segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

RUI RIO E O PAÍS REAL


Depois de anos a fio a reinar à custa do agitar de bandeiras ideológicas estafadas, António Costa e sus muchachos abriram a caixa de Pandora.

A ruptura da “geringonça” trouxe à luz do dia os falhanços da governação dos últimos seis anos.

A realidade dantesca – na Saúde, Justiça e Educação, para não falar de outros sectores –, entra pela nossa casa dentro, diária e garantidamente através da CMTV, goste-se do estilo, ou não.

O rigor que Rui Rio inspirou, no discurso de encerramento do 39º congresso do PSD, corresponde ao anseio de mudança que se sente na classe média, mas também transmite medo aos mais pobres.

O risco de cometer os mesmos exageros fundamentalistas de Pedro Passos Coelho, depois da troika, é demasiado grosseiro para quem aspira ser a alternativa.

Afinal, os erros da governação são tão politicamente monstruosos que é preciso humildade para aceitar que não são possíveis de emendar, com ou sem “Bloco Central”, no tempo de uma legislatura, de quatro ou cinco anos.

O povo está embriagado com a política de propaganda, promessas e mentiras de António Costa, aliás, sustentadas pelo folclore politicamente entediante e medíocre de Marcelo Rebelo de Sousa e abençoadas por uma Igreja com uma mão na Fé e a outra no bolso.

O momento actual é ainda de ressaca – já nem a comunicação social mainstream consegue disfarçar –, não é o tempo de exibicionismos.

Quem vive remediadamente, na miséria ou abandonado não compreenderá a complacência com a subsidiação das grandes negociatas de Estado e a abertura da caça desenfreada aos desvios no RSI, nas pensões e no subsídio de desemprego.

De Rui Rio espera-se verdade, mas também coerência, mais exigência com a administração, a elite e os privilegiados do que autoritarismo com os desvalidos.

Rui Rio, que não perdeu a oportunidade para vincar a diferença com António Costa, perante os militantes do PSD, demonstrou que está preparado para enfrentar o país real.

Mas será que o eleitor comum está preparado para Rui Rio?

segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

ELEFANTES NA SALA DA JUSTIÇA

 

É a hora de questionar a Justiça, ora incapaz de cumprir os seus deveres por falta de meios, ora dando exemplo de competência, celeridade e respeito pela Lei.

A detenção de João Rendeiro pelas autoridades sul-africanas, tratada como mais uma novela, não pode ser mais uma oportunidade perdida.

E as declarações pias e rançosas de Marcelo Rebelo de Sousa e de António Costa não podem continuar a iludir os cidadãos.

Nem é preciso enaltecer a extravagância dos recentes casos Manuel Vicente e Tancos, basta ter a noção do que representou o afastamento de Joana Marques Vidal em Agosto de 2018.

As contínuas piruetas de um e do outro impressionam: umas vezes, é o apelo para confiar nas instituições; noutras, é o reconhecimento do mérito dos cidadãos que as questionam em nome da transparência e da informação.

Este zigue-zague, sem escrutínio da comunicação social, é o verdadeiro cancro, um atropelo das instituições democráticas.

Depois das fugas de Pedro Caldeira (1992), do padre Frederico (1998) e de Fátima Felgueiras (2003), o poder político e judiciário não aprenderam nada, ou melhor, preferiram continuar a viver numa penumbra pantanosa.

Os direitos individuais e a presunção de inocência não podem nunca servir para acusados e condenados poderem continuar a passear pelo Mundo, beneficiando do poder do dinheiro, tantas vezes roubado, para apresentar recursos.

E o dia-a-dia não pode ficar à mercê de circunstancialismos, avaliações casuísticas ou do profissionalismo e discricionariedade de cada uma das polícias.

Faltam critérios claros e objectivos que sejam do conhecimento geral.

José Sócrates e Ricardo Salgado passaram a ser os elefantes na sala da Justiça, tendo em conta as facilidades de mobilidade que lhes são concedidas apesar de acusados de gravíssimos crimes.

Rui Rio, com uma declaração irónica, mas grave e frontal, digna do líder do maior partido da oposição parlamentar – «O azar de João Rendeiro foi haver eleições em Janeiro» – escandalizou o mainstream, mas prestou um enorme serviço à Justiça e ao país.

A partir de agora, não restará pedra sobre pedra, antes, depois ou à beira de eleições, seja qual for o “passageiro” do Estado – Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa ou Rui Rio –, se voltar a acontecer a fuga de um poderoso, notável ou ex-político.





segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

NA ORDEM DO DIA


O espírito de missão é mil vezes invocado na hora da entrada, da permanência e da saída do poder.

A meio do caminho, não faltam as referências ao sacrifício pessoal.

E, no fim, o encargo do tráfico de influências num ambiente de tagarelice redobrada, alimentado por uma imprensa cada vez menos livre.

Foi assim, ontem, com as grandes obras públicas, os fundos europeus, as PPP’s e até os grandes eventos internacionais.

É assim, hoje, com os bancos, a defesa da aventura do hidrogénio, a exploração das minas de lítio e a construção do novo aeroporto de Lisboa a qualquer preço.

Não é por acaso que o “Bloco Central” ressurgiu.

Tem valido tudo para servir a propaganda do “somos os maiores”, mas em relação à corrupção e às offshoresLuandaLeaks, LuxLeaks, Panama Papers, Pandora Papers, SwissLeaks, WikiLeaks – só restam boas intenções há décadas.

Aliás, até apregoam que estamos na linha da frente mundial nas energias renováveis, mas não há sinal de igual ambição no SNS.

Não faltam outros exemplos, desde a Educação à Justiça, sem esquecer o atropelo às liberdades individuais.

As decisões institucionais e públicas atendem mais depressa os grandes interesses do que resolvem os problemas do dia-a-dia dos cidadãos.

O Estado está capturado por todo o tipo de interesses, incluindo os criminosos, sendo cada vez mais um espaço de intermediação de lucros e comissões do que de defesa do interesse público.

E não hesita em perseguir quem revela os seus abusos de poder e monumentais roubos – Julian Assange e Edward Snowden, entre outros.

O Papa protesta, a igreja lava as mãos e os servidores da causa pública alimentam mais folclore.

Os cidadãos indefesos, que mal conseguem manter a saúde e sobreviver, até têm agora de enfrentar a politicamente insolente ameaça velada de obrigatoriedade de uma vacina que ainda levanta dúvidas.

Na ordem do dia está o próximo acto eleitoral.

É mais do que escolher 230 deputados, é mais uma oportunidade para aliviar o país de tantos e tantos servidores públicos, que pouco ou nada fizeram e fazem, e eleger quem seja capaz de combater a farsa que nos tem atirado para a miséria.

segunda-feira, 29 de novembro de 2021

RIO DE TACHOS

 

O reconfirmado líder do PSD deve a vitória, ainda que à tangente, ao conhecimento ímpar dos militantes do partido em que milita desde os 18 anos.

Seguramente, não é por acaso que, no discurso de vitória, Rui Rio escolheu brindar os seus adversários com uma pérola: «Aqueles que são os dirigentes do partido, nas distritais e nas concelhias, têm de se ligar mais aos militantes».

Ora, o que deu a vitória a Rui Rio não foi a revolta das bases, mas o tradicional instinto de sobrevivência de quem pertence a um partido habituado a estar sentado à mesa do poder.

A escolha era linear: de um lado, ganhando ou perdendo nas eleições de 30 de Janeiro, a garantia de poder alavancar as benesses do poder; do outro, o abismo de uma travessia do deserto, face à enorme probabilidade do PSD não alcançar uma maioria absoluta.

Paulo Rangel e os seus estrategas de gabinete subestimaram os interesses mais prosaicos da militância partidária.

Rui Rio, mais básico, limitou-se a explorar a natureza partidária, com a aposta no discurso do desprendimento e do camuflado, confundindo a teimosia com a densidade da convicção.

Com o presidente e o primeiro-ministro desgastados e desacreditados, o apodrecimento da crise fez o resto.

Contra tudo e todos, sem esquecer Marcelo Rebelo de Sousa, Aníbal Cavaco Silva e a maioria da imprensa, Rui Rio ganhou precisamente pela razão mais mesquinha em política: o tachismo.

O estilo desafiador de Paulo Rangel, aliás na linha mais radical do “passismo”, ainda não colhe no país de Rui Rio, em que a “vidinha” mais ordena.

Para já, o PSD ficou a ganhar, ainda que dividido ao meio pelo estilo na oposição.

É um recado de monta para o líder.

Ponto final, parágrafo.

Vamos mudar de capítulo?

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

NEM MAIS TRANSPARÊNCIA, NEM MENOS VERGONHA


Não fora a investigação liderada pelo juiz Carlos Alexandre, provavelmente nada se saberia sobre mais um escândalo em Portugal e na ONU.

Desde 10 de Março de 2020 até 8 de Novembro de 2021, nem uma palavra da organização internacional sobre os abusos perpetrados em nome da paz, perdão, dos diamantes.

Apenas um lacónico comunicado que transparece surpresa e, obviamente, promessa de disponibilidade para cooperar na investigação da Justiça portuguesa, mas sem confirmar a abertura de um inquérito.

O silêncio de 20 meses da ONU, em relação ao caso dos diamantes nas Forças Armadas em missão na República Centro Africana, pode indignar, mas não surpreende.

Nem mesmo a denúncia de António Silva Ribeiro, Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, que exibiu a carta enviada à ONU na audição parlamentar do passado dia 19, mudou o curso dos acontecimentos ou mereceu qualquer comentário oficial adicional.

Tal como muitos dos seus antecessores, António Guterres, secretário-geral da ONU, não mudou o paradigma: nem mais transparência, nem menos vergonha.

Afinal, o historial de escândalos já vem de longe.

E nem a última demissão de Anders Gunnar Kompass, diplomata sueco, em 2016, mudou o que quer que seja na tradicional política de encobrimento de todo o tipo de abusos.

Em Portugal, além das historietas oficiais sobre o caso dos diamantes, que mais parecem mentiras infantis, estão reunidas as condições para tudo ficar enredado nas malhas do tempo da Justiça à portuguesa.

E, no caso dos diamantes, o envolvimento cumulativo das Forças Armadas portuguesas e de angolanos ainda torna mais difícil qualquer esperança numa atitude de Estado, digna e limpa.

Já sabíamos, de acordo com a percepção dos portugueses, que há uma Justiça para ricos e outra para pobres.

No país de Marcelo Rebelo de Sousa e de António Costa é mesmo assim, como já provaram outros casos – Manuel Vicente, Ricardo Salgado e ainda José Sócrates passados sete anos da sua prisão preventiva.

Resta saber se é admissível que o presidente, nas suas declarações oficiais, de modo hábil, implícito e quase sub-reptício, continue a sugerir um perímetro para tentar condicionar a Justiça, das razões de Estado ao prestígio das Forças Armadas.

segunda-feira, 15 de novembro de 2021

BLÁ, BLÁ, BLÁ

 

A COP26 finou.

E com ela desapareceram as esperanças na protecção ambiental.

Obviamente, todos estiveram de acordo em reconhecer os relatórios científicos do IPCC (Painel Intergovernamental para a Alterações Climáticas).

E não faltaram palavras: “alarme”, “extrema preocupação” e “urgência”.

Mas, no que realmente importa – eliminação gradual dos subsídios ao carvão e aos combustíveis fósseis –, tudo ficou pela «intensificação dos esforços».

Entretanto, a admissão que os países ricos não cumpriram a promessa de mobilizar cem mil milhões de dólares por ano até 2020 para ajudar as nações mais subdesenvolvidas e pobres a lidar com as alterações climáticas.

E, claro, a cimeira de Glasgow não deixou de expressar o «profundo pesar» por tal falhanço, adiando o compromisso para 2025.

Blá, blá, blá.

Foi assim que Greta Thunberg resumiu o “Pacto Climático de Glasgow”.

Basta abrir o Twitter e o Facebook para perceber que também é assim que os mais jovens vêem as sucessivas promessas do poder político.

As subtilezas diplomáticas e as habilidades semânticas, outrora dominantes à boleia da comunicação social mainstream, já não colhem.

A verdade está na rua.

Hoje, os equilíbrios são outros, uma realidade que os protagonistas dos Estados mais ricos ainda não perceberam.

Até aderir a uma rede social do século XXI.

segunda-feira, 8 de novembro de 2021

GRANDE CAMBALHOTA

 

No dia em que anunciou a data das eleições antecipadas, Marcelo Rebelo de Sousa assinou um discurso confuso e contraditório.     

A ameaça precipitada, descabida e reiterada de dissolução ainda antes do fim do jogo parlamentar, quando há um ano jurava que a hipótese era uma mera «ficção», só poderia ter sido explicada com um milagre.

Basta recordar o que Marcelo Rebelo de Sousa disse em Agosto de 2020, como oportunamente recordou Francisco Louçã, para ter uma ideia da perversidade política em curso.

O que mudou?

1) António Costa a braços com uma crise no governo e a crescente contestação social, bem como a ocasião perfeita para diabolizar o Bloco de Esquerda e o PCP;

2) A brecha para vingar o «ódio a Rui Rio», como bem sublinhou Isabel Meirelles, com PSD e CDS/PP esfrangalhados;

3) Estancar qualquer possibilidade de viabilização de medidas orçamentais que desagradavam aos patrões.

Em síntese, Marcelo Rebelo de Sousa fez objectivamente três fretes políticos: ao primeiro-ministro, a Paulo Rangel e aos patrões.

Um último lifting, uma exibição de autoritarismo político para compensar seis anos de submissão em Belém.

O tom da campanha eleitoral e os resultados das eleições antecipadas, sem esquecer a abstenção, ditarão o futuro de um presidente que tudo sacrificou para satisfazer a sua ânsia de protagonismo.

E depois da grande cambalhota, sempre a sorrir, obviamente com o interesse nacional na boca e desgraçadamente a responsabilidade no bolso, só falta ao presidente impor a “regra de regime”, a reinvenção do “Bloco Central” sustentada na comparação, pasme-se, com a realidade alemã.

 

 

 

segunda-feira, 1 de novembro de 2021

O QUE ESCONDE MARCELO?

 

Os factos são o que são, e as consequências também.

E, para já, há uma única certeza: a abertura da crise é da responsabilidade do presidente.

Políticos, analistas e comentadores, de todos os quadrantes, têm criticado a precipitação do anúncio da dissolução da Assembleia da República, ainda antes de estar esgotada a negociação do Orçamento do Estado para 2022.

E alguns até denunciam a flagrante e descabida ingerência na vida parlamentar e partidária.

Existiam outros caminhos, desde a elaboração de um novo orçamento até à apresentação de uma moção de confiança e/ou de censura, ou ainda o pedido de demissão do primeiro-ministro.

Assim, é de desejar que Marcelo Rebelo de Sousa, aquando da formalização da data das eleições antecipadas, avance uma qualquer revelação que justifique o comportamento, à primeira vista, tão politicamente aventureiro.

Isto sem excluir, tendo em conta o histórico da personagem, a hipótese de dar o dito-por-não-dito.

Admitindo que o país vai mesmo a eleições, nas actuais circunstâncias económicas, financeiras e até pandémicas, é urgente uma cristalina prestação de contas, não basta invocar os poderes formais.

Tanto mais que, na próxima campanha eleitoral, os partidos não vão carregar as responsabilidades que não lhes cabem.

É exigível uma explicação coerente, caso contrário impõe-se investigar se o presidente está em condições para exercer o cargo ou então se existia um acordo prévio desconhecido dos portugueses.

Apesar de alguns achaques de autoritarismo, aparentemente explicáveis pela idade, a primeira possibilidade parece estar excluída.

Ora, a segunda ainda não está.

Aliás, face ao anúncio da dissolução, a pronta aceitação do primeiro-ministro, a roçar a submissão política, legitima a racionalidade e a pertinência de todas as suspeitas.

E ninguém esquece, ou pode desvalorizar, que a decisão presidencial foi anunciada com o conhecimento de uma disputa na liderança do PSD e do CDS/PP.

Aqui chegados, eis mais uma súbita cambalhota: depois do impulso, da urgência e da azáfama, o presidente anda agora a encanar a perna à rã, retardando a realização das eleições.

A bizarria já foi sibilinamente notada por Pedro Santana Lopes: «Há aqui qualquer coisa que parece que nos escapa».

O que esconde Marcelo Rebelo de Sousa?

Um pacto, com António Costa?

Cedências a outros políticos e protagonistas?

O presidente não pode tudo para apenas assumir uma centralidade que apazigúe a megalomania institucional.

A situação é demasiado grave para ficar por mais silêncios.

Ou por declarações espúrias e labirínticas, como tem acontecido com BES, GES, Novo Banco, Tancos, Covid, PRR e combate à corrupção.

Em situações semelhantes, os votos dos portugueses, bem ou mal, têm validado a utilização da “bomba atómica” constitucional.

E se tal não acontecer em 2022?

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

PSD: DEPOIS DE MAIS DE TRÊS ANOS SEM “PICA”



Com melhor ou pior orçamento, negociado à última da hora, o país sabe o que conta com António Costa: crescimento anémico, reformas estruturais adiadas, sobrevivência garantida pela União Europeia e muita propaganda.

E o PSD, como pode fazer a diferença?

O economicismo e o autoritarismo de Rui Rio não são os melhores argumentos para derrotar António Costa, como tem sido amplamente demonstrado.

Por isso, percebe-se, que o actual presidente do PSD jogue no apodrecimento do governo, em vez de batalhar no terreno com novas ideias.

Por sua vez, Paulo Rangel tem outros trunfos.

Mais cosmopolita, afirmativo e interventivo, o ainda eurodeputado tem a vantagem de já ter ultrapassado o fanatismo da velha direita, designadamente as finanças públicas salazarentas e o “papão” comunista e/ou maçónico.

Mas ainda falta saber qual é o seu plano para conquistar o poder, no partido e no país, bem como conhecer as principais referências da sua equipa.

No PSD, ninguém pode esquecer que uma parte do país ainda está traumatizado com Pedro Passos Coelho, com os cortes designadamente nas pensões.

É neste contexto que a disputa da liderança do PSD assume enorme importância.

Num ambiente de estagnação, com estrangulamentos que perduram, a estratégia fria do chicote dificilmente será capaz de derrubar a ilusão da austeridade encapotada.

De igual modo, o discurso patrioteiro e a diabolização de quem vive “acima das possibilidades” não mobilizam ninguém.

O dilema do futuro líder do PSD é aceitar esta evidência sem abdicar do rigor, transparência e criatividade para tirar o país do marasmo.

"Não acrescentar crise à crise” ainda continua a colher mais do que qualquer ameaça da chegada do diabo.

Para protagonizar a mudança, para ser capaz de chegar ao poder, o futuro líder do PSD tem de renovar a atitude, o discurso e os protagonistas.

E tem de assumir um discurso competente, pela positiva.

E, se a economia e as finanças são fundamentais, é na reforma da Justiça que Paulo Rangel pode garantir a vantagem para chegar à liderança do PSD e assumir uma candidatura a primeiro-ministro.

Depois de mais de três anos sem “pica”…

 

 

 

 

segunda-feira, 18 de outubro de 2021

PAULO RANGEL À PROVA DE “CAMA”

 

Paulo Rangel é um forte candidato à liderança do PSD.

Não é uma cara nova da política, mas representa um discurso público frontal, competente e europeu.

Se vencer as directas do PSD, a tarefa que tem pela frente dentro do partido é tão pesada quanto a empreitada de chegar ao poder.

Desde os “barões” partidários das negociatas ao Estado gordo, corrupto e enxameado de boys, à custa de mais de cinco anos branqueamento presidencial, eis um desafio à altura do repto lançado pelo ainda eurodeputado.

Paulo Rangel já demonstrou que não é anjinho para cair na mais velha esparrela política, permitindo que a vacuidade e o capricho presidenciais lhe façam a “cama”.

De igual modo, também não parece capaz de cair na tentação medíocre de apanhar a boleia de mais uma qualquer cambalhota de Marcelo Rebelo de Sousa, agora empenhado em limpar um passado de cumplicidades com António Costa.

E, certamente, também não é político para engolir sucessivas derrotas e ficar à espera que o governo caia de podre.

Por último, a lucidez: a afirmação de que Chega é o maior aliado do PS.

O objectivo anunciado de retomar os debates quinzenais na Assembleia da República honra a necessidade imperiosa de um escrutínio sereno e implacável da governação.

O líder do maior partido da oposição não pode permanecer escondido, nem faltar ao espaço mediático.

O discurso de verdade, a exigência em relação ao presidente, a marcação ao primeiro-ministro e a criação de uma alternativa clara fazem parte do caminho longo e difícil a que Paulo Rangel se propõe.

Em Democracia, não há branqueamentos eternos, nem arrogâncias impunes, nem silêncios perdoáveis, nem medo da imprensa, nem vitórias impossíveis.

segunda-feira, 11 de outubro de 2021

BARRETO, CAVACO E MORGADO: A LUTA CONTINUA


António Barreto, Aníbal Cavaco Silva e Maria José Morgado, em artigos de opinião, destaparam a realidade que tem sido militantemente abafada.

É um aviso a António Costa.

E um soco no estômago de Marcelo Rebelo de Sousa, um cartão amarelo à (sua) imprensa e um alerta à sociedade civil.

Do «apetite insaciável» pelo poder ao «empobrecimento» do país, Barreto e Cavaco fazem um retrato lúcido e dantesco do país em que o Estado esmaga os cidadãos, a economia, a iniciativa e a liberdade.

Nem nos tempos do pior do “cavaquismo”.

Só mesmo no “consulado” de Sócrates se chegou tão próximo do abismo.

Por sua vez, Maria José Morgado concentra a atenção num dos sectores mais doentes: a Justiça.


Os mais recentes casos – demissão do juiz Rui Fonseca e Castro e fuga de João Rendeiro – são verdadeiramente um balde de água gelada no folclore institucional, sobretudo o presidencial.

Em boa verdade, estamos novamente perante o dilema: ou Costa fica, arriscando alastrar o pântano, ou parte para um qualquer cargo europeu, abrindo espaço a novos caminhos.

Mas qual é a alternativa que temos pela frente?

A de Rui Rio, que oscila entre a necessidade de mudança e ao mesmo tempo cala, consente e pratica os tiques do Bloco Central?

A de Pedro Nuno Santos, que defende Estado e mais Estado, reinventando uma “Terceira Via” ainda mais perigosa?

A encruzilhada está aí.

E, mais uma vez, cai do céu uma batelada de dinheiro em cima dos problemas, sem estratégia, sem critério, mais um bodo para a clique do poder, com oportunistas e corruptos na primeira fila.

Entretanto, o povo anestesiado com a informação subserviente, os programas pimba e futebol e mais futebol.

É possível combater as fake news e tolerar a propaganda e o branqueamento?

domingo, 3 de outubro de 2021

NOVA GERAÇÃO DESEMPOEIRADA


É sempre útil conhecer a forma como os outros nos vêem.

O artigo assinado por Marc Santora e Raphael Minder, no The New York Times, sobre a pandemia e a vacinação em Portugal, tem ainda o mérito de sublinhar o conflito de gerações.

De um lado, Henrique Gouveia e Melo e Leonor Beleza, ambos representando uma geração mais velha e ainda marcada pelos tiques do autoritarismo do passado.

Do outro, Manuela Ivone da Cunha e Laura Sanches que representam uma nova geração urbana e escrupulosa das liberdades individuais.

Para os primeiros, o sucesso do plano de vacinação deveu-se à eficácia da linguagem militar, de guerra e até de disciplina, aliás, ancoradas num discurso bafiento contra os políticos.

Para as duas últimas, um registo totalmente diferente.

Manuela Ivone da Cunha, antropóloga, que lecciona na Universidade do Minho, constata o carácter ultra-minoritário dos "anti-vaxxers" portugueses, ao contrário de outros países europeus.

Laura Sanches, psicóloga-clínica, admite a falta de cultura de questionar as autoridades e o medo como os principais instrumentos para convencer os portugueses.

O artigo intitulado "In Portugal, There Is Virtually No One Left to Vaccinate" conseguiu tocar num ponto essencial: a mudança de ciclo.

À custa do contraditório inteligente, os jornalistas conseguiram retratar a saudável tensão existente na sociedade portuguesa.

E dar conta do debate interno em curso, entre protagonistas em fim de carreira e em ascensão.

É caso para dizer que há uma nova geração desempoeirada, no lugar certo, com capacidade de fortalecer uma perspectiva mais lúcida e exigente.

Num país que se sente cada vez mais confortavelmente europeu, os jovens estão mais interessados em ciência, transparência e informação credível do que na apologia e exibição dos camuflados.

A nova geração está a criar hábitos de questionar, não se deixando iludir pelos slogans castrenses ou pelas atitudes do Estado a roçar o autoritarismo.

Não abdicando de usar a própria cabeça para fazer perguntas, tantas e tantas vezes sem respostas, e de protestar, com argumentos válidos e pertinentes.

Santora e Minder conseguiram o que tanta falta tem feito à Comunicação Social portuguesa: observar, analisar, identificar e traduzir as questões e as partes, ter um olhar próprio e escapar à propaganda.