bem distante, curiosamente na mesma altura em que a Troika havia instalado arraiais em Portugal por causa de uma governação descabelada, sem falar de outras coisas, os tais que lutavam pelo direitos à saúde, às pensões e às reformas nunca se cansaram de zurzir no pobre gestor de massa falida que assumiu o poder em 2011.

Hoje, passados quatro anos, os tais arautos da defesa dos mais desfavorecidos fazem de conta que os tais direitos adquiridos intocáveis foram plenamente restituídos, ignorando a evidência do que se está a passar escandalosamente à frente dos nossos olhos.

Não, não estou a falar do direito à opinião livre, mesmo que ela sirva para sustentar os truques da velha política, aos quais António Costa já nos habituou desde o início da sua carreira partidária e governativa.

Estou a falar do coro imenso e avassalador a que estamos a assistir, sem rigor, sem contraditório, quase em uníssono, antes de ponderadas e escutadas todas as partes, com um tal desplante e dedo acusatório que impressiona o mais distraído dos consumidores de informação.

Crise, já!

Teste!

A máquina está bem afinada.

A propaganda está a funcionar em pleno.

Não há razão, pois claro, para não antecipar eleições.

Bravo, António Costa!

segunda-feira, 29 de abril de 2019

EM BREVE


ESQUERDA E FIM MERECIDO


Listas de espera nos hospitais? 

Pensionistas e reformados que não recebem a horas? 

Nada disto parece incomodar a esquerda em Portugal, a avaliar pelo novel debate instalado sobre as PPP's da Saúde.

Aparentemente, o que mais preocupa esta esquerda que nunca esquece de  ostentar o cravo vermelho, mesmo quando ignora os seus valores, é abrir uma guerra aos privados, quando o problema não são os privados mas as negociações que o Estado e os privados concluíram para a construção de hospitais absolutamente necessários para suprir as carências existentes.

Já alguém perguntou a esta esquerda o que teria acontecido se os hospitais de Braga, Cascais e Vila Franca de Xira - considerados os melhores do país - não existissem?

Importa também recordar que as PPP's da Saúde são uma solução financeira para Estados falidos que não têm dinheiro para levar por diante os investimentos fundamentais para garantir as necessidades das populações.

E, como tudo na vida, tudo tem um custo, quando não se está à altura das exigências mais basilares.

E, já agora, será que a denúncia da Provedora da Justiça, relativamente aos escandalosos atrasos no pagamento de pensões, já foi varrida para debaixo do tapete?

Com uma oposição mais virada para o show inconsequente do que para o lançamento de um debate sério sobre os terríveis constrangimentos que estão à vista, não é de admirar que a ignomínia continue a vingar na maior impunidade.

Tanto mais que a generalidade da imprensa continua atolada na sua própria contradicção editorial de ter optado pelo infotainment para sobreviver, paradigma que, apesar de se ter revelado falso, continua a imperar.

A esquerda portuguesa está de cabeça perdida: uns por terem abraçado a extrema esquerda; os outros por estarem a apoiar a governação de uma certa esquerda cada vez mais insensível e aburguesada; e, sobretudo, por ambos ignorarem o fundamental que levaram a maioria dos portugueses a votar neles.

Uns e outros pagarão o preço deste absurdo ideológico, político e social mais tarde ou mais cedo, pois não há nada mais importante do que o dia-a-dia dos cidadãos, de quem tem direito a ter saúde, pensão e reforma, mas nem sequer tem garantido e a horas nenhum destes direitos.

Enquanto em Espanha a esquerda recupera, será que, em Portugal, esta esquerda da treta terá um triste e merecido fim, ou seja, ser corrida do poder por muitos e bons anos?