segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

2021: VACINAS E PANDEMIAS


No final de um ano marcado pela crise, opacidade e autoritarismo reforçado à boleia da pandemia, o governo marcou pontos no início do processo de vacinação.

A transparência do primeiro dia da vacina anti Covid, permitindo aos jornalistas verem como estava a decorrer o processo, é um sinal prometedor.

O optimismo regressou aos rostos dos profissionais de saúde, deixando uma mensagem de credibilidade na cura que pode fazer toda a diferença.

Seguir-se-ão outras vacinas e sucessivos grupos prioritários, dia após dia, num processo que deve reunir todos os esforços e meios existentes para proceder à vacinação da população no mais curto prazo possível.

Embora a batalha não esteja ganha, muito longe disso, a verdade é que com mais informação é possível salvar vidas e começar a reconquistar a confiança dos cidadãos.

Mas que não haja quaisquer dúvidas: 2021 vai ser muito mais do que a luta contra a Covid.

Outras pandemias, como a pobreza, a desigualdade, a injustiça, a insegurança, o nepotismo e a corrupção, continuam a assolar a vida dos portugueses.

A criação de um verdadeiro programa de recuperação económica não pode ficar por mais um qualquer grande projecto para melhorar os grandes agregados estatísticos e servir as clientelas do costume.

E têm de ser tiradas lições de um SNS de fachada, apostando num serviço público de saúde que não deixe morrer os cidadãos por falta de equipamentos e recursos humanos.

E, já agora, até podemos sonhar com uma justiça mais célere e credível, sem confusão com qualquer tipo de securitarismo.

Vamos começar um novo ano com uma realidade assustadora.

Os idosos estão a ser liquidados: Até ao final de Novembro morreram mais de 47 mil idosos com 85 ou mais anos: mais 10% do que em 2019 e em 2018 (Pordata). 

E os jovens desesperam pelo futuro: A taxa de desemprego de jovens de menos de 25 anos é de 18,3%, ou seja, igual àquela que existia em 1983 (Pordata).

É preciso mais criatividade, mais modernidade e mais transparência para encontrar soluções potenciadoras da vida, do emprego e de confiança no futuro.

Chega de tempo perdido com folclore, megalomanias e falsas uniões de circunstância.

2021 é o ano de todos os riscos e esperanças que não podem ficar por meras palavras e mais propaganda.

E ficará marcado por eleições presidenciais.

No dia 24 de Janeiro elegemos um presidente da República que deve e pode ser um dos principais motores de uma reforma do sistema político por tantos e tantos ansiada.

Face a uma campanha eleitoral, em que o contacto popular tem de continuar a ser a regra, a vacinação dos candidatos presidenciais seria um sinal de respeito pela cidadania activa. 

Uma forma simbólica de começar a viver o verdadeiro sentido da Democracia.

Feliz Ano Novo.






segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

SAÚDE, SEGURANÇA E RESERVAS


Podemos confiar nas autoridades?

Não!

A resposta não é uma mera questão de opinião, é mais um alerta consequente da factualidade que não se faz de casos isolados.

Na saúde, a estabilização das mortes Covid nos píncaros representa um retrato do momento.

Tudo embrulhado num estado de emergência que já pouco tem de excepcionalidade.

E na extraordinária aceitação do novo axioma: para salvar os doentes Covid, o SNS deixa morrer os outros doentes.

E o que decidem o presidente (e recandidato) e o primeiro-ministro?

Contrariamente ao padrão usado permitem "generosamente" a fruição do Natal.

E até Rui Rio compreende que os portugueses precisam de um escape.

Numa semana crucial para a evolução da pandemia, Marcelo, Costa e Rio estão de acordo, certamente imbuídos pelo espírito natalício, perdão, pelo calculismo da popularidade.

E quando julgávamos que o governo havia descido à terra da responsabilização dos cidadãos, eis que regressa o autoritarismo no Ano Novo.

É o "contrato de confiança" mais curto de sempre.

Como a gestão da pandemia é tão semelhante à forma como o país é administrado: um ziguezaguear estonteante, com a navegação à vista a substituir a estratégia, o rigor e a coerência.

Quanto à segurança, o balanço é igualmente penoso.

Os assassinos de Homeniuk serão julgados. 

Mas o rasto da cultura do casse-tête acima da lei continua fundo, depois de inúmeras denúncias, desde o aeroporto de Lisboa às prisões, com a Provedora de Justiça, os especialistas e as organizações internacionais ignorados.

E o que decidem o presidente (e recandidato) e o primeiro-ministro?

António Costa tenta encerrar o escândalo com a cobertura política ao seu amigo e ministro Eduardo Cabrita, avançando com uma reestruturação que já começou mal.

E Marcelo Rebelo de Sousa ainda deve estar à espera da investigação de um dos seus 155 colaboradores de Belém para concluir que o caso do SEF faz parte de uma realidade tão sistémica quanto dantesca.

Tanta demagogia e branqueamento até parecem ficção, mas já fazem parte do dia-a-dia.

As reservas em relação às vacinas e às polícias são uma parte do gigantesco preço a pagar pela irresponsabilidade política que confunde os cidadãos.

A outra parte, depois de tanto folclore e truque, é a desconfiança nas instituições que matou, continua a matar e ainda pode matar muito mais que a pandemia.

Uma última cereja em cima da derradeira mutação do pântano: a procuradora-geral da República impõe hierarquicamente ser avisada quando um qualquer "notável" é apanhado numa investigação da Justiça.

Algum dia temos de parar, e começar a pensar para onde estamos a caminhar.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

MARCELO: ARTISTA SEM PLANO B


O país está a acordar para a realidade brutal, depois de anestesiado pela pandemia, selada com o slogan #NinguémFicaParaTrás, entre outros manifestamente exagerados. 

E a aproximação de um acto eleitoral é sempre um tónico.

A entrevista que Marcelo Rebelo de Sousa deu aos jornalistas Bernardo Ferrão e Ricardo Costa, na SIC, foi um momento de boa informação que elevou a fasquia do escrutínio para todos os candidatos presidenciais.

O que ficou da entrevista?

Além das mentiras, omissões e até critérios duais, ficou ainda mais claro o mandato inconsequente e o dilema político em que Marcelo se deixou enredar.

Apanhado no seu próprio folclore, Marcelo foi encostado às cordas de cinco anos de colagem ao governo para garantir o apoio dos socialistas nas presidenciais de Janeiro de 2021.

A mais recente "jogada", com Manuel Magina da Silva, é apenas uma amostra do desnorte presidencial e do que ainda virá por aí.

Aliás, também ficámos conversados em termos de Estado: oportunismo a mais sem justificação e seriedade a menos quando se impunha.

Tal como Tancos, o caso de Ihor Homeniuk deixa um imenso rasto que o tempo dificilmente apagará.

E, quanto à reserva por causa dos inquéritos criminais, ainda temos memória dos incêndios de Pedrogão e da fantástica declaração, em Setembro de 2019, em Nova Iorque (prudentemente fora do país), garantindo que o presidente não é criminoso.

De facto, Marcelo sem plano B fica ao nível do artista medíocre.

Cada vez que renegar Costa será visto como o rato que abandona o barco, logo menos votos do PS.

O recandidato vai pagar o preço de estar na fotografia ao lado de o primeiro-ministro, e a crise ainda só vai no adro.

É com perguntas incómodas que a informação pode dar aos cidadãos as melhores ferramentas para escolher.

E, apesar de mais ou menos insulto e represália, dignos de serviçais sem freio, a verdade é que o jornalismo acrescenta e brilha quando é competente, assertivo e independente.

Aliás, levar ao colo um qualquer político, seja ele qual for, nunca tem futuro, nem com subsídios, nem com testas-de-ferro.

Com a dupla Marcelo/Costa, o país acelerou o ritmo de empobrecimento e reduziu a margem de segurança em relação ao abismo.

E a degradação do ambiente político não pára de surpreender.

Um e outro, cada um ao seu estilo, mais finta menos truque, dificilmente conseguirão iludir o descontentamento e o agravamento do pântano instalado.

Bem podem as sondagens insistir no novo amanhã marcelista.

No dia 24 de Janeiro de 2021, no momento de escolher, os cidadãos vão meter a mão no bolso.

E, porventura, tanta selfie, afecto, incúria, trapalhada, propaganda e miséria podem fazer a diferença no momento de depositar o voto na urna.

Será que o artista resiste?


segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

MARCELO COM AS MÃOS CHEIAS DE NADA


Após meses e meses de farsa política, ora insinuando indisponibilidade, ora deixando transparecer vontade, Marcelo Rebelo de Sousa anuncia a recandidatura a Belém.

O palco está montado para tentar garantir mais cinco anos de uma presidência inconsequente que lá vai mantendo os privilégios e garantindo umas manchetes e umas chapas.

Tudo na paz do regime de ficção.

E de uma Esquerda incapaz de fazer a união em volta de uma alternativa.

Entretanto, o povo lá vai sendo encaminhado para cair na esparrela de acreditar que toda a bonomia presidencial é apenas o resultado de um exercício de generosidade espontânea.

Num país pobre e endividado, o estilo continua a vergar a substância, a publicidade enganosa fala mais alto do que os factos.

É, porventura, mais uma vez, Marcelo na hora e no local certos.

A informalidade e o jeito nato para o circo político, apesar de alguns tropeções, levam Marcelo até ao zénite da vacuidade, agradando aos gregos e aos troianos apenas interessados em manter o status quo bafiento.

Se pouco ou nada mudou, o que resta de um mandato presidencial que tanto prometia?

A resposta a esta questão maior não poderá fica na gaveta do desfile de elogios, mesmo que faltem tempo e espaço para o rigor e a seriedade depois de mais um arraial de música pimba, mais um Big Brother ou mais um casamento com um qualquer figurante.

Nem pode abafar Tancos, a grande nódoa que ainda está por explicar.

Ainda esta semana, pela voz da OCDE, ficámos a saber que os impostos em 2019 atingiram um máximo nunca vez visto em Portugal, depois de termos passado horas e horas, páginas e páginas de notícias sem uma resposta clara e inequívoca.

Onde estava Marcelo?

A meio caminho de resposta nenhuma.

A recandidatura já falava mais alto pelo que nada poderia colocar em causa o apoio "informal" do PS.

E não faltam outros exemplos desta constante omissão presidencial, muitas vezes em versão de propaganda para tocar o coração dos portugueses.

O que dizer então do plano de erradicação dos sem-abrigo?

Depois de recebido entusiasticamente pela generalidade da comunicação social também ficámos a saber, agora, mais uma vez pela OCDE, que a montanha pariu um rato.

Do desígnio presidencial ficam apenas as imagens lancinantes, as boas intenções e o calculismo sem limites.

A informação cada vez mais alheada do princípio da descoberta da verdade lá vai avivando a cor do folclore para supostamente aumentar as tiragens e as audiências.

E, no final do mandato, resta Marcelo com as mãos cheias de nada, a que se seguirá com toda a certeza mais uns efeitos especiais.

Mas a realidade do país continua a ser a realidade que está aí à vista de quem quer ver.

Com Marcelo na presidência, os problemas do país e o sofrimento dos portugueses continuaram a ficar à porta do palácio.

Viva a Champions!

Viva o Banco Alimentar!

Viva Portugal!


segunda-feira, 30 de novembro de 2020

NÃO SEJAS PATO


Desconfiar das autoridades políticas e de saúde é populista?

Ou ainda melhor: duvidar da vacina contra a Covid é fascista?

É que a desconfiança está instalada, porque tem imperado a mentira, a falta de transparência e o improviso.

Ora, vai mais um anúncio, inquérito ou focus group à medida?

Venham eles, pois claro, porque tem valido tudo neste "campeonato" de sombras em que a culpa morre na comunicação.

Afinal, a vacina tem 90% de eficácia num dia, 95% no outro e 70% na semana a seguir.

E o folclore continua, com o presidente a receber as farmacêuticas, sem mais nada para dizer, com o calendário na mão por causa das presidenciais.

Só falta mesmo o plano de vacinação que está a ser elaborado a mata-cavalos por mais uns boys socialistas.

Para já, para quem tem tomado tantas decisões avulsas, pouco importa a contradição e a publicidade duvidosa.

Vacina para todos, clamam o presidente, o primeiro-ministro e os afins do regime, ignorando a exigível prudência.

É sempre assim, é preciso dizer qualquer coisa à medida que o desastre é evidente.

Enfim, depois de mais e mais mortes nos lares, todo o cuidado é pouco com os mais idosos que sobreviverem.

Bem basta a vacina da gripe que nem todos tomaram ou podem tomar por manifesto desnorte do governo.

O "circo" vai ter custos, pois todos conhecemos a fábula do pastor mentiroso e do lobo.

E, aqui e ali, já se vai ouvindo dizer: vou esperar que outros tomem a vacina em primeiro lugar.

Podemos ser obrigados a ficar em casa, até impedidos de trabalhar, mas ninguém vai aceitar de ânimo leve a tomada de uma vacina que é apregoada como a solha embrulhada em papel de jornal.

Ah, o negócio, e que negócios à custa da pandemia e da vacina que um dia há-de chegar.

Só falta mesmo o atrevimento de copiar a arriscada lei da rolha de Macron.

Porém, não faltam exemplos de resistência ao autoritarismo do Estado.

Reunidos em congresso, os comunistas comprovaram que há alternativa à lei do medo, deitando por terra o facilitismo da emergência.

Todavia, a "dupla" ainda consegue fechar tudo, ou quase tudo, escolhendo arbitrariamente até o local e a hora em que o vírus é mais perigoso, deixando o país limitado a "pão e água".

Mas já ninguém consegue disfarçar a "matança" de idosos e menos idosos, por Covid e falta de cuidados e assistência hospitalar.

E ninguém sabe o resultado dos respectivos inquéritos após tantos e tantos óbitos a mais, uma factura que, mais tarde ou mais cedo, também vai ter de ser paga.

Basta andar na rua para perceber que o tempo da ebulição está perigosamente cada vez mais perto.

É caso para dizer: Não sejas pato do "espírito de equipa" de Marcelo e Costa nesta pandemia.


segunda-feira, 23 de novembro de 2020

PORTUGAL ESTÁ A LEVANTAR FERVURA

 

A última reunião de especialistas no Infarmed revelou que os dados dos especialistas não coincidem com o discurso político que tem justificado a imposição de mais e mais medidas restritivas.

Já vimos de tudo, desde um estudo de Henrique Barros que sustenta conclusões no «parece que», para desvalorizar os transportes públicos apinhados, até às medidas anunciadas com base na capa de um jornal.

O que muitos disseram, e têm repetido até à saciedade, foi finalmente confirmado: o presidente e o primeiro-ministro usam e abusam dos poderes que os portugueses lhes conferiram com a cumplicidade da maioria do Parlamento.

Em boa verdade, este ziguezaguear não é mais nem menos do que a marca dos governos de António Costa, em que a propaganda e os milhões se repetem até à exaustão sem correspondência na realidade.

Até os mais tolerantes, desde os notáveis à imprensa, já não poupam, agora, críticas severas. 

Face ao caos instalado, a resposta da "dupla" Marcelo/Costa tem sido a fuga em frente, sempre concertada, com recurso à banalização de o estado de emergência.

E ninguém trava tanta mentira e desproporcionalidade que tem restringido a liberdade e liquidado a economia e a estrutura familiar e social.

Obviamente, pelo que se tem passado nos últimos cinco anos, o presidente não é capaz de o fazer, porque tem como objectivo a reeleição em 24 de Janeiro de 2021.

A "garantia" presidencial de uma vacina da gripe para todos é talvez o momento triste que faltava para confirmar o folclore e a falta de credibilidade da palavra a partir de Belém.

Em Democracia existem outras instituições de controlo, mas nenhuma delas sai da sua zona de conforto, deixando pasto ilimitado para quem está focado em manter o poder ou em conquistá-lo.

Bem pode Rui Rio dizer que está mais perto de ser primeiro-ministro, mas a forma como tem feito oposição não augura nada de muito diferente para o futuro.

É certo que para um manhoso político manhoso e meio, e  talvez até lá chegue.

Mas as baterias viradas para a festa do Avante e para o congresso do PCP não fazem esquecer que uma quota parte do falhanço na gestão da pandemia também lhe cabe pela reiterada omissão.

O que se espera do líder do maior partido da oposição é exigir ao presidente que cumpra e faça cumprir a Constituição, o escrutínio do governo e alternativas credíveis.

Basta de despotismo e incúria.

Com semanas dramáticas pela frente, o governo tem de arregaçar as mangas e começar a trabalhar com rigor e verdade, já que pouco mais é esperado de o presidente, a não ser a habitual torrente de palavras pias e pomposas.

Com a pandemia a galopar a este ritmo é certa a degradação vertiginosa do clima social e o consequente recurso ao protesto e até violência.

Estamos demasiado habituados a falar apenas de responsabilidade política, mas a Constituição não deixa dúvidas quanto à responsabilidade criminal dos titulares de cargos públicos.

E é disso que se trata, quando os portugueses morrem às mãos de uma gestão da pandemia a roçar o criminoso, apesar do silêncio pesado da Justiça.

Do autoritarismo aos cidadãos desrespeitarem as instituições medeia um muito curto espaço.

Portugal está a levantar fervura.



segunda-feira, 16 de novembro de 2020

MINORIAS E MAIORIAS PERIGOSAS


Enquanto passa devagar o tempo da pandemia, entre o falhanço dos sistemas de saúde e o horizonte radioso de uma vacina milagrosa, disparam o número de infectados e de mortos e aumentam as vítimas de economias e sociedades arrasadas.

Entretanto, os tempos de fanatismo, de ódio e censura saltaram das ruas para as elites que continuam a chafurdar num paradigma – na governação e na oposição – assente no marketing político falido.

Não há cimento de civilização nem estadistas com causas mobilizadoras. 

Apenas o instantâneo, a mentira de Estado, o poder pelo poder e a corrupção que alimenta clientelas em troca de umas comissões, tudo esfuziantemente embrulhado em matizes ideológicos.

Esta "plasticidade" remete para o falhado modelo do "novo trabalhismo" de Tony Blair que ruiu em todo o esplendor com a gigantesca farsa do Iraque.

E, mesmo assim, continua a servir, 13 anos passados, de cartilha inspiradora para todo o tipo de abusos do poder por esse Mundo fora.

A gestão de carreiras políticas, a navegação à vista e a estratégia de comunicação assente em focus groups fazem parte de um padrão comum, de uma espécie de "internacional" triunfante que federa esquerdas e direitas. 

Não admira que por cá se invoque o que se passa em toda a Europa para justificar os desastres internos.

E os protestos grassam por todo o lado, e só ainda agora começaram.

As minorias extremistas recrudescem e as maiorias do pensamento único renascem, qual delas a mais perigosa.

Ah, o fantasma do fascismo regressou para podermos constatar novamente como o papel dos "comissários" do regime é fundamental para desviar as atenções.

Já chega!

A pandemia até podia servir para repensar as estradas que não têm levado a lado nenhum, mas o caminho difícil não está ao alcance de politiqueiros nem de sociedades vazias de mais e mais consumismo.

Empanturrada com a agenda das autoestradas da informação, nem a comunicação social escapa, pagando o preço da falta de distanciamento do poder com as ameaças na rua.

E continua a destruição do planeta até à próxima pandemia.

A globalização já revelou o melhor e o pior, mas ainda estão por conhecer as consequências do paradoxo em que vivemos: no tempo em que a informação, a tecnologia e a riqueza pretendem chegar a todo o lado, o cidadão é cada vez menos livre.

E, seja qual for a crise, o medo, a intimidação e a ameaça continuam a ser a solução do poder gasto para manter tudo a girar.

Entretanto, como fica bem na fotografia, os líderes até assumem culpas próprias, mas os sacrificados continuam a ser os mesmos.


segunda-feira, 9 de novembro de 2020

CONTRA ESTA "DUPLA" MARCHAR


Desde 23 de Agosto que crescem desenfreadamente os infectados com a Covid.

Como havia sido dada a garantia do reforço do SNS e de preparação para a segunda vaga, ainda mais confiantes ficámos depois de assistir ao "pechisbeque" presidencial de tomar uma vacina de peito aberto em frente das câmaras de televisão.

Mas depois dos mais variados exercícios de circo político, desde a Champions à Fórmula 1, sem esquecer os ventiladores e as camas, os números da pandemia explodiram.

E foram precisos mais de dois meses para o presidente e o primeiro-ministro desatarem em audiências, audições e reuniões para, finalmente, começarem a ser desenhadas à pressa medidas para fazer face ao desastre instalado.

O que se está a passar em Portugal?

A resposta é complexa, como está na moda dizer quando se quer esconder alguma coisa, mas a realidade é bem simples: estamos a ser governados por quem está desorientado politicamente. 

De facto, elegemos quem não tem estado à altura dos acontecimentos, porque mentem em vez de falar verdade, porque reagem em vez de prevenir, porque julgam que a solução passa por mais autoritarismo, mais intimidação e mais e mais ameaça.

Chegados aqui, com números astronómicos que ainda se vão agravar, tendo mesmo já ultrapassado a Espanha em número de casos por milhão, eis o estado de emergência "suave" em toda a sua brutalidade: as restrições e o recolher obrigatório.

Existe a consciência de que tem de haver tolerância num momento tão crítico, mas não podemos deixar resvalar ainda mais o que se está a passar mesmo em frente dos nossos olhos.

Por isso, desde logo, impõe-se preventivamente colocar outra questão: e se as medidas tardiamente adoptadas não resultarem?

Não podemos permitir que, em breve, a "alternativa" passe por colocar militares na rua, armados até aos dentes, para patrulharem os cidadãos e reprimir os motins.

Enquanto houver dinheiro, que não temos mas vamos receber, e depois ter de pagar, ainda pode existir margem para tapar alguns buracos mas não vai evitar uma previsível crise que pode atirar o país para a fome só imaginável em tempos de guerra.

Com os sinais de descontentamento cada vez mais evidentes, o que fazem o presidente e o primeiro-ministro?

Anunciam, com pompa e circunstância, que querem salvar o Natal, embora todos saibamos que querem é tentar salvar a imagem e a pele.

Ou seja, aparentemente, o grande desígnio é achatar a curva para podermos encher a pança e desatar a consumir que nem loucos durante o período natalício.

E depois, está claro, logo se verá.

De facto, estamos a começar a ver cada vez melhor.

Mas ainda não conseguimos exigir que não nos metam, outra vez, na armadilha de tentar resolver tudo à bruta e num estalar de dedos.

Na pandemia, como na saúde, economia, educação e justiça, continuamos a deixar-nos enganar com receitas instantâneas de fantasias em vez de pensar, planear e eleger objectivos a médio e longo prazo ao alcance do país.

Com os portugueses a morrer, por causa da Covid e da falta de cuidados de saúde e assistência hospitalar, dos novos aos mais velhos, está na altura de despachar esta "dupla" que lá se vai apoiando um no outro como podem para disfarçar erros e equívocos clamorosos.

Em Janeiro de 2021 temos a oportunidade de começar pela espécie de "eco" instalado em Belém, cuja responsabilidade maior não se extingue com palavras e imagens pomposas, vãs e enganosas.


segunda-feira, 2 de novembro de 2020

À ESPERA DA AMÉRICA


O "cowboy" e o "self-made man" ainda continuam a fazer maioritariamente parte do ADN norte-americano?

As eleições presidenciais nos Estados Unidos da América são muito mais do que uma opção entre Donald Trump e Joe Biden.

É um momento de teste à alma americana que se traduz na escolha entre dois caminhos: a continuação da ruptura com o paradigma falhado ou o regresso do status quo em todo o esplendor.

Trump representa a continuação da luta contra os cânones de Washington, diabolizando a chamada imprensa de referência; Biden será a reedição de um modelo de governação em que o multilateralismo é temperado pelo marketing político e influência dos serviços secretos na política.

Depois de Obama ganhar com a força de "We Can", partilhando o Mundo com as outras superpotências, Trump quer renovar o sonho de hegemonia do "Make America Great Again" que continua a embalar os norte-americanos, enquanto Biden promete o moralismo de um aliado "Of the light, not the darkness".

E, goste-se ou não, deste lado do continente europeu, o errático Trump personifica melhor a imagem do "American way of life" que fez dos Estados Unidos da América a maior potência do mundo.

Mas esta eleição é também a renovação da "eterna" questão da emigração: por um lado, o fecho de fronteiras cruel; por outro lado, a alternativa de abertura para a exploração selvagem da mão-de-obra barata.

Também a questão racial pode, finalmente, fazer a diferença, numa realidade pós-Floyd, se ultrapassado o tradicional voto de abstenção ou em branco dos negros.

Para perceber o que está em jogo neste acto eleitoral, em que os latinos também podem sonhar, é preciso não esquecer a realidade de mais de 40 milhões de pobres, bem como de mais 140 milhões de cidadãos que admitem ter um rendimento insuficiente para pagar suas contas.

A vitória de Trump ou de Biden é ainda muito mais: de um lado, a arrogância da aposta na economia e no individualismo; do outro, a moderação que dá atenção à pandemia e ao colectivo.

Salvaguardas as devidas diferenças, a divisão brutal instalada não é assim tão diferente daquela que começa a emergir na Europa, decorrido quase um ano da descoberta da Covid.

No contexto de crise económica, os próximos actos eleitorais europeus também serão marcados por fracturas que ultrapassam a razão, a ideologia e a humanidade.

No país do consumismo, em que também se joga mais isolacionismo ou mais globalização, após muitos milhões de dólares gastos na publicidade de ambos os candidatos, fica para a História uma campanha de ódios, com "facts checks" para todos os gostos, ambições e carteiras.

O 46º presidente dos Estados Unidos da América tem uma herança: um país em que prevaleceram a força das instituições democráticas, o primado da Lei e a contribuição para a paz mundial.

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

VIVER A VIDA


De relance, dois homens, numa esquina da cidade.

Na boca, a máscara e a afirmação de ser livre.

E nos olhos, o medo e o conformismo.

Certamente, falam da Covid, entre outros temas da actualidade.

Fazem lembrar Vladimir e Estragão, de Samuel Beckett, com inspiração para falarem sobre tudo e sobre nada, sempre à espera de alguma coisa, porventura ainda à espera de Godot.

Falam, gesticulam, e, por segundos, permanecem num silêncio que mais parece durar uma eternidade.

Havia algo de especial naqueles dois homens, à beira da reforma, com uma vida aparentemente realizada e confortável: revelavam uma réstia de brilho de quem quer viver a vida, como podem e o com o que lhes resta.

Ainda pensei que sofriam da febre das eleições norte-americanas – uma espécie de pandemia passageira dentro da pandemia anda sem vacina –, ou que estavam a debater mais uma declaração de especialistas – Great Barrington

O que importa, verdadeiramente, é a sua escolha de estarem na rua, ao ar livre, a conviver, como se ocupados a virar as folhas de um livro que também fala, em vez de engolirem a "caixa mágica" cada vez mais simplista, errática e manipuladora.

E a vida assim vivida lá corria naquela esquina ao fim da tarde...

No momento em que a Covid caminha a passos galopantes em Portugal, e que os os números europeus diários já ultrapassaram os dos Estados Unidos da América (com trunfo), o filme de oito meses da Covid passou mesmo à frente dos meus olhos bem abertos.

Tanta morte, sofrimento, solidão, arrogância, demagogia e propaganda.

Naquele instante, o tempo voltou para trás, quando nada ou quase nada sabíamos sobre a pandemia.

Hoje, que apenas já sabemos mais alguma coisa, o autoritarismo e o dogmatismo continuam a contar com o seguidismo e a indiferença da maioria.

Como se a sociedade estivesse infectada com um vírus ainda mais grave do que o SARS-CoV-2.

A conversa ganha a vibração do que resta do bulício da cidade, enquanto um agente da polícia passa, olhando para os dois como a confirmar qualquer eventual violação do estado de calamidade.

Subitamente, intimidados, ambos metem o telemóvel no bolso, com a confiança da sua aplicação, medindo a autoridade de soslaio.

Ao mesmo tempo, um grupo de jovens atravessa a rua, na passadeira, conquistando alegre e exuberantemente cada centímetro de espaço, com os tiques e os gadgets da sua forma de viver a vida.

Ah, os dois amigos, instalados na esquina, começam a despedir-se.

Entre cotoveledas amigáveis e sorrisos cansados, ficam as últimas palavras bem assertivas e audíveis, apesar da máscara P2 cónica com válvula:

– Foi penalti! – disse o mais sisudo.

– Não foi nada, não percebes nada de futebol! – encerrou o mais jovial.

Tomando os seus caminhos, cada um no seu passeio da estrada, um último aceno de dedo esticado, típo experts da bola, quiçá sonhando com a conquista do Mundial ou outro qualquer grande feito nacional.

Ambos apressaram o passo, antecipando a ameaça do recolher obrigatório, porque continuavam a querer viver a vida como podiam e com aquilo que lhes restava, à sua maneira.


segunda-feira, 19 de outubro de 2020

NA MELHOR MÁSCARA CAI O MEDO


O primeiro-ministro e o presidente da República vivem dias politicamente devastadores muito por força da oposição e da sociedade civil.

O Bloco de Esquerda escancara as mentiras políticas do governo, designadamente quanto ao número de profissionais de saúde contratados e à dotação financeira para o SNS em 2021, através de Mariana Mortágua e Francisco Louçã.

Por sua vez, o bastonário da Ordem dos Médicos lança um alerta lancinante denunciando a falta de preparação do SNS para acorrer à segunda fase da pandemia

Face a este enorme aperto, António Costa tira da cartola um alibi para disfarçar o falhanço, dando "encosto" ao presidente da República para ambos poderem alijar responsabilidades.

E então lança a bomba atómica mediática: a obrigatoriedade da instalação e utilização da aplicação StayAway Covid, sujeita a multa e vigilância policial.

Costa conseguiu desviar as atenções do Orçamento do Estado 2021 e ainda da arrasadora carta aberta de Manuel Guimarães Pinto, que também foi assinada por mais cinco ex-bastonários, com sensibilidades políticas diferentes.

E não contente com a "façanha" autoritária elevou o tom da ameaça, redobrada com o habitual eco presidencial, sem garantir um SNS preparado, sem atender às exigências dos lares de idosos e sem fazer face aos transportes públicos apinhados, apenas arriscando a política do medo.

Mas a cumplicidade entre ambos foi ainda mais longe.

No momento em que a propaganda do governo sobre o SNS veio abaixo com estrondo, o presidente da República correu a dar conhecimento de conversações com os privados do sector para tapar os buracos que até então nunca havia visto.

Exigência? 

Não.

Escrutínio?

Nada.

Branqueamento?

Sim, como tem sido costumeiro.

Se o padrão de António Costa é há muito conhecido, o bailete de o presidente da República, agora sob a forma inopinada de dedo esticado contra os cidadãos, faz lembrar o triste fado da ditadura.

E, quando era esperado estudo, competência, responsabilização e clareza, sobrou a boçalidade da aposta no "pleno" da ameaça, comprovando o "arranjinho" entre ambos, mesmo quando estão em causa os direitos constitucionais.

Mas com esta espécie de acção política "moderna" tudo muda num ápice, o sim e o seu contrário, mais irrevogável menos fantasia.

Face à enorme tensão, resultante do insano esticar da corda, Costa recua e dá o dito por não dito, e Marcelo faz-de-conta, auscultando meio mundo, como se tivesse chegado a Belém há um mês e picos, mais semana menos semana, com o spin de fazer em 15 dias o que não foi feito em sete meses.

Depois de falhada a estratégia da intimidação  e tal como em Março, quando foi declarado o Estado de Emergência com um atraso ainda por explicar , o presidente demorou vários meses para descobrir a propaganda na política de saúde.

E, aliás, falta ainda saber nesta tragédia de sombras e incúrias se estamos a tratar das mortes pela Covid ou do número muito superior de mortes a mais por explicar.

À medida que as presidenciais se aproximam, a colagem politica entre presidência e governo gera uma inquietante dúvida: o presidente da República está a apoiar e a poupar o primeiro-ministro, sacrificando os interesses dos cidadãos aos seus interesses pessoais?

É que Marcelo tudo tem admitido, tolerado e feito, desesperadamente, para não colocar em risco o apoio de António Costa e do PS, mesmo quando estão em cima da mesa os mais altos valores da cidadania e vida humana.

O país quer mais médicos, mais enfermeiros, mais comboios, mais competência, mais informação e mais confiança, não precisa de folclore, paternalismo, bafio, polícia, multa, medo e suspensão da Democracia.

O que por aí vem, nos próximos tempos, exige uma presidência com mais noção do dever e da responsabilidade do que de piruetas e cálculo particular.

É que a pandemia continua a alastrar vertiginosamente e o número de mortos a crescer.


segunda-feira, 12 de outubro de 2020

HÁ MAIS VIDA PARA ALÉM DA COVID


Entrámos em pânico com o actual surto pandémico, mas temos conseguido conviver, mais ou menos pacificamente, com outras pandemias que se passam, diariamente, mesmo à frente dos nossos olhos, nas mais diversas latitudes.

Se o "vírus da China" regista números galopantes, tal como outros flagelos da história da Humanidade – Peste Negra, Varíola, Cólera, Gripe Espanhola e Gripe Suína –, os mortos registados não se comparam com as vítimas da fome, guerra, droga e exploração de seres humanos.

À medida que o cresce o drama – sanitário, social e económico –, transformado num "espectáculo" de cores dantescas, quase ignoramos o significado da atribuição do Prémio Nobel da Paz de 2020 ao "Programa Alimentar Mundial", das Nações Unidas, esquecendo que a maior agência humanitária do mundo fornece, anualmente, em média, alimentos a 90 milhões de pessoas em 80 países, incluindo 58 milhões de crianças.

É preciso afirmar que há mais vida para além da Covid.

Desde o Estado a cada um de nós, agora, tal como amanhã, urge cuidar das pessoas com seriedade, rigor e humanidade.

A forma como temos de enfrentar esta catástrofe não pode estar cingida ao folclore da condecoração tardia nem da visita a mais um sem-abrigo para as câmaras de televisão.

Não pode valer tudo...

Oito meses depois de conhecida a Covid, e após muita propaganda obscena, temos de conhecer o verdadeiro impacte de decisões políticas, como o shut down que aconteceu nalguns países em contraponto com decisões frias e polémicas de enfrentar o "bicho" de frente.

Também temos o direito a saber se estamos preparados para enfrentar mais uma vaga de infecções e mortes.

Falta um balanço, sem ideologias nem argumentos fanáticos, porque as mortes causadas pela crise económica e social vão ficar na nossa memória de uma forma muito mais impressiva do que aquelas que resultarem da Covid.

Paradoxalmente, de um momento para o outro, percebemos brutalmente que, afinal, o brilho das multinacionais, autoestradas e pontes não se compara à luz da esperança resultante da construção de hospitais, escolas e tribunais.

Entretanto, chegou o tempo de mais um Orçamento de Estado, porventura mais uma oportunidade tragicamente perdida.

Vivemos momentos únicos.

Apesar da nossa continuada incapacidade de distinguir entre o importante e o mero instrumental, talvez a realidade da vida se sobreponha à ficção dos grandes "feitos" dos interesses ocultos.

Se assim for, as mortes e as perdas provocadas por todas estas pandemias não serão em vão.