segunda-feira, 18 de outubro de 2021

PAULO RANGEL À PROVA DE “CAMA”

 

Paulo Rangel é um forte candidato à liderança do PSD.

Não é uma cara nova da política, mas representa um discurso público frontal, competente e europeu.

Se vencer as directas do PSD, a tarefa que tem pela frente dentro do partido é tão pesada quanto a empreitada de chegar ao poder.

Desde os “barões” partidários das negociatas ao Estado gordo, corrupto e enxameado de boys, à custa de mais de cinco anos branqueamento presidencial, eis um desafio à altura do repto lançado pelo ainda eurodeputado.

Paulo Rangel já demonstrou que não é anjinho para cair na mais velha esparrela política, permitindo que a vacuidade e o capricho presidenciais lhe façam a “cama”.

De igual modo, também não parece capaz de cair na tentação medíocre de apanhar a boleia de mais uma qualquer cambalhota de Marcelo Rebelo de Sousa, agora empenhado em limpar um passado de cumplicidades com António Costa.

E, certamente, também não é político para engolir sucessivas derrotas e ficar à espera que o governo caia de podre.

Por último, a lucidez: a afirmação de que Chega é o maior aliado do PS.

O objectivo anunciado de retomar os debates quinzenais na Assembleia da República honra a necessidade imperiosa de um escrutínio sereno e implacável da governação.

O líder do maior partido da oposição não pode permanecer escondido, nem faltar ao espaço mediático.

O discurso de verdade, a exigência em relação ao presidente, a marcação ao primeiro-ministro e a criação de uma alternativa clara fazem parte do caminho longo e difícil a que Paulo Rangel se propõe.

Em Democracia, não há branqueamentos eternos, nem arrogâncias impunes, nem silêncios perdoáveis, nem medo da imprensa, nem vitórias impossíveis.

segunda-feira, 11 de outubro de 2021

BARRETO, CAVACO E MORGADO: A LUTA CONTINUA


António Barreto, Aníbal Cavaco Silva e Maria José Morgado, em artigos de opinião, destaparam a realidade que tem sido militantemente abafada.

É um aviso a António Costa.

E um soco no estômago de Marcelo Rebelo de Sousa, um cartão amarelo à (sua) imprensa e um alerta à sociedade civil.

Do «apetite insaciável» pelo poder ao «empobrecimento» do país, Barreto e Cavaco fazem um retrato lúcido e dantesco do país em que o Estado esmaga os cidadãos, a economia, a iniciativa e a liberdade.

Nem nos tempos do pior do “cavaquismo”.

Só mesmo no “consulado” de Sócrates se chegou tão próximo do abismo.

Por sua vez, Maria José Morgado concentra a atenção num dos sectores mais doentes: a Justiça.


Os mais recentes casos – demissão do juiz Rui Fonseca e Castro e fuga de João Rendeiro – são verdadeiramente um balde de água gelada no folclore institucional, sobretudo o presidencial.

Em boa verdade, estamos novamente perante o dilema: ou Costa fica, arriscando alastrar o pântano, ou parte para um qualquer cargo europeu, abrindo espaço a novos caminhos.

Mas qual é a alternativa que temos pela frente?

A de Rui Rio, que oscila entre a necessidade de mudança e ao mesmo tempo cala, consente e pratica os tiques do Bloco Central?

A de Pedro Nuno Santos, que defende Estado e mais Estado, reinventando uma “Terceira Via” ainda mais perigosa?

A encruzilhada está aí.

E, mais uma vez, cai do céu uma batelada de dinheiro em cima dos problemas, sem estratégia, sem critério, mais um bodo para a clique do poder, com oportunistas e corruptos na primeira fila.

Entretanto, o povo anestesiado com a informação subserviente, os programas pimba e futebol e mais futebol.

É possível combater as fake news e tolerar a propaganda e o branqueamento?

domingo, 3 de outubro de 2021

NOVA GERAÇÃO DESEMPOEIRADA


É sempre útil conhecer a forma como os outros nos vêem.

O artigo assinado por Marc Santora e Raphael Minder, no The New York Times, sobre a pandemia e a vacinação em Portugal, tem ainda o mérito de sublinhar o conflito de gerações.

De um lado, Henrique Gouveia e Melo e Leonor Beleza, ambos representando uma geração mais velha e ainda marcada pelos tiques do autoritarismo do passado.

Do outro, Manuela Ivone da Cunha e Laura Sanches que representam uma nova geração urbana e escrupulosa das liberdades individuais.

Para os primeiros, o sucesso do plano de vacinação deveu-se à eficácia da linguagem militar, de guerra e até de disciplina, aliás, ancoradas num discurso bafiento contra os políticos.

Para as duas últimas, um registo totalmente diferente.

Manuela Ivone da Cunha, antropóloga, que lecciona na Universidade do Minho, constata o carácter ultra-minoritário dos "anti-vaxxers" portugueses, ao contrário de outros países europeus.

Laura Sanches, psicóloga-clínica, admite a falta de cultura de questionar as autoridades e o medo como os principais instrumentos para convencer os portugueses.

O artigo intitulado "In Portugal, There Is Virtually No One Left to Vaccinate" conseguiu tocar num ponto essencial: a mudança de ciclo.

À custa do contraditório inteligente, os jornalistas conseguiram retratar a saudável tensão existente na sociedade portuguesa.

E dar conta do debate interno em curso, entre protagonistas em fim de carreira e em ascensão.

É caso para dizer que há uma nova geração desempoeirada, no lugar certo, com capacidade de fortalecer uma perspectiva mais lúcida e exigente.

Num país que se sente cada vez mais confortavelmente europeu, os jovens estão mais interessados em ciência, transparência e informação credível do que na apologia e exibição dos camuflados.

A nova geração está a criar hábitos de questionar, não se deixando iludir pelos slogans castrenses ou pelas atitudes do Estado a roçar o autoritarismo.

Não abdicando de usar a própria cabeça para fazer perguntas, tantas e tantas vezes sem respostas, e de protestar, com argumentos válidos e pertinentes.

Santora e Minder conseguiram o que tanta falta tem feito à Comunicação Social portuguesa: observar, analisar, identificar e traduzir as questões e as partes, ter um olhar próprio e escapar à propaganda.


segunda-feira, 27 de setembro de 2021

CARLOS MOEDAS: VITÓRIA EXEMPLAR


A vitória de Carlos Moedas é uma oportunidade.

E um exemplo do que pode ser a tal política dos "Novos Tempos".

Carlos Moedas deu uma lição de como se faz oposição e se vence.

Sem fretes mediáticos, sem abdicar da lisura e transparência, sustentado na competência, carisma e numa nova cultura política.

Depois de um discurso de vitória memorável – «Podemos mudar o sistema, porque a Democracia não tem dono» –, é no terreno que se prova a nova forma de fazer política.

Tal como aconteceu a Pedro Passos Coelho, o novo presidente da Câmara de Lisboa vai ter pela frente uma tarefa hercúlea, com inúmeros obstáculos que vão demorar a ultrapassar.

E não pode cometer os erros do messianismo bacoco.

Em política, a convicção continua a pagar, desde que seja genuína.

A sinceridade de um plástico achinesado, mais ou menos liberal, está tão condenada no poder como na oposição.

Não basta denunciar, de vez em quando, o que vai mal, para de seguida calar e manter os mesmos vícios e negociatas dos lóbis do costume.

A segunda taxa de abstenção mais alta, desde as primeiras autárquicas, em 1976, não pode ser varrida, mais uma vez, para debaixo do tapete.

É preciso um caminho alternativo, força, tenacidade e dar a cara, constantemente, para mobilizar e reconquistar os cidadãos.

Em Portugal, a estratégia de Bloco Central é um bafiento anacronismo político, uma espécie de desculpa esfarrapada para eternizar um sistema podre.

De uma penada, Carlos Moedas abriu as janelas da capital de par em par.

Atirou António Costa mais cedo para a Europa.

E alertou os partidos políticos para um arejamento indispensável.

Portugal ganha sempre com uma oposição presente, firme, que não pactua com a arrogância, com o clientelismo e com a corrupção.

Não perceber o alcance da vitória de Carlos Moedas é apenas mais uma teimosia condenada ao fracasso.

Começou um ciclo de uma nova geração de políticos em que o discurso pomposo, rasca ou de feira, o marketing político e as sondagens encomendadas não garantem a vitória.

 

segunda-feira, 20 de setembro de 2021

REVIVER O PASSADO

 

Egos, decisões e corrupção, que recaem no esquecimento do tempo, têm custos extraordinários que estão mesmo ao nosso lado, no dia-a-dia, por mais que a propaganda tente escondê-los.

Da Saúde à Justiça, da Administração à Economia, da Educação à Segurança, Portugal continua mergulhado num tempo de opções avulsas, truques vis e oportunismos descarados que vão custar mais sofrimento e demorar décadas a corrigir.

Os casos de abandono e incúria do Estado, que vão enxameando o espaço mediático – qual ponta do iceberg –, vão rasgando qualquer veleidade de justiça social e até de Estado de Direito.

Uns, chamam-lhe pragmatismo; outros, encolhem os ombros; e alguns ainda confiam na globalização.

Entretanto, mais campanha menos campanha eleitoral, lá surgem as promessas desbragadas, agora sob a forma de PRR para beneficiar os da mesma cor do poder.

O que é feito da memória?

Estamos a reviver o passado que nos atirou para a miséria, com os mesmos interlocutores e métodos, beneficiando do encobrimento e passividades. 

Os mais velhos chamaram-lhe ditadura, recentemente “asfixia democrática”, enquanto os sempre apanhados de “surpresa” lá seguem o chefe.

São poucas as vezes em que é possível identificar o "culpado", anos passados de demagogia e cumplicidades diversas, das pessoais às institucionais.

Ninguém sabia de nada.

Silêncio!

Take 260921.

O povo é quem mais ordena, e à cautela uma câmara de vigilância em cada esquina.

Os homens do poder, com esta espécie de Esquerda a mandar, agarram o pau como podem, numa mão a insensibilidade social e na outra a incompreensão do desespero.

Fazem lembrar a ignomínia de ditadores e comitivas a fazerem compras nas avenidas de luxo das capitais mundiais enquanto os seus povos morrem de fome.

Vai mais uma vacina?


segunda-feira, 13 de setembro de 2021

JORGE SAMPAIO: CIDADÃO


Em 1998, assisti à sua pública preocupação por causa das pressões sobre os jornalistas, uma inquietação conhecida num congresso dos profissionais da comunicação social.

Posteriormente, cruzamo-nos um par de vezes.

A primeira, em Janeiro de 2001, durante a campanha eleitoral da reeleição.

Afastado do buliço das redacções, momentaneamente, lá fui para a estrada, acabando por enviar alguns textos para a sua equipa, obviamente pro bono.

Um instante simbólico.

Numa visita a um mercado, uma peixeira efusiva correu na sua direcção, dando-lhe um abraço tão pegajoso como as luvas cobertas de escamas.

Retribuiu.

Passados alguns momentos, a mesma peixeira, de braços no ar, voltou à carga, mas foi educadamente dissuadida:

– Outra vez, não!

Mas lá saiu mais um abraço, para euforia dos apoiantes, em troca de mais uns restos de peixe.

A um par de metros, não consegui controlar uma gargalhada que, aliás, não lhe escapou, entre um olhar fulminante e depois complacente.

Jornalista ou câmara de televisão nunca foram suficientes para o vergar.

Ao longo da campanha, além da decisiva quanto recatada influência de Maria José Rita, o que mais me impressionou foi a sua convicção, o seu olhar interessado, a forma como via e ouvia as pessoas.

A segunda, foi numa viagem de Estado à Turquia.

A lucidez sobre o papel de Portugal no Mundo impressionou-me ainda mais do que a frieza de Erdogan e a beleza estonteante de Istambul.

Político, sim, estadista também, mas sempre cidadão.

A sobriedade e a profundidade em contraste com o espalhafato e o oportunismo deixaram marca.

A ética, a integridade e a simplicidade faziam parte de o cidadão do Mundo com disponibilidade para o outro, desde o mais “dispensável” português até ao longínquo timorense e refugiado do país mais distante.

O seu mais inesperado erro: o discurso em que comparou os jornalistas a receptadores, a propósito da violação do segredo de Justiça, no auge do processo da Casa Pia.

Foi uma enorme desilusão pessoal que só ultrapassei anos mais tarde, em 2008, num encontro fortuito na Rádio Comercial.

Entre o jornalismo e o poder existe a fronteira.

Intimamente, sempre à distância, admirei o seu discurso limpo e consequente sobre o combate à corrupção.

Nunca o confundi com mais um “senhor” do regime, nem tão-pouco alguma vez reduzi a sua dimensão pública a mais um “homem bom”.

Guardo o seu exemplo de serviço, de abraço a causas e de proximidade genuína.

Nunca lhe agradeci nada, como nunca me agradeceu o que quer que fosse.

Aprendi com Jorge Sampaio que a cidadania não é um favor, e muito menos uma troca.

segunda-feira, 6 de setembro de 2021

A ÚLTIMA OPORTUNIDADE


O país apresentado na comunicação social vai de feição.

Com a aproximação das eleições autárquicas, vale tudo no horizonte político e mediático.

Até estamos, pasme-se, mais seguros, com menos desemprego e o SNS está a conseguir o que nunca atingiu antes e durante a pandemia.

E ninguém põe cobro a esta ficção, nem o presidente às cambalhotas, nem o líder do maior partido da oposição em estado político pré-comatoso.

Ainda a braços com a Covid, os portugueses querem acreditar no canto da velha e anafada sereia socialista.

E para aqueles que ainda não viram a luz, António Costa recorda, sem se desmanchar a rir: «prometer pouco e cumprir muito».

A descodificação dos truques de António Costa, aqui e ali, não perturba a movida socialista.

António Costa está jogar tudo no acto eleitoral de 26 de Setembro, porque é a última oportunidade no caminho para a maioria absoluta.

A vitória dos candidatos do PS deixariam o Bloco de Esquerda e o PCP ainda em piores lençóis, sem contar com a abstenção do PSD ou do CDS/PP como saída de emergência de mais um orçamento.

Nem mesmo as juras presidenciais – valem o que valem! – colocam o país a salvo do El Dorado cor-de-rosa que está mesmo aí ao virar da esquina.

Na conjuntura dada a todas as fantasias, o paraíso do dinheiro a rodos da bazuca, com ordem para gastar desenfreadamente como se não houvesse amanhã, atira o PS para o zénite.

Com os previsíveis tumultos no seio dos social-democratas, a curto prazo, António Costa já tem um pé na margem do Nirvana.

Na rodagem em curso, o embalo dos socialistas é tal que importa recordar Cavaco Silva a vergar a 26 de Novembro de 2015.

segunda-feira, 30 de agosto de 2021

COSTA E O RESTO


O lembrete a Marcelo Rebelo de Sousa e a filiação de Marta Temido foram os factos políticos mais importantes do XXIII congresso do PS.

O atrevimento político de António Costa – em ambos os casos – tem um significado que ultrapassa o presente.

No primeiro, é um exercício de poder e a tentativa para salvar a Presidência da República, reflectindo as vozes que já não levam o presidente a sério, que de tanto branquear tem menos espaço para cambalhotas.

No segundo, armadilhar o caminho de quem possa ter a leviandade de atrapalhar o momento que mais lhe convier para definir o seu futuro político e pessoal.

António Costa pensa primeiro em si e depois no país, indiferente às ondas de choque de mais um tabu.

Além destas duas questões, a reunião magna dos socialistas foi de uma pobreza confrangedora, continuando a costumeira confusão entre o Estado e o partido.

Ana Gomes, que continua a tentar puxar pelo melhor do PS, fez falta.

Não tardará muito para circular, nos canais do costume, num ou em mais episódios que ou o PS alcança a maioria absoluta ou António Costa põe-se ao fresco.

As promessas anunciadas, outra vez, agora em relação à pobreza infantil, passados seis anos de governação, dizem tudo do clima de impunidade política.

Tal e qual como o discurso triunfal em relação à participação militar portuguesa no Afeganistão.

No momento do balanço, mesmo que delirante, o presidente e o governo não têm uma justificação, nem uma palavra sobre o custo da aventura que culmina em desumanidade e ignomínia políticas.

Os tiques bafientos, que fazem recordar as laudatórias do antigo regime, continuam a fazer parte das conivências pardas e das indiferenças úteis que, aliás, já nos conduziram à Troika.

A dimensão do vazio ficou ainda mais vincada com as referências ao combate à corrupção e ao acidente que envolveu o carro de Eduardo Cabrita, ambas soando a vitupério.

Rui Rio, ainda líder do PSD, apesar de o despertar tardio, continua teimosamente incapaz de perceber a razão pela qual não mobiliza os portugueses.

Bloco e PCP, sempre alerta, estão metidos numa camisa-de-onze-varas.

É Costa e o resto.

Ao nível do momento, rumo à vitória, no partido do chefe, no país adormecido pelo pântano, com a sociedade anestesiada pela pandemia e bazuca, a gracilidade final: “Nessun dorma”.

segunda-feira, 23 de agosto de 2021

MILITARES SEM HONRA NO AFEGANISTÃO


A situação no Afeganistão merece reflexão, nomeadamente à luz das últimas "pérolas" de Augusto Santos Silva e João Gomes Cravinho.

O ministro dos Negócios Estrangeiros teve a ousadia de falar de «honra da comunidade internacional», quando garantiu que os colaborantes com a força invasora estariam a salvo dos talibãs.

Este tipo de afirmações retiram qualquer credibilidade à diplomacia portuguesa, quando não hesita na propaganda ridícula para agradar aos norte-americanos e tentar salvar a pele.

Mas se o padrão é assim internamente, por que razão seria diferente em relação ao exterior?

Bastaria consultar um indicador para o governante corar de vergonha: o crescimento da papoila (base da heroína e das metanfetaminas) desde 2001.


Um ano após a entrada dos militares da NATO no Afeganistão, a área de cultivo cresceu 925%, uma proeza que deveria ser suficiente para silenciar politicamente George W. Bush até ao fim dos seus dias.

Barack Obama também tem resultados extraordinários: de 2009 a 2017, o crescimento foi da ordem dos 266%.

A performance de Obama foi de tal monta que o Conselho Internacional de Fiscalização de Estupefacientes, em 2017, exortou a comunidade internacional e a ONU a enfrentarem «os desafios do controlo de drogas no Afeganistão».

Curiosamente, neste ranking da vergonha, Donald Trump tem apenas a medalha de bronze, pois no seu consulado houve uma redução de 68%, um registo que coincide com o início do mandato de António Guterres à frente da ONU.

Depois de muitas palavras ocas, os talibãs nunca viram a sua principal fonte de financiamento em risco, ou seja, o tráfico de droga, a lavagem de dinheiro e a corrupção sempre pesaram mais do que a origem da ameaça terrorista.

Os cerca de 5 mil militares portugueses, envolvidos no Afeganistão desde 2001, mereciam mais honra e menos esforços de persuasão para convencer os portugueses da bondade desta aventura desastrosa.

A disponibilidade para receber 50 refugiados afegãos, afirmada por João Gomes Cravinho, ministro da Defesa, corresponde ao pragmatismo politicamente acéfalo da participação de militares portugueses na "libertação" do Afeganistão.

O comandante supremo das Forças Armadas e o primeiro-ministro pouco ou nada de relevante disseram sobre o Afeganistão, aliás, tal e qual como aconteceu em relação a Tancos.

Não é assim que se prestigiam as Forças Armadas.

segunda-feira, 16 de agosto de 2021

AFEGANISTÃO E COVID: ACAUTELAR O FUTURO


Do Afeganistão a Portugal, o Estado não gosta, nem nunca gostou, de cidadãos que pensem, sempre preferiu os “tijolos” educados para cumprirem ordens.

No país da papoila, a guerra – a verdadeira – continua com mortes, corrupção e cobardia para negociar com terroristas, mesmo depois de Malala Yousafzai e dos Budas de Bamiyan.

Por cá, é a andança perigosa da vacinação dos 12 aos 15 anos, apesar das brechas no discurso do autoritarismo sanitário.

A guerra no centro da Ásia e a vacinação Covid em Portugal continuam a ser tão opcionais quanto a realidade de interesses diversos e difusos impostos aos cidadãos.

Aliás, a única semelhança entre a guerra e a crise Covid é o sacrifício dos cidadãos.

No Afeganistão, como em Portugal, é tempo de acautelar o futuro, tendo em conta a sonegação de dados e as opções erráticas do poder político.

É imperioso acautelar os registos fidedignos, já que os “oficiais” são divulgados por quem em vez de informar e investigar se limita a propagandear.

Até um insuspeito conselheiro de Estado o reconheceu: «A DGS acabou por ceder à pressão política, o que é dramático».

A táctica de aterrorizar, na era da informação global, está sempre condenada ao fracasso, com a agravante de mobilizar uma reacção extremista.

O fundamentalismo, seja das armas, do risco/benefício ou do negacionismo, resulta sempre em mortes tão desnecessárias quanto nalguns casos criminosas.

Daqui a cinco anos, Marcelo Rebelo de Sousa deve continuar em Belém, a preparar o tapete vermelho para o regresso de António Guterres, mas com mais dificuldade em branquear.

Mas só Deus sabe onde estarão António Costa, Marta Temido e Graça Freitas.

No Afeganistão, até Abril de 2021, morreram cerca de 174 mil pessoas.

Depois de um milhão de infectados e de mais de 17.500 mortes por Covid, em Portugal, o aventureirismo presidencial e os erros do primeiro-ministro também exigem justiça.

É indispensável fazer o apuramento da responsabilidade por tanta e tanta morte.

O último espectáculo gerado à volta da vacinação dos mais jovens é apenas mais um argumento para a exigência da elaboração de um Livro Branco Covid.

segunda-feira, 9 de agosto de 2021

BERARDO, RANGEL, SALGADO, SÓCRATES E VIEIRA: É POSSÍVEL MAIS?


Nos últimos anos, um grupo de cinco "ilustres" foi suficiente para comprovar a vulnerabilidade do regime democrático.

Certamente, outros haverá na sombra, uns já identificados, outros por descobrir.

A queda do império Espírito Santo, qual castelo de gosma à custa de cumplicidades ao mais alto nível, funcionou como o gatilho.

Nem o BCP e a CGD escaparam a tanto escarro de colarinho branco.

Berardo (cultura), Rangel (justiça), Salgado (banca), Sócrates (política) e Vieira (desporto) são exemplos da condenação do país a uma vida pior e mais pobre.

A evidência é factual e inquestionável.

Os tribunais tratarão das questões criminais.

Entretanto, importa saber: é possível repetir tais façanhas com as consequências, implicações e custos conhecidos?

A resposta não podia ser mais desanimadora.

O clima político piora, com a catástrofe sanitária e a bazuca a abrirem auto-estradas para todas as negociatas.

A regulação, cada vez mais governamentalizada, afunda em formalismos que resultam numa ineficiência assombrosa.

A falta de meios de investigadores, procuradores e juízes – e a sempre recusada autonomia financeira – garante uma impunidade aviltante, nem que seja pelo arrastamento processual.

O escrutínio da comunicação social, salvo raras excepções, está refém da subserviência e da sobrevivência.

Antes já era assim, agora a situação é ainda mais grave, pelo que ninguém ficará surpreendido se um ou mais novos artistas de idêntica “classe” rebentarem em breve.

O assalto de Tancos (2017), o afastamento de Joana Marques Vidal (2018), a escolha do Procurador europeu (2019), o processo do Banco Português de Fomento (2020) e o autoritarismo sanitário (2021) são sinais arrepiantes.

A repetição da letra do fado manhoso seria a gota para fazer transbordar o copo da paciência, apesar de a propaganda dificultar o inevitável despertar dos cidadãos.

Marcelo Rebelo de Sousa não faz a diferença, sendo que tem agravado vertiginosamente o "pântano" com um branqueamento ímpar, ultimamente temperado por achaques de despotismo.

Navegando à vista, e repetindo a muleta do amigo, ou melhor dos amigos, António Costa fabrica fantasias enquanto prepara a carreira internacional, restando saber se a Europa está disponível, até ao último cêntimo, para o engolir.

E, à cautela, os mesmos que andaram a fazer a cama a Rui Rio, nos últimos três anos, já preparam um transporte da rua São Caetano, número 9, à Lapa, para a reforma, no Porto. 

Os protagonistas vão mudando, a encruzilhada é a mesma e o resultado continua previsível.


segunda-feira, 2 de agosto de 2021

COBARDIA QUE ACOMODA A CHINA


Tong Ying-Kit, cidadão de Hong Kong, que foi condenado a nove anos de prisão ao abrigo da lei de segurança, não aviva a memória dos "bons portugueses".

De Aníbal Cavaco Silva a Jorge Sampaio, de António Guterres – , actual secretário-geral da ONU, o então primeiro-ministro de Portugal à data da transferência de soberania de Hong Kong e Macau para a China –, a muitos outros.

É a confirmação do abandono dos “chinocas”, como alguns do alto da sua parolice apelidavam as populações dos dois territórios.

Hoje, 24 anos depois, numa das mais fascinantes e cosmopolitas capitais mundiais, a liberdade morre, diariamente, às mãos da ditadura chinesa.

Porém, como outros exemplos de cidadania, Tong Ying-Kit ainda faz acreditar.

O antigo empregado de mesa, de 24 anos, que não viu Tiananmen, em directo, mas tem memória do que representou o massacre, é de outras massas.

Entretanto, o rio de cobardia política escorre gordurosamente entre os dedos das mãos dos líderes dos países carimbados pela nova "Rota da Seda".

Uns tachos e uns penachos sempre amansaram a consciência de "estadistas", uns fabricados de plástico, outros aromatizados pelos negócios da China.

Os impérios foram sempre assim construídos, mais guerra, menos guerra, com mais sangue ou menos sangue.

E a exibição de poder, hoje, continua à medida de mais abusos e arbítrios.

Até António Costa decreta a "libertação" – mas só para Portugal –, como se tal dependesse unicamente dele.

Aliás, a arrogância politicamente insolente, tique de ditadores, também é comungada por Marcelo Rebelo de Sousa, quando quer impor a todo o custo a sua obstinada “ciência” na vacinação dos mais jovens.

Sobre o que se passa na China, nada.

Ambos continuam a fazer de conta, não vá qualquer palavra comprometer mais alguns trocos.

A resistência contra as ditaduras, sejam elas quais forem, políticas ou sanitárias, em Hong Kong ou no "Mundo Livre", é sempre um sinal de esperança na derrota dos amanhãs radiosos e da falsa segurança enfeitada.

A prepotência está bem presente no dia-a-dia, à custa da indiferença de muitos que vão abafando a resistência de poucos.

Na China, Tong Ying-Kit foi condenado por vontade de um tribunal.

Por cá, os amigos do poder ao mais alto nível, a contas com a Justiça, passeiam com à-vontade.

O autoritarismo, musculado ou dissimulado, fomenta invariavelmente um Estado totalitário, como Snowden e Assange denunciaram.

Tong Ying-Kit foi apenas o primeiro a senti-lo na pele, depois de clamar: «Libertar Hong Kong, revolução do nosso tempo».

Afinal, os perseguidos também são abandonados e ignorados, porque os vencedores têm sempre uma história acomodada à medida dos heróis incensados.