segunda-feira, 18 de novembro de 2024

UNIÃO EUROPEIA: O GRAU ZERO


O Parlamento Europeu assinala mil dias da invasão russa, porventura com a mira apontada para igual comemoração do genocídio em Gaza e da invasão do Líbano perpetrados por Israel.

Entretanto, Joe Biden avançou com a autorização para os ucranianos poderem usar os mísseis de longo alcance contra a Rússia, seguido imediatamente por França e Reino Unido.

É neste quadro alucinante que os cidadãos assistem ao suicídio do jornalismo, como sublinhou José Manuel Fernandes em artigo de opinião.

A este cenário pantanoso, que ainda assim não disfarça os sinais de pânico por todos os cantos do mundo, soma-se um desenvolvimento médio anémico, o qual não tem limitado mais e mais promessas fantasiosas.

O caso português é gritante, pois nem a fabulosa “bazuca” consegue romper o crescimento da ordem dos 1,7%.

Não é o único escândalo: Luís Montenegro continua com os cadáveres políticos dentro de casa, arriscando o futuro do próprio governo, onze mortes depois da constatação das falhas dos serviços de emergência médica.

A resposta dos norte-americanos ao desvario, à ficção e à corrupção de Estado, a que alguns chamam eufemisticamente “complexidade”, foi clara: a maioria de Donald Trump em toda a linha.

Olaf Scholz e Annalena Baerbock, a dupla falhada da Alemanha, exibem a sua estratégia errática, enquanto Josep Borrell lá se vai desfazendo em meias-medidas.

De cabeça perdida, assim vão os líderes mundiais, a brincar com uma realidade que avança para cenários impensáveis e inaceitáveis.

É a União Europeia no seu pior momento da história, no grau zero, com Portugal sempre a acompanhar de joelhos a evolução internacional.





segunda-feira, 11 de novembro de 2024

TRUMP: A FORÇA DOS JOVENS


A vitória avassaladora de Donald Trump não deixou margem para quaisquer dúvidas: os Estados Unidos da América não estão divididos, nem à beira da secessão.

O cinismo político de uma certa esquerda à deriva, porque deixou cair os princípios, foi derrotado por quem não aceita a guerra, o politicamente correcto na imigração e a inflação que castiga a classe média e os mais pobres.

A eleição do republicano só surpreendeu os fanáticos, quem ainda acredita, ou faz-de-conta, no que resta da isenção do jornalismo e da fiabilidade das sondagens.

O mais relevante nas eleições presidenciais norte-americanas é também um sinal de esperança: os jovens recusaram o status quo podre da dupla Biden/Kamala.

A liberdade de expressão e manifestação, tal como o arrastar da guerra na Ucrânia e do genocídio em Gaza, são inegociáveis para a juventude norte-americana, tal e qual como foram o Vietname e a invasão do Iraque.

A alternativa no século XXI não é o wokismo palavroso e folclórico, são medidas concretas e coerentes em favor da paz, dos imigrantes com direitos, do respeito pelas minorias, da vida digna, com saúde e segurança.

O progresso avança, com os Media tradicionais a perderem o exclusivo da mediação, pois a realidade está cada vez mais à mercê de um clique, na diversidade e pluralidade das redes sociais.

Só o sectarismo desmedido, de quem se contenta com o apoio de Hollywood enlameado, permitiu a tentativa incompreensível de desvalorizar a proposta de Robert Kennedy Jr (MAHA - Make America Healthy Again).

De igual modo, o apoio de Elon Musk foi decisivo, não por causa dos milhões de dólares que doou, mas pelos sonhos que voltou a transportar para a política norte-americana e mundial: o espaço e o combate à corrupção.

Ignorar os dois principais trunfos do 47º presidente dos EUA foi mais do que cegueira política, é a dogmática e obstinada recusa de um futuro reinventado, preferível ao presente e certamente melhor do que o passado de má memória.

segunda-feira, 4 de novembro de 2024

EUA: CONTINUIDADE OU MUDANÇA?



Os norte-americanos têm pela frente uma decisão colectiva que, além de influenciar o seu dia-a-dia, terá um forte impacto na comunidade internacional, designadamente na Europa.

Numa perspectiva mais próxima da realidade, a inflação, o aumento do custo de vida e as guerras podem fazer toda a diferença no momento do voto nos EUA.

As hesitações e o cinismo político em relação à Ucrânia e ao genocídio em Gaza também podem contribuir para quebrar um ciclo, sobretudo por força da juventude norte-americana que recusa pactuar com a evidente barbárie.

Por sua vez, a explosão da imigração também tem merecido críticas nas fileiras dos dois candidatos, no seio dos democratas e sobretudo entre os republicanos.

Por último, as ameaças à liberdade de expressão colocam em crise quem apregoa a defesa de qualquer outro direito, seja das mulheres ou das minorias.

O afastamento compulsivo de Joe Biden abriu uma janela de oportunidade à sua vice-presidente, mas não apagou os erros, alguns deles politicamente criminosos, num mandato em que ambos são co-responsáveis.

A polarização nunca foi a ameaça, é a governação opaca e corrupta que coloca em risco a Democracia

A percepção dos norte-americanos em relação a qual dos candidatos é mais capaz de gerir a economia, a liberdade de expressão, a paz, a imigração e a saúde vai determinar a escolha entre Donald Trump e Kamala Harris.

É a eleição da continuidade ou da mudança, inquestionavelmente entre um caminho velho e decadente e a promessa de um futuro ainda que cheio de interrogações.

O desafio é de monta: o mundo em que vivemos pode não aguentar mais quatro anos.


segunda-feira, 28 de outubro de 2024

O RETROCESSO INADMISSÍVEL


Num mundo cada vez mais perigoso, em que já ninguém acredita nos Estados, nem na informação institucional, oficial e oficiosa, a repressão é sempre a primeira escolha dos fracos.

Quando as escolhas são os recursos à força e à mentira, como se fosse possível abafar quem não aceita a actualidade aterradora, então o esgotamento e a falência dos poderes são evidentes.

Nos Estados Unidos da América, o filme está a passar mesmo à nossa frente.

De um lado, Biden/Kamala mergulhados no défice astronómico e nas guerras, confinados a Hollywood afogado pelo crime.

Do outro, Trump/Vance reinventados, apostando em fazedores que apontam uma mudança.

Há uma escolha à disposição de cada cidadão norte-americano, cumprindo-se assim a vitalidade da democracia, enquanto a Europa assiste entorpecida, amarrada a fórmulas que geram mais rupturas do que futuro.

Mergulhada no cinismo da geometria variável, com a união incapaz de recuperar o atraso em relação aos EUA e à China, os líderes europeus estão a dar um passo em falso: cair na armadilha de sacrificar os princípios do mundo civilizado.

Aqueles que deixam cair a liberdade, a pluralidade e a cidadania não são opção, porque nunca serão capazes de fazer a paz e cumprir a prosperidade, nem mesmo quando estão do lado certo nalgumas questões dos costumes.

Há uma divisão profunda, impossível de continuar a escamotear: uns querem arrastar a guerra, à custa do sacrifício da liberdade de expressão e de manifestação, outros recusam o status quo que tem monstruosamente tolerado a barbárie.

O retrocesso inadmissível combina a brutalidade das armas, as grilhetas no pensamento e a perseguição da expressão livre, aliás sinais de um fascismo revisitado.

 

segunda-feira, 21 de outubro de 2024

MAIOR FALHANÇO DA ESQUERDA


O balanço dos governos socialistas tarda em ser assumido.

Além dos escândalos, negociatas e demais trapalhadas, algumas das quais ainda sob o escrutínio da Justiça, a que o ex-PM ainda não escapou, a taxa de risco de pobreza subiu pela primeira vez em 8 anos.

Em 2021, era de 16,4%, em 2022 passou a ser de 17%.

Segundo a PORDATA, «os pobres em Portugal estão mais pobres».

Crianças e jovens são os grupos em que a taxa de risco de pobreza mais se agravou, bem como nas famílias com crianças dependentes.

Os números não deixam dúvidas: «Em Portugal, metade dos pobres tinham, em 2022, um rendimento monetário disponível 25,6% abaixo da linha de pobreza e esta profundidade aumentou face a 2021».

Este é o resultado impressionante da governação de uma certa espécie de esquerda, que contou com Pedro Nuno Santos.

Se é certo que ouve a pandemia, também é verdade que, na maior parte dos quase 8 anos desta governação, existiram condições favoráveis excepcionais.

A liderança dos XXI, XXII e XXIII Governos constitucionais, com maioria absoluta, com ou sem aliança do PS com a extrema-esquerda, resultou num dos mais desastrosos ciclos de Portugal.

António Costa, o PM de 26 de Novembro de 2015 a 7 de Novembro de 2023, data em que apresentou a demissão na sequência de investigações da “Operação Influencer”, deixou um legado aterrador.

O líder do maior falhanço da esquerda em Portugal vai presidir ao Conselho Europeu, comprovando o desvario reinante na União Europeia, sob a liderança de Ursula von der Leyen.

Certamente, não terá sido pela defesa dos mais pobres, nem da justiça social, muito menos pela qualidade dos serviços públicos de educação, justiça e saúde prestados aos cidadãos.

segunda-feira, 14 de outubro de 2024

OPORTUNIDADES PERDIDAS

 

A classe política continua a fugir dos problemas, iludindo, manipulando, mentindo, empurrando as soluções para mais tarde.

Tal só é possível pelo simples facto de a sociedade assim funcionar, vergando perante o poder e esmagando o mais fraco.

“As meninas do senhor presidente”, como eram conhecidas as duas crianças que precisavam de tratamento no Hospital de Santa Maria, poderiam ser a actual síntese do país.

O caso das gémeas é o abuso de poder, quiçá com contornos ainda mais graves, com a agravante da tentativa de branqueamento dos afins instalados à volta do poder.

Infelizmente, não é caso único, basta atentar a três exemplos: novela orçamental, política externa e o recente caso dos SMS’s e auriculares, entre tantos e tantos outros.

O orçamento para 2025 está à mercê de cálculos políticos, cortinas de fumo e fantasias grosseiras que servem apenas a sede de poder e a mesquinhez de quem não está à altura, nem do tempo nem das funções.

O Médio Oriente é tratado com o formalismo contorcionista, de quem bate com a mão no peito, tentando passar por aquilo que não é, envergonhando os portugueses.

Luís Montenegro, ao criticar a precariedade dos jornalistas, sobretudo dos mais jovens, face a administrações, direcções e chefias editoriais a roçar o mais inadmissível, é alvo de uma chuva de críticas corporativas.

O PM até pode não ter legitimidade para apontar o dedo, mas as reacções dos jornalistas comprovam o funcionamento em espelho com o poder político: resposta furiosa, fingir que o problema não existe e continuar em frente.

As oportunidades perdidas multiplicam-se com o adiamento da mudança, cavando ainda mais fundo o buraco em que apenas uma certa maioria continua confortável.

O abandalhamento colectivo, que começa em cada um, é a melhor explicação para o atraso português, por mais que chova dinheiro de Bruxelas.

segunda-feira, 7 de outubro de 2024

“GUERRA DO SEIS DIAS” HÁ MAIS DE 50 ANOS


Um ano após o ataque do Hamas, mais um, em retaliação à ocupação israelita, 33 dos 251 reféns já foram declarados mortos, continuando 101 ainda em cativeiro, depois dos 117 libertados.

Os 1170 cidadãos de Israel, que tombaram às mãos do radicalismo terrorista, nunca serão “ressuscitados” pelo terrorismo de Estado que já matou dezenas de milhares de palestinianos, civis assassinados às mãos do exército de Israel no último ano.

O genocídio tolerado, Gaza dizimada e o Líbano a caminho de igual destruição fazem parte do retrato trágico da derrota de Benjamin Netanyahu, de que fazem ainda parte aliados, inimigos e demais afins.

Arábia Saudita, Irão, Iraque, Koweit, EAU, Catar e Bahrein, que representam 60% das reservas mundiais de petróleo, bem como o estreito de Ormuz, não apagam a chacina de dezenas de milhares de mortos e os milhões de deslocados.

O ataque de 7 de Outubro de 2023 comprovou, mais uma vez, a falência da ordem internacional e da ONU, como atesta a escandalosa recusa da entrada de António Guterres em Israel.

O Mundo não se comoveu, nem mesmo Portugal, além dos comunicados de circunstância, razão pela qual Israel continua impune, a fazer o trabalho sujo que serve os interesses ocidentais.

À cautela, é de recordar que Isaac Herzog, presidente de Israel, cuja visita a Portugal foi adiada, não é bem-vindo, por mais cinismo político de Paulo Rangel, Luís Montenegro e Marcelo Rebelo de Sousa.

Enquanto a União Europeia e o Reino Unido fazem de mortos, o balanço da dupla Joe Biden/Kamala Harris está à vista.

O mais dramático é que as próximas eleições presidenciais norte-americanas não representam qualquer sinal esperança, pois a Humanidade continua nas mãos de criminosos de guerra.

A “Guerra dos Seis Dias”, que se prolonga há mais de 50 anos, tem apenas um único vencedor: a indústria militar.





segunda-feira, 30 de setembro de 2024

SOLUÇÃO FINAL


O discurso do criminoso procurado pela justiça internacional, Benjamin Netanyahu, enquanto a esmagadora maioria dos representantes na ONU abandonavam o Salão da Assembleia Geral, deu rapidamente lugar a mais bombas e explosões.

É a imagem de Beirute novamente a arder, quase um ano depois da invasão de Gaza, levada a cabo pelo exército de Israel, depois do ataque do Hamas a 7 de Outubro de 2023.

É esta a realidade dantesca, depois das mentiras que permitiram dizimar civis no Iraque e exterminar os palestinianos.

As doutrinas e as práticas dos eleitos e dos ditadores confundem-se, os mesmos métodos, o mesmo pavor da liberdade de expressão e de manifestação.

A tentação de Vladimir Putin na Ucrânia e o sonho de Xi Jinping para Taiwan são apenas o reflexo da política ocidental vergada ao arbítrio e à corrupção.

O genocídio já é tolerado, como se não houvesse memória de Auschwitz-Birkenau, Belzec, Dachau, entre tantos outros campos da morte.

É mais uma solução final, como se a força e a brutalidade das armas limpassem o lodaçal em que a civilização voltou a mergulhar.

Enquanto as redes sociais mostram ainda mais do que os Media podem e ainda querem revelar, também por cá impera outra táctica de terra queimada.

Pedro Nuno Santos avança para o próximo orçamento com mais uma tropelia, mordendo o isco, convicto que só o Chega mais forte lhe assegurará o poder.

Por sua vez, Luís Montenegro e Marcelo Rebelo de Sousa, com processos em curso que lhes dizem directamente respeito, escolhem o novo PGR, Amadeu Guerra, com prazo de validade de 3 meses, sem dar o mais ténue sinal de desconforto.

Por último, as grávidas vão passar a ter de tocar à campainha nas urgências hospitalares.

É a evidência de que vale-tudo – guerras, massacres de civis, ataques aos direitos individuais e subversão das mais elementares regras.

segunda-feira, 23 de setembro de 2024

PORTUGAL: BEM-VINDOS À CONCERTAÇÃO


A condenação judicial do “Cartel da Banca” – destaque para CGD, BCP, BES, BPI, Santander, Montepio e BBVA – ocorreu 12 anos depois do início do processo da Autoridade da Concorrência.

Parece uma multa pesada, mas não passa de uma bagatela.

Se atendermos ao bolo de stock de empréstimos à habitação, que ronda os 100 mil milhões de euros, a multa de 225 milhões ainda tem o bónus de uma amortização média da ordem dos 20 milhões por ano.

A manter-se a decisão da juíza Mariana Gomes Machado, autora do livro "Justiça à portuguesa", já que foram anunciados recursos, é caso para dizer taxativamente que uma espécie de concertação compensa alguns.

É mais um caso, depois de outros tão graves: saúde (grupos Trofa Saúde, Mello, Lusíadas e Luz Saúde), distribuição alimentar (grupos Auchan, Beiersdorf, E. Leclerc, Modelo Continente, Pingo Doce e Unilever) e telecomunicações (MEO, NOS e Vodafone).

Não é possível esquecer o tristíssimo papel da CGD, o banco público, nesta golpada hiper rentável, que só foi possível penalizar após a denúncia do Barclays Bank, um banco inglês a operar em Portugal.

Mais sinistro ainda: a reputação vale cada vez menos, pois se os cidadãos quisessem penalizar a má conduta dos Bancos, obviamente teriam de mudar de país.

A morosidade registada no caso do “Cartel da Banca” é apenas mais um exemplo do caos em que a Justiça vive há décadas, protegendo os infractores mais poderosos.

Importa sublinhar a conclusão: a concertação que rompe a concorrência é tão gravosa como aquela que na política alimenta os interesses instalados.

Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos têm nas mãos a viabilização do orçamento para 2025, pelo que se espera que não seja apenas para servir os interesses dos mesmos DDT de sempre, que continuam à margem da miséria dos portugueses.

segunda-feira, 16 de setembro de 2024

MAL MENOR ABENÇOADO PELO PAPA


O regime democrático elege, as ditaduras não, mas os cidadãos estão confrontados com a fatalidade de continuarem a ter de optar por soluções em que não acreditam.

A abstenção e o voto em branco têm sido resistências falhadas, pois permitem às lideranças políticas, através de meios legítimos e ilegítimos, mais facilmente conquistarem o poder.

É a única equação possível?

O Papa Francisco acha que sim, ao abençoar a escolha do mal menor, de acordo com as últimas declarações sobre os dois candidatos às próximas presidenciais norte-americanas.

A vida não passa por legitimar mais do mesmo – arbítrio, desigualdade, exclusão, fome e guerra –, seja qual for a Fé, a ideologia e o hábito do monge.

A escolha pela positiva, pelo apoio a alternativas ainda que imperfeitas e de risco, é a melhor forma de fazer face a quem tem conduzido a Humanidade ao espectro da aniquilação mútua.

Elon Musk defende o DOGE (Department Of Government Efficiency), enquanto Robert Kennedy Jr pugna pelo “Make America Healthy Again”, o maior ataque de sempre aos impérios das indústrias químicas e de alimentos processados.

São duas formas de evitar o desastre à vista, limitando o poder de quem manda na sombra, com o mérito de combater a apatia generalizada.

É preciso afirmar bem alto que os criminosos – os que levantam as armas e os que toleram a barbárie – nunca podem ser a opção.

A resignação, o silenciamento, a censura e a perseguição nunca podem substituir a palavra livre e o escrutínio democrático, pois matar a cidadania é tão perigoso como todo o arsenal nuclear do planeta.


segunda-feira, 9 de setembro de 2024

VOLTAR A LUTAR PELA LIBERDADE


A manifestação gigantesca pela liberdade de expressão no Brasil, activada pela direita, e o apoio a Kamala Harris, prontamente agradecido, de um criminoso de guerra, Dick Cheney, dão a dimensão da actual vertigem.

A onda de violência de Estado, que perpassa a Alemanha, a França e o Reino Unido, é apenas mais outro degrau da tragédia em curso.

O que resta?

Os cadáveres dos palestinianos, ucranianos e demais povos que tombam às mãos dos senhores da guerra.

Crianças e idosos liquidados a sangue frio jamais serão esquecidos, as de hoje como as das guerras mundiais e demais conflitos hediondos.

Imaginar que é possível perpetuar esta realidade pavorosa, através da proibição das redes sociais, só é admissível a quem já perdeu completamente o juízo.

Quando as democracias não se distinguem das ditaduras, pelos princípios e acções, então o resultado só pode ainda piorar.

Quem são os responsáveis?

Os responsáveis são aqueles que sempre estiveram disponíveis para ganhar uns cobres a fazer negócios com assassinos, em nome de alegados postos de trabalho e solidariedade com os povos oprimidos.

Quem tem as mãos cheias de sangue nunca poderá garantir nada, nem o modo de vida ocidental, nem o Estado de Direito, nem a cidadania, nem o futuro.

Mais um passo em direcção ao abismo: a apatia em relação à escolha da liderança da Procuradoria-Geral da República que deixará marcas profundas.

Já nem a lei da rolha, as palavras redondas e as luvas de pelica conseguem disfarçar quem são, o que são e ao que vêm.

Hoje é preciso voltar a lutar pela liberdade, porque os líderes eleitos em democracia estão a percorrer perigosamente caminhos semelhantes aos dos ditadores.

segunda-feira, 2 de setembro de 2024

GUTERRES SEM MONTENEGRO


O secretário-geral das Nações Unidas já não consegue disfarçar o sentimento de frustração em relação à cada vez mais criminosa, desumana e perigosa (des)ordem mundial.

«Ninguém hoje tem respeito por ninguém e por nada (...) Impunidade quase total».

É o desabafo de António Guterres face à situação internacional, ao genocídio em curso dos palestinianos com a cumplicidade dos Estados Unidos da América e da União Europeia.

Em política, a realidade é sempre muito mais do que parece: só a tacanhez política de Luís Montenegro permite abandonar António Guterres, aliás, uma posição que o estranho mutismo de Pedro Nuno Santos tem agravado.

Ou ainda mais grave: o envolvimento no transporte e fornecimento de armas e explosivos a Israel está em cima da actualidade, apesar das declarações ridiculamente contorcionistas de Paulo Rangel e do silêncio revelador de Nuno Melo.

A política externa do XXIV governo é tão pequenina que Portugal nem sequer honra, acompanha e defende o incansável trabalho de um português que lidera a maior organização internacional do mundo.

O primeiro-ministro, cinco meses após tomar posse, é como um murro no estômago que está a deixar marcas profundas nos portugueses.

Nada mudou, nem mesmo a sonsice política degradante.

O povo bem pode sentir-se tristemente enganado, enquanto Marcelo Rebelo de Sousa já nem se atreve a exercer ou a simular a magistratura de influência.

Só falta mesmo replicar em Portugal o que se está a passar na Alemanha, em França e no Reino Unido, onde grassa a prepotência e a violência sobre quem não cala e manifesta a indignação.

Ou até seguir o fatídico exemplo do Brasil, do presidente Lula da Silva (condenado por corrupção), que encerrou um bastião da liberdade de expressão e de opinião.

Da Venezuela, do ditador Maduro, à Rússia, do sanguinário Putin, hoje como no passado, noutras latitudes e com outros intervenientes, apenas os grandes conglomerados e multinacionais ganham com o caos, a guerra, a miséria e a fome.

A governação à base da força, com a opacidade à custa de acordos secretos com quem deve garantir liberdade, pluralidade e diversidade, não pode ser uma opção, seja qual for a justificação.

A realidade dantesca, com proporções inimagináveis, não desaparece com a perseguição e a diabolização das redes sociais.

segunda-feira, 26 de agosto de 2024

BLOCO CENTRAL NÃO OLHA A MEIOS


É o tempo de todas as derivas.

A terra treme, a liberdade de expressão está à direita, a censura à esquerda, a violência de Estado agudiza-se nos regimes democráticos e nas ditaduras, com a guerra a avançar perigosamente.

Ainda mais extraordinário é que o direito à livre opinião começa a ser atacado às claras, com prisões, detenções e até deliberações fraudulentas por quem tem como missão preservá-la.

O vírus da prepotência viaja a uma velocidade estonteante no ocidente, com os auto-intitulados humanistas, ecologistas e demais patriotas numa competição feroz com as ditadores com quem fazem negócios e mais negociatas.

Da imigração selvagem à guerra assassina e sanguinária, o arbítrio, os mísseis e as bastonadas são as respostas à contestação crescente da cidadania, a reacção desesperada e cobarde de quem já sabe que perdeu autoridade.

Para espanto global, o maior ataque às grandes e poderosas multinacionais dos alimentos ultra processados e dos produtos químicos partiu de Robert F. Kennedy Jr., o democrata norte-americano que caiu nos braços de Donald Trump.

Entretanto, Kamala Harris é cercada por multimilionários tão politicamente correctos quanto coniventes com a actual ordem corrupta, de mãos dadas com as secretas e as indústrias militar e farmacêutica.

O mundo está às avessas.

Portugal banaliza mais um Verão de urgências fechadas e de incêndios, repete ano após ano as mais ultrajantes situações que transformam o dia-a-dia do cidadão num inferno.

Aterrados com o que se passa lá fora, os portugueses sabem que nada mudou após mais de quatro meses da governação liderada por Luís Montenegro.

Mais grave: a percepção geral é de que nada vai mudar a médio ou longo prazo.

A esquerda fandanga e a direita reles, no poder há demasiado tempo, formando o Bloco Central mais perigoso de sempre, estão a dar provas que não olham a meios para tentar abafar os adversários.

Nem que atirem o país para o caos ou para novas eleições antecipadas.



segunda-feira, 19 de agosto de 2024

PAREM DE CHATEAR OS CIDADÃOS


O tempo tudo permite desmascarar e aclarar.

O primeiro-ministro não pode conviver tranquila e sorridentemente com as urgências fechadas, com a crescente insegurança urbana e com os mais excluídos à mercê de uma migalha extraordinária.

Há linhas vermelhas que a cidadania tem de impor ao poder, aos eleitos que servem de fachada para os não-eleitos mandarem na sombra, pois no mundo actual já não há diferença entre a esquerda e a direita.

O embuste na Venezuela está tão maduro quanto a rábula de justificar a imigração descontrolada com razões humanitárias.

Após o achamento de uma roupagem solidária para o negócio mais vil do século XXI – a perpetuação da exploração selvagem de mão-de-obra –, o truque está à vista.

Para estes “corações de ouro”, ao serviço das redes criminosas por acção ou omissão, isto é business as usual.

Da imigração à liberdade de expressão, das alterações climáticas à alimentação, escola, habitação, justiça, saúde e segurança, tudo tem servido para justificar a governação de plástico à custa de abusos, excessos e oportunismos.

Quando o Estado obriga os imigrantes a esperar anos a fio por um documento de legalização, então está apenas a concorrer com as máfias de tráfico de seres humanos.

Quando o Estado ameaça a liberdade de expressão, então está apenas a tentar mascarar os seus crimes.

Quando o Estado obriga os mais pobres a pagar a factura das alterações climáticas, então está apenas a proteger as suas clientelas e elites.

Quando o Estado abandona os cidadãos nas áreas sociais e de soberania, designadamente no SNS e na paz do dia-a-dia, então estamos a caminho de um novo modelo de ditadura.

Para salvar o regime democrático e o modo de vida ocidental é preciso mais do que defender as redes sociais e denunciar a corrupção ao mais alto nível do Estado.

É preciso enfrentar a impunidade de quem governa, das negociatas aos truques modernaços, combater a voragem da indústria militar, que arrebanhou os idiotas úteis do Kremlin e do Hamas, e travar a selvajaria chantagista da indústria farmacêutica.

Pedalem à-vontade, mas parem de chatear os cidadãos.

segunda-feira, 12 de agosto de 2024

DESORDEM GERAL


Os tempos estão cada vez mais perigosos para quem quer manter e impingir o insustentável e o inadmissível.

Basta ver e rever o que se está a passar no Reino Unido, designadamente com Keir Starmer a ameaçar e a mandar prender por delito de opinião.

Não se tratam de epifenómenos, muito pelo contrário, como atestam os aterradores casos de detenção em França e na Alemanha de quem manifesta apoio aos palestinianos.

Não admira que Israel tenha realizado pelo menos 17 ataques a escolas em Gaza no último mês, com mulheres e crianças mortas para exibir à comunidade que não quer ver, escutar e denunciar as atrocidades.

Nem espanta que Nicolás Maduro exiba o carácter repressivo e sanguinário de uma ditadura que tem condenado os venezuelanos à miséria.

Também não surpreende que Vladimir Putin tenha invadido e continue a massacrar os ucranianos.

A nível nacional, os sinais de desvario político de Luís Montenegro também são preocupantes, negando a evidência do falhanço do plano de emergência da Saúde para o Verão.

Esta repetida situação dantesca só é possível com Marcelo Rebelo de Sousa diminuído e acantonado nas malhas do caso das gémeas.

Aliás, por mais visitas cirúrgicas às instituições que o incomodam institucional e pessoalmente – DCIAP (2016 e 2019) e Hospital Santa Maria (2024), – entre outras, a autoridade presidencial sai ainda mais enfraquecida.

Em todos estas situações de desordem geral há um padrão: a violação dos mais elementares direitos individuais.

O arbítrio, a repressão e a propaganda têm sido as respostas aos problemas e anseios dos cidadãos, como se fosse possível abafar a realidade em pleno século XXI.

A violência policial, o apoio aos Media que se deixam controlar e a diabolização das redes sociais são apenas paliativos, para manter uma situação desesperada, condenados ao fracasso.


segunda-feira, 5 de agosto de 2024

MONTENEGRO EM PLANO INCLINADO


É o pior que pode acontecer a Luís Montenegro, 120 dias depois de tomar posse.

Os sinais do regresso do caos ao SNS, com fechos de urgências e maternidades no início de Agosto, não são admissíveis, nem são toleráveis.

Se a situação nos serviços públicos, designadamente nos mais importantes, foi motivo de contestação antes também tem de ser agora, porque pouco ou nada mudou.

Que não haja dúvidas: a desastrada actuação de Ana Paula Martins já faz recordar os fantasmas de Marta Temido e Manuel Pizarro.

Aparentemente, o primeiro-ministro não aprendeu com os erros do anterior governo do PS, como comprova a última greve dos enfermeiros.

Tudo parece estar a regressar ao passado de má memória da governação de António Costa, até mesmo a repetição da soberba para esconder a incompetência, agora até com a ameaça de eleições antecipadas.

Que não haja qualquer ilusão: os cidadãos certamente não vão tolerar uma nova governação arrogante e incapaz de cumprir as promessas eleitorais, mesmo que Marcelo Rebelo de Sousa esteja institucional e politicamente moribundo.

O adiamento do arranque das reformas estruturais e as metáforas infantis – antes a vaca, agora a montanha –, para não falar da política externa pequenina e vergonhosa, comprovam o preocupante desnorte.

O líder do governo que avança para a construção de um dos maiores aeroportos do mundo, ainda que só no papel, não tem desculpa para regatear tostões para os cuidados de saúde, a educação, a justiça, a segurança e os mais idosos e desvalidos.

Montenegro em plano inclinado não serve, mas pior ainda seria voltar à ilusão, aos truques, aos anúncios pomposos para esconder a miséria e à obsessão de controlar o jogo esquecendo o essencial: o dia-a-dia dos portugueses.

É preciso falar verdade, ter a humildade política de assumir as consequências de ter prometido mais do que se pode cumprir e de não cair na tentação de abraçar o Bloco Central, o mais perigoso de sempre, para fugir às responsabilidades.

Num regime democrático há sempre alternativas, há sempre a possibilidade de mudar se a transformação prometida não tiver passado de mais uma fraude política para ganhar o poder.


segunda-feira, 29 de julho de 2024

WATERGATE EM PORTUGAL



Após a “reeleição” de Maduro é útil recordar que os dois mandatos de Marcelo Rebelo de Sousa têm sido pautados por escândalos públicos (institucionais, políticos e pessoais) como nenhum antes anteriormente dos seus seis antecessores.

Interferência institucional abusiva, a reinterpretação constitucional à la carte e agora a suspeita generalizada de favorecimento fazem parte de um rol de atropelos.

Do servilismo a Angola (Manuel Vicente), ao roubo em Tancos, duas humilhações públicas respectivamente de magistrados e de militares, está instalada a percepção que a actuação presidencial roça a arbitrariedade.

Mais grave ainda: no caso do Hospital Santa Maria tudo se tem passado à vista de todos, na CPI das gémeas, fora das negociatas de bastidores.

Ainda assim, por razões de guerrilha partidária tudo tem sido mais ou menos contido por aqueles que lutam pela sobrevivência de favor.

Na audição de Maria João Ruela, assessora de Belém, todos os limites foram ultrapassados.

«O mail está aqui!», garantiu, para corrigir no minuto a seguir, depois de um extraordinário ofício-relâmpago de Belém: «É porque não existe, porque entretanto foi apagado, em cinco anos».

Face às contradições, a imprensa desvaloriza, não investiga, qual atitude de Estado, confortada por aqueles que as rotulam como coincidências, intendências ou questões administrativas sem importância.

Afinal, qualquer comissão parlamentar de inquérito é ameaça ao bafiento status quo que tem levado os Media à pré-falência financeira, fruto do distanciamento dos cidadãos e de menos leitores, ouvintes e telespectadores.

O “Watergate” seria possível em Portugal?

Dificilmente, com esta imprensa domesticada, salvo honrosas excepções, pois não faltaria quem garantisse a priori que o assalto era culpa dos vigilantes ou por(ventura) da obra do diabo.

segunda-feira, 22 de julho de 2024

MUNDO À BEIRA DO IRREVERSÍVEL

 

A disputa eleitoral nos Estados Unidos da América está a fazer luz sobre o maior paradoxo dos nossos tempos.

Além da argumentação dos fanáticos importa distinguir entre a realidade e a propaganda: o próximo presidente da maior super-potência vai continuar a implementar a agenda do “New American Century”?

A questão é da maior pertinência, pois a esquerda norte-americana (Clinton, Obama e Biden) tem executado acefalamente o projecto de liderança mundial dos “neocon”, delineado a partir de 1997, pelos herdeiros de George H. Bush.

A afirmação do Papa Francisco – «A palavra negociar é uma palavra corajosa» –, proferida em Fevereiro passado, não conseguiu romper as certezas e os fundamentalismos.

Não é preciso recordar a entrevista de Jeffrey Sachs para constatar o que os Media e o mainstream têm desvalorizado e até omitido.

A visão do economista, que conduziu a abertura económica de alguns países de Leste, após o fim da URSS, ignora a soberania, o povo e os ditadores sanguinários, mas questiona a paz no mundo à luz dos expansionismos e da força das secretas.

Se nada justifica qualquer branqueamento de Vladimir Putin, então chegou a hora de também admitir que este é o mundo à beira do irreversível, da adesão da Ucrânia à NATO e da III guerra mundial.

Compreende-se melhor a tirada de Donald Trump sobre acabar com a invasão da Ucrânia em 24 horas, se atentarmos à neutralidade do país liderado por Zelensky.

Joe Biden nunca foi a solução, como comprova o double standard em relação ao genocídio em Gaza.

Esta esquerda do século XXI não é confiável, nem cá nem nos states, porque o dogmatismo ideológico associado ao pragmatismo oportunista é tão ou mais incerto que um qualquer aventureiro no poder.

Enquanto a Europa afunda na irrelevância, Donald Trump ou Kamala Harris têm de enfrentar o pesadelo das armas.

segunda-feira, 15 de julho de 2024

FIGHT! FIGHT! FIGHT!


Num mundo em que se mata e manda matar impunemente, às ordens dos Estados ou de um qualquer radicalismo doentio, o atentado contra Donald Trump corre o risco de ser apenas mais uma notícia condenada ao esquecimento.

Tratando-se de um lamentável e isolado acto selvático, ou de uma conspiração, a verdade sobre o que aconteceu na Pensilvânia está longe de poder ser garantida.

Os cidadãos estão cada vez mais vulneráveis em relação à loucura de quem manda, democraticamente ou não.

O noticiário diário da selvajaria tolerada, seja na Ucrânia, Gaza ou noutras latitudes, revela até que ponto a violência feroz e gratuita nos está a atingir.

Para já, apenas uma única certeza: a grosseria do erro dos serviços de informações norte-americanos, voluntária ou involuntária, está à vista.

Esta conjugação de factores deveria levar a uma séria reflexão sobre as condições que estão na origem de tanta aventura imperialista e expansionista, de tanta fúria social, de tanto extremismo no discurso e combate político.

Certamente, pouco ou nada vai mudar na ordem internacional, nas condições de vida dos indivíduos e na lei da selva que impera entre governantes e políticos, mantendo-se a impunidade dos mais fortes.

A tentativa de assassinato de Donald Trump não difere muito dos atentados planeados para Alexei Navalny ou Julian Assange, entre outros, porque os serviços de informações continuarão a ser à prova de qualquer escrutínio, um poder acima do Estado.

Depois do folclore habitual, de teorias e mais teorias, da condenação das redes sociais, de votos pios e apelos à moderação da parte dos incendiários, de um lado e do outro, resta a memória do grito: Fight! Fight! Fight!

segunda-feira, 8 de julho de 2024

PODER POLÍTICO SEM SOLUÇÕES


A derrota estrondosa de Marine Le Pen não pode desvalorizar a duplicação de mandatos, o que explica que tenha afirmado que a «maré está a subir».

Qual ingenuidade, para escapar a um extremo dá-se a vitória ao outro extremo, à esquerda, com Jean-Luc Mélenchon a puxar pelos galões da representatividade.

Não há qualquer dúvida: os últimos 20 anos foram um tempo perdido.

Voltámos ao início do século, em que o princípio do suposto mal-menor continua a baralhar os cidadãos – António Guterres/ Durão Barroso, Santana Lopes/ José Sócrates, António Costa/ Rui Rio ou Luís Montenegro/ Pedro Nuno Santos.

O voto já não é por razão, convicção e futuro, mas uma mera reacção às alternativas artificiais e de circunstância em cima da mesa.

Será esta a solução democrática do século XXI?

Do mal, o menos, assim vai a vida nas democracias ocidentais, afundadas na falta de racionalidade, na geometria variável, na exclusão social crescente e na exploração da imigração ao nível dos tempos das cavernas.

Eis a forma de perpetuar o poder que vive na sombra, porque lhe permite manter a força, os interesses e os objectivos, sejam quais forem os vencedores e os vencidos.

O paradoxo está à vista, sem um vislumbre de estadistas.

Menos mau, as ditaduras são ainda piores.

À mercê das grandes corporações, os líderes políticos obedecem, ajoelhando, limitando-se servilmente a garantir mais e mais mecanismos de controlo dos cidadãos.

O status quo, cada vez mais precário, fomenta o impasse, cujo expoente é a onda brutal de guerra e mais guerra.

O pragmatismo, a globalização selvagem e a corrupção continuam a ser a tripla do poder político sem soluções para sociedades que se contentam com a miragem da liberdade, igualdade e fraternidade.

segunda-feira, 1 de julho de 2024

CAVACO SILVA: NINGUÉM O CALA

 

Os resultados das eleições francesas comprovam que a liberdade, a justiça social e a política de imigração são muito mais do que slogans estafados, nalguns casos de um cinismo político ultrajante.

A direita mais à direita está a conquistar o que resta da velha Europa, país a país, por mais que se grite aos sete ventos que o cataclismo está ao virar da esquina.

O que se segue?

O rasgar das vestes, mas sempre a afagar a mesma política velha, deixando os mais desvalidos na pobreza envergonhada ou nas ruas.

O folclore institucional é repetido, falhanço após falhanço dos "estadistas", dos "moderados", daqueles que andam há décadas a mentir descaradamente, e agora apontam o dedo a quem está à beira do poder.

Sempre com a propagada dos papões e os perigos na boca, com ou sem uma "grande união", certamente doce, são os que mais parecem palhaços acossados ainda a mandar.

As pessoas estão fartas, querem soluções, não querem mais acordos secretos, mais palavras de ordem e promessas vãs, mais planos para consumo do jornalismo cada vez mais falido.

A bola e a selecção lá servem para desviarem as atenções e animarem as hostes, rivalizando com a triste rábula de António Costa no Conselho Europeu, uma "proeza" que os líderes europeus lá deixaram passar.

Fica a vergonha alheia de quem assiste a mais este "milagre" tolerado por um poder instalado na União Europeia que engorda ao ritmo da crescente crise e descredibilização.

Tudo pela Ucrânia, faz-de-conta que a Palestina não existe.

Acudam, o populismo radical venceu em França – gritam os hipócritas do costume instalados à mesa do poder.

Passados 90 dias da tomada de posse de Luís Montenegro cresce a percepção que nada vai mudar, nem mesmo no caos que reina nos serviços públicos, antecipando a confirmação de um crescimento anémico e mais uma crise.

Se importa olhar lá para fora, porque há quem não enxergue o cancro instalado em Belém, mais importa ainda sublinhar que Aníbal Cavaco Silva percebeu atempadamente que é fundamental não deixar morrer a esperança.

Ninguém o cala.

segunda-feira, 24 de junho de 2024

CASO SANTA MARIA: DE APAGÃO EM APAGÃO



O caso do Hospital Santa Maria é muito mais do que duas crianças gémeas que precisaram de ser tratadas.

A audição parlamentar de Daniela Martins incomodou sobretudo aqueles que convivem harmoniosamente com a ficção imposta pelo poder político e mediático.

É a realidade dantesca, é a teia de influências silenciosa e subterrânea que tem minado o país.

É a evidência que corrobora o abuso e a prevaricação, tanto mais que nenhum dos intervenientes admite que se conhece.

Ora, se tivesse sido apenas um simples acto humanitário, desinteressado e legal, o normal era que todos tivessem falado com todos, e que o admitissem.

Sandra Felgueiras percebeu, desde o início, a farsa alimentada pela presidencial cautela de plástico.

Não falta, posteriormente, quem o tenha denunciado, inclusivamente no sítio certo, como a juíza Gabriela Assunção, afirmando que os comportamentos de Marcelo Rebelo de Sousa não foram neutros.

Através da procuradora Helena Almeida – a mesma que arquivou o “apagão fiscal” denunciado por Fernando Rocha Andrade –, Marcelo Rebelo de Sousa escapou, por ora, a uma investigação criminal.

Ironia das ironias: na semana em que choveram acusações sobre Lucília Gago nem uma única crítica sobre esta decisão do Ministério Público relativamente ao caso do Hospital Santa Maria.

A calamidade é de tal monta que é José Sócrates que vem a terreiro falar de miséria moral, para classificar o tratamento concedido às violações do segredo de justiça em relação às operações Marquês e Influencer.

Com se todo este desnorte não fora suficiente, as urgências hospitalares continuam a fechar.

Luís Montenegro, pela mão de Rita Júdice, ministra da Justiça, anunciou mais um plano anti-corrupção virtual.

Nem as promessas eleitorais contam, o que importa é anunciar mais um plano.

No poder ninguém cora de vergonha, quais faladores, fazedores e estadistas de pacotilha, mais ou menos 60 dias depois, de apagão em apagão, sempre com Bruxelas à vista.



segunda-feira, 17 de junho de 2024

ANTÓNIO COSTA MERECE MAIS


O ambiente não deixa dúvidas: a corrupção está instalada, e continua a minar o país e as gerações futuras.

Ana Paula Rosa, juíza que presidiu ao colectivo que condenou Manuel Pinho e Ricardo Salgado, no caso EDP, não teve qualquer pudor em falar de «corrupção desenfreada».

Neste cenário, não surpreendeu a notícia de troca de favores, contratos e dinheiro que envolveram Domingos Andrade, jornalista, e Eduardo Vítor Rodrigues, autarca socialista de Gaia.

Nem as relações entre informação, política e negócios escapam, e a procissão ainda não saiu do adro.

É neste quadro que o Bloco Central avançou, a todo o hidrogénio, com a campanha para a escolha de António Costa para a liderança do Conselho Europeu.

Nem o facto de o ex-primeiro-ministro ter apresentado a demissão, imediatamente, por suspeita de prevaricação, parece atrapalhar, cá dentro, companheiros e adversários políticos.

O mais extraordinário, a par das múltiplas profissões de fé, é não haver uma única palavra sobre a eventual violação do segredo de justiça.

Nada, é como se a Justiça estivesse ao serviço, como se o Ministério Público não existisse, aliás até já é alarve e politicamente abonado que a questão está arrumada.

É como se os procuradores João Paulo Centeno, Hugo Neto e Ricardo Correia Lamas (DCIAP) e José Duarte Silva (STJ), entre outros, já tivessem passado à condição de capachos dos políticos.

Não vai ser preciso muito tempo para saber se Lucília Gago se colocou ao serviço de alguns partidos políticos e do Estado ou se cumpre, até ao fim do mandato, a tutela do princípio da legalidade.

António Costa merece mais, não pode ficar associado ao tratamento especial da Justiça, à celeridade que não está ao alcance dos seus concidadãos ou à capitulação da Procuradoria-Geral da República.


segunda-feira, 10 de junho de 2024

GENTE NOVA QUE FAZ POLÍTICA VELHA



O PS conseguiu vencer a nova aliança de direita que lidera o país, mesmo com rostos que saíram do anterior governo por indecente e má figura.

A Iniciativa Liberal é o segundo grande vencedor, por força da mobilização da irreverência, reconhecida por todos, emprestada por uma equipa que faz verdadeiramente jus a ser jovem.

João Cotrim Figueiredo ganhou dois eurodeputados, mesmo num país em que a maioria continua a acreditar que o Estado é o Pai Natal.

A aposta da AD na juventude, que serviu de mote para um enlatado à pressa para cabeça-de-lista, uma parada de casino, não chegou para evitar a derrota por pouco, politicamente tão significativa como o voto das legislativas.

O resultado eleitoral permitiu ainda descortinar um cartão amarelo ao Chega, proporcionando-lhe o primeiro grande tombo, quiçá a factura da caminhada de André Ventura ao lado de Pedro Nuno Santos no Parlamento.

Entre os outros derrotados, o Bloco de Esquerda e o PCP conseguiram escapar à humilhação política, elegendo um eurodeputado cada, muito por força da experiência de Catarina Martins e João Oliveira.

Quanto ao Livre, o falhanço pesa.

Passados mais de 60 dias do Executivo em funções ficou claro que os portugueses ainda confiam no PS para gerir os interesses do Bloco Central.

Por sua vez, Luís Montenegro ficou a saber que é preciso muito mais do que um novo rosto e uns toques ali e acolá, tanto em Portugal como para a Europa.

Feitas as contas, internamente, a mensagem é cristalina: não chega gente nova que faz política velha.

Em suma, em termos do novo Parlamento Europeu: as tradicionais famílias políticas (centro-direita e socialistas) garantiram as rédeas do poder, com Verdes e Liberais em perda, mas a alternativa da extrema-direita deu um novo passo em frente.



segunda-feira, 3 de junho de 2024

IMIGRANTES ABANDONADOS


Em cinco décadas, os imigrantes em França passaram de 6,5% (1968) para 10%.

São mais de 50 anos de debates marcados pela bandeira das liberdades, enquanto o crescimento dos “bidonvilles” e a insegurança associada à imigração faziam caminho.

O paradigma liderado pelo PS francês só foi alterado em 2023, com uma lei restritiva aprovada com o apoio do bloco de Emmanuel Macron, do principal partido de direita “Les Républicains” e da extrema-direita do “Rassemblement National”.

Os exemplos de Portugal e França não são únicos, mas traduzem o mesmo padrão: o laxismo de uma certa esquerda, conivente com a exploração e a degradação das condições de vida dos imigrantes, enquanto enche a boca com os direitos humanos.

As terríveis experiências dos emigrantes portugueses não nos serviram de lição, nem evitaram a repetição dos mesmos erros dantescos de outros países de uma Europa cada vez mais velha, corrupta e cínica.

Fazer face ao envelhecimento e satisfazer a gula desenfreada por mão-de-obra barata justificaram os populismos internos descaradamente desumanos, aliás só possíveis com a crise da imprensa e Marcelo Rebelo de Sousa em Belém.

Na véspera de eleições europeias, o debate sobre a imigração está instalado, com o número de imigrantes a atingir o patamar dos dois dígitos em Portugal, no quadro do crescimento da extrema-direita.

As centenas de milhares de imigrantes sem resposta da AIMA são apenas a ponta do iceberg de um problema gigantesco, em que se destacam a escravatura laboral e os sem-abrigo.

A legislação do governo liderado por Luís Montenegro, designadamente a imposição de um visto de trabalho para os novos imigrantes, é a primeira tentativa de travar a permissividade politicamente criminosa que deixou os imigrantes abandonados.

A actual irrelevância política do PS francês é um sério aviso ao PS português e demais esquerda portuguesa.


segunda-feira, 27 de maio de 2024

JUSTIÇA DESAFIADA


O resultado eleitoral na Madeira é claro: o povo deu mais uma vitória a Miguel Albuquerque, mesmo depois de saber, há quatro meses, que o presidente do governo regional foi constituído arguido num caso de corrupção.

Num raciocínio pragmático, das duas, uma: ou o povo da Madeira está a borrifar-se para a corrupção ou então não leva a sério a investigação do Ministério Público.

A campanha em curso contra os magistrados liderados por Lucília Gago, mais uma vez levada a cabo por seguidores de um ex-primeiro-ministro socialista a contas com a Justiça, volta a dar frutos.

De facto, a credibilidade de quem tutela o princípio da legalidade está colocada em crise na praça pública, logo fortemente abalada.

Vale a pena recordar o que está a montante desta realidade deveras preocupante.

A lentidão da Justiça, o arrastamento das investigações e até algumas prescrições escandalosas são percepcionadas pela opinião pública como sendo da responsabilidade dos magistrados e dos órgãos de polícia criminal.

Mesmo que não seja inteiramente verdade – e não é! –, este é o preço que resulta dos agentes judiciários continuarem a pactuar, tranquilamente, com uma Justiça para os ricos e outra para os pobres.

Também é facto que esperar 1, 2, 5, 10 e até 50 anos por uma decisão judicial não perturba, aparentemente, os investigadores criminais, os procuradores e os juízes, tal é a apatia e o silêncio ensurdecedores.

Nem o exemplo dos enfermeiros, médicos, professores e polícias, que levantaram a voz para denunciar respectivamente o caos na saúde, na educação e na segurança, serviram de exemplo.

Nem mesmo, pasme-se, a justa luta dos oficiais de justiça parece ter servido de inspiração.

Chegou a hora da verdade para esta Justiça desafiada.

Ou os agentes da justiça acordam, denunciando a falta de meios e a profusão legislativa, assumindo a luta contra a justiça gritantemente injusta, ou outros, com mais movimento, acerto de contas ou farsa política, encarregar-se-ão de os condenar no pelourinho.

A situação tornou-se insustentável, acabou o tempo do deixar andar, do faz-de-conta.

Já não há espaço para mais tiques arrogantes.

A falta de transparência, a comunicação codificada ou inepta e as atitudes descoladas da realidade não têm mais cabimento.

segunda-feira, 20 de maio de 2024

O CAMINHO PERIGOSO DO PS


A família socialista vive um dos períodos de maior indefinição e risco da sua história de mais de cinco décadas.

Com José Sócrates e António Costa, as duas maiorias absolutas foram suficientes para uma transfiguração com consequências ainda por descortinar na sua totalidade.

O primeiro pecado adveio dos dois últimos líderes do PS terem caído nas malhas da Justiça.

Sem prejuízo da presunção de inocência, o facto é que traduzem uma espécie de apoteose do falhanço das respectivas políticas de combate à corrupção.

O segundo pecado traduziu-se no enfraquecimento de alguns dos princípios de um dos partidos fundadores do regime democrático, designadamente a bandeira da sensibilidade social.

No aperto financeiro, o congelamento das pensões (2011) deu o mote para o truque de 2022 que determinou que a base das pensões tenha descido em 2024, dando origem a uma perda dos pensionistas a longo prazo.

De igual modo, a política orçamental dos dois últimos Executivos socialistas, com cativações recordes, deixou os cidadãos à mercê do caos nos serviços públicos, designadamente na saúde, educação e justiça, entre outros.

Apesar da estratégia assistencialista, os indicadores são claros: mais de um terço das famílias portuguesas não tem como pagar despesas inesperadas, no quadro de uma realidade de 4,4 milhões de cidadãos em risco de pobreza.

O crescimento dos sem-abrigo, os imigrantes em condições deploráveis, a vulnerabilidade dos mais idosos e a fuga dos mais jovens traçam o actual cenário dantesco, indigno de quem sempre se arvorou como defensor dos mais pobres.

O terceiro pecado é ainda mais surpreendente: a censura.

O último incidente no Parlamento deixou a nu mais uma grosseira tentativa de condicionamento da liberdade de expressão, uma aventura em crescimento, à boleia do pretenso combate à extrema-direita, nos últimos 8 anos.

Com a liderança de Pedro Nuno Santos, a estratégia do medo, digna do populismo mais bafiento, ganhou um novo impulso.

Nas duas últimas décadas, o Partido Socialista enveredou por um caminho perigoso, desde logo colocando em crise a herança política deixada por Mário Soares.

segunda-feira, 13 de maio de 2024

O CHARCO E A GUERRA


A corrupção tem servido como lubrificante para intensificar a máquina da globalização – Estados nacionais, empresas, ONG’s, organismos supranacionais e mercado financeiro.

As duas guerras em curso, russa na Ucrânia e israelita em Gaza/Rafah, estão a comprová-lo a cada dia que passa.

A sobrevivência da economia e das finanças russas, apesar das sanções dos Estados Unidos da América e da União Europeia, incluindo o afastamento do sistema “SWIFT" desde Junho de 2022, não deixa dúvidas.

No caso de Israel, o isolamento diplomático também não compromete o que quer que seja, nem o dedo no gatilho.

Com sistemas financeiros alternativos, como por exemplo o russo “SFPS” (System for the Transfer of Financial Messages), e o chinês “CIPS” (Cross-Border Inter-Banking Payment System), o modelo de globalização ocidental continua a rolar as usual.

Nada, nem as ligações do Deutsche Bank a Putin bastaram para quebrar o ciclo vicioso, em que os Estados, a banca internacional, as grandes multinacionais, as máfias e os terroristas convivem e partilham os lucros nos bastidores.

A globalização de mais humanidade e justiça rapidamente se transformou num charco de democracias, ditaduras, assassinos e demais tubarões de todas as raças, credos e cores, em que democratas-cristãos, liberais, social-democratas e socialistas se confundem.

O resultado esta à vista: mais guerra, mais fome, mais e mais milhares de mortos e mais destruição impunes, realidades que não afectaram a equação milagreira do século XXI.

Nem o medo, nem o crescente risco de confrontação nuclear, nem mesmo o espectáculo degradante que resulta das migrações descontroladas são suficientes para a travar a globalização selvagem.

Longe vão os tempos da ingenuidade do movimento que ganhou expressão nos anos 80 do século passado, em que se destacaram Ngozi Okonjo-Iweala (entusiasta) e Milton Santos (céptico).

Na miríade global, em que parte da população mundial ficou à margem, a maioria dos cidadãos dos países ricos continuam inebriados com o consumismo, indiferentes à desigualdade e agora até complacentes com as matanças ao vivo e em directo.

segunda-feira, 6 de maio de 2024

POLÍCIA BOM E POLÍCIA MAU NA JUSTIÇA


O Manifesto da Justiça, divulgado no passado dia 3 de Maio, depois de uma análise mais fina, corre o risco de poder ser classificado como um enorme embuste político.

Intitulado "Por uma reforma da Justiça - Em defesa do Estado de Direito Democrático", de registar, entre os signatários, que 28% são do Partido Socialista, dos quais 75% foram membros de governos da República.

Mais curioso do que a admissão de incompetência é que entre estes até marca presença um ex-ministro da Justiça socialista, porventura um dos piores de sempre.

Não admira, portanto, que o manifesto tenha sido colado à defesa de governantes e ex-governantes  a contas com a Justiça, mas o certo é que António Costa, Miguel Albuquerque e José Sócrates não fazem parte da lista de signatários.

As críticas são tão assertivas quanto velhas: morosidade, violação do segredo de justiça, abusos, escutas, buscas, prisão preventiva, etc.

Sobre a falta de meios e a autonomia financeira nem uma única palavra, pois o mais importante parece ser o apelar a uma intervenção legislativa para melhor capsular a autonomia do Ministério Público.

O documento não deixa quaisquer dúvidas ao que vem, quando sustenta termos atingido o «penoso limite de ver a acção do Ministério Público gerar a queda de duas maiorias parlamentares resultantes de eleições recentes».

E mais, pasme-se: «O Ministério Público nem sequer se dignou informá-lo [António Costa] sobre o objeto do inquérito nem o convocou para qualquer diligência processual».

Além de comparar o incomparável, e ainda a falsidade formal, já que os magistrados não derrubam governos, uma curiosa olímpica cautela: nem uma palavra explícita sobre a polémica pública das operações serem levadas a cabo pela Autoridade Tributária, PJ e PSP.

Afirmações tão pouco fundamentadas contrastam com a atitude de quem, a contas com as magistraturas, já manifestou a determinação em se defender em sede própria, deixando a nu um mero jogo de polícia bom e polícia mau.

A cereja em cima do cinismo político surge na primeira alínea daquilo que os signatários entendem como prioritário: «Garantir uma efectiva separação entre o poder político e a justiça».

Face a este arrazoado avulso não admira uma proeza de monta: conseguir juntar Daniel Oliveira a Daniel Proença de Carvalho, entre outros.

segunda-feira, 29 de abril de 2024

PORTUGAL NA ROLETA


A governação, a política e a economia entraram numa imprevisível dinâmica a curto prazo.

Quase um mês após a tomada de posse do XXIV governo, os líderes partidários já concentram as atenções nas europeias do próximo dia 9 de Junho, quase indiferentes à marcha das guerras.

Os candidatos são apresentados, com o risco e a renovação a serem exibidos como as novas bandeiras.

Pouco importa o passado profissional, a credibilidade ou a substância, é a consagração do enlatado, das portas giratórias, das “barrigas de aluguer” e de todas as promiscuidades.

Em síntese, todos, todos, todos com os olhos postos nas legislativas antecipadas.

Na vertigem da fabricação instantânea, para melhor iludir, o cortejo da desigualdade faz descaradamente o seu caminho, com a elite do poder a clamar por justiça para os arguidos, indiciados e suspeitos VIP.

Para os cidadãos restam 1, 2, 5, 10, 20 e até 50 anos (investigação da revista Sábado) à espera da justiça que resta.

A solução imediata é abrir mais um braço-de-ferro, desde logo pressionando desaforadamente a procuradora-geral da República a dar explicações no Parlamento.

No meio da magia das soluções à la carte, Marcelo Rebelo de Sousa ostenta a sua pesporrência verbal, reabrindo uma ferida para a qual o remédio milagroso é pagar, pagar ainda que não haja recursos para o fazer. 

Risco ou alto risco, é Portugal na roleta, estrela ou marioneta, urbano ou rural, verde, preto ou vermelho, sem que se saiba qual vai ser o artista, a cor ou o número vencedores.

É o Bloco Central de todos os interesses a exibir o seu poder e influência, com os croupiers e “maleiros” a rematarem nos bastidores a distribuição ao jeito mafioso.

Num clima de casino, de entusiasmada jogatana desenfreada, de quem na sombra manda, porque tem as fichas na mão, e depois do funeral da previsibilidade, a estabilidade está ligada às máquinas.

segunda-feira, 22 de abril de 2024

FASCISMO NO SÉCULO XXI


No tempo da comemoração do 25 de Abril de 1974 importa revisitar o passado, escrutinar o presente e prevenir o futuro.

O fascismo no século XXI já não é a PIDE, a guerra do ultramar, a tortura, o analfabetismo, mas sim a infâmia de se morrer por falta de cuidados de saúde à porta de uma urgência hospitalar.

O fascismo, actualmente, é a imagem dos sem-abrigo, com que convivemos indignamente.

O fascismo, ontem como presentemente, é pactuar com a falta de habitação, com o favorecimento e a omissão, e até com crianças sem professores, aceitando que os pobres estão condenados a serem pobres.

O regime de má memória, que condenou o país à miséria, pode ter acabado há cinquenta anos, mas vivemos numa realidade em que 41,8% da população residente em Portugal estava em risco de pobreza em 2022.

O Portugal do triste passado não pode continuar a ser o modelo do nosso presente e futuro, em que os grandes projectos apenas servem para tentar alimentar as clientelas e melhor disfarçar os atrasos.

À formalidade do Estado de Direito do antigamente não se pode tolerar uma versão modernaça, em que apenas se leva a sério o caos e a injustiça reinante quando um ou dois ex-primeiros-ministros estão a contas com os tribunais.

A crítica da actualidade não equivale à glorificação do passado, tal e qual como o papaguear dos seus fantasmas não tem evitado, nem nunca apagará, a ignomínia do presente, em que nem falta o corta-fitas com repentes de autoridade institucional.

A liberdade é poder sair de casa sem medo da polícia e dos criminosos, seja qual for a raça, o credo e a cor, sem medo de exprimir uma opinião e a diferença.

A defesa dos valores universais não pode continuar a ser a farsa de apoiar justamente os ucranianos para depois melhor silenciar o arbitrário genocídio do povo palestiniano às mãos dos militares israelitas.

O fascismo não parou no tempo, ganhou outras formas e contornos que importa nunca desvalorizar, ou ainda poder alguma vez esquecer, por mais ou menos populismo e folclore.

Em suma, o regime político-constitucional que continua a fazer de conta que combate a corrupção nunca poderá ser a Democracia por que lutámos e continuamos a sonhar.

segunda-feira, 15 de abril de 2024

ESTADO DE RISADA MOMENTÂNEO


Com bom tempo, mas contra ventos e marés, e até os ressabiados pela derrota a 10 de Março, Luís Montenegro superou a prova parlamentar da apresentação do programa do XXIV governo constitucional.

Obviamente, e apesar de toda a verborreia parlamentar, André Ventura e Pedro Nuno Santos não permitiram que as moções de rejeição colocassem em risco a estabilidade.

Nem mesmo as buscas da PJ à Câmara de Cascais, esperadas há muito tempo, fizeram vacilar, por ora, o governo em plenas funções.

Com o Executivo a realizar lestamente as medidas prometidas, como as negociações com os profissionais abandonados por António Costa, bem como a conta corrente do Fisco com as empresas, a normalidade regressou.

Dito isto, com o estado de graça firme, importa sublinhar o estado de risada momentâneo.

Subitamente, Pedro Nuno Santos, e os seus pares à esquerda, descobriram que tinham sido enganados em relação à descida em sede de IRS.

Sejamos claros: se o PS o tivesse denunciado, em campanha eleitoral, não poderia ter agitado o papão do “choque fiscal”, amplamente propalado pelos arrependidos de última hora; aliás, já bastava o embaraço da redução orçamentada para 2024 ficar aquém da AD2024.

Nem mesmo a muito tímida mãozinha da Iniciativa Liberal foi suficiente.

Ingenuidade, má-fé, incompetência, infantilidade?

Já é tempo de o combate político ser sério, de forma adulta, transparente, pois o estado da arte não está para mais oportunismos, muito menos para enganados a posteriori.

Liderada pelo Chega, com o PS a ter dias – ora sim, ora talvez, ora não –, a oposição parlamentar já começou a perceber que está por um fio a golpada instrumental de “facilitar” um eventual orçamento rectificativo.

Facto: quem quiser derrubar o governo vai ter que dar a cara, avançar argumentos credíveis, às claras, sem desfaçatez, truques e embustes, desde logo no momento da apresentação do orçamento para 2025, ou nos anos seguintes.

Até lá, que tal um Alka-Seltzer?


segunda-feira, 8 de abril de 2024

JUSTIÇA PARA POBRES, RICOS E ÓRGÃOS DE SOBERANIA


Já não há dúvida: as gémeas luso-brasileiras tiveram acesso irregular ao tratamento com Zolgensma no SNS (Serviço Nacional de Saúde), de acordo com as conclusões do relatório da IGAS (Inspecção-Geral das Actividades em Saúde).

Agora, a confirmação, que já está nas mãos do Ministério Público, pende sobre os ombros de Marcelo Rebelo de Sousa, entre outros envolvidos.

As implicações são de monta, desde logo na credibilidade das instituições.

Mas há mais: o presidente está em condições de exercer o seu mandato até 2026?

Desde já é preciso vincar uma enorme diferença: António Costa, ao mínimo sinal de suspeita, apresentou a demissão; Marcelo Rebelo de Sousa continua colado à função.

A questão merece a maior atenção, à luz da nomeação, no próximo mês de Outubro, do sucessor ou da sucessora de Lucília Gago.

Neste quadro será que é admissível que o presidente influencie e condicione a escolha do procurador-geral da República que pode, eventualmente, determinar uma futura investigação ao cidadão, depois de sair de Belém?

A resposta é por demais evidente, a não ser que, além de existir uma justiça para pobres e outra para ricos, a partir de agora passe a haver ainda mais uma para os órgãos de soberania.

A desfaçatez política de quem pede celeridade para o processo judicial que resultou da Operação Influencer está ao nível do silêncio politicamente cobarde em relação à (já tardia) renúncia de Marcelo Rebelo de Sousa.

Rui Rio é, até agora, a digna e frontal excepção: «A culpa não pode morrer solteira … doa a quem doer?».

segunda-feira, 1 de abril de 2024

AMEAÇA DO BLOCO CENTRAL


Se o estado de graça está garantido, a verdade é que Luís Montenegro teve um mau começo, apenas disfarçado pela formação a tempo e horas, sem sobressaltos públicos, do XXIV governo constitucional.

Está feita a escolha dos 17 magníficos – não confundir com os samurais nem com o filme de Antoine Fuqua –, com surpresas e algum arrojo, com desilusões e algumas concessões.

A influência transversal de quem não está, mas é como se lá estivesse, foi o que mais surpreendeu, desde logo colocando em risco a coesão entre o primeiro-ministro e a restante equipa.

Se é verdade que o Executivo foi constituído sem negociação com André Ventura, não é menos verdade que já é perceptível a ameaça do Bloco Central em relação ao PRR.

As primeiras impressões não foram positivas, pelo que é preciso arrepiar caminho e retomar iniciativa política: tem de haver resultados na saúde nos próximos dois meses.

Nas outras quatro áreas cruciais, mais do que conhecidas, também são aguardados frutos.

As cascas de banana deixadas por António Costa e pelo seu dream team, entre as quais se destacam o excedente orçamental e as medidas de última hora, merecem resposta com sagacidade política.

Todavia, o que mais importa é a demonstração de capacidade negocial, de forma diligente e consequente, com transparência e à luz do dia.

Manter uma posição imperial, à espera de ser derrubado, seria politicamente fatal.

A receita é simples: respeitar o resultado do voto dos eleitores e melhorar o dia-a-dia dos portugueses.

A tarefa é de monta, com pouca margem para ingenuidades e erros, sobretudo como aqueles infantilmente cometidos na atribulada eleição do presidente da Assembleia da República.

O tempo de mais mentiras e ilusões está esgotado.

segunda-feira, 25 de março de 2024

UM DESPERDÍCIO, UM TEMPO NOVO


O presidente russo vai responder ao atentado de Moscovo como George W. Bush (Nova Iorque, 11 de Novembro de 2001) e Benjamin Netanyahu (Sderot, 7 de Outubro de 2023), sem lei, ainda com mais barbárie e armas?

O ambiente internacional empresta um tom sombrio aos 8 anos negros da dupla Costa e Marcelo, uma coabitação marcada até ao final pela indiferença em relação aos cidadãos, cinismo político e folclore.

Enquanto a Europa hesita no seu caminho, estes dois exemplos, um internacional e outro nacional, servem para ilustrar como líderes politicamente medíocres acabam por colocar em risco as respectivas populações.

Cá como lá, a solução ou o pesadelo, dependem de arbítrios, eleições e de incógnitas que, por ora, ninguém consegue prever.

Um desperdício, um tempo novo.

As próximas eleições nos Estados Unidos da América, a 5 de Novembro, vão fazer parte da equação que vai responder a uma questão fulcral: vamos sobreviver à III Guerra Mundial?

A tomada de posse de Luís Montenegro, na liderança do XXIV governo constitucional, abre um novo ciclo de esperança.

Duas realidades que têm como pano de fundo a força dos Estados que continuam a vergar a cidadania, com cada vez mais medo e menos energia para fazer frente e barrar os desvarios dos poderosos.

Anna Politkóvskaya (2006), Stanislav Markelov e Anastasia Baburova (2009), Boris Nemtsov (2015), Daphne Caruana Galizia (2017), Marielle Franco (2018), Alexei Navalny (2024), entre outros, já foram silenciados.

A memória do passado, a afirmação dos valores universais e a acção do poder político e institucional não se vincam com mais assassinatos, guerras, museus ou com ainda mais tacticismo e adiamentos.

Biden, Bush, Netanyahu, Putin e Trump, por um lado, Costa e Marcelo, por outro, nunca o perceberam, porque o presente deles sempre atirou o futuro colectivo para um plano secundário, quiçá até irrelevante.

A falta de estadistas é uma das maiores ameaças do século XXI.