segunda-feira, 1 de abril de 2024

AMEAÇA DO BLOCO CENTRAL


Se o estado de graça está garantido, a verdade é que Luís Montenegro teve um mau começo, apenas disfarçado pela formação a tempo e horas, sem sobressaltos públicos, do XXIV governo constitucional.

Está feita a escolha dos 17 magníficos – não confundir com os samurais nem com o filme de Antoine Fuqua –, com surpresas e algum arrojo, com desilusões e algumas concessões.

A influência transversal de quem não está, mas é como se lá estivesse, foi o que mais surpreendeu, desde logo colocando em risco a coesão entre o primeiro-ministro e a restante equipa.

Se é verdade que o Executivo foi constituído sem negociação com André Ventura, não é menos verdade que já é perceptível a ameaça do Bloco Central em relação ao PRR.

As primeiras impressões não foram positivas, pelo que é preciso arrepiar caminho e retomar iniciativa política: tem de haver resultados na saúde nos próximos dois meses.

Nas outras quatro áreas cruciais, mais do que conhecidas, também são aguardados frutos.

As cascas de banana deixadas por António Costa e pelo seu dream team, entre as quais se destacam o excedente orçamental e as medidas de última hora, merecem resposta com sagacidade política.

Todavia, o que mais importa é a demonstração de capacidade negocial, de forma diligente e consequente, com transparência e à luz do dia.

Manter uma posição imperial, à espera de ser derrubado, seria politicamente fatal.

A receita é simples: respeitar o resultado do voto dos eleitores e melhorar o dia-a-dia dos portugueses.

A tarefa é de monta, com pouca margem para ingenuidades e erros, sobretudo como aqueles infantilmente cometidos na atribulada eleição do presidente da Assembleia da República.

O tempo de mais mentiras e ilusões está esgotado.

segunda-feira, 25 de março de 2024

UM DESPERDÍCIO, UM TEMPO NOVO


O presidente russo vai responder ao atentado de Moscovo como George W. Bush (Nova Iorque, 11 de Novembro de 2001) e Benjamin Netanyahu (Sderot, 7 de Outubro de 2023), sem lei, ainda com mais barbárie e armas?

O ambiente internacional empresta um tom sombrio aos 8 anos negros da dupla Costa e Marcelo, uma coabitação marcada até ao final pela indiferença em relação aos cidadãos, cinismo político e folclore.

Enquanto a Europa hesita no seu caminho, estes dois exemplos, um internacional e outro nacional, servem para ilustrar como líderes politicamente medíocres acabam por colocar em risco as respectivas populações.

Cá como lá, a solução ou o pesadelo, dependem de arbítrios, eleições e de incógnitas que, por ora, ninguém consegue prever.

Um desperdício, um tempo novo.

As próximas eleições nos Estados Unidos da América, a 5 de Novembro, vão fazer parte da equação que vai responder a uma questão fulcral: vamos sobreviver à III Guerra Mundial?

A tomada de posse de Luís Montenegro, na liderança do XXIV governo constitucional, abre um novo ciclo de esperança.

Duas realidades que têm como pano de fundo a força dos Estados que continuam a vergar a cidadania, com cada vez mais medo e menos energia para fazer frente e barrar os desvarios dos poderosos.

Anna Politkóvskaya (2006), Stanislav Markelov e Anastasia Baburova (2009), Boris Nemtsov (2015), Daphne Caruana Galizia (2017), Marielle Franco (2018), Alexei Navalny (2024), entre outros, já foram silenciados.

A memória do passado, a afirmação dos valores universais e a acção do poder político e institucional não se vincam com mais assassinatos, guerras, museus ou com ainda mais tacticismo e adiamentos.

Biden, Bush, Netanyahu, Putin e Trump, por um lado, Costa e Marcelo, por outro, nunca o perceberam, porque o presente deles sempre atirou o futuro colectivo para um plano secundário, quiçá até irrelevante.

A falta de estadistas é uma das maiores ameaças do século XXI.

segunda-feira, 18 de março de 2024

RETROCESSOS



Nem mesmo José Sócrates terá estado tão longe da realidade.

À beira das eleições do passado dia 10 de Março, António Costa garantia: «O Partido Socialista, e do outro, a aliança das direitas, vão subir e a extrema-direita populista vai descer».

O resultado do Chega, com mais de um milhão de votos, traduz a dimensão da arrogância, da ilusão e da máquina de propaganda ao serviço do poder.

Depois dos papões e dos fantasmas propalados, desfeitos nas urnas, há uma certa elite que agora passou a brandir os perigos dos retrocessos que vêm por aí.

Sejamos claros: ninguém, nem mesmo quem nunca branqueou o desvario da maioria absoluta do PS, tem legitimidade para embarcar nesta aventura para melhor disfarçar os últimos e bem reais retrocessos.

É preciso reclamar uma elite distante do poder e das tácticas partidárias, cuidando e garantindo que não seja penalizada, pessoal ou profissionalmente, pelo livre exercício da opinião e da crítica.

O desafio é de monta: a razia nos serviços públicos – escola, habitação, justiça, saúde e segurança –, exige o empenho e a transparência de todos para corrigir os abusos da onda rosa, a que a administração e sector públicos não escaparam.

Se a mudança é inevitável, se olhar em frente se impõe, também é desde já imperioso sublinhar que o escrutínio enviesado nunca serve, seja qual for a cor do poder.

Por mais avassaladora ou dissimulada, a ficção não foi apenas uma prática desta desprezível espécie de esquerda no poder, também pode ser uma perigosa tentação da governação da velha e da nova direita.

O combate à corrupção pode ser um exemplo paradigmático, depois de promessas e instituições que continuam no papel, para marcar a diferença entre o passado e a futura governação.

Os partidos políticos – do sistema ou não – vão ter de responder à questão que abafaram em campanha: é possível combater o crime de colarinho branco e o enriquecimento ilícito sem legislação clara e sem a autonomia financeira de quem investiga?

segunda-feira, 11 de março de 2024

NÃO PASSARAM


O voto dos portugueses foi de exemplar lucidez colectiva.

Nem PS, nem Chega, as votações nos dois partidos vão obrigar cada um dos seus respectivos líderes a uma redobrada ponderação na acção política, e fora do próximo governo.

Por sua vez, a vitória da AD, com rédea curta, impõe a Luís Montenegro capacidade negocial diligente e consequente.

Por último, Marcelo Rebelo de Sousa perdeu a margem de discricionariedade que já tanto custou, e atirou o país para a instabilidade.

Não passaram.

Nem aqueles que, em nome da táctica, abandonaram os portugueses – saúde, educação, habitação, justiça e segurança –, nem os outros que confundiram os excessos do modernismo de plástico com o radicalismo do triste passado.

Nem mesmo os tais que vergam a paz e o direito internacional aos interesses de ditadores e assassinos.

Não passaram.

Portugal acordou com um voto anti-sistema tão importante como o peso eleitoral da esquerda e da direita tradicionais.

A mensagem é clara: ignorar o dia-a-dia do povo e os valores universais, mesmo com a cobertura de uma imprensa sem norte e, nalguns caos, sem vergonha editorial, será sancionado nas urnas de voto.

Não passaram.

Não voltará a ser possível assistir à mortandade à porta das urgências, enquanto os projectos faraónicos fazem as delícias da corrupção, das grandes empresas e bancos e dos comissionistas.

Não voltará a ser possível assistir à escola que não garante professores para todos os alunos.

Não voltará a ser possível assistir à especulação imobiliária, tolerada por um poder com impulsos de controlo e manipulação da população.

Não voltará a ser possível assistir à justiça para os ricos e à (in)justiça para os pobres.

Não voltará a ser possível assistir à insegurança em nome de miríades de um falso humanismo.

Não passaram.

A estratégia do medo, em nome das falsas liberdade e igualdade, foi derrotada pelos cidadãos.

25 de Abril, sempre, 50 anos depois.



segunda-feira, 4 de março de 2024

OLHAR EM FRENTE


A recta final da campanha está a ser decisiva, com os indecisos e abstencionistas a deixarem tudo em aberto.

Sejamos claros: o que os portugueses vão avaliar são os últimos dois anos da governação liderada por António Costa, não é o passado recente, distante ou mesmo a fundação de Portugal.

Nos últimos dois anos, os portugueses assistiram ao maior ataque aos princípios e valores democráticos desde o 25 de Abril.

Corrupção, pobreza, caos na educação, justiça e saúde, nepotismo, exploração dos imigrantes e instabilidade institucional não foram meros acidentes, mas o resultado do tacticismo em São Bento e do folclore inconsequente em Belém.

A oportunidade perdida vai pesar no dia do voto: o autoritarismo, a partidarização da administração central e a colocação dos boys voltaram a comprometer o aproveitamento de um volume ímpar de fundos comunitários.

Serão precisas décadas para corrigir estes desvarios de cedências às clientelas, seja qual for o vencedor das eleições de 10 de Março, mas mais vale começar já do que mais tarde.

Com os portugueses a serem tratados como gado, sobretudo os mais pobres, compensados com umas migalhas assistencialistas, a máquina da propaganda instalada rebentou, deixando o desastre à vista.

O custo da dupla, formada por António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa, ainda está por determinar, mas a percepção que os portugueses querem uma mudança é já por si só uma parte do balanço pós-eleitoral.

Chegou o momento de olhar em frente, de rejeitar a velha receita da estratégia do medo, com inovação e a capacidade de não continuarmos a ser aborrecidos, como aconselhou Yulia Navalnaya.

O perigo nunca vem do futuro, mas sim de ignorar a evidência do presente.

Ninguém quer regressar a 2022, a 30 de Janeiro de 2022.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

A GRANDE TENTAÇÃO EM CAMPANHA


O pouco tempo atribuído ao debate sobre a corrupção permitiu ainda assim a Rui Tavares clamar pela importância de dar mais atenção à prevenção do que aos meios para combater a criminalidade.

O líder do Livre tocou num dos pontos mais sensíveis do regime democrático, tendo em conta o recente envolvimento de António Costa, Marcelo Rebelo de Sousa, Miguel Albuquerque e mais um par de autarcas em investigações criminais.

Aliás, também nunca é de esquecer que os dois principais candidatos a primeiro-ministro de Portugal também estão circundados por outros tantos casos que podem descambar noutras maratonas judiciais.

Será que pela acção da Justiça ainda vamos assistir à queda de mais um governante, à demissão de mais um autarca e até à renúncia de um presidente da República?

Só a legitimidade de ter de fazer a pergunta deveria deixar cidadãos e políticos verdadeiramente aterrados.

O condicionamento da investigação criminal, a par da súbita guerra entre procuradores e juízes, não é uma saída admissível para a questão de fundo que mais importa e não está resolvida.

A grande tentação em campanha eleitoral está em cima da mesa: cercear os meios da Justiça, desvalorizar a acção de algumas polícias e passar a mensagem que o Ministério Público já foi longe demais.

O escrutínio da Justiça é imprescindível, mas não pode servir de cortina de fumo para tentar disfarçar o cancro do regime: a corrupção.

A auto-proclamação de seriedade, para depois melhor insinuar que a Justiça está a interferir no jogo político, não serve a ninguém, nem aos cidadãos, nem aos políticos, nem aos partidos, nem aos corruptos, nem ao futuro governo de Portugal.

Nunca é demais lutar por mais transparência, como a melhor forma de combater o abuso, a arrogância, a impunidade e demais criminalidade de colarinho branco, evitando assim mais balbúrdia institucional.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

ALTA (IN)DEFINIÇÃO


A vertiginosa aceleração de acontecimentos extremos tem colocado os regimes democráticos à beira de um ataque de nervos.

Dos rosários das trafulhices de Biden e de Trump até à morte de Alexei Navalny tudo tem servido para alimentar um desnorte nunca visto.

A ameaça de “consequências devastadoras” para a Rússia, prometidas por Joe Biden, a 16 de Junho de 2021, esvaziou-se no preciso momento em que foi conhecida a morte do opositor a Vladimir Putin.

Entretanto, os europeus assistem, entretidos com grandes e eloquentes profissões de fé.

Entre proclamações e ovações ocas nada mudou, nem mesmo os candidatos à presidência dos Estados Unidos da América, ficando por saber o que poderá acontecer no caso de igual desfecho para Julian Assange.

Na política caseira, o acto eleitoral de 10 de Março tem igualmente colocado a nu a vertigem da reciclagem de receitas e clichés que já provaram a sua ineficácia.

Como se o caricato não fosse visível, os protagonistas enredam-se em múltiplas acusações, antecipando a repetição dos últimos oito anos de propaganda, de truques e de mentiras.

A bagunça é de tal monta que até magistrados se envolvem na praça pública com acusações mútuas, deixando um rasto de suspeições tão graves quanto os crimes que têm de investigar e julgar.

O desvario é universal, faltam referências, o escrutínio de instituições credíveis e até a análise e o comentário independente e idóneo.

Resta a emoção, em alta (in)definição, garantida por um entretenimento revisteiro que tenta emprestar dignidade a quem hesita em estar do lado certo da vida para enfrentar a realidade do dia-a-dia.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

QUANDO A REALIDADE GANHA, OS LOBBIES PERDEM


Os debates entre os líderes partidários têm contribuído para desvendar o país real, resultado de oito anos da governação de António Costa.

O leilão, as promessas exageradas e os truques de comunicação não têm sido suficientes para ocultar os problemas, e tão graves, pois a sensação de desastre está a vir ao de cima, confirmando que o país tem vivido à deriva.

Todos aqueles que vivem as dificuldades do dia-a-dia só podem ficar mais aliviados, quando assistem ao estilhaçar da propaganda que tem mascarado os enormes estrangulamentos responsáveis por mais miséria.

Qualquer início de mudança só pode ser feito a partir da identificação de quem errou repetidamente.

A verdade pode ser dura, mas agora já nem se coloca a hipótese de discutir se estamos melhor ou pior, mas apenas como será possível inverter o plano inclinado.

Que o digam os jovens e os mais idosos, entre outros, abandonados à sorte de apoios que não há maneira de saírem do papel ou tardam em chegar.

Hoje, com a maior visibilidade do caminho que já nos conduziu ao abismo, já é possível afirmar que a percepção está a mudar.

Após uma semana de debates está mais consolidada a ideia que o ponto de partida tem de passar pelas condições em que povo vive, e não pela ilusão de mais números macroeconómicos, mais artifícios contabilísticos e mais projectos faraónicos.

Aliás, os mercenários e afins estão tão desvairados que até já estão a dar a cara, tentando travar os ventos de mudança com as mãos cheias de argumentos ardilosos.

Os discursos ao jeito de Fidel, a treta dos papões e o marketing estafado estão a perder terreno, porque o tempo em Democracia joga a favor da transparência e contra a corrupção.

Quando a realidade ganha, os lobbies perdem.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

AUTORITARISMO NUNCA MAIS


Pobreza, sem-abrigo, esmagamento dos direitos dos cidadãos, corrupção, falta de cuidados de saúde, escola que não beneficia todos, justiça para ricos e pobres e violência nas prisões são realidades de hoje.

Tal como foram noutros tristes tempos.

Se a comparação choca, mutatis mutandis, a escolha é entre aqueles que nos têm (des)governado e aqueles que um dia nos podem vir eventualmente a governar.

Os portugueses não comem estatísticas de crescimento, de emprego selvagem e de redução contabilística da dívida.

Nem estão dispostos a suportar um dia-a-dia de inferno, sem saúde, escola, habitação, justiça e segurança, apenas para abrilhantar projectos de carreiras europeias.

O sonho de António Costa de um país de funcionários públicos, mais manipuláveis, sem concorrência e apenas com grandes empresas e projectos faraónicos, não vingou, dificilmente poderá vingar, com a esquerda ou a direita.

A consciência e a defesa dos direitos individuais estão vivas, pois aprendemos a ser mais livres, sem prescindir do individualismo que convive com a solidariedade.

A evidência é cristalina: os portugueses não querem voltar ao miserabilismo e ao assistencialismo, muito menos aos tempos de um autoritarismo de Estado, doutrinal, político e financeiro, sob o manto de uma maioria absoluta.

O resultado eleitoral dos Açores deixou claro que o PS se deixou enredar na sua própria teia, alimentando o Chega – antes o papão, agora o lobo mau – para dividir o país e a direita.

Certamente, não contava com a lucidez do voto e com a determinação do líder do PSD que virou o bico ao prego, obrigando os socialistas a uma clarificação.

Luís Montenegro viu premiada a sua estratégia política no primeiro round eleitoral de 2024.

O horizonte ficou mais claro e aberto, autoritarismo nunca mais.

segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

PORTUGAL EM POUCAS PALAVRAS

Sem governo da República, sem governos regionais dos Açores e da Madeira, não são precisas muitas mais palavras para o país de Marcelo Rebelo de Sousa. 

Felizmente, estamos poupados, por enquanto, a mais cantorias e encenações dos todos juntos. 

O país volta a estar à deriva, dividido como nunca, pasto cada vez mais verdejante para a corrupção e com uma crise social avassaladora. 

Mais do que o insucesso da liderança de António Costa, patente e impossível de continuar a esconder, o que está em causa é o futuro. 

A crise na Madeira, tal como outras, representa tão-só a inevitável consequência do que andámos a semear, ou a tentar esconder, nos últimos 8 anos. 

É Portugal em poucas palavras. 

segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

TEMPOS INSANOS


Morre-se em Portugal, com a dizimação dos mais idosos, enquanto os carrascos do SNS fazem de conta que a situação é de tranquilidade e normalidade.

Diariamente, as notícias sobre a saúde chocam, embaraçando-nos a todos, até mesmo aqueles que sustentam esta espécie de esquerda à beira de ser apeada do poder.

Como foi possível chegar a esta politicamente criminosa situação?

Houve quem o tenha denunciado na altura certa, desde logo os enfermeiros, enquanto o presidente, o governo, alguns políticos e “jornalistas de Estado” andavam juntos no branqueamento.

A gigantesca máquina de propaganda atrasou a percepção geral, mas a evidência da realidade dissipou a cortina de fumo, desde logo ficando à vista a corrupção e o esmagamento dos mais pobres, condenados ao assistencialismo.

A crise na comunicação social é apenas mais uma consequência desta promiscuidade, falta de prioridades e valores, acrescida do intolerável distanciamento e até abandono dos cidadãos.

Aliás, é arrepiante assistir à vulnerabilidade de cada um dos portugueses face ao Estado e à sua Administração novamente retocada de rosa.

Vivemos tempos insanos, em que nem as instituições e pilares do regime democrático escapam a uma deriva indizível.

A campanha eleitoral é uma nova oportunidade para renovar o debate, para avaliar a governação deste PS, pois aqueles que nos desgovernaram no passado mais distante também já foram castigados nas urnas de voto.

O inevitável reforço dos extremos, favorecido pela crise, já está a vergar os partidos do sistema, que têm alternado no exercício do poder, obrigando-os a repensar a arrogância, a prepotência e a insensibilidade social.

A bipolarização, que permitiu as duas últimas maioria absolutas, resultou no desastre que está à vista de todos.

Repetir a receita pode ser fatal, porque a revolta social continua a crescer a olhos vistos e a chuva de fundos europeus tem os dias contados.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

COMEÇOU O LEILÃO POLÍTICO


Reapareceu uma estranha euforia no ar, apesar das notícias alarmantes: as guerras, o IMI das barragens, a subida de preços dos bens básicos, o falhanço no combate à corrupção e até o envolvimento de Marcelo Rebelo de Sousa no Global Media.

As elites permanecem indiferentes à futebolização da governação e do debate público, em que parece valer tudo para ganhar, nem que seja a mentir, a comprar e a roubar.

Todos os partidos políticos prometem mundos e fundos.

O benefício da dúvida continua a ser dado aos partidos do arco da governação que há décadas falham as sucessivas promessas eleitorais.

Não admira que as propostas daqueles que ainda não passaram pelo poder executivo incomodem o mainstream.

O país entrou numa fase delirante, outra vez, quiçá esquizofrénica, que muitos julgaram ser irrepetível, sobretudo pela mão dos socialistas.

Com o XXIII governo constitucional em gestão e a Assembleia da República dissolvida, o leilão político está aberto e ocupa o espaço mediático.

O lançamento do concurso do TGV contrasta com os cidadãos a tombarem sem cuidados médicos, mais sem-abrigo, escolas sem professores e aquecimento, jovens e mulheres a emigrarem e criminalidade violenta.

Mesmo com fundos europeus a rodos, nem a propaganda já convence, com mais ou menos desinformação oficial e oficiosa.

Quando olhada com distanciamento, serenidade e razoabilidade, a realidade que se depara à nossa frente deixa-nos atónitos, quiçá aterrados.

Os alicerces do regime democrático estão a ceder à vista de todos, e as eleições antecipadas podem não ser suficientes para travar a deriva em curso.